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Rock Hudson, o astro que viveu reprimido




Rock Hudson foi um dos maiores astros da história do cinema. O galã conquistou uma legião de fãs ao longo dos anos e transitava bem entre os mais variados gêneros, seja nos dramalhões de Douglas Sirk ou nas comédias leves e açucaradas ao lado de Doris Day ou interpretando homens brutos em diversos westerns.


Roy Harold Scherer Jr. nasceu em Winnetka, Illinois, em 17 de novembro de 1925. Seu pai abandonou a família quando ele tinha quatro anos de idade, e sua mãe voltou a casar com um homem chamado Wallace Fitzgerald, que o criou. Ao longo da vida o ator acrescentou o sobrenome Fitzgerald em seu nome real, em homenagem ao padrasto.

Rock aos oito anos

Aos 18 anos, em 1943, ele já trabalhava para ajudar na renda da família. Primeiro Rock Hudson foi entregador de malas postais, e depois passou a trabalhar como motorista de caminhão. Em 1944 ele se alistou na marinha, e lutou nas Filipinas. Ele deixou aas forças armadas dois anos depois.

Rock Hudson na Marinha

Logo após dar baixa do exército, ele mudou-se para Los Angeles, para tentar carreira de ator. Hudson até tentou estudar atuação na Universidade da Califórnia, mas não conseguiu a vaga devido a suas baixas notas escolares. Ele continuou trabalhando como caminhoneiro, e nas horas vagas ia para a frente dos estúdios cinematográficos, distribuir fotografias suas, sonhando em ser descoberto.

Uma das fotos foi parar na mão de Henry Wilson, um polêmico e controverso agente de talentos que descobriu diversos rapazes bonitos de Hollywood. O primeiro cliente de Wilson havia sido o jovem e trágico Junior Durkin, morto em 1935, com apenas 19 anos de idade.

Wilson costumava abordar rapazes bonitos, muitas vezes em bares gays, afim de promovê-los a astros de cinema. Porém, a fama tinha um custo, que incluía oferecer os meninos como moeda de troca para empresários poderosos na indústria do cinema. Além disto, também costumava chantagear e destruir a carreira de um cliente que não se comportasse conforme sua cartilha.

Rock Hudson foi seu cliente mais famoso.

Leia mais sobre Junior Durkin aqui. Leia mais sobre Henry Wilson aqui.

Henry Wilson e Rock Hudson

Wilson também era famoso por criar nomes artísticos e poderosos para suas descobertas, e Roy Harold Scherer Jr. tornou-se inicialmente "Roc Hudson", segundo o agente, uma referência as rochas do Rio Hudson. 
Logo o jovem aspirante ator estreava no cinema, em um pequeno papel em Sangue, Suor e Lágrimas (Fighter Squadron, 1948).

Rock atrás de Robert Stack, e Edmond O'Brien, em Sangue Suor e Lágrimas

Em seguida o ator atuou em Sangue Acusador (Undertow, 1949). Mas Wilson percebeu que o nome "Roc Hudson" remetia a atriz Rochelle Hudson, chamada carinhosamente nos bastidores de "Roc", e o agente resolveu melhor mudar o nome do ator para "Rock". Anos mais tarde Rock Hudson declarou em uma entrevista que odiava o nome artístico que o fez famoso.

Após atuar em pequenos papéis em oito filmes, Rock Hudson teve um papel de destaque em O Crime do Circo (The Fat Man, 1951), tendo a inglesa Julie London como seu primeiro par romântico das telas.

Rock com Julie London em O Crime do Circo
Em 1951 ele teve um papel de apoio em seu primeiro western, E O Sangue Semeou a Terra (Bend of the River, 1952). Hudson percebeu que estava se tornando um astro quando na pré-estreia as fãs gritavam mais o seu nome do que de James Stewart, o protagonista do filme que já tinha uma sólida carreira em Hollywood.

Arthur Kennedy,James Stewart e Rock Hudson em E o Sangue Semeou a Terra

Entre 1952 e 1953 o ator esteve presente em diversos filmes, incluindo o westerns Império do Pavor (Horizons West, 1952), a comédia Sinfonia Prateada (Has Anybody Seen My Girl, 1952), e a aventura A Espada de Damasco (The Golden Blade, 1953).


