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Will Geer, agricultor, cantor de folk, ativista. A curiosa vida do querido Vovô Walton

Will Geer já era um veterano com mais de 40 anos de carreira quando foi consagrado pelo público no papel do doce e brincalhão vovô Walton, na série de televisão Os Waltons (The Waltons).

Com seus longos cabelos e bigodes, e sempre usando um macacão (muitas vezes com uma alça aberta), ele encantou os fãs da série, que provavelmente já lhe deram boa noite no final de algum episódio.


Mais lembrado pelo seu papel do bonachão vovô, a vida do ator Will Geer é repleta de histórias impressionantes, e algumas injustiças que afetaram muito a sua carreira, antes de sua redenção tardia na televisão.


William Aughe Ghere nasceu em uma pequena cidade do interior de Indiana, em 09 de março de 1902. Sua mãe era professora, e seu pai um carteiro que abandonou a família quando o filho tinha 11 anos de idade.

Geer (seu sobrenome foi americanizado anos depois) cresceu sob forte influência de seu avô, que lhe ensinou muito sobre botânica, algo que iria fazer parte de sua toda a sua vida. Ele se formaria em horticultura na Universidade de Chicago, e fez mestrado na Columbia.

Após a Quebra da Bolsa de Valores de 1929 Will Geer começou a fazer shows cantando em tendas e barracas, em acampamentos de desempregados. Ele também se apresentava nos barcos fluviais que atravessam o país.

Vendo a forte crise, e a situação de miséria em que vivam as pessoas durante a grande depressão, começou a ficar indignado com as injustiças que as pessoas pobres viviam, e começou a defender os direitos e igualdade social. Geer também começou a fazer apresentações em minas de carvão, que tinham empregados em péssimas condições de trabalho.

Em 1928 ele foi contratado pela companhia de teatro de Minnie Maderne Fiske, uma respeitável atriz da década de 1920. Ela o levou para a Broadway, onde ele interpretou Pistol em The Merry Wives of Windsor.

Em 1932 ele estreou no cinema, em um pequeno papel no filme Lição de Bárbaros (The Misleanding Lady, 1932). Nos anos seguintes, o ator faria figuração em outras produções em Hollywood.

Em 1934, quando atuava como ator no Tony Pastor Theatre, ele conheceu o jovem Harry Hay (que fez alguns trabalhos como dublê em Hollywood), e que se tornou o primeiro grande defensor dos homossexuais nos Estados Unidos. Will Geer se apaixonou por Hay, e eles tiveram um intenso relacionamento amoroso.

Harry Hay


Harry Hay era professor e advogado e tornou-se mentor político de Will Geer (que já era membro do sindicato dos trabalhadores marítimos). Eles participaram de grandes greves trabalhistas, e chegaram a presenciar policiais matando à tiros os trabalhadores que protestavam por melhores condições de trabalho em São Francisco, em 1934. O casal também foi pioneiro na luta pelos direitos dos homossexuais, chamados até então de "temperamentais".

Ainda em 1934 Harry Hay foi um dos fundadores do Partido Comunista dos Estados Unidos, e Will Geer tornou-se membro. Ele viajava por comunidades agrícolas como, apresentando-se como cantor, ao lado de nomes como Burl Ives, Woody Gunthrie e Pete Seeger. Além de cantar, ele instruía os agricultores com seu conhecimento em horticultura e direitos sociais.

Foi no mesmo ano que ele conheceu a atriz Herta Ware, com quem se casou em em 1938. Herta sabia de sua bissexualidade e de seu relacionamento com Hay, e ao que parece ela aceitou o relacionamento aberto. Ware era neta de Mother Bloor (Ella Reeves Bloor), uma das primeiras sufragistas do mundo. A união durou até 1954, e o casal teve três filhas durante a relação.

Eles permaneceram amigos por toda a vida, e voltaram a viver juntos no final da vida.

Na década de 1930 e 1940 Geer dedicou-se mais a carreira teatral, embora tenha feito alguns filmes. Ele foi escolhido pelo próprio John Steinbeck para viver Candy na primeira montagem de Ratos e Homens, em 1940. O ator também trabalhou em programas de rádio e narrou documentários destinado a classe trabalhadora, neste período.

Will Geer na década de 1940

Em 1948 fez seu primeiro papel creditado no cinema, atuando em O Órfão do Mar (Deep Waters, 1948). Sua carreira no cinema começa a despontar, e ele apareceu em diversos filmes nos anos seguintes. Normalmente Will era escalado para atuar em westerns, como Terra Selvagem (Comanche Territory, 1950) e Flechas de Fogo (Brooken Arrow, 1950). Também viveu o lendário Wyatt Earp em Winchester' 73 (Idem, 1950).

Mas após atuar em Pioneiros do Sul (The Barefoot Mailman, 1951), sua carreira cinematográfica foi abruptamente interrompida. Will Geer foi convocado pelo senador McCarthy para depor no Comitê de Atividades Anti-Americanas, devido ao seu ativismo político.

Se depondo a delatar colegas de profissão, o ator foi incluído na Lista Negra de Hollywood, tornando-se uma das primeiras vítimas da perseguição McCarthysta (ele foi o quinto nome incluso na relação). Quem entrava na lista, estava proibido de trabalhar na indústria do cinema.

