"Se você quiser se meter em problemas, faça no Chateau Marmont". Esta frase foi dita por Harry Cohn, o todo poderoso da Columbia para Glenn Ford e William Holden, dois atores novatos e festeiros recém contratados pelo estúdio. O ano em 1939, auge da crise moral de Hollywood.
Cohn então entregou chaves do hotel isolado nas colinas de Los Angeles, na Sunset Boulevard para seus novos astros, que por três anos deram festas longe dos olhos do público e da imprensa, recebendo colegas boêmios como Humphrey Bogart, Errol Flynn, David Niven e John Drew Barrymore (o pai da atriz Drew Barrymore).
Inaugurado em 1929, o Chateau Marmont é quase tão antigo quanto a história de Hollywood, e por muitos anos (e até hoje) serviu de refugio para os astros manterem a sua descrição. Ao longo dos anos, o hotel teve altos e baixos, sendo um local luxuoso ou por vezes decadente, servindo de morada para jovens sem dinheiro que chegavam a Los Angeles em busca de fama em Hollywood.
A reputação do hotel de lidar discretamente com as celebridades, atraiu muitas estrelas de Hollywood que queriam ficar longe dos radares de Beverlly Hills. O estacionamento subterrâneo tinha elevadores que levavam diretamente aos andares, mantendo os hóspedes longe dos holofotes. Além disto, o Marmont oferecia um serviço de manobrista, que mandava um carro para buscar o artista (geralmente embriagado) em algum lugar, enquanto outro motorista levava o carro de seu hospede para outro local.
Além disto, o prédio ficava estrategicamente em frente ao Jardim de Alá, a mansão da atriz Alla Nazimova, que na década de 1920 recebia as maiores e mais hedonistas festas de Hollywood. Mais tarde, a residência também se tornou um hotel.
A gerente do hotel era Ann Little, uma antiga estrela do cinema mudo que abandonou a carreira no auge, em 1925, sem nunca revelar o motivo pelo qual se afastou das telas e recusou todos os convites posteriores.
Haviam especulações na época que a própria Ann poderia ter algo a esconder, e encontrou no Chateau Marmont um refugio. Até o final de sua vida, aos 93 anos de idade, Ann Little recusava-se a falar sobre sua carreira de atriz.
Entre a lista de moradores do hotel estão Howard Hughes, Hedy Lamarr, Boris Karloff, Paul Newman e Joanne Woodward, e muitos outros. Greta Garbo nunca morou lá, mas se hospedava frequentemente, usando o nome de Harriet Brown, e Katharine Hepburn, recém chegada em Los Angeles, se hospedou no hotel, onde só usava roupas masculinas e um tapa olho no lado esquerdo do rosto.
Uma das primeiras estrelas a morar no Hotel foi a atriz Jean Harlow. Em 1932 seu marido, o produtor Paul Bern, cometeu suicídio. Mas haviam especulações que ele teria sido assassinado. Principalmente pelo fato de Lois B. Mayer, o todo poderoso da MGM ter sido a primeira pessoa a ser chamada na casa da atriz, antes da chegada da polícia ou perícia.
Pouco tempo depois, a atriz se casou com o diretor Harold Rosson, também da MGM. O casamento teria sido armado por Mayer, que obrigou que o casal se muda-se para o discreto hotel, o mesmo que Harlow havia passado sua lua de mel com Bern.
Rosson saia cedo para ir trabalhar no estúdio, e voltava tarde da noite, enquanto Harlow mantinha encontros amorosos com Clark Gable, que era levado a sua suíte por Ann Little, previamente avisada, que levava o ator até os aposentos, longe dos olhos de outros funcionários.
Billy Wilder, recém chegado em Hollywood, foi outro que morou no hotel, em 1934. Com pouco dinheiro ele ficou em um quarto modesto, sem janelas. O diretor moraria no hotel por três ocasiões. Em uma delas, após voltar da Europa, onde tinha ido visitar sua mãe, encontrou o hotel lotado, e foi autorizado a dormir em um pequeno armário de serviço.
Já com um orçamento maior, dividiu quarto com o amigo Peter Lorre, recém chegado da Europa, fugindo do nazismo. Lorre usava a descrição do hotel para alimentar seu vício em heroína. As colinas discretas onde ficava o hotel serviram de inspiração para Wilder, anos mais tarde, escrever o magistral roteiro de Crepúsculo dos Deuses (Sunset Boulevard, 1950).
