O cinema brasileiro tem em Darlene Glória uma das figuras mais emblemáticas de sua história. Estrela de muitos filmes, ela protagonizou o clássico Toda Nudez Será Castigada (1973), de Arnaldo Jabor, que foi consagrado pela crítica e público (inclusive internacional), graças ao seu desempenho magistral.
Considerada um sex symbol, no auge da fama, ela abandonou tudo e voltou-se para a religião, para se reencontrar.
Darlene Glória é o nome artístico de Helena Maria Glória Vianna, atriz nascida em São José do Calçado (ES), em 20 de março de 1940. Ainda muito jovem, ela se mudou para Cachoeiro do Itapemirim, cidade que também nos deu o cantor Roberto Carlos.
Jece Valadão, Darlene Glória, Roberto Carlos e Carlos Imperial, todos começaram suas carreiras em Cachoeiro do Itapemirim
Aos 18 anos de idade, Darlene Glória foi eleita Miss Cachoeiro do Itapemirim, mesmo ano que iniciou sua carreira artística, como cantora de uma rádio local. Depois, em 1959, ainda trabalhando como cantora, assinou contrato com a Rádio Mauá (Rio de Janeiro), onde permaneceu no casting por dois anos.
Darlene Gloria, Miss Cachoeiro do Itapemirim de 1958
Darlene Gloria, cantora
Darlene Glória, Paulo Nunes Vieira (diretor da Rádio Mauá) e a cantora Marion Duarte
Muito bonita, ainda em 1959 foi convidada para ingressar no teatro de revista, atuando em Te Futuco, Num Futuca (1959), e apesar de ter feitos poucos trabalhos como vedete, foi consagrada nos palcos do teatro rebolado.
Em 1961 estreou na televisão, atuando como cantora na TV Jornal do Comércio, de Recife. Mas foi a TV Rio quem viu seu talento como apresentadora e atriz. Na emissora carioca, ela fez diversos trabalhos, atuando em programas de linha de show e também apresentando programas, inclusive o famoso Noite de Gala, substituindo a atriz Ilka Soares.
Darlene Glória, como apresentadora da TV Rio
Foi também na TV Rio que a atriz atuou em sua primeira novela, Porto dos Sete Destinos (1965-1966). Foi também em 1965 que ela estreou no cinema, atuando em Um Ramo Para Luísa (1965) e no icônico São Paulo S.A. (1965).
Walmor Chagas e Darlene Glória em São Paulo S.A.
Darlene teve uma breve passagem pela TV Globo, onde atuou na série 22-2000 Cidade Aberta (1965), e depois engrenou diversos trabalhos no teatro e no cinema, onde fez mais trabalhos em sua carreira.
Darlene fez os filmes Nudista à Força (1966), Paraíba, Vida e Morte de Um Bandido (1966), Terra em Transe (1967), A Um Pulo da Morte (1968), Os Viciados: A Fuga (1968), Papai Trapalhão (1968), Golias Contra o Homem das Bolinhas (1969), O Matador Profissional (1969), Os Paqueras (1969), Os Raptores (1969), Por Um Amor Distante (Pour un Amour Lointain, 1969), Lua de Mel e Amendoim (1971), A Viúva Virgem (1972), Eu Transo, Ela Transa (1972) e Os Devassos (1972).
Nesta época também fez duas novelas, Véu de Noiva (1969) e O Bofe (1972), mas não deu muita atenção para a televisão no período.
Darlene Glória e Jece Valadão em Paraíba, Vida e Morte de Um Bandido
Mas foi em 1973 que ela foi consagrada como atriz, quando interpretou a prostituta Geni em Toda Nudez Será Castigada (1973), baseado na obra de Nélson Rodrigues. O filme foi muito bem sucedido nas bilheterias, até ser censurado pela ditadura militar, que mandou recolher todas as suas cópias após o terceiro mês de exibição.
Darlene Glória e Paulo Porto em Toda Nudez Será Castigada
Dirigido por Arnaldo Jabor, Toda Nudez Será Castigada deu a Darlene Glória diversos prêmios, e ganhou o Urso de Prata no Festival de Berlim. Vestida de baiana, a atriz subiu ao palco ao lado do diretor para receber a honraria.
