O cantor e ator Tony Tornado nasceu Antônio Viana Gomes, na cidade de Mirante do Paranapanema, em 08 de abril de 1930. E foi em 1970, ao vencer o Festival Internacional da Canção (FIC), com a canção BR3, que ele ficou conhecido em todo o Brasil.
Filho de Ray Antenon Roger Patterson e Maldy
Pessanha Viana, Tony Tornado fugiu de casa aos 17 anos, pois queria ser artista e a pequena Mirante do Paranapanema era muito pequena para suas ambições. Ele inicialmente mudou-se para Marília, e depois chegou a cidade do Rio de Janeiro, em 1948.
Seu pai, Ray Antenon, nasceu em Georgetown, em 1911. E apesar de a escravidão no Brasil ter sido abolida em 1888, ainda trabalhou como escravo em fazenda no interior brasileiro na infância. Ele também foi um dos sobreviventes da seita de Jim Jones, que levou ao suicídio de quase mil pessoas, em 1978. Antenon ainda vive.
No Rio de Janeiro, Tornado foi engraxate, e vendendor de amendoim para sobreviver. Em 1949 ele ingressou na Escola de Paraquedismo de Deodoro, onde foi colega de turma de Silvio Santos. O ator conta que na época Silvio fundou uma cantina na escola, e vendia carnaúba para os recrutas limparem os coturnos, já demonstrando sua veia de comerciante.
Em 1957 o paraquedista Tony Tornado chegou a lutar na guerra pelo Canal de Suez. Ao regressar do conflito, começou a se interessar pelo rock and roll, que começava a despontar no Brasil. Em 1958 ele participou do programa Hoje é Dia de Rock, na Rádio Mayrink Veiga.
Usando o nome de Tony Checker (uma alusão a Chubby Checker), ele cantou e dançou twist. O requebrado daquele homem com 2 metros de altura, chamou a atenção do apresentador Carlos Imperial, que o contratou para dançar em seu programa na TV Continental, Festival dos Brotos, ao lado de Roberto e Erasmo Carlos.
Anúncio de festival de Twist em 1962, com a presença de "Tony Checker"
Em 1963 o artista deixou o Brasil, acompanhado do Conjunto Folclórico Coisas do Brasil, indo se apresentar na Europa. De lá, mudou-se para Nova York, indo morar no bairro do Harlém.
Lá conheceu a cultura Black Power, movimento contra a discriminação racial, por intermédio de seu amigo Stokely Carmichael (ativista do Black Power, e marido da cantora Miriam
Makeba). Lá também conheceu o brasileiro Tim Maia, com quem chegou a dividir apartamento.
Morando ilegalmente nos EUA, o cantor foi deportado em 1968. De volta ao Brasil, passou a cantar em inferninhos e cabarés da Praça Mauá, até ser contratado pela boate New Holliday, onde passou a ingressar no conjunto de Ed Lincoln. A casa noturna o obrigou a fingir ser estrangeiro, com o nome de Johnny Bradfort. Influenciado pelo funk e soul de James Brown, Tony Tornado foi um dos introdutores do gênero no Brasil.
Na época em que cantava com Ed Lincoln, Tornado foi o vocalista da canção Waldemar, que fez muito sucesso na época. Neste período também, conheceu a cantora Janis Joplin, por intermédio do cantor Serguei.
E foi cantando na noite que Tornado conheceu os compositores
Antônio Adolfo e Tibério Gaspar, que lhe presentearam a canção BR3, que o cantor defendeu no Festival Internacional da Canção, em 1970, ao lado do Trio Ternura.
Competindo ao lado de nomes como Ivan Lins, Elis Regina, Beth Carvalho, Tom Jobim e Vinicius de Moraes, Tornado era o azarão da competição, sendo o único desconhecido do público. Mas ele cantou e dançou feito um furacão, encantando a platéia, e sagrando-se campeão do FIC.
Tony Tornado se tornava um astro!
Tony Tornado e Trio Ternura, BR3
Ainda em 1970, fez seu primeiro trabalho como ator, participando do programa Chico Anysio Especial, e no mesmo ano, se casou com a atriz Arlete Sales.
Em 1971 estreou no cinema, no filme Tô Na Tua, ô Bicho! (1971).
Mas em 1971, em um show no Maracanãzinho lotado, em plena ditadura militar, Elis Regina, após cantar "Black is Beautiful", de Marcos e Paulo Sérgio Valle, pediu que alguém negro subisse no palco. Na plateia, Tony Tornado não perdeu tempo e gritou:
“Sou eu”. Subiu no palco, abraçou a cantora e ergueu o punho cerrado,
gesto igual ao dos Panteras Negras, grupo revolucionário da década de
1960 que lutava contra o racismo nos Estados Unidos. O cantor já desceu
de lá algemado.