O hotel também ficava próximo da farmácia Schawbs, que também vendia bebidas em Los Angeles, e nunca fechava. A farmácia também aparece no filme Crepúsculo dos Deuses.
Outro morador ilustre foi o escritor F. Scott Fitzgerald, que teve um ataque cardíaco no jardim do hotel, após sua carreira de escritor decair devido ao uso excessivo de álcool. E Vivien Leigh, quando chegou em Hollywood também morou por lá. Refinada, ela decorou seu quarto com quadros de Picasso e Renoir, que faziam parte de sua coleção particular.
Humphrey Bogart nunca morou lá, mas colocou sua mãe, Maud, para viver no hotel. Com mais de 70 anos de idade, ela costumava ficar andando pela Sunset Boulevard abordando estranhos para contar que era mãe do famoso ator, que frequentava o bangalô particular da mãe para fazer a jardinagem.
Em 1948, após ser fotografado por uma revista de fofocas usando maconha, Robert Mitchum mudou-se para o hotel, alugando um quarto com cozinha, e ficou por lá até a poeira do escândalo ter baixado.
Em 1952 o diretor Nicholas Ray mudou-se para o Hotel, após se divorciar da atriz Gloria Grahame. Ray havia descoberto que a esposa estava tendo um caso com seu filho (de outro casamento), que na época tinha apenas 13 anos de idade.
O diretor morou muitos anos no hotel, e foi lá que deu os primeiros passos para a produção do filme Juventude Transviada (Rebeld Without Cause, 1955), e os ensaios eram feitos em seu bangalô particular.
Querendo o papel principal, o jovem ator James Dean pulou o muro do hotel para se apresentar ao diretor, implorando uma chance para fazer teste para o elenco, e sua atitude ousada e imprudente deu certo, fazendo de Dean um grande (e breve) astro.
Era no hotel também onde morava a jovem Natalie Wood, na época com 16 anos de idade. Ela e o diretor iniciaram um romance clandestino, que foi encerrado após Nicholas Ray agredir Dennis Hooper, também do elenco de Juventude Transviada, após descobrir que ele e Nick Adams haviam convidado Natalie para uma orgia no quarto de Hooper, que fornecia muitas drogas para seus convidados.
Errol Flynn também costumava levar suas conquistas para lá, inclusive as garotas menores de idade que posteriormente o denunciaram.
Em 1957, após sofrer um grave acidente de carro que desfigurou seu rosto, o ator Montgomery Clift refugiou-se no hotel durante a sua recuperação. Ele só recebia a amiga Elizabeth Taylor em seu quarto, e além de companhia, fazia o papel de enfermeira para Clift.
Nesta época, Desi Arnaz também costumava se hospedar no hotel, após brigar com a esposa Lucille Ball. Em uma dessas brigas, Lucille foi até o hotel, e por algum motivo, o casal começou a brigar no quarto, e uma maleta cheia de dinheiro voou pela janela, fazendo chover notas de dólar na piscina do hotel.
O Chateau Marmount foi o primeiro hotel a empregar funcionários negros, e também não tinha preconceitos contra homossexuais. Sua piscina inclusive era um local onde os astros gays podiam se sentir livres, e Tab Hunter era um freguês costumaz do local. Foi lá inclusive que ele conheceu o ator Anthony Perkins.
Roddy McDowall e o escritor Gore Vidal eram outros que usufruíam da liberdade da piscina do local. Para acessar a piscina não era necessário ser hóspede, sendo possível pagar uma taxa para usar o local por um dia.
O próprio Nicholas Ray teria sido visto muitas vezes na piscina, em companhia de alguns rapazes.
Já o produtor Howard Hughes, sempre pedia a mesma suíte, com a melhor vista para a piscina. De lá, ele usava um binóculo para observar as belas moças que se refrescavam do calor californiano. Com preços razoáveis, o hotel recebia muitas aspirantes a atrizes. Marilyn Monroe morou no hotel no começo de carreira.
Dizem que Hughes descobriu Mitzi Gaynor na piscina do hotel, que tinha que fazer um esquema estratégico com seus funcionários, já que o produtor exigia que durante sua estada nunca encontrasse um funcionário negro pelas dependências do prédio.
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