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Zezé Macedo, a atriz que transformou a tristeza em riso


Zezé Macedo é uma das comediantes mais populares do Brasil, mas ao mesmo tempo é uma das artistas mais injustiçadas da nossa cultura. A recordista do cinema nacional, tendo atuado em 108 filmes, chegou a ser chamada, na década de 70, de "A Empregadinha do Brasil", devido aos papéis de empregadas domésticas que interpretou.

Grande Otelo a chamava de "Carlitos de Saia", mas a atriz ao longo da carreira só protagonizou um filme, após muitos anos coadjuvando algumas das maiores estrelas do cinema brasileiro, como Grande Otelo, Oscarito, Dercy Gonçalves e Zé Trindade. Zezé, que sempre era escalada para papéis de mulheres feias também era poetisa, e lamentava nunca ter tido a chance de interpretar um papel dramático no cinema ou na televisão.


Maria José Macedo nasceu no munícipio fluminense de Capivari (hoje chamado Silva Jardim), em 06 de maio de 1916. Ela perdeu o pai muito cedo, e foi criada pelo padrasto Columbano Santos, que era tabelião e chegou a ser prefeito da cidade.

Zezé sempre gostou de atuar, e ainda muito pequena pegava os vestidos da mãe e criava personagens, que apresentava nas reuniões familiares. Ela estreou como atriz em 1920, então com quatro anos de idade, na peça As Pastorinhas. Como não sabia ler, seu padrasto lia as falas até que a menina as decorasse. Nesta época, também desenvolveu o gosto pela poesia. Anos mais tarde, ela publicou quatro livros com seus poemas.



Zezé deixou o teatro para se casar, com 15 anos de idade. Ela logo engravidou de seu único filho, Hércules. Mas uma tragédia logo abalaria a vida de Zezé para sempre. Seu filho morreu com apenas um ano de idade, após cair do colo da avó paterna.

Ao ver o menino morto, Zezé deu um imenso grito, e devido ao choque, ficou muda por muito tempo. Quando voltou a falar, sua voz estava diferente, completamente rouca, o que tornou-se sua marca registrada. O casamento acabou após a morte da criança.

Nesta época, ela se inscreveu no concurso Rádio Binóculo em Busca de Uma Estrela, na Rádio Fluminense. Zezé passou, e foi contratada para fazer algumas narrações, mas logo deixou o rádio, indo trabalhar no cartório de seu padrasto.

Dois anos depois, retornou ao Rádio, desta vez trabalhando na Rádio Tamoyo, já na capital carioca. Um amigo de seu padrasto era o patrocinador do Grande Jornal Fluminense, e a convidou para fazer locuções no programa. Ela também declamava poesias no rádio.

Paulo de Gramount, diretor da Tamoyo, gostou de sua voz, e a contratou, sem salário, para ingressar no rádio teatro. Mas como não haviam papéis para ela, acabou fazendo trabalhos burocráticos, respondendo cartas dos fãs, datilografando contratos e transcrevendo roteiros manuscritos de Dias Gomes, até se tornar secretária de Rodolfo Mayer.

Um dia uma atriz faltou as gravações, e Zezé Macedo foi chamada as pressas para interpretar a empregada negra caricata. Zezé agradou, e logo começou a fazer parte do rádio teatro da emissora. Em 1951 ela caiu nas graças do público, ao participar do programa Os Pombinhos da Favela (1951).


No rádio, Zezé fez todo tipo de papéis, inclusive foi a sofrida mocinha na rádio-novela Anjo Bom, Anjo Mal (1952), ao lado da vilã Vanda Lacerda. Mas foram as comédias que  fizeram famosa. Na Tamoyo ela chegou a interpretar a professora no programa Escolinha do Arraial. Diversos comediantes faziam seus alunos no programa, num formato que anos mais tarde daria origem a programas como Escolinha do Professor Raimundo, do qual Zezé Macedo faria parte.

Zezé Macedo e Vanda Lacerda

Após o sucesso em Lar, Doce Lar (1953), foi convidada para ir para a Rádio Tupi, e de quebra, estreou na TV Tupi do Rio, Canal 6, no programa humorístico Mesa Quadrada (1953), uma sátira dos programas futebolísticos da televisão.

Zezé Macedo no Mesa Quadrada, na Tupi

Na emissora Zezé fez de tudo. Atuou em programas como Teatrinho Kibon, Grande Teatro de Variedades, Espetáculos Tonelux, Balança Mais Não Cai e Hoje Tem Espetáculo. Em 1956, após assinar contrato com a Rádio Nacional, deixou a Tupi, mas chegou a fazer algumas participações em programas na TV Rio, naquele mesmo ano.

Zezé Macedo também fez teatro, estreando na revista Eu Quero Me Badalar (1954), estrelada por Salomé Parísio, que recordava que Zezé, nos bastidores, sempre tinha um semblante triste, que nada lembrava aquela mulher que arrancava risos no rádio e televisão.

Em 1954 ela também publicou seu primeiro livro de poesias, Oração Profana.

