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Relembrando o comediante Lilico, o Homem do Bumbo


Por Diego Nunes


Quem não se lembra de Lilico tocando seu bumbo e cantando  "Tempo bom, não volta mais. Saudade... de outros tempos iguais!"?





 


Muitos comediantes ficaram muito famosos com seus personagens na televisão, popularizada nos lares brasileiros a partir da década de 1980, fazendo com que eles sejam muito queridos e lembrados, mas ao mesmo tempo, sua carreira pregressa (no rádio, teatro de revista e até cinema) é muitas vezes pouco conhecida. Lilico, lembrado como o eterno homem do bumbo no programa A Praça É Nossa, faz parte desta lista.

As próprias informações sobre o ator são desconexas, a internet diz que ele nasceu Olivio Henrique da Silva Fortes, mas a Revista do Rádio diz que ele se chamava Luis Carlos da Silva. Ele nasceu em Realengo, bairro da cidade do Rio de Janeiro, em 08 de outubro de 1937.

De família muito pobre, Lilico começou a trabalhar muito cedo, e ainda criança, vendia balas nas salas de cinema. Fã dos programas de rádio da época, ele cantava os sucessos do cantor Jorge Veiga, imitando o artista, enquanto vendia seus doces.

Com 13 anos de idade, ele participou do programa de calouros O Trem da Alegria, apresentado pelo trio Herber Bôscoli, Yara Salles e Lamartine Babo. Ele não vencenu a competição, mas caiu na simpatia de Herber Bôscoli, que como consolação, lhe deu um refrigerante e uma cocada.

Seu talento para imitar cantores fez com que ele conseguisse alguns trabalhos no rádio, fazendo vozes de nomes como Ivon Cury, Oduvaldo Cozzi, Oscarito, Miltinho, Elza Soares, Nat King Cole, Carequinha, Amália Rodrigues, Ary Baroso, Maysa, Louis Armstrong, entre outros.

Mas sua estreia profissional ocorreu quando o produtor Geysa Bôscoli (tio de Herber Bôscoli) o convidou para fazer imitações noulo de teatro de revista Esputinique no Morro (1958). Logo, Lilico Girico (seu primeiro nome artístico) se tornaria popular com o público, e passou a ser chamado de "O Homem das Mil Vozes".



Lilico no Teatro de Revista

Logo ele se tornaria um dos mais populares cômicos da nova geração do Teatro de Revista, e em 1961 Lilico foi convidado para ingressar no elenco do filme Samba em Brasília, que acabou sendo sua única incursão no cinema.

O ator também ganhou um bom dinheiro na época fazendo show por todo o Brasil. Mas seu sucesso incomodou José Vasconcelos, que era então um dos mais famosos comediantes do país. Vasconcelos acusava Lilico de plagiar seus shows, que também eram repletos de imitação.

Lilico alegou que se José Vasconcelos ganhava a vida imitando Ary Baroso, quem deveria reclamar de plágio era o próprio Ary, e que ele próprio também poderia processar o jovem Raul Gil, que também estava começando sua carreira imitando os mesmos artistas que Lilico imitava.

O juiz deu ganhou de causa para Lilico, mas a bem verdade é que seus shows eram repletos de piadas feitas por Vasconcelos, e se chamava Lilicolândia, uma clara referência ao parque de diversões Vasconcelolândia, que Zé Vasconcelos tenou por anos construir.

A popularidade do artista aumento ainda mais quando em 1968 ele foi contratado pela Rede Globo, em seus primeiros anos de transmissão, e passou a fazer parte do elenco do humorístico Balança Mais Não Cai, onde criou o bordão "é bonito isso?"


Lúcio Mauro, Sônia Mamede, Tião Macalé, Brandão Filho, Wellington Botelho, Paulo Gracindo, Lilico e Carlos Leite no Balança Mais Nõa Cai

Na Globo, Lilico também trabalhava no programa Oh!, Que Delícia de Show! (1968), e sempre que entrava no palco soltava outro bordão: "Alô Alô Realengo, aquele abraço!".

A expressão ficou tão popular, que o programa foi rebatizado para Alô Brasil! Aquele Abraço!, e embora negue (mesmo sendo inegável), a frase surgiu de inspiração para Gilberto Gil para compor a música Aquele Abraço, escrita em 1969.

Lilico processou Gil, e ganhou na justiça o direito de receber royalites da composição.






Na década de 1970 Lilico foi para a TV Tupi, onde trabalhou em diversos programas de humor. E devolta a Globo, fez parte do elenco de programas como A Praça da Alegria e Planeta dos Homens.

Também cantor, Lilico compôs e gravous diversos discos, mas seu maior sucesso de vendas foi Tempo Bom, escrita em parceria com Grande Otelo.






A música fez um enorme sucesso, mas causou problemas para o artista, que chegou a ser preso pelo regime militar, que achava que o verso "tempo bom, que não volta mais" era uma referência a democracia, derrubada pelo golpe militar.

Na década de 1980 migrou para o SBT, onde passou a ser um dos personagens clássicos do programa A Praça É Nossa, onde ele permaneceu trabalhando até o final da vida.

Tocando seu bumbo, Lilico entrava no palco justamente cantando "tempo bom, que não volta mais...".

Em 23 de setembro de 1998 Lilico foi internado em um hospital, falecendo no mesmo dia, vítima de problemas respiratórios seguido de um ataque cardíaco. Ele tinha 60 anos de idade.

Lilico e Carlos Alberto de Nóbrega na Praça É Nossa


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