Tony Tornado e Elis Regina, em 1971
Tony Tornado, um astro que despertava a consciência negra, em um casamento interracial, incomodava a ditadura, que o mandou para o exílio forçado. Ele morou então no Uruguai, depois na Tchecoslováquia (República Tcheca), Coréia do Norte, Cuba e Moscou. Ao retornar para o Brasil, beijou o chão, como faria o Papa anos mais tarde.
De volta ao Brasil, estreou na novela Jerônimo, o Herói do Sertão (1972), na TV Tupi. A novela era estrelada por Francisco Di Franco e Lady Francisco.
Canarinho,
Francisco di Franco, Jardel Melo, Eva Christian e Tony Tornado
dirigidos
por Gonzaga Blota em Jerônimo, o Herói do Sertão
Na emissora ele ainda faria a novela Tchan, a Grande Sacada (1976). Na emissora paulista, ele ainda foi o apresentador do show do conjunto Jackson Five em 1974, quando estes se apresentaram na televisão brasileira. Na época, o cantor Michael Jackson tinha 16 anos de idade.
Tony voltou ao cinema em A Virgem (1973), e fez muitos muitos filmes nos anos seguintes, deixando de lado a carreira de cantor.
Tony voltou ao cinema em A Virgem (1973), e fez muitos muitos filmes nos anos seguintes, deixando de lado a carreira de cantor.
Tony Tornado em A Virgem
Neste período ele atuou em Clube das Infiéis (1975), Os Pilantras da Noite (1976), Pesadelo Sexual
de Um Virgem (1976), Chão Bruto (1977), As Amantes de Um Canalha (1977), A
Praia do Pecado (1977), Ouro Sangrento (1979), Uma Cama Para Sete
Noivas (1979), Tráfico de Fêmeas (1980) e o consagrado Pixote, A Lei do
Mais Fraco (1980).
Tony Tornado e Fernando Ramos da Silva em Pixote, a Lei do Mais Fraco
Em 1980 ele ingressou na Rede Globo, atuando no humorístico Os Trapalhões. Ao lado de Didi, Dedé, Mussum e Zacarias, também fez o filme Os Trapalhões e o Mágico de Oroz (1984).
Depois interpretou o mordo do primo rico em Balança Mais Não Cai (1982). Na emissora, estreou nas novelas como Rodésio, o capataz da viúva Porsina (Regina Duarte), em Roque Santeiro (1985). Originalmente, era Rodésio quem ficava com Porsina no último capítulo, e a cena chegou a ser gravada, mas foi vetada pela emissora.
Regina Duarte e Tony Tornado em Roque Santeiro
Outro papel marcante em sua carreira foi o de Gregório Fortunato, o "Anjo Negro", chefe da segurança pessoal do presidente Getúlio Vargas, na minissérie Agosto (1993), baseada na obra de Rubem Fonseca.
Na
TV Globo ainda atuou em obras como Tenda dos Milagres (1986), Sinhá
Moça (1986), Vamp (1991), Sex Appeal (1993), A Viagem (1994), Pátria
Minha (1994), Quatro Por Quatro (1995), O Beijo do Vampiro (2002) e
Cordel Encantado (2011). Também atuou no infantil Caça Talentos (1996) e
no humorístico Zorra Total. Em 2018, atuou na série Carcereiros, e em 2023 interpretou o Frei Tomé na novela Amor Perfeito (2023)
Tony Tornado em Cordel Encantado
No cinema, ainda atuou em A Casa de Irene (1981), As Taras das Sete
Aventureiras (1983), Quilombo (1985), O Rei do Rio (1985), Natal da
Portela (1988), O Gato de Botas Extraterrestre (1990), Vai Trabalhar,
Vagabundo II (2003), Casseta & Planeta: A Taça do Mundo é Nossa
(2003), Um Show de Verão (2004), Redentor (2005), Um Lobisomem na
Amazônia (2005), Odeio o Dia dos Namorados (2013), Os Farofeiros
(2018), O Amor Dá Trabalho (2019), Helen (2021) e Juntos e Enrolados (2022).
Tony voltou a se apresentar nos palcos de todo país cantando seus maiores sucessos, acompanhado da banda Funkessência e de seu filho, o cantor e também ator Lincoln Tornado.
Lincoln Tornado e Tony Tornado
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2 Comentários
Parabéns pelo belo trabalho de pesquisa e pelo compromisso com a nossa memória cultural!
ResponderExcluirQue vida rica e linda! É o nosso "Forrest Gump"! Participou de momentos históricos e tão diversos... Parabéns Tony Tornado! Muita saúde e sucesso!
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