    INDIFERENÇA

    ... Cai a chuva, lá fora... e, lenta, e fria,
    Sacode o frio coração da noite...
    Folhas que tombam, lentas, rodopiam,
    E rodopia o vento, num açoite...
    — Dentro em minha alma já não há tormenta,
    — Nem sol que aqueça, ou astro que ilumine...
    Nem luares de Sonho e de Esperança,
    Nem lembrança saudosa que assassine...
    ... Minha alma já não ama... Não tem risos,
    Nem rajadas de pranto, nem gemidos,
    Nem mavioso cascalhar de guizos...
    ...........................................................................

    ... Sobre meu ser a asa do Pecado
    E depois o Silêncio...
                                   ermo, profundo,
    De um túmulo vazio, arremessado
    No turbilhão fantástico do mundo!...
     

    Poema de Zezé Macedo



No cinema, Zezé Macedo estreou em um pequeno papel em Aviso aos Navegantes (1950), mas logo se tornaria uma das maiores estrelas das chanchadas nacionais, embora nunca tivesse o protagonismo. Zezé Macedo atuou nos filmes O Petróleo é Nosso (1954), O Feijão é Nosso (1955), Sinfonia Carioca (1955), Carnaval em Marte (1955), Trabalhou Bem, Genival (1955), Tira a Mão Daí (1956), Quem Sabe, Sabe! (1956), De Vento em Popa (1957), Treze Cadeiras (1957), Rio Fantasia (1957), Rico Ri à Toa (1957), Maluco Por Mulher (1957), Garotas e Samba (1957), Tem Boi na Linha (1957), O Camelô da Rua Larga (1958), Aguenta o Rojão (1958), E o Espetáculo Continua (1958), é de Chuá (1958), A Grande Vedete (1958), Dona Xepa (1959), Esse Milhão é Meu (1959), O Homem do Sputnik (1959), Virou Bagunça (1960), Cala Boca, Etelvina (1960), Minervina Vem Aí (1960) e Três Colegas de Batina (1960).

Zezé Macedo e Dercy Gonçalves em Minervina Vem Aí

Zezé Macedo em Virou Bagunça

Costinha e Zezé Macedo em É de Chuá

Zezé Macedo em O Camelô da Rua Larga

Com o declínio das chanchadas, na década de 60, passou a dedicar-se mais a televisão, embora nunca tenha deixado de atuar no cinema brasileiro. Em 1962 chegou a atuar em Lana, Rainha das Amazonas (Lana - Königin der Amazonen, 1964), uma produção alemã, rodada no Brasil. Na década de 60 também atuou em filmes nacionais importantes, como As Cariocas (1966) e Macunaíma (1969).

Em 1965 Zezé Macedo foi contratada pela Rede Globo, emissora onde permaneceu até o fim da vida. Lá atuou em três telenovelas: A Moreninha (1965), Padre Tião (1965) e O Primeiro Amor (1972). 

Zezé Macedo em A Moreninha (1965)

Mas foi nos programas de humor que destacou-se na emissora, atuando em produções como Balança Mais Não Cai, Chico City, Os Trapalhões e Escolinha do Professor Raimundo, onde interpretou a puritana e histérica Dona Bela, dona do bordão "ele só pensa naquilo". Também participou por alguns anos Sítio do Pica Pau Amarelo.


Zezé também foi presença constante nas pornochanchadas das décadas de 70, e em 1983 protagonizou seu único filme, Etéia (1983), onde interpretava uma extraterreste em um filme infantil, paródia do sucesso ET, o Extraterrestre (E.T., 1982), de Steven Spielberg.

Zezé Macedo em Etéia

A convite do cineasta Ivan Cardoso, que a chamava de "A Grande Dama do Cinema Nacional", ainda atuou nos filmes As Sete Vampiras (1986) e O Escorpião Escarlate (1990). Seu último trabalho no cinema foi em Parceiros & Palermas (1999), onde interpretou uma prostituta, aos 83 anos de idade. Por As Sete Vampiras, finalmente teve seu talento reconhecido, recebendo o Grande Prêmio do Juri, do Festival de Cinema de Gramado.



Zezé Macedo se casou três vezes, tendo sido casada como ator Vasco Lino Magalhães e com o cantor Victor Zambitto, com quem se casou no palco do Teatro Recreio, em 1961. Eles ficaram casados até a morte da atriz, mas ela nunca mais conseguiu ter filhos.

Oscarito, Zezé Macedo e Victor Zambitto

Após 46 dias internadas, após sofrer um derrame cerebral, Zezé Macedo faleceu em 09 de outubro de 1999, aos 83 anos de idade. Sua vida foi contada no espetáculo A Vingança do Espelho: A História de Zezé Macedo, que foi estrelada por Betty Goffman

Em 2015 Goffman passou a interpretar a personagem Dona Bela no remake da Escolhinha do Professor Raimundo.

Zezé Macedo e Betty Goffman



Zezé Macedo e Oscarito



Veja também: A História de Ary Leite





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3 Comentários

  1. Muito bom saber mais sobre a Zezé Macedo. Parabéns

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  2. A zeze, nos fazia rir enquanto em seu íntimo, carregava, uma história triste, no coração. História que eu desconhecia, até o momento em que li sobre sua vida . Zeze Macedo, grande mulher.

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  3. Carregava sombras no coração. Que ao ter chegado no céu, onde está, receba no colo seu amado filho.

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