Em 1922 W. F. Murnau dirigiu o clássico do expressionismo alemão Nosferatu (Nosferatu, eine Symphonie des Grauens, 1922), considerado (erroneamente) o primeiro filme de vampiros da história do cinema.
Seu protagonista era Max Schreck, um ator cuja biografia estava envolta de boatos e mistérios, e seu desempenho como o Conde Orlok impressionou tanto, que por muitos anos muitas pessoas acreditavam que ele era um vampiro de verdade.
O filme era baseado no livro Drácula, de Bram Stoker, e quase foi apagado da história do cinema. Florence Stoker, a viúva do escritor, processou o diretor por causa dos direitos autorais, e Nosferatu foi retirado dos cinemas. Com medo de ter que destruir sua obra por determinação judicial, Murnau escondeu uma cópia em um cofre, fazendo com o que o filme só fosse exibido muitos anos depois.
O filme recebeu o nome Nosferatu para burlar os direitos autorais do nome Drácula, e muitos historiadores consideram que este foi o primeiro filme estrelado por um vampiro, baseado no livro de Bram Stoker, mas isto não é verdade.
Há indícios de que a primeira adaptação cinematográfica da obra seja o russo Дракула (Drácula, na tradução) feito em 1920. Mas faltam maiores informações para confirmar se esta produção realmente existiu, apesar de ser citada em alguns livros da história do cinema.
Mas antes de Nosferatu, existiu o húngaro Drakula Halála (1921), que apesar de perdido com o tempo, registros que compravam a existência sobreviveram, como fotos e o poster original, e as fichas técnicas que podem ser levantada através das publicações da época. O ator Paul Askonas vivia o Conde Drácula, e o filme tinha como um dos roteiristas o jovem Michael Curtiz, que mais tarde, em Hollywood, venceria o Oscar de Melhor Diretor pelo clássico Casablanca (Idem, 1942).
Voltando a Nosferatu, o fato de ele ter ficado escondido por muitos anos, ajudou a alimentar muitos mitos em torno do filme, que teria sido banido por "ser maldito". A principal lenda em torno da produção era o fato de que Max Shreck era realmente um vampiro, e teria sido convencido pelo diretor a participar da obra em troca de poder realmente morder o pescoço da atriz Greta Schröder. O mito ganhou ainda mais força após Greta desaparecer das telas no ano seguinte ao lançamento, e voltou a ser comentado após a morte repentina de Murnau em 1931, com apenas 42 anos de idade.
Os rumores diziam que o diretor teria morrido devido a uma maldição, quando na verdade morreu em um acidente de carro.
Em 2000 o ator Willie Dafoe estrelou o filme A Sombra do Vampiro (Shadow of Vampire, 2000), onde vivia Schreck (e foi indicado ao Oscar pela sua interpretação).
Na obra, Greta é retratada como uma atriz muito famosa na época, o que não é verdade. Ela tinha uma pequena filmografia e era praticamente desconhecida, e sumiu das telas em 1923 porque deixou de atuar após dar à luz ao seu primeiro filho. Na época, circulavam rumores que ela havia morrido, mas ela inclusive retornou ao cinema em 1937, e morreu em 1980, com 87 anos de idade.
Schreck (que em alemão significa "susto") já havia atuado em alguns filmes antes de estrelar Nosferatu, mas era desconhecido do público, principalmente por atuar constantemente em papéis estranhos, usando uma pesada maquiagem. Outro rumor menos popular na época, é que Nosferatu havia sido interpretado pelo ator Alfred Abel, outro grande ator do expressionismo alemão.
Mas como surgiram os rumores?
Murnau não queria que o Conde Orlok fosse um nobre transformado pelo vampirismo, mas sim um mostro assassino sem alma, e estava com dificuldades de encontrar um ator capaz de viver o protagonista, até que encontrou Maz Schreck, mais conhecido pelas suas atuações nos palcos.
Magro e muito alto (ele media 1,91), o ator possuía olhos profundos e expressivos, e era o rosto perfeito para o expressionismo alemão. Ele havia atuado na peça Grand Guignol, que ficou muitos anos em cartaz na Alemanha.
Na peça eram encenadas cenas de tortura e era considerada aterrorizadora. Schreck fazia o ajudante do torturador, entregando a ele machados, serras e bisturis, que que eram usados para cometer as maiores atrocidades.