Entre 1951 e 1962 Will Geer só fez um filme, O Sal da Terra (Salt of the Earth, 1954), um filme sobre uma greve de mineiros, que foi produzido, dirigido e estrelado por artistas que também estavam na lista negra. O Sal da Terra foi considerado subversivo, e também foi incluído na lista negra.

Will Geer em O Sal da Terra

Sem poder atuar no cinema, ele vendeu a sua casa em Santa Monica e mudou-se para Topanga, onde fundou o Will Geer Theatricum Botanicum, uma companhia teatral que plantava todas as espécies vegetais mencionadas nas peças de Shakespeare no terreno ao lado do teatro. Com o tempo, a propriedade tornou-se uma fazenda autossustentável, com aulas de interpretação ao ar livre em meio a natureza.

Em 1957, após o senador Joseph McCarthy ser envolvido em diversos casos de corrupção, a restrição aos atores começou a diminuir, e as atividades do Comitê de Atividades Anti-Americanas caiu em descrédito.

Will Geer voltou ao cinema no filme Tempestade Sobre Washington (Advise & Consent, 1962). Ao lado de outros atores outrora banidos, ele interpretava um senador que investigava um governo corrupto. Novos convites para atuar surgiram, e ele também atuou no clássico A Sangue Frio (In Cold Blood, 1967), baseado no livro de Truman Capote, outra vítima do McCarthysmo.

Will Geer em A Sangue Frio

Uma nova safra de diretores passou a recorrer do talento de Will Geer, que atuou em muitos filmes na década de 1960. Gay e comunista, ele geralmente era visto em papéis de sulistas conservadores, propagadores da "moral e bons costumes", e se saia magistralmente.

Geer esteve em filmes como O Segundo Rosto (Seconds, 1966), A Louca Missão do Dr. Schaefer (The President's Analyst, 1967), O Preço de Um Covarde (Bandolero, 1969), Os Rebeldes (The Reivers, 1969) e O Estranho John Kane (Brother John, 1971).

Will Geer, atrás de Steve McQueen, em Os Rebeldes

Paralelamente, conciliou sua carreira com o teatro. Entre 1955 e 1971 Will Geer fez diversas peças na Broadway, e foi indicado ao prêmio Tony por seu desempenho no musical 110 in the Shade (1964). 

Em 1972 ele recebeu muitos elogios por seu papel em Mais Forte que a Vingança (Jeremiah Johsnon, 1972), ao lado de Robert Redford. Ele também fez muitas participações na televisão, como quando interpretou George Washington, na última temporada de A Feiticeira (Bewitched).

Robert Redford e Will Geer em Mais Forte que a Vingança

Will Greer e Elizabeth Montgomery em A Feiticeira

Foi então que veio o sucesso na televisão. Edgar Bergen (pai de Candice Bergen) havia interpretado o personagem Zebulon "Zeb" Walton no telefilme que deu origem a série. Mas curiosamente, recusou fazer o papel do doce, gentil, sábio e engraçado vovô Walton na série de televisão Os Waltons (The Waltons, 1972-1981).

Will Geer então foi chamado para viver o bonachão vovô Zeb, o avó que o mundo passou a amar.

Edgar Bergen e Ellen Corby no piloto de Os Waltons

Will Geer e Ellen Corby em Os Waltons

O vovô Walton era meio travesso, e sempre era repreendido pela vovó Esther (Ellen Corby). Will Greer brilhou tanto no papel que foi duas vezes indicados ao Globo de Ouro, e recebeu seis indicações ao Emmy, vencendo uma delas.

A Família Walton

Richard Thomas (John Boy) e Will Greer em Os Waltons

Ainda gravando a série, o ator fez outros filmes, como O Assassinato de Um Presidente (Executive Action, 1973) e O Pássaro Azul (The Blue Bird, 1976).

Mas era por seu trabalho em Os Waltons que ele era reconhecido e amado. Perseguido por sua orientação sexual e política, agora Will Geer era tão tradicional na América quanto uma torta de maçã. E não teve fã da série que não chorou quando na sexta temporada John Boy deu o último boa noite ao vovô.

Em 22 de abril de 1978 Will Geer faleceu, vítima de uma falência respiratória, aos 76 anos de idade. Os produtores não queriam por outro ator em seu lugar, e assim o vovô Walton morreu também na série. Sua despedida foi um dos episódios mais vistos do programa.

Herta Ware, sua amiga e ex esposa, foi morar em seu rancho, escola, fazenda, após a sua morte.

E sua carreira também teve uma guinada já na fase madura. Antiga atriz de teatro, ela só estreou no cinema em 1978, após a morte de Geer. Herta é lembrada por filmes como Coccon (Idem, 1985).

O local é administrado hoje pelas filhas do casal, onde ainda são ministrados cursos de interpretação, além de ser um local procurado por noivos que querem fazer ensaios fotográficos.

Herta Ware

Ellen Geer e Kate Geer, duas das três filhas do casal, também se tornaram atrizes.






Veja também: Antes e depois do Elenco de Os Waltons

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