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O que é real, o que é falso na série Hollywood, da Netflix


Em maio de 2020 a Netflix lançou a série Hollywood, que mostra os bastidores da cidade do cinema na década de 1940, a era de ouro do cinema norte-americano. A produção fez muito sucesso, e foi indicada a 12 prêmios Emmys, embora só tenha levado duas estatuetas (em categorias técnicas).

Hollywood resgatou alguns nomes reais, muitos deles injustiçados na história do cinema, mas mesclou a realidade com ficção, criando diversos personagens centrais que nunca existiram, mas que de alguma forma contam a trajetória de muitos profissionais da indústria do cinema e seus bastidores, que nem sempre era exatamente como o glamour visto nas telas.

Saiba o que é verdade e o que não é na série, lendo a matéria abaixo (pode conter spoilers, então aconselhamos que assistam a obra antes).


Criada por Ian Brennan e Ryan Murphy, a série de sete episódios mostra os bastidores das produções do Ace Studios, que na verdade nunca existiu. Mas o visual do estúdio fictício foi inspirado nos portões da Paramount, onde milhares de jovens ficavam na porta em busca do sonho de ser descoberto como o novo astro das telas.

Muitos dos filmes citados como sendo do Ace, na verdade existem, e são da Paramount.



Dos personagens principais, apenas Rock Hudson e o agente de elenco Henry Wilson são verdadeiros. Alguns fatos sobre ambos apresentados na história são reais, mas outros foram inventados. Rock Hudson chegou em Hollywood em 1946, em busca do sonho do estrelato. Trabalhando como caminhoneiro, nas horas vagas ficava nas portas dos estúdios distribuindo fotos suas, até que uma delas foi parar na mão de Henry Wilson, que não mediu esforços para transformá-lo em um astro.

Em Hollywood, a série, Hudson consegue um papel pequeno no filme Meg, inspirado na vida da atriz Peg Entwistle, feito em 1948. Tal filme nunca existiu, mas Hudson realmente estreou no cinema neste ano, em um pequeno papel em Sangue, Suor e Lágrimas (Fighter Squadron, 1948). Muito bonito, mas sem nenhuma instrução em atuação, o ator precisou de 37 tomadas para dizer uma única fala.

Rock Hudson em Sangue, Suor e Lágrimas

O filme Meg nunca existiu. Mas a história de Peg Entwistle sim. Ela se suicidou pulando da letra H do letreiro de Hollywood em 1932. Na produção da Netflix, ela decide se matar após ser cortada do filme Treze Mulheres (Thirteen Women, 1932), mas na verdade a atriz tirou a própria vida por achar que o filme não seria lançando. Após toda a publicidade em volta da morte da atriz, o filme foi lançado, e fez um grande sucesso. (leia mais sobre Peg Entwistle aqui).

Peg Entwilstle (a primeira a esquerda) em Treze Mulheres
Na série, o filme é adaptado para ser estrelado pela única atriz negra dos Estudios Ace, Camile Washington (papel de Laura Harrier), o final da história é alterado, um final feliz é criado como forma de passar esperança para muitas gerações de minorias e excluídos. A mudança do final de Meg pode ser considerada uma analogia as próprias licenças artísticas de Hollywood, que de certa forma, alteram a realidade da época, querendo falar sobre inclusão e desconstruir preconceitos. No final da série, em vez de exibir o clássico "Fim" (The End), aparecem os letreiros "é o começo".

A atriz Camille Washington nunca existiu. Ela é outra criação da trama, mas retrata as inúmeras artistas negras que lutaram pela grande chance que nunca veio em Hollywood, e que muitas vezes tiveram de se sujeitar a papéis de empregadas domésticas caricatas.

 Laura Harrier

Em um de seus primeiros trabalhos, Camile é chamada para servir café em uma cena.  O diretor não gosta do jeito natural que ela faz seu pequeno papel, e pede para ela ser "mais engraçada" e pede para ela fazer como Hattie McDaniel faria. 

Na época, poucos artistas negros sequer eram creditados nos filmes, mas Stepin Fetchit era um popular ator negro, que arrecadava muito dinheiro nas bilheterias. Porém Fetchit sempre tinha papéis caricatos, interpretando personagens burros, malandros e preguiçosos.

Stepin Fetchit

Hattie McDaniel realmente existiu, e aparece na série, interpretada magistralmente por Queen Latifah. Ela foi a primeira atriz negra a ganhar um Oscar (de Melhor Atriz Coadjuvante), por seu trabalho como uma criada em ...E O Vento Levou (...Gone With the Wind, 1939).

Queen Latifah e Hattie McDaniel

McDaniel, como mostrado na obra, foi barrada na cerimônia do Oscar, no qual foi vencedora. Clark Gable ameaçou boicotar a premiação pois a atriz originalmente nem seria convidada, mas Hattie teve que sentar sozinha em uma mesa nos fundos, encostada na parede, enquanto o resto do elenco e equipe do filme sentavam juntos em uma mesa no salão principal. Na série, ela diz que ficou esperando no saguão.

