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O assassinato do controverso Bob Crane, de Guerra, Sombra e Água Fresca


Entre 1965 a 1971  a rede de televisão CBS produziu a série Guerra, Sombra e Água Fresca (Hogan's Heroes), que satirizava a Segunda Guerra Mundial. A série levou ao estrelato o ator Bob Crane, que interpretava o Coronel Robert E. Hogan, o protagonista da produção.

Robert Edward Crane nasceu em Waterbury, Connecticut, em 13 de julho de 1928. Crane começou a tocar bateria ainda criança, e aos 11 anos de idade era uma celebridade local, o que valeu ao garoto prodígio um contrato como músico em uma rádio. Ele também fez parte de algumas orquestras de sua cidade e tocava jazz em uma banda da escola.

Bob Crane tocando bateria na escola em 1945

Após se formar no colégio, Bob alistou-se no exército, dando baixa com honras em 1950. Neste mesmo ano, ganhou um programa de rádio em Nova York. Seu programa começou a fazer sucesso e ele foi contratado pela CBS para apresentar um programa matutino, que logo se tornou o campeão de audiência.

Bob Crane no rádio

Seu programa misturava música e humor, e convidados ilustres como Marilyn Monroe, Frank Sinatra e Bob Hope, nesta época ele recebeu o título de "o rei das ondas sonoras de Los Angeles".

Marilyn Monroe no programa de Bob Crane

Crane começou a ser convidado para programas de televisão, primeiro como ele mesmo, depois em pequenos papéis em séries de TV. Sua estréia como ator foi na série Além da Imaginação (The Twillight Zone), em 1961. Carl Rainer, produtor, diretor e roteirista, participou de seu programa de rádio, e o convidou para atuar em um episódio de The Dick Van Dyke Show. Donna Reed assistiu a sua atuação, e o convidou para participar de seu programa, o The Donna Reed Show.

Carl Betz, Donna Reed e Bob Crane

O locutor só faria uma participação, mas o público gostou tanto do personagem de Crane, o Dr. David Kelsey, que ele foi incluído no elenco regular da série, permanecendo até 1965. Em 1964 ele deixou seu programa radiofônico para se dedicar a carreira de ator.

No cinema, sua primeira aparição foi no filme De Volta à Caldeira do Diabo (Return to Peyton Place, 1961). Ele fazia um pequeno papel, não creditado. Em seu trabalho cinematográfico seguinte, teve um papel maior em Beco Sem Saída (Man-Trap, 1961), estrelado por Jeffrey Hunter. Ele ainda faria um papel menor em Torvelinho de Paixões (The New Interns, 1964).

Em 1965 ele chegou ao estrelato como ator, protagonizando Guerra, Sombra e Água Fresca (Hogan's Heroes, 1965-1971). A série, produzida por Bing Crosby, fez um grande sucesso, e no Brasil foi exibida pela primeira vez na década de 70 pela Rede Bandeirantes de Televisão.

John Banner (o sargento Hans Schultz), Crane e Werner Klemperer (Coronel Klink)
em Guerra, Sombra e Água Fresca

Por seu trabalho na série, o ator recebeu duas indicações ao Prêmio Emmy. Ele também ganhou seu primeiro protagonista no cinema, em As Maliciosas Aventuras de Uma Loura (The Wicked Dreams of Paula Schultz, 1968), estrelado por Elke Sommers. O filme ainda tinha seus colegas de série Werner Klemperer, Leon Askin e John Banner no elenco.

Werner Klemperer, Elke Sommers e Bob Crane em As Maliciosas Aventuras de Uma Loura

Na televisão protagonizou o telefilme Esse Mundo é Um Hospício (Arsenic and old Lace, 1969), ao lado das veteranas Helen Hayes e Lillian Gish.

Lillian Gish, Bob Crane e Helen Hayes

Durante a série, ele conheceu a atriz Sigrid Valdis, que interpretava Hilda, a secretária do nazista Coronel Kint. Crane era casado desde 1949, mas separou-se da primeira esposa em 1970, casando com Sigrid poucos meses depois.

Sigrid Valdis e Bob Crane

Porém, com o cancelamento da série, sua carreira de ator estagnou. Ele ainda estrelou dois filmes dos Estúdios Disney. Em Superpai (Superdad, 1971), fazia um pai protetor querendo afastar a filha do namorado, interpretado pelo jovem Kurt Russell. Ele ainda atuaria em Gus, A Mascote (1976), seu último filme.


Kurt Russel, Kathleen Cody e Bob Crane em Superpai

Crane ainda fez algumas aparições em séries de TV, e ganhou o seu próprio programa, The Bob Crane Show (1975), que foi cancelado após 14 episódios. Sem muitos trabalhos no cinema e na TV, ele passou a viajar pelos Estados Unidos fazendo apresentações em teatros.


ORGIAS E O ASSASSINATO

Quando filmava Guerra, Sombra e Água Fresca, o ator Richard Dawson o apresentou a John Henry Carpenter, gerente regional de vendas da Sony Electronics. Eles ficaram amigos. Crane, apesar de representar bons moços na tela, e ser um pai de família, tinha uma vida devassa, regada a sexo, que ele costumava fotografar. O ator tornou celebre a frase "Eu não fumo e não bebo; não ter dois dos piores vícios já é um bom número."

Carpenter então lhe apresentou equipamentos de filmagens, e os dois começaram a frequentar bares em busca de mulheres, para mais tarde filmarem seus encontros sexuais. Carpenter conciliava sua agenda de viagens para vendas com a do ator, para continuarem seduzindo mulheres para suas fantasias eróticas. O ator usava sua popularidade, e dizia que Carpenter era seu empresário.

Bob Crane costumava mostrar seus filmes sexuais para o filho mais velho, Robert, que na época estava cursando a faculdade. Em um certo momento, disse que estava cansado de Carpenter, e achava a amizade deles abusiva, e desconfiava que o amigo estava atraído sexualmente por ele (embora fizessem sexo em grupo, sempre foram relações heterossexuais). Crane disse ao filho que iria cortar relações com o colega de orgias.

No dia 29 de junho de 1978, a atriz Victoria Ann Berry foi até o apartamento que Crane estava hospedado, após o ator não aparecer em uma reunião de elenco de uma peça que estava apresentando no Arizona. Ela encontrou a porta aberta e entrou no local, encontrando o corpo de Bob Crane em sua cama, e o apartamento cheio de sangue. 

Ele havia sido espancado até a morte, nunca se descobriu a arma do crime, mas legistas apontaram que poderia ter sido um tripé de câmera. Bob Crane tinha apenas 49 anos anos.


Junto com o corpo do ator, a polícia encontrou centenas de fitas, com horas e horas das filmagens sexuais do artista.

Equipamento de vídeo de Bob Crane, encontrado na sala do apartamento onde ele morreu

A polícia local não tinha departamento de investigação de homicídio, e os policiais não encontraram nada que servisse de prova no local do crime. Nenhum bem material havia sido roubado. Ao assistirem aos vídeos, foram investigar John Henry Carpenter, que havia voado até a cidade em 25 de junho (quatro dias antes de seu corpo ser encontrado), para visitar o ator.

O carro que Carpenter havia alugado foi revistado, e encontraram traços de sangue