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Crítica: Blonde (2022), a cinebiografia de Marilyn Monroe



Blonde (2022), a cinebiografia de Marilyn Monroe estreou na plataforma de streaming Netflix, e retrata um perfil ao mesmo tempo cruel e sensível de uma das maiores lendas de Hollywood, onde a mulher por trás do símbolo sexual é priorizada.

Com uma longa duração, o filme aborda diversos aspectos da vida da estrela, e ajuda o público a entender algumas das nuances da personalidade turbulenta Marilyn Monroe, uma atriz atormentada por pelos fantasmas de sua infância.

A atriz cubana Ana de Armas está perfeita no papel, não só pela caracterização, mas pela composição da personagem fragilizada encoberta pelo mito. O filme tem direção assinada por Andrew Dominik.


Foto de Ana de Armas e de Marilyn Monroe


Vinda de um lar disfuncional, Marilyn era filha de uma mãe esquizofrênica, e só conheceu o pai através de uma fotografia. E o filme é fiel em retratar isto, e mostra como a ausência do pai marcou a vida da atriz, que buscava uma figura paterna em seus relacionamentos com homens mais velhos, a quem chama de "papai"

Na vida real, Gladys, a mãe de Marilyn trabalhou como montadora de cinema na década de 1920. Ela registrou a filha em nome de seu ex-marido Martin Edward Mortensen, mas havia se separado dele muito tempo antes de Marilyn, ou melhor, Norma Jean, nascer.

Gladys Baker dizia para a filha que seu pai era um grande nome da indústria do cinema, e conservava com ela uma foto de seu suposto pai, embora nunca tenha revelado a filha seu nome. Quando pequena, Marilyn chegou a fantasiar que seu pai seria o ator Clark Gable, um grande nome em Hollywood.

O homem da foto era Charles Stanley Gifford (1898-1965), chefe de Gladys Baker no departamento de montagem da RKO. A comprovação da paternidade ocorreu somente em 2022, após um exame de DNA que envolveu um bisneto de Charles e amostras de cabelo da atriz, recolhidas em sua autópsia.

Mas ao contrário do filme, onde Marilyn recebe cartas constantes de seu pai, a atriz nunca teve nenhum contato com ele. As cartas são uma licença poética criadas pela escritora Joyce Carol Oates, autora do romance Blonde (2001), no qual o filme foi baseado.


Frances Charles Gifford, o verdadeiro pai de Marilyn Monroe

Oates não escreveu uma biografia documental, e permitiu-se romancear boa parte da história, o que nos é apresentado no filme de Dominik, onde muitas histórias são inventadas, fazendo com que o espectador aceite como verdades fatos que nunca ocorreram.

Talvez a maior ficção da obra seja o triangulo amoroso entre Marilyn Monroe, Charles Chaplin Jr. e Edward G. Robinson Jr., que de fato nunca aconteceu.

Marilyn realmente namorou com Cass Chaplin em 1947, mas só conheceria Edward G. Robinson Jr. anos depois, quando atuou com ele em dois filmes (embora nunca tenham contracenado). Além disto, não existem registros de que ela realmente tenha tido algum relacionamento com Robinson.

A própria capa da revista Confidental, especializada em escândalos e fofocas, também nunca existiu. A maior prova desta história ficcional fica por conta da cena onde Marilyn recebe uma ligação avisando que Chaplin Jr. faleceu, porém o ator morreu em 1968, seis anos após a morte da famosa loira platinada.


Edward G. Robinson Jr., Marilyn Monroe e Charles Chaplin Jr.

Evan Williams, Ana de Armas e Xavier Samuel em Blonde

Talvez a autora tenha romanceado a biografia da artista pelo fato de ambos os herdeiros de astros lendários terem sido renegados por seus pais, assim como ocorreu com Norma Jean Baker, que chegou a acreditar que ela mesmo era filha de um famoso ator que havia a abandonado.

Mas apesar de algumas incoerências histórias, Blonde traça um retrato sensível do mundo de aparências que consumiu Marilyn Monroe, uma mulher culta e inteligente, escondida atrás de um corpo objetificado.