No ano seguinte atuou em Herança Sagrada (Taza, Son of Cochise, 1954), uma produção em 3D, dirigida por Douglas Sirk. Hudson vivia o líder apache Taza, filho de Cochise, em um de seus papéis mais famosos.
Rock Huson em Herança Sagrada 

Hudson já havia trabalhado com Douglas Sirk em Sinfonia Prateada, e o sucesso de Herança Sagrada o transformou em um dos atores preferidos do cineasta. Com ele o ator fez alguns de seus melhores trabalhos no cinema: Sublime Obsessão (Magnificent Obsession, 1954), Tudo que o Céu Permite (All That Haven Allows, 1955), Sangue Rebelde (Captain Lightfoot, 1955), Palavras ao Vento (Written on the Wind, 1956) e Hino de uma Consciência (Battle Hym, 1957).

Em 1955 a revista Confidential, especializada em fofocas de Hollywood, escreveu uma matéria revelando que Hudson era gay e havia tido um romance com seu empresário e estava em um relacionamento com o ator George Nader. A Confidential usava métodos nada tracionais para conseguir as notícias, e chegou a pagar a aspirante a atriz Francesca de Scaffa para dormir com celebridades, e relatar o encontro em suas páginas. (já contamos o escândalo de Francesca de Scaffa aqui).

Rock Hudson e George Nader

Sabendo que a revista chegaria as bancas, e que isto destruiria a imagem do seu maior galã, Wilson fez um acordo com publicação, entregando escândalos de seus outros clientes. Como pagamento pelo silêncio, ele entregou a ficha criminal de Rory Calhum, que havia sido preso por roubo na juventude, e fotos de Tab Hunter participando de uma festa de pijamas, só para rapazes. Anos mais tarde, Confidential seria também o nome do documentário estrelado por Tab Hunter, contanto sua vida e como era difícil ser gay na velha Hollywood.

As fotos de Tab Hunter haviam sido tiradas pelo próprio Wilson, que promovia festas para rapazes em suas propriedades. Elas tinham como convidados produtores, distribuidores de cinema e empresários dispostos a financiar seus projetos cinematográficos. Muitos de seus meninos eram oferecidos como "moeda de troca", e o agente fotografava tudo, para poder chantagear algum dos meninos mais problemáticos.

Hunter, que era um grande astro, havia despedido o empresário, e assinado contrato com outro agente.



O acordo para poupar a carreira de Rock Hudson também incluiu revelar que George Nader era gay, e desde 1947 vivia com Mark Miller, com quem ficou até a sua morte, em 2002. Na verdade, Hudson e Nader nunca namoraram, e eram apenas grandes amigos, tanto que o ator em ascensão aceitou sacrificar sua carreira para proteger Hudson.

Anos mais tarde, em uma entrevista, Nader relembrou: "Vivíamos com medo de uma denúncia, ou mesmo de um pequeno comentário, uma sugestão velada de que alguém era homossexual. Tal suspeita causava um terremoto no estúdio. Todo mês, quando a Confidential era lançado, nossos estômagos começavam a revirar. Qual de nós seria o próximo?"

Wilson ainda para abafar os rumores, obrigou Rock Hudson a se casar com sua secretária, Phyllis Gates, para manter sua imagem de homem viril.

Rock Hudson, Phyllis Gates e Henry Wilson

A popularidade de Hudson estava salva, e o ator chegou ao auge de sua carreira atuar em Assim Caminha a Humanidade (Giant, 1956), de George Stevens. Este trabalho lhe valeu sua única indicação ao Oscar, na categoria de Melhor Ator. O filme tinha um elenco de astros como James Dean (em seu último filme) e Elizabeth Taylor, que se tornou sua grande amiga pela vida toda.

Elizabeth Taylor, Rock Hudson e James Dean em Assim Caminha a Humanidade 

Teste de figurino de Rock para o filme
Em seguida o ator estrelou duas grandes produções, Sangue Sobre a Terra (Something of Value, 1957) e Adeus às Armas (A Farewell to Arms, 1957), que acabou sendo um grande fracasso comercial.

Jennifer Jones e Rock Hudson em Adeus às Armas

Em 1958 Phyllis Gates pediu o divórcio, alegando crueldade mental. Rock Hudson não contestou alegações, e concordou em pagar uma pensão para a ex-esposa por dez anos. Meses antes da assinatura da separação, em agosto de 1958, o ator veio sozinho para o Brasil, para curtir o carnaval.  A imprensa brasileira fazia insinuações sobre a sexualidade do ator, que sem entender, foi alvo de piadas por aqui, recebendo a faixa de "princesa do carnaval".

Apesar disto, o ator retornou ao Brasil em 1973, novamente para curtir o carnaval carioca.