Ela também foi proibida de entrar na pré-estreia de ...E O Vento Levou, junto com o resto do elenco negro do filme, como Butterfly McQueen, que interpretou a criada  Prissy neste clássico do cinema. Ao pedir que Camile atue de forma mais engraçada, ela faz trejeitos mais parecidos com a caricata Butterfly do que com a atuação de Hattie, que mesmo ganhando um Oscar, nunca recebeu um bom papel, e nunca deixou de interpretar empregadas. (Leia mais sobre Hattie McDaniel aqui, e sobre Butterfly McQueen aqui).

Hattie McDaniel também é apresentada como lésbica na série, tendo um relacionamento com Tallulah Bankhead (Paget Brewster). E embora Hattie tenha sido casada algumas vezes, há rumores de sua bissexualidade. Tallulah também é uma personagem real, e por ser assumidamente homossexual, teve sua carreira bastante prejudicada à partir da década de 1940.

O filme A Malvada (All About Eve, 1950), é inspirado no relacionamento de Tallulah, uma estrela dos palcos com uma atriz aspirante que se aproveitou de sua fama.

Tallulah Bankhead e Paget Brewster

Após o sucesso de Meg, Camille Washington ganha o Oscar de Melhor atriz, no ano de 1948. Isto também é romanceado, e nunca aconteceu. A vencedora do Oscar daquele ano foi Loretta Young, por Ambiciosa (The Farmer's Daughter, 1947).

Somente em 1954 uma atriz negra seria indicada ao Oscar na principal categoria de atuação. Foi Dorothy Dandridge, por Carmen Jones (Idem, 1954), mas não venceu. Foi apenas muitos anos depois, em 2001 que uma atriz negra venceu na categoria de melhor atriz: Halle Berry, por A Última Ceia (Monster's Ball, 2001).

Dorothy Dandridge também não emplacou na carreira, e deprimida, cometeu suicídio em 1965, aos 42 anos de idade. E embora não tenha existido, Camille Whasington é levemente inspirada na atriz Fredi Washington, que fez muito sucesso no filme Imitação da Vida (Imitation of Life, 1934), mas sua carreira não foi pra frente por se recusar a pintar o rosto de branco, como Lena Horne faria no começo de sua carreira. (Leia mais sobre Freddi Washington aqui).

Fredi Washington


O Estúdio Ace passa a ser comandando pela antiga atriz Avis Amberg, que passa a ser a primeira mulher a comandar um estúdio de cinema. Antiga estrela do cinema mudo, Avis é interpretada pela cantora Patti LuPone.

Avis Amberg também nunca existiu, mas muitas estrelas do cinema mudo realmente viram suas carreiras serem destruídas com a chegada do cinema falado, e diversas destas antigas glórias do passado tiveram que se virar arrumando pequenos empregos nos bastidores dos estúdios, ou viraram figurantes.



Na vida real, foi apenas em 1980 que uma mulher comandou um estúdio, quando Sherry Lansing assumiu o controle da FOX. Antes dela, Irene Selznick, filha de Louis B. Mayer e esposa de David O. Selznick, tornou-se uma bem sucedida produtora de teatro, embora sempre fosse vista como uma mera socialite.

Irene Selznick

Ava conhece o jovem Jack Castello (papel de David Corenswet) em um posto de gasolina. O jovem e belo rapaz é outro que sonha em ser ator em Hollywood. Mas para se sustentar, trabalha como garoto de programa no posto de gasolina, que leva as clientes para "a terra dos sonhos". Muitos dos programas são realizados em um trailer nos fundos do estabelecimento, onde jovens rapazes prestam serviços para mulheres e homens endinheirados.

Jack se torna um astro, e contracena com Camille Washington em Meg. Jack Castello não é real, mas o posto de gasolina sim. O Richfield Station ficava na 5777 da Hollywood Boulevard, e era frequentado inclusive por astros de cinema como Cary Grant, Katharine Hepburn e Walter Pidgeon. O trailer também era real, um amigo do dono do posto de combustível pediu para deixa-lo estacionado no local, por não ter onde guarda-lo, e teve seu veículo transformado em um mini bordel.

David Corenswet


Scotty Bowers (1923-2019) foi um dos garotos de programa do local. Ele foi um dos muitos meninos bonitos que não alcançaram o estrelato em Hollywood, mas anos mais tarde contou sua história em um livro, lançado em 2012. Na década de 1960, em seus diários, o famoso fotógrafo das estrelas Cecil Beaton relatou um encontro sexual com Bowers na terra dos sonhos.

