Foi um amigo de Lana Turner quem contou a verdade para ela. Seu nome era Johnny Stompanato, ele era mais novo do que dizia, trabalhava para a máfia, e tinha fama de ser um gigolo de atrizes. Lana então confrontou o affair, que confirmou tudo.
A atriz pediu um tempo, e ele respondeu apenas "Lana Querida, tente se livrar de mim", dando uma risadinha assustadora, conforme ela escreveu em sua autobiografia.
Lana Turner tentou se afastar, e até começou a sair com outros homens, e foi ai que as coisas se complicaram. Johnny invadiu a sua casa, e lhe agrediu pela primeira vez. A violência e os abusos verbais e físicos se intensificavam, mas curiosamente a atriz se envolvia mais.
Lana escrevia diversas cartas para Johnny, e lhe dava muitos presentes. Ela também pagava as contas dele, inclusive das flores e presentes que ele enviava para a própria atriz.
Nas idas e vindas do conturbado casal, que chegou a morar junto, Lana Turner foi para à Inglaterra filmar Vítima de Uma Paixão (Another Time, Another Place, 1958), com o novato Sean Connery. A atriz e o futuro James Bond tiveram um breve relacionamento durante as filmagens, mas as cartas para Johnny continuavam.
Tanto que ele foi para Londres atrás dela, principalmente porque chegavam aos Estados Unidos rumores de que Turner e Connery estavam juntos. Lana recebeu Stompanato no seu quarto de hotel, onde as brigas eram frequentes. Certa noite, ele estrangulou a atriz com tanta força, que ela ficou alguns dias sem voz, atrasando as filmagens.
A atriz proibiu o namorado de ir até o set de filmagem, mas ele não lhe deu ouvidos. Johnny invadiu o estúdio, apontando uma arma para Lana, dizendo que iria desfigurá-la, e ordenando que Sean Connery se afastasse dela. Mas Connery era um fisiculturista e faixa preta em karatê, e torceu o braço do mafioso, desarmando-o. Em seguida, deu lhe um soco que o derrubou.
Johnny foi preso, e deportado pela polícia inglesa. Mas Lana lhe escreveu uma carta, convidando-o para passar férias em Acapulco, junto com sua filha, Cheryl Crane.
Mas as férias não aconteceram. Lana voltou para Hollywood, e no começo de 1958 Lana foi indicada ao Oscar por A Caldeira do Diabo (Peyton Place, 1957). A cerimônia de premiação ocorreu em 26 de março de 1958, e Stompanato ficou furioso após a atriz não o convidar para ser seu acompanhante na cerimônia.
A violência aumentou, e Lana finalmente o botou para fora de casa. Mas no dia 04 de abril ele invadiu a mansão da atriz, e uma grande discussão se iniciou. Lana e Johnny estavam no quarto, e Cheryl Crane, de 14 anos de idade, ouvia o gângster gritando que a mataria, ou a desfiguraria.
Segundo Crane escreveu em sua biografia, ela correu para a cozinha e pegou uma faca, e entrou no quarto da mãe, esfaqueando Johnny no estomago em um golpe rápido e certeiro. Durante o julgamento, ela disse ter visto Stompanato com um cabide na mão, mas na hora confundiu com uma arma, e partiu em defesa de sua mãe.
Após o crime, as duas ligaram para um médico, um advogado e para o ator Stephen Crane, pai de Cheryl. A polícia só foi avisada duas horas depois, e após chegarem ao local as histórias não batiam com a cena do crime encontrada.
Não haviam roupas perto da vítima, nem cabide, e o carpete havia sido limpo, não tendo nenhuma gota de sangue no chão. Mas havia sangue na parede.
Cheryl Crane confessou a morte, e foi a julgamento.
Em poucos dias, em 11 de abril de 1958, o júri decidiu que a menina era inocente, e havia agido em legitima defesa. A vida pregressa de Johnny Stompanato, que já havia sido preso sete vezes, e trabalhava para a máfia, ajudou na rápida decisão.
Mas muitos não acreditavam na história contada, e diziam que foi a própria Lana Turner quem havia matado o namorado, e sua filha teria assumido a culpa para não prejudicar a carreira da mãe. Segundo Eric Root, cabeleireiro da atriz, ela teria confessado ter matado Johnny, mas a atriz nunca foi indiciada.
A primeira esposa de Johnny, que ele havia abandonado (após dar à luz ao seu filho) para ir para Hollywood, processou a atriz. O processo foi finalizado após Lana pagar 20 mil dólares extra oficialmente para Johnny Stompanato Jr., que era criança na época.
Após o julgamento, Cheryl Crane foi morar com a avó materna, para ficar longe dos holofotes, e viveu uma vida discreta longe de Hollywood. Ao completar 18 anos de idade, ela até fez alguns trabalhos como modelo, mas muito tímida, abandonou esta carreira pouco tempo depois.
Chreyl foi morar com o pai, e passou a trabalhar em seu restaurante. Stephen Crane, que teve uma modesta carreira de ator, tornou-se um renomado chefe de cozinha em Los Angeles. Depois, ela começou a namorar a modelo Joyce LeRoy, e mudou-se para o Havaí, onde trabalhou como corretora de imóveis.
Foi somente em 1988, após 30 anos do caso, que ela voltou a falar do assunto, publicando uma biografia, onde se dizia autora do crime. Em seu livro, ela também contou que foi vítima de diversos abusos sexuais por parte de Johnny Stompanato e também de Lex Baker, que havia sido o terceiro marido de sua mãe.
Assim como outras filhas de estrelas de Hollywood, Cheryl também escreveu outro livro de memórias, falando de sua relação com a mãe. Mas ao contrário de Christina Crawford, que escreveu um livro acusando a mãe, Joan, de crueldade, Cheryl narrou uma relação bonita e saudável com Lana Turner, que morreu em 1995, aos 74 anos de idade.
Atualmente, Cheryl Crane trabalha como escritora de romances, em em 2014, após mudanças da legislação, pode se casar com Joyce LeRoy, após mais de 40 anos de relacionamento.
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