Rock Hudson e sua faixa maldosa

Ilka Soares e Rock Hudson no carnaval carioca

Rock Hudson no Rio de Janeiro, em 1973

Em 1959 Rock Hudson era o ator mais popular de Hollywood, e a MGM fez uma oferta milionária para Universal, que detinha seu contrato, para que Hudson fosse o protagonista de Ben Hur (1959). Mas a Universal não o liberou, e Charlton Heston acabou ficando com o papel. Heston, no projeto original com Rock Hudson, interpretaria Messala.

Charlton Heston, Marilyn Monroe e Rock Hudson

Hudson não ganhou o papel de Ben Hur, um dos maiores clássicos do cinema, mas no mesmo ano deu um novo rumo a sua carreira, atuando na comédia Confidências à Meia-Noite (Pillow Talk, 1959), seu primeiro filme ao lado de Doris Day, outra grande amiga em sua vida.



O filme era uma comédia leve, ingênua e bastante puritana para a época, mostrando casais dormindo em camas separadas. O pianista Oscar Levant costumava fazer uma piada que dizia "Estou no cinema há tanto tempo que conheci Doris Day antes que ela ficasse virgem".

A dupla faria ainda mais dois filmes, Volta Meu Amor (Lover Come Back, 1961) e Não Me Mandem Flores (Send me no Flowers, 1964).


Doris Day e Rock Hudson em Volta Meu Amor
Rock Hudson fez outras comédias românticas neste período, tendo outras atrizes como parceiras. Com Gina Lollobrigida fez o sucesso Quando Setembro Vier (Come September, 1961) e repetiu a parceria em Amor à Italiana (Strange Bedfellows, 1965); com Leslie Caron atuou em Um Favor Muito Especial (A Very Special Favor, 1965); na Itália contracenou com Claudia Cardinale em A Gatinha que Eu Quero (Ruba al Prossimo Tuo, 1968), eles já haviam atuado juntos antes em De Olhos Vendados (Blindfold, 1966); com Paula Prentiss fez O Esporte Favorito dos Homens (Man's Favorite Sport?, 1964), com Julie Andrews estrelou Lili, Minha Adorável Espiã (Darling Lili, 1970) e com Angie Dickenson ainda atuou em Garotas Lindas aos Montes (Pretty Maids All in a Row, 1971).

Rock Hudson dançando com Gina Lollobrigida em Quando Setembro Vier

Rock Hudson e Claudia Cardinale

Rock Hudson e Julie Andrews

Mas o ator não fez só comédias românticas na década de 1960. Ele atuou em outros filmes importantes, como western O Último Pôr do Sol (The Last Sunset, 1961), a ficção cientifica O Segundo Rosto (Seconds, 1966),  o drama de guerra Tobruk (1967) e Estação Polar Zebra (Ice Station Zebra, 1968).

Rock com Dorothy Malone, Carol Lynley, e Kirk Douglas em O Último Por do Sol

Richard Anderson e Rock Huson em O Segundo Rosto
Ao lado do veterano John Wayne atuou em Jamais Foram Vencidos (The Underfeated, 1969). Para o papel Rock Hudson deixou o bigode crescer, e adotou o visual nos anos seguintes em sua carreira.

John Wayne e Rock Hudson em Jamais Foram Vencidos

Rock Hudson e seu novo visual, usado a partir de 1969

Em 1970 o ator gravou um disco como cantor, mas sua popularidade começava a diminuir. Ele chegou a procurar emprego em uma produção barata feita na Itália, chamada Ninho de Vespas (Hornets' Nest, 1970).

O disco de Rock Hudson, cantor

Rock Hudson cantando

Nos últimos anos de sua carreira, foi na televisão que conseguiu o maior número de trabalhos. Entre 1971 e 1977 ele estrelou a série McMillan & Wife, ao lado da atriz Susan Saint James.

Rock Hudson e Susan Saint James

No cinema ainda atuou em  Inimigos à Força (Showdown, 1973), O Embrião (Embryo, 1976), Avalanche (1978) e A Maldição do Espelho (The Mirror Crak'd, 1980), que reunia um time de astros veteranos como Angela Lansbury, Kim Novak, Geraldine Chaplin, Tony Curtis , Kim Novak, e sua amiga Elizabeth Taylor.

Kim Novak, Rock Hudson e Elizabeth Taylor em A Maldição do Espelho

Também fez alguns telefilmes como A História de Patricia Neal (The Patricia Neal Story, 1981) e A Guerra do Jogo (The Vegas StripWars, 1984), e ainda atuou em O Embaixador (The Ambassador, 1984), seu último trabalho feito para os cinemas.

