Syn de Conde e Alla Nazimova
Muito antes de Sônia Braga, Morena Baccarin, Rodrigo Santoro ou mesmo de Carmen Miranda, alguns artistas brasileiros trabalharam no cinema norte-americano, alguns com mais ou menos sucesso, mas mesmo assim, sua passagem por Hollywood, a terra do cinema, merece destaque.
Ainda nos tempos do cinema mudo, Sinésio Mariano de Aguiar, ou melhor, Syn de Conde, como ficou conhecido, tornou-se o primeiro brasileiro a trabalhar no cinema norte-americano. Com uma curta carreira, que durou apenas três anos, ele atuou em nove filmes, trabalhando com grandes nomes da época, como Alla Nazimova, Dorothy Gish, Geraldine Farrar e D. W. Griffith.
Syn de Conde
Nascido em Belém do Pará, em 14 de junho de 1894, Sinésio Mariano de Aguiar era filho de um rico industrial local, que havia feito fortuna na época do ciclo da borracha. Como era de praxe na época, o jovem bem nascido foi enviado para estudar na Suíça, e depois foi estudar em Paris, onde entregou-se a boemia da cidade.
Na França, resolveu ir escondido do pai para os Estados Unidos, onde vivia da mesada que recebia. Para disfarçar que abandonara os estudos, escrevia para amigos na Europa, que remetiam as suas cartas de Paris, para enganar sua família.
Enquanto o pai acreditava que o filho estudava para seguir na vida diplomática, Sinésio Mariano de Aguiar dançava maxixe em cabarés de Los Angeles, e dividia o quarto de pensão com um jovem italiano que sonhava em se tornar astro do cinema. O colega era ninguém menos que Rudolph Valentino.
Syn de Conde, dançarino de maxixe
Em 1918 o jovem bon vivant, que já estava há dois anos em Los Angeles, foi tomar chá no salão de um luxuoso hotel. Ele se encantou com uma jovem que estava no local, e pediu para o garçom levar até sua mesa um buquê de rosas.
A moça retribuiu a gentileza entregando-lhe seu cartão de visitas, com o local e hora para ele a encontrá-la escrito no verso. Na frente, com seu telefone, o nome da beldade, Alla Nazimova, uma das maiores estrelas do cinema daquela época.
Sinésio havia assinado o bilhete das flores como Syn (com Y, pois Sin, em inglês, significa pecado) e inventou o sobrenome De Conde, retirado de uma garrafa de vinho que estava em sua mesa.
Syn de Conde foi até o local indicado no bilhete, e ficou surpreso ao se deparar com um estúdio de cinema. Até então, ele não sabia quem era Alla Nazimova. A atriz, que era russa, ficou surpresa ao saber que o jovem era brasileiro, pois achava que ele era francês, devido ao nome "artístico" adotado por ele.
Na visita, ele viu Nazimova gravando algumas cenas de seu novo filme, e em uma delas, um rapaz dançava a dança apache, muito popular na época, em especial nos cafés parisienses. Syn disse ao diretor que os passos estavam errados, e demonstrou como se dançava aquele ritmo. O ator inicialmente contratado foi demitido, e Syn de Conde ficou com o papel, estreando no cinema em Revelação (Revelation, 1918), ao lado de Alla Nazimova.
Assim, Syn de Conde tornou-se o primeiro ator brasileiro a trabalhar em Hollywood. Após sua estréia no cinema norte-americano, Jack Wilford (na verdade, José dos Santos Viana, nascido em Petrópolis) atuaria no cinema inglês, a partir de 1919. Mesmo ano em que estreou em Hollywood, outro brasileiro, nascido em Manaus, de nome Antônio Rolando.
Alla Nazimova e Syn de Conde
Jack Wilford e Antonio Rolando
O rapaz atlético, que havia jogado futebol profissionalmente, quando ainda morava no Pará, logo conseguiu outro papel na Metro (futura MGM), o mesmo estúdio onde fizera Revelação, atuando em The Brass Check (1918). E na Paramount atuou em A Defesa de Um Inocente (Out of the Shadow, 1919).
Syn de Conde e Pauline Frederick, em A Defesa de Um Inocente
Acreditando que o ator fosse francês, D. W. Griffith o convidou para interpretar o Conde de Brissac em A Garota que Ficou em Casa (The Girl Who Stayed at Home, 1919), que foi um de seus papéis mais importantes no cinema.
Syn de Conde e Carol Dempster em A Garota Que Ficou em Casa
De Conde ainda atuou nos filmes Mary Regan (1919), A Rosa do Norte (Rose of the West, 1919), A Chama do Deserto (Flame of the Desert, 1919), Audaz da Conquista (Rouge and Riches, 1920) e Moongold (1921).
Mas em 1921 um amigo de seu pai disse que viu Sinésio puxando um camelo no filme Chama do Deserto, no Cine Olympia, de Belém. O pai incrédulo correu para a sala de projeção e descobriu que o filho, que devia estar em Paris, na verdade estava em Hollywood. E ordenou que ele voltasse imediatamente para casa. Além disto, o filho rebelde havia se casado com uma norte-americana, de nome Anna Pauley.
Syn de Conde e Geraldine Farrar em Chama do Deserto
Sinésio pediu anulação do casamento, e teve que pagar uma pequena fortuna de indenização para a ex-esposa, antes de voltar para o Pará. Ele havia acabado de estrelar Moongold, que acabou se tornando seu último filme.
Syn de Conde, o Arlequim de Moongold
Ao contrario de Antonio Rolando, e Jack Wilford, que atuaram no cinema brasileiro após retornarem para casa, Syn de Conde nunca mais voltou a atuar. Ele voltou a ser o anonimo Sinésio Mariano de Aguiar, funcionário do Ministério da Agricultura, onde permaneceu por 44 anos, até se aposentar.
Mas em 1927, durante uma viagem ao Rio de Janeiro, e com saudades da fama, escalou um prédio na Avenida Rio Branco, imitando a cena de Harrold Lloyd no filme O Homem Mosca (Safety Last, 1923), ganhando novamente destaque nas principais publicações brasileiras.
A multidão o carregou no colo após o feito, mas após algumas fotos, ele desapareceu novamente.
Sinésio Mariano de Aguiar também foi professor de inglês, e casou-se novamente, mas nunca teve filhos. Em 1974, a Cinemateca do Rio de Janeiro o homenageou com uma exposição, onde exibiu fotos e correspondências do ator, dos tempos de Hollywood. E em 1984, a mesma instituição fez uma mostra com alguns de seus filmes.
Syn de Conde, o primeiro brasileiro a atuar em Hollywood, faleceu no Rio de Janeiro, em 28 de maio de 1990.
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1 Comentários
Que história fabulosa. Por si só, renderia um belo filme. Parabéns pela postagem!!!!!!!
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