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Billie Bennett, a atriz que comandou o bordel da MGM


Embora tenha feito mais de 70 filmes entre 1911 e 1930, o nome de Billie Bennett foi esquecido pela história do cinema. E provavelmente seu nome foi apagado para esconder uma das histórias mais obscuras de Hollywood, que muitos desejaram que nunca se tornasse pública.

Embora nunca tenha sido uma estrela, Bennet foi uma coadjuvante requisitada durante o período do cinema mudo, estreando como atriz nas comédias curtas da Keystone, em 1911. Nascida Emily B. Haynie, em 23 de outubro de 1874, Bennet chegou a contracenar com Charles Chaplin em alguns filmes e teve seu melhor papel como a criada de confiança de Lady Marian (papel de Ennid Bennet, que não tem paretesco com a atriz) no grande sucesso Robin Hood (1922), protagonizado por Douglas Fairbanks.

Billie Bennett, a primeira a esqueda, ao lado de Mabel Normand,
em Mabel's Busy Days (1914)

Com a chegada do cinema sonoro, Billie Bennett não conseguiu fazer a transição para os filmes falados, como muitos outros artistas. Aos 53 anos de idade, desempregada, ela foi contratada por Eddie Mannix, um executivo da MGM, para liderar um bordel mantido pelo estúdio.

Alguns historiadores afirmam que Billie havia sido prostituta na década de 20, vestida como sósia da atriz Mae West, e teria sido nesta época que ela conheceu Mannix.

Mannix era uma espécie de faz tudo do estúdio, responsável por alguns atos mais obscuros praticados na Metro-Goldwyn-Mayer, como por exemplo levar suas atrizes para clínicas de abortos, ou subornar a imprensa e a polícia para esconder os escândalos de suas estrelas.

Em 1932 Mannix e E. J. Fleming foram incumbidos por Louis B. Mayer, o presidente da MGM, de organizarem um bordel particular na saída do estúdio, longe dos olhos de fofoqueiras como Hedda Hopper e Louella Parsons. Oficialmente, o prédio era parte do departamento de figurino do estúdio

Lá, jovens que sonhavam em se tornar atriz, eram enganadas com falsas promessas de estrelato, e acabavam empregadas em uma rede de prostituição. Elas tinham seus cabelos pintados e eram submetidas a cirurgias plásticas para ficarem parecidas com grandes estrelas do estúdio, como Barbara Stanwyck, Alice Faye, Joan Crawford, Myrna Loy, Claudette Colbert, Janet Gaynor, Irene Dunne, Luise Rainer, Ginger Rogers, Paulette Goddard, Vivien Leigh, Marlene Dietrich, Jean Harlow e Carole Lombard.

O roteirista Garson Kanin relembrou em suas memórias que atrizes consideradas de personalidades mais fortes, como Katharine Hepburn ou Greta Garbo nunca tiveram sósias na casa de prostituição do estúdio. Ele também relatou que a imitadora de Carole Lombard ficou sem utilidade, após a morte da atriz em um desastre de avião em 1942.

O bordel da MGM, chamado de Mae's (devido a carreira de Bennet como "imitadora" de Mae West), não era o único em Hollywood com prostitutas parecidas com atrizes famosas da época. O filme Los Angeles - Cidade Proibida (L.A. Confidential, 1997), que deu o Oscar a Kim Bassinger, retrata essas garotas que eram transformadas em sósias de estrelas pelas redes de prostituição.

Cartaz de Los Angeles - Cidade Proibida

O bordel da MGM não era aberto ao público, e tinha como finalidade principal agradar distribuidores cinematográficos, grandes empresários que financiavam os filmes, bem como jornalistas da imprensa especializada. Porém, ele também era usado para testar a masculinidade dos atores.

Mayer era homofóbico declarado, e obrigava seus novos contratados a frequentarem o local para provarem que não eram gays. Os encontros sexuais dos astros eram detalhadamente relatados por Billie Bennett para Mayer.

James Stewart, que não era gay, mas sempre foi discreto em suas relações, e foi casado por mais de 40 anos, relatou em suas memórias que foi obrigado por Mayer a frequentar o local duas vezes por semana, até se firmar como astro. Cary Grant, após os rumores de seu romance com Randolph Scott, foi outro ator obrigado a frequentar o bordel. O mesmo aconteceu com Montgmorey Clift.