Darlene Glória ganhou uma enorme projeção internacional, e recebeu muitos convites para filmar nos Estados Unidos e Europa, mas recusou todos, dizendo que "preferia ser uma estrela em seu país a uma figurante internacional".
Darlene Glória e Arnaldo Jabor no Festival de Berlim
Darlene Glória, em Berlin, recebendo os cumprimentos do ator Lee Marvin
Darlene ainda atuaria nos filmes Os Homens Que Eu Tive (1973), O Marginal (1974) e Um Homem Célebre (1974). Depois, abandonou a carreira de atriz, no auge da fama e sucesso.
Tarcísio Meira e Darlene Glória em O Marginal
Darlene havia tido um relacionamento com Mariel Araújo Moryscötte de Mattos, o Mariscot, um famoso polícial da época (que namorou outras atrizes), e mais tarde foi revelado como um dos membros do esquadrão da morte, e teve um filho com ele, chamado Rodrigo. Ela já tinha um filho, Saulo, fruto de um relacionamento anterior.
A atriz estava em depressão, e viciada em drogas. Desesperada, ela tentou o suicídio, e resolveu afastar-se da fama. Ela encontrou forças na fé, convertendo-se a religião evangélica.
Em 1974 ela se casou com Marcus Vinícius de Almeida Brandão, e passou a pregar a palavra de Deus usando seu nome de batismo, Helena, e o sobrenome do marido. Como Helena Brandão, ela tornou-se pastora, e gravou alguns discos onde cantava louvores, proclamava a palavra e fazia testemunhos de sua história.
Helena Brandão, a pregadora, teve mais dois filhos (Rebeca e João Marcus), e ficou casada até 1991.
Em 1985 ela reapareceu atuando na TV, vivendo uma espécie de biografia televisionada em Todo Pecado Será Perdoado (1985), um especial da TV Globo, apresentado no programa Caso Verdade.
E com o nome de Helena Brandão, atuou na novela Carmen (1987), na TV Manchete. Na emissora, também atuou na minissérie O Guarani (1991).
Darlene Glória e Guilherme Karam em Carmen
Luigi Baricelli e Darlene Glória em O Guarani
Após este breve retorno, a atriz se mudou para os Estados Unidos, onde permaneceu até 1997. No exterior, chegou a trabalhar como faxineira para se sustentar.
De volta ao Brasil, fez algumas participações nas novelas Pecado Capital (1998), e retornou ao cinema em Até Que a Vida Nos Separe (1999).
Depois, faria uma participação no seriado A Diarista, em 2004.
No cinema brasileiro, ainda estrelou o curta-metragem Ninguém Suporta a Glória (2004), vivendo ela mesma. Também atuou em Rub (2005), Anjos do Sol (2006) e Feliz Natal (2008), que marcou a estreia de Selton Mello como diretor.
Darlene Glória em Feliz Natal
Na TV Record, ainda atuou na novela Mutantes: Promessas de Amor (2009), e nos filmes Três Vezes Por Semana (2011), Corpo Presente (2012) e Beiço na Estrada (2019), seu último trabalho como atriz.
Jackson Antunes e Darlene Glória em Beiço na Estrada
Darlene Glória ainda é evangélica, mas não atua mais como pregadora. Ela mora desde 2003 em Teresópolis, e recusa novos convites para atuar, e também dá poucas entrevistas, preferindo viver sua vida no anonimato. Ela nem mesmo tem redes sociais.
"Fui amadurecendo e cheguei ao equilíbrio. Agora, podem me chamar de Helena, Darlene, ou Helena Darlene Glória Viana. Sou todas elas!", declarou em uma rara entrevista.
Ela vive tranquila, rodeada pelos filhos, e sua filha Rebeca Brandão também é atriz e cantora.
Darlene Glória atualmente, cercada pelos seus quatro filhos
Darlene Glória antes e depois, com a filha Rebeca Brandão
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