Também atuou em séries de televisão como Operação Devlin (The Devlin Connection, 1982) e fez uma participação de 9 episódios no mega sucesso Dinastia (Dynasty), entre 1984-1985. O ator iria participar mais da série, mas foi afastado devido a sua condição de saúde, e seu personagem acabou morto na trama.

Sharon Stone e Rock Hudson em A Guerra do Jogo

Rock Hudson e Linda Evans em Dinastia
Rock Hudson já tinha sérios problemas de saúde no início da década de 1980, muitos deles causados pelo uso abusivo de álcool e cigarros. Ele sofreu um ataque cardíaco em 1981, e precisou fazer uma ponte de safena de urgência. A partir de então, o ator parou de beber e de fumar.

Mas em 1984, já debilitado, ele foi diagnosticado com HIV. A doença ainda era um grande tabú, e o ator manteve seu estado de saúde em segredo para poder continuar trabalhando. Ele viajou para diversos países em busca de algum tratamento.

Em 16 de julho de 1985 ele juntou-se à sua grande amiga Doris Day, para anunciar um novo programa de televisão da atriz, no qual ele fez uma participação. O público logo percebeu que o estado de saúde do ator necessitava de cuidados. Aos 59 anos de idade, o ator em nada lembrava aquele galã que brilhou nas telas de cinemas.

Última aparição pública de Rock Hudson, ao lado de Doris Day, em 1985
A imprensa começou a especular que o ator tinha AIDS e em julho de 1985 o ator sofreu um colapso em um hotel em Paris. Seu agente comunicou que ele sofria de um câncer de fígado inoperável. Poucos dias depois, Dale Olson, seu agente, finalmente confirmou ao mundo que o ator tinha HIV.

Segundo Olson, o ator teria sido contaminado durante uma transfusão de sangue quando operou o coração, em 1981.

Rock Hudson foi uma das primeiras grandes celebridades a assumir a doença.

 
Seu estado de saúde era grave, e após alguns meses internado no hospital os médicos disseram que nada ,mais podiam fazer pelo ator. Rock Hudson foi enviado para sua casa em Beverly Hills, e começou a escrever sua autobiografia, cujos direitos autorais ele doou para uma fundação que pesquisa tratamentos para o HIV, presidida pela amiga Elizabeth Taylor. Em seu testamento, também destinou boa parte de sua fortuna para a mesma instituição.

Ainda em seu testamento, Hudson deixou uma pequena fortuna para George Nader e seu companheiro de longa data Mark Miller. Miller trabalhou como seu secretário particular nos últimos 13 anos de vida de Rock Hudson.

Em 02 de outubro de 1985, Rock Hudson morreu dormindo em sua casa, em consequências do HIV. Ele deixou ordens expressas para que nenhum funeral fosse realizado, e apenas uma pequena cerimônia de cremação foi feita. A Revista People fez uma matéria obituário revelando a homossexualidade, até então mantida em segredo, embora ela não fosse segredo para seus amigos pessoais como Doris Day, Mia Farrow, Robert Stack, Angie Dickenson, Elizabeth Taylor e Mammie Van Doren (com quem ele teve um namoro de fachada em 1953).

A publicação abriu um grande debate sobre o homossexualismo e a doença, ainda recente e pandêmica.

Após a morte de Rock Hudson, Marc Christian, companheiro do ator desde 1962, entrou com um processo contra o testamento do ator, alegando "imposição intencional de sofrimento emocional". Christian afirmou que Hudson continuou a ter relações sexuais com ele até fevereiro de 1985, mais de oito meses depois do ator saber que tinha HIV. Embora ele tenha obtido repetidamente resultado negativo para HIV, Christian afirmou que sofreu de "estresse emocional grave" depois de saber através de um noticiário que Rock tinha morrido de AIDS.

Ele também processou Mark Miller, por esconder informações sobre o estado de saúde de Hudson. Em 1989 o júri decidiu que ele tinha direito a parte da herança, e Christian recebeu 5,5 milhões de dólares do inventário.

Marc Christian morreu em 2009.

Rock Hudson e Marc Christian

Rock Hudson,  Michael Jackson e Marc Christian

Em 2020 a vida do ator foi contada na série Hollywood, da Netflix. O ator Jake Picking deu vida a Rock Hudson.

Rock Hudson e Jake Picking




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