William Haines, que foi um grande astro, e era casado com James "Jimmie" Shields, enfrentou Mayer e não quis esconder sua homossexualidade, e teve sua carreira cinematográfica destruída. (leia mais sobre esta história aqui). Neil Hamilton, que havia sido um grande galã, mas era católico praticante e casado desde antes da fama, foi outro a recusar os serviços oferecidos pelas garotas da Madame Bennet, e teve sua carreira arruinada, só conseguindo voltar ao estrelato como o Comissário Gordon, na série Batman, da década de 60.


Randolph Scott e Cary Grant

Existem poucos registros do local, que era mantido em segredo mesmo nas rodas de fofocas de Hollywood. O pouco que se sabe sobre ele esta nos registros biográficos de alguns de seus frequentadores. Mickey Rooney, em suas memórias, contou que perdeu a virgindade aos 12 anos de idade, na casa gerenciada por Bennet. O mesmo aconteceu com outro astro mirim, Jackie Cooper e Arthur Marx, filho de Groucho Marx (que dizem ser o maior frequentador do local). Entre os artistas que afirmaram frequentar o local estão Clark Gable, Errol Flynn, o roteirista Irving Brecher e o diretor George Cukor.

É possível que algumas atrizes, posteriormente famosas, também tenham iniciado sua carreira lá, embora isto tenha sido abafado de suas biografias, cuidadosamente construída pelos publicitários dos estúdios (E. J. Fleming era um deles). O escritor Anthony Summers, autor de uma polêmica biografia de Marilyn Monroe, afirma que ela foi descoberta em um "bordel lotado", e há rumores que Joan Crawford, quando ainda usava o nome de Lucille Fay Le Sur, tenha sido prostituta e tenha atuado em stag films, como eram chamados os filmes pornôs clandestinos da época.

A lenda sobre o filme de Joan é famosa, e ela teria atuado em pelo menos três filmes entre 1918 e 1923. Quando Joan foi contratada pela MGM, L. B. Mayer teria gasto uma fortuna comprado todos os rolos para destruir os filmes existentes, para preservar o nome da estrela. História contada muitas vezes por Douglas Fairbanks Jr., um dos maridos de Joan.

Fragmentos de ao menos um dos filmes de Joan, The Couch Test (1923), teria sobrevivido ao tempo. Nele, Joan supostamente aparecia tendo relações com o novato Juan Ramón Gil Samaniego, mais tarde famoso como nome de Ramon Novarro. Há uma foto deste filme, com uma atriz que supostamente seria Joan, com os seios nus, no livro Hollywood Babylon II.

The Couch Test, na tradução para o português, significa "teste do sofá", prática muito comum nos meios cinematográficos. 

Toni Lanier, que foi uma estrela dos espetáculos do Ziegfeld Follies, teria sido uma das contratadas da casa, que também era frequentada por gangsters como Bugsy Siegel. Conhecida nos palcos pelo apelido "As Pernas", Lanier foi contratada pela MGM por uma fortuna para atuar em Ziegfeld, o Criador de Estrelas (The Great Ziegfeld, 1936), mas nunca mais fez outro filme. Em 1935 ela se envolveu com Mannix, com quem se casou em 1951. 

 Toni Lanier (Mannix)

Em 1959 o ator George Reeves, que havia interpretado o Superman na televisão, foi encontrado morto em sua casa. A polícia concluiu que foi suicídio, mas há rumores que o ator foi assassinado. Ele e Toni, agora Mannix, eram amantes, e o caso não era segredo em Hollywood. Algumas teorias afirmam que o produtor teria se livrado do amante inoportuno, ou mesmo que Toni Mannix tenha matado Reeves após ter sido abandonada por ele.

Com a morte de Billie Bennett em 19 de maio de 1951, aos 76 anos de idade, e com o declínio do poder dos grandes estúdios na década de 50 (com o advento da televisão), o bordel da MGM desapareceu, sem deixar grandes registros para a posteridade.

Em 2018, Scotty Bowers, um antigo marinheiro norte-americano escreveu um livro onde contou sua vida como gigolô em Hollywood. Então com 98 anos, Bowers relatou inúmeras celebridades para quem prestou serviços, entre homens e mulheres, e chegou a afirmar que o Bordel da MGM também prestava serviços de rapazes, com mais discrição, para alguns executivos do estúdio.

Scotty Bowers


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