O posto de gasolina real


Scotty Bowers

Jack Castello nunca existiu, ao menos não o ator mostrado na série Hollywood. Mas realmente existiu um ator chamado Jack Castello, que fez poucos filmes ainda no cinema mudo, e nunca chegou ao estrelato, ficando relegado a pequenos papéis na história do cinema. Pouco se sabe sobre a vida deste ator, que provavelmente não serviu de inspiração para a série.

Jack Castello original

As festas na casa do diretor George Cuckor também realmente aconteciam, com a presença de garotos e garotas de programa (mas haviam festas só para "cavalheiros"). Elas costumavam durar dois ou três dias, mas bebidas alcóolicas eram proibidas. A polícia geralmente fazia vista grossa para as farras, mas chegou a prender o diretor e os convidados em uma ocasião, mas a MGM abafou e resolveu rapidamente o caso. Vivien Leigh, que realmente foi internada em uma clínica psiquiátrica, costumava frequentar a casa do diretor.

Festa na casa de George Cuckor

Vivien Leigh nadando na piscina do diretor

Raymond Ainsley (Darren Criss), o diretor de Meg, e namorado de Camille Washington também não é real. Ele se torna o primeiro diretor de origem oriental (ele é metade filipino) a ganhar um Oscar. Seu filme também é agraciado como melhor filme de 1948. Mas na verdade o vencedor de Melhor Filme foi A Luz é Para Todos (Gentleman's Agreement, 1947), que também deu o Oscar de Melhor diretor para Elia Kazan.

Darren Criss

Um diretor oriental foi concorrer ao Oscar apenas em 1965, na categoria de melhor filme estrangeiro. Foi somente em 2000 que Ang Lee foi indicado como melhor diretor por O Tigre e o Dragão (Crouching Tiger, Hidden Dragon, 2000). Ang Lee venceria o prêmio de melhor diretor cinco anos depois, por O Segredo de Brokeback Mountain (Brokeback Montain, 2005).

Ainsley tem verdadeira obcecação em dar uma grande chance para a atriz Anna May Wong, uma americana de origem chinesa. Anna May Wong realmente existiu, e chegou a ser uma estrela, mas sempre ficou presa a papéis estereotipados, e realmente perdeu o papel em Terra dos Deuses (The Good Earth, 1937) para Louise Rainer, uma atriz branca pintada de chinesa (yellowface), que acabou ganhando um Oscar por este trabalho. Na vida real, seu último filme havia sido uma produção menor em 1942. Na série da Netflix, Anna May Wong retorna as telas em Meg (1948), e ganha o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante. Entretanto, como já foi dito, Meg não é real, e Anna May nunca sequer foi indicada ao Oscar. A vencedora daquele ano foi Celeste Holm, por A Luz é Para Todos (Gentleman's Agreement, 1947).

Anna May Wong retornou ao cinema em 1949, fazendo pequenos papéis até 1961, ano em que morreu, aos 56 anos de idade. Michelle Krusiec interpretou a atriz na série.

Em 1957 Miyoshi Umeki tornou-se a primeira oriental (e única) a ganhar um Oscar, de Melhor Atriz Coadjuvante, por Sayonara (Idem, 1956). (Leia mais sobre Mioshi Umeki aqui).

Michelle Krusiec e Anna May Wong

O roteirista Archie Coleman (Jeremy Pope) também nunca existiu. Negro e gay, ele também é um dos garotos de programa do posto de gasolina, antes de ganhar o Oscar de Melhor Roteirista por Meg. Namorado do aspirante a ator Rock Hudson, ele assume a homossexualidade entrando de mãos dadas ao lado do seu amado na cerimônia do Oscar, e dedica o prêmio para ele.

Um belo exemplo, mas que infelizmente nunca aconteceu. Em plena era do MacChartismo, Hollywood não aceitava casais inter-raciais, muito menos casais homossexuais, ainda mais de raças diferentes. Demoraria muitos anos para isto ser aceito, e até hoje existe muito preconceito.

Jeremy Pope

O vencedor do Oscar de Melhor roteiro original daquele ano foi o famoso escritor Sidney Sheldon, pela leve e bobinha comédia Solteirão Cobiçado (The Bachelor and the Bobby-Soxer, 1947).

Um ganhador do Oscar só foi mencionar um companheiro do mesmo sexo ao receber seu prêmio em 1992, e em uma categoria com bem menos prestígio: Debra Chasnoff agradeceu sua parceira, Kim Klausner, ao levar a estatueta de melhor documentário em curta metragem.

Debra Chasnoff

Foi somente em 1972 que Lone Elder, um roteirista negro, foi indicado ao Oscar. E apenas recentemente, em 2018, que Jordan Peele, escritor de Corra! (Get Out, 2017), venceu um Oscar de Melhor Roteiro Original.

