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O Mundo Perdido (1925), o primeiro filme Hollywoodiano com cenas filmadas no Brasil


Em 02 de fevereiro de 1925 estrava nos cinemas o filme O Mundo Perdido (The Lost World, 1925), que tornou-se um marco dos efeitos especiais no cinema.

Baseado em uma romance publicado em 1912 por Arthur Conan Doyle, o criador de Sherlock Holmes, e dirigido por Harry Hoyte, o filme mostrava as aventuras do Professor Challenger (Wallace Berry), que tenta provar a sociedade inglesa que existe um mundo perdido, localizado no Brasil, onde habitam dinossauros ainda vivos. Ele então monta uma equipe que parte em uma expedição para trazer provas da existência dos animais pré-históricos.

No elenco dois grandes astros dos tempos do cinema mudo, Bessie Love (como Paula White) e Lloyd Hughes (como Ed Malone).

Ed Malone é um atrapalhado jornalista inglês, perdidamente apaixonado por uma jovem (papel Alma Bennet), que diz que só aceitara se casar com ele se ele tiver uma grande experiência de vida, um feito grandioso que desafie a morte. Ed então se oferece para ingressar na equipe de Challenger, para enfim conquistar sua amada.

Já na floresta Amazônica, o grupo enfrenta muitas dificuldades e perigos, que incluem Homens Macacos, um vulcão ativo e é claro, a ameaça dos ferozes dinossauros.


Sir Arthur Conan Doyle, o autor do livro, aparecia nas cenas iniciais do filme, comentando a obra. Tudo legendado com tabuletas com textos, como era usual nos tempos do cinema silencioso. Esta foi a única aparição de Doyle nas telas de cinema.

Sir Arthur Conan Doyle em O Mundo Perdido

Produzido pela First National, e filmado nos estúdios da Biograph, em Nova York, o filme reproduziu em estúdio a floresta amazônica, com uma riqueza de detalhes impressionante. Meses antes, entre outubro e dezembro de 1924, uma equipe cinematográfica veio ao Brasil captar imagens para insertar no filme. Foram filmados aspectos da floresta, e animais nativos, como onças, cobras e jacarés.



O elenco principal nunca atuou em terras brasileiras, por questões de segurança, logística e custos. As cenas pré-gravadas foram utilizadas através da técnica da dupla exposição, onde imagens são recortadas e sobrepostas sobre outro material gravado. O filme foi pioneiro na técnica, e até hoje, passados mais de noventa anos da realização, estas imagens podem ser consideradas muito bem feitas. Em entrevista a revista A Scena Muda, a atriz Bessie Love disse que este foi o trabalho mais difícil de sua carreira, já que eram preciso horas de gravação para que as marcações ficassem perfeitas, para poder sincronizar o material realizado pelos atores com as imagens já filmadas.

Lloyd Hughes vê um jacaré embaixo de sua palafita, feito com técnica de dupla exposição

Outro exemplo da dupla exposição do filme

Onça pintada, filmada no Brasil, utilizada nas sequências do filme

Apesar das belas imagens da selva amazônica serem novidades na época, o que chamou realmente a atenção do público foram as cenas com os dinossauros. Feitos em stop motion por Willis O'Brien, os animais pré-históricos impressionaram tanto, que choviam cartas no estúdio perguntando onde habitavam aquelas animais fantásticos, que eles até então acreditavam estarem extintos.



Willis O'Brien (1886-1962) foi o pioneiro da animação stop motion, e influenciou muito a obra de Ray Harryhausen, que se consagraria anos depois em filmes como Jasão e o Velo de Ouro (Jason and the Argonauts, 1962).

O'Brien já havia realizado a técnica de animações com dinossauros muitos anos antes, realizando o curta metragem The Dinosaur and the Missing Link: A Prehistoric Tragedy (1915). 

Assista The Dinosaur and the Missing Link: A Prehistoric Tragedy

Ele continuou trabalhando no cinema por muitos anos, sendo responsável também pela animação do clássico King Kong (Idem, 1933).



As miniaturas usadas no filme foram doadas ao Museu de Artes e Ciências de Los Angeles, mas depois de alguns anos a borracha usada nos bonecos começou a se deteriorar, e elas foram guardadas em um armário. Infelizmente, este material acabou emparedado por engano durante uma reforma no prédio, que construiu uma parede em frente ao armário onde estava depositadas.

Em 1929 cogitou-se fazer uma versão sonora do filme, e para isto, todos os negativos do filme mudo deveriam ser destruídos, para não atrapalhar a publicidade da nova obra. Isto não chegou a ser feito, mas o filme foi mutilado, perdendo várias cenas e minutos, e por muitos anos só se conhecia a versão refeita em 1929. Somente em 2014 achou-se uma cópia da versão original com um colecionador, e a partir de então o filme foi restaurado, mas ainda faltam alguns pedaços do filme original, que acredita-se estar perdido.

Em 1926 O Mundo Perdido (The Lost World, 1925), tornou-se o primeiro filme exibido durante o serviço de bordo de um avião.

Muito antes da franquia Jurassic Park empolgar os cinemas, O Mundo Perdido já batia recordes nos cinemas, arrecadando uma pequena fortuna nas bilheterias. Claro que a obra envelheceu, passados mais de 90 anos de sua realização. Ela inclui inclusive atitudes hoje extramente condenadas, como o ator Jules Cowles pintado como um nativo (o malfadado "black face").

Jules Cowen, com a cara pintada no filme

O Filme no Brasil

Bessie Love e Lloyd Hughes vendo um mapa onde aparece o Brasil

No Brasil, a notícia que se realizava um filme norte-americano por aqui não teve grande repercussão. Poucos foram os jornais que noticiaram a presença da equipe estrangeira no nosso país.

Quando o filme estreou no Brasil, em 25 de outubro de 1925, a imprensa brasileira também não fez muito alarde sobre ter cenas realizadas por aqui. Na verdade, os críticos não gostaram da forma caricata que o país foi retratado, de forma selvagem e exótico (o que se repetiria por muitos anos). Chegaram mesmo a criticar por mostrar o Brasil selvagem, enquanto a vizinha Argentina era apresentada como um local bonito e bucólico.

A Noite, 05 de maio de 1926

A Noite, 13 de outubro de 1928

Reparem no segundo anuncio, da exibição do filme em 1928, que antes da sessão era apresentando um show com Betty Blair (não confundir com a atriz Betsy Blair, esposa de Gene Kelly), uma "estrela internacional". Era comum as sessões de cinema brasileiros apresentarem nos intervalos shows de variedades, e "atrações internacionais". Geralmente essas "estrelas estrangeiras" não passavam de meras coristas ou artistas menores no exterior, mas vinham ao país gozando de grande publicidade e tratamento de estrela. Betty Blair (1894-1981), a tal "maior bailarina moderna" nunca passou de uma figurante, que fez pontas em filmes como Luzes da Cidade (City Lights, 1931) e Canção Inesquecível (Night and Day, 1946).

Assista ao filme completo aqui


Veja também: Lia Torá, a primeira brasileira em Hollywood










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