Marilyn é vista em uma constante autodestrutiva, que culminaria em sua morte precoce. Mas há um excesso de explicações que conduzem o espectador para os "porquês" de seu comportamento errático, dando pouca margem para a sutileza e auto interpretação. Além disto o diretor exagera nos recursos da imagem, ora mexendo na proporção da tela, ora intercalando as cenas coloridas e em preto e branco.

Talvez na tentativa de retrarar a confusão mental e a vida caótica da estrela, Dominik acabada dando a impressão de um documentário construído com diversas imagens de arquivo. Mas se a ideia era esta, não deveria subverter fatos da vida real da atriz, que nos fazem pensar: "Marilyn realmente abortou para atuar?", "a atriz foi estuprada por um produtor?" ou "ela realmente apanhou do marido?"

As inúmeras biografias da atriz relaram que ela teria abortado cerca de 12 vezes, desde a adolescência. E após sofrer um aborto espontâneo do filho que esperava do dramaturgo Arthur Miller não conseguiu mais engravidar. Mas não há indícios que teria abortado de Cass Chaplin.

Nenhuma biografia também relata estupro por parte de um produtor, mas sim de seus tutores quando criança. Marilyn sempre negou ter feito o "teste do sofá", e chegou a criticar publicamente as atrizes que se submetiam a isto, mas dado o histórico dos bastidores de Hollywood, não se pode descartar tal hipótese.

Já a cena onde ela é agredida pelo "ex-atleta" também não é possível se confirmar com precisão. Claramente inspirado no jogador de beisebol Joe DiMaggio (seu nome é omitido no filme), a história tem um fundo de verdade, embora os detalhes fossem conhecidos apenas por Marilyn e DiMaggio. Após a estreia de O Pecado Mora ao Lado, onde a atriz protagonizou a famosa cena do vestido voando sobre os vapores do metrô, testemunhas ouviram gritos e pedidos de socorro vindo do quarto de hotel onde o casal estava hospedado, e na manhã seguinte Marilyn apresentava alguns hematomas, mas negou veementemente que tivesse sido agredida pelo marido.


Bobby Cannavale e Ana de Armas em Blonde

Além disto, há algumas lacunas em sua trajetória, como o casamento aos 16 anos de idade, para fugir do sistema de adoção, e os abusos sexuais sofridos na infância, por seus "pais adotivos".

Como já disse anteriormente, achei a caracterização de Ana de Armas surpreendente, em especial nas cenas onde são reproduzidas cenas dos filmes clássicos protagonizados pela atriz.

Adrien Brody também tem uma caracterização fiel na pele do escritor Arthur Miller.




Arthur Miller e Marilyn Monroe e Adrien Brody e Ana de Armas em Blonde

Os cinéfilos mais atentos aos clássicos ainda podem ver brevemente nas telas caracterizações dos atores George Sanders, Jack Lemmon e Joe E. Brown, muito bem executadas. Já a cena de Quanto Mais Quente Melhor, onde a Marilyn de Ana de Armas contracena com Tony Curtis, é o próprio quem aparece na cena, numa técnica que usou recursos de montagem e computação gráfica.

A atriz Joan Copeland, irmã de Miller e cunhada de Marilyn, também aparece brevemente na cena da praia. Copeland morreu em 2022, aos 99 anos de idade. E até Mafia, o cãozinho que Marilyn ganhou de Frank Sinatra pouco antes de morrer, está lá.

Blonde (2022) pode não ser um retrato exatamente fiel, e nem a biografia definitiva sobre o mito Marilyn Monroe, mas é uma obra necessária para compreender a mulher real que personificou um dos mitos mais icônicos da história do cinema.

Vale ainda destacar a trilha sonora do filme, que contou com a contribuição do cantor Nick Cave.





Veja também: Atrizes que Interpretaram Marilyn Monroe






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2 Comentários

  1. En fin de compte beaucoup de bruit pour rien avec ce film. Du déjà vu et peu d investissement de la part de armas, les resconstitutions de films de Marilyn ne sont que des trucages. Ils ont mis sa tête sur le corps de Marilyn et hop ! Pour faire un bon biopic il faut déjà raconter la verite qui était plus passionnante et émouvante.

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