Jordan Peele

Rock Hudson é dos poucos personagens principais da série que são verídicos. Ele se tornou astro em Hollywood, onde trabalhou por três décadas, e foi indicado ao Oscar em 1956. Hudson era realmente gay, e chegou a ser cliente do posto de gasolina, e foi sim agenciado por Henry Wilson.

Em Hollywood, da Netflix, ele é interpretado pelo ator Jake Picking. Mas sua história é romanceada na trama. Ele realmente teve um caso com Wilson, mas nunca conseguiu se livrar dele. Wilson construiu e conduziu sua carreira por muitos anos, e manteve o ator "no armário" por toda a vida. Na verdade, a homossexualidade de Hudson só se tornou pública em 1985, após a morte do ator, vítima do HIV, quando ele tinha apenas 59 anos de idade.

Jake Picking e Rock Hudson

Rock Hudson nunca apareceu em público com um companheiro do mesmo sexo. E seu primeiro romance homossexual conhecido foi com o figurante Lee Garriton, em 1962 (mas só conhecido do público após a morte do astro em 85). Hudson foi obrigado por Wilson a se casar com Phyllis Gates, a secretária do agente, para manter as aparências. Ela aparece brevemente na série, interpretada por Elizabeth Schmidt.

Hudson namorou muitas atrizes de fachada, e em 1955 após a revista Confidential ameaçar expor fotos dele com outro homem, Henry Wilson negociou com a publicação fotos íntimas de outro de seus contratados, também gay, o galã Tab Hunter, que teve sua carreira destruída.

Como pagamento também entregou a ficha criminal de Rory Calhoum, outro de seus agenciados. Calhum havia sido preso por roubo de carro antes da fama.

Rory Calhoum (Wyatt Walker) aparece brevemente na série, ele é o jovem ator com quem Henry Wilson obriga Hudson a fazer sexo a três, enquanto ele assiste. O nome do outro ator é fictício, mas esta era uma prática comum do agente de talentos. Ele também fotografava essas orgias, para chantagear seus clientes, caso se rebelassem.

Rory Calhum real, e em Hollywood

Outro contrato de Wilson que aparece na obra é Guy Madison. O galã lançando por Henry Wilson era rebelde, e não aceitava as imposições do seu agente. Ele foi o primeiro a romper o contrato com Wilson, que inventou o termo "beefcake" (algo como pedaço de carne, na tradução), para se referir ao ator pejorativamente na imprensa. Na série ele aparece sendo criticado por ter engordado.

Particularmente, achei que o ator Antony Coons não lembrava em nada a beleza do galã Madison.


Rock Hudson  nunca teve seu final feliz, e como Peg Entwistle, o criador Ryan Murphy criou uma vida feliz para ele a fim de dar esperança ao telespectador. Hudson viveu a vida escondido, fingindo uma heterossexualidade para poder ser aceito em Hollywood.

Ao morrer vítima de HIV, teve sua vida devastada, e foi julgado por sua sexualidade. Muitos disseram que ele morreu por seu gay, quando na verdade o ator foi contaminado em uma transfusão de sangue durante uma cirurgia cardíaca.

Henry Wilson, vivido magistralmente por Jim Parson, o Sheldon Cooper de The Big Bang Theory, explorou diversos garotos bonitos ao longo dos anos, mas a história de Junior Durkin, comentada por ele na série é real. Foi após a morte do jovem ator, falecido aos 19 anos de idade, que ele passou a adotar métodos inescrupulosos.

Diferentemente de Hollywood, Wilson só produziria um filme em 1961, Quando Setembro Chegar (Come Setember, 1961), estrelado justamente por Rock Hudson.

Jim Parson e Henry Wilson

Outra história comentada por Wilson, brevemente, na série, é do ator William Haynes (chamado na série carinhosamente como Billy), um astro famoso que abandonou a carreira para viver com o seu namorado, com quem ficou a vida inteira. Haynes posteriormente tornou-se decorador.

Henry Wilson nunca se redimiu, nem parou de beber, mas passou a ser desacreditado pelos seus métodos no final da década de 1960. Ele morreu pobre e esquecido em um asilo, em 1974. (Leia mais sobre Rock Hudson aqui, sobre Henry Wilson aqui, sobre Junior Durkin aqui e sobre William Haynes aqui).

Dick Samuels (Joe Mantello), Ellen Kincaid (Holland Taylor, de Dois Homens e Meio), Claire Wood (Samara Weaving) e Jeanne Crandall (Mira Sorvino) também são personagens ficcionais. Porém, a atriz Jeanne Crandall, é levemente inspirada em Lana Turner, que em 1948 começava a entrar em decadência e nunca havia sido considerada uma grande interprete. Lana foi uma das primeiras agenciadas por Henry Wilson e foi amante do produtor e dono de estúdio Howard Hughes.

Mira Sorvino e Lana Turner



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