Durante as filmagens de Nosferatu, o ator nunca aparecia sem maquiagem para o elenco e demais membros da equipe, e seu rosto real era conhecido apenas pelo diretor. Quando alguém que trabalhava no filme perguntava seu nome, ele respondia: "Conde Orlok".
O ator nunca comia, bebia água ou interagia com os colegas nos bastidores. Gostando do medo que estava gerando na equipe, ele levou a brincadeira sério demais. Schreck sempre ficava escondido nos cantos com penúria, alimentando sua fama de estranho, sombrio e quieto. Ele só conversava com o diretor, com sua voz assustadora, e usava palavras desconhecidas, uma espécie de dialeto próprio, desconhecido por todos, que ele dizia fazer parte de seu passado.
O ator nunca errava uma tomada, e depois de gravar se recolhia em um canto escuro, ficando em silêncio por horas. E sempre encarava os colegas com um olhar assustador, o que começou a causar medo nos bastidores.
Um produtor tentou abordá-lo, e Schreck tentou morder sua mão. Em outra ocasião, capturou um gato preto e ameaçou sugar seu sangue, como faria um vampiro de carne e osso. Os assistentes de direção, começaram a se recusar a ficar sozinhos com o ator.
Murnau, vendo que os atores estavam apavorados, e isto gerava um realismo assustador nas cenas, comprou a brincadeira, e dizia que ele era um vampiro de verdade, contratado para contar a sua história e precisava ter sua privacidade respeitada. O diretor também dizia que ele estava sendo pago com sangue.
Para aumentar ainda mais o clima de mistério, Max Schreck exigiu não ter seu nome creditado no filme, para preservar sua identidade. O nome real do protagonista do filme permaneceu incógnito por anos.
Friedrich Gustav Maximilian Schreck nasceu em Berlim, em 06 de setembro de 1879. Sua biografia também é um pouco obscura, e cercada de mitos. Diziam que ele, ainda bebê, fora abandonado na porta de um teatro, e começou a atuar em troca de comida e um teto.
Na verdade, ele era filho de um agricultor, que não queria que o filho atuasse. Mas sua mãe, escondida, pagava aulas de interpretação para o filho, que começou a fazer teatro ainda criança, após a morte do pai.
Seus colegas de palco pouco sabiam sobre o ator, que era bastante reservado. Casado com a atriz Fanny Normann (creditada também como Fanny Schreck), mas sem filhos, ele era lembrado pelos atores com quem atuou no teatro como solitário e com um senso de humor excêntrico, que vivia em um mundo remoto e estranho, e passava longas horas caminhando por florestas escuras.
Com um talento para interpretar o grotesco, Schreck especializou-se em papéis incomuns, geralmente interpretando homens muito mais velhos que sua idade real. Com o tempo, ele tornou-se um exímio maquiador e fazia seus próprios figurinos.
Ele fez parte da companhia de Max Reinhardt, de onde surgiram muitos artistas da proeminente indústria cinematográfica alemã. Nos palcos, ele atuou inclusive na produção expressionista Trommeln in der Nacht, que marcou a estreia de Bertolt Brecht.
Schreck interpretou um mestre de cerimônias de um freakshow. Em 1920 ele estreou no cinema, atuando em Texas Freds Braufahrt (1920).
Ele já havia feito cinco filmes antes de ser contratado para viver um personagem análogo a Drácula em Nosferatu, uma super produção do recém criado estúdio Prana Films, que acabou produzindo este único filme, já que foi a falência após o processo movido pela família de Bram Stoker.
Para alimentar a brincadeira, Max Schreck acabou não gozando a fama que o filme, hoje um cult imortal do cinema, poderia ter lhe rendido. Mas ele continuou atuando constantemente no cinema, apesar de nunca mais ter interpretado um vampiro, ao contrário de atores como Bela Lugosi e Christopher Lee, que encarnaram o personagem diversas vezes.
Ele atuou em Os Mistérios de Uma Barbearia (Mysterien eines Frisiersalons, 1923), um curta metragem dirigido por Bertold Bretch e viveu um homem cego em A Rua (Die Straße, 1923).
2 Comentários
Eu adoro esse filme. Um dos melhores de todos os tempos.
ResponderExcluirFilme Icônico. Obra Prima do Cinema Impressionista. Mas Para mim, o maior filme sobre vampiros de toda história, é Nosferatu de Werner Herzog e Klaus Kinsky seu maior intérprete. Para mim Kinsky foi o maior ator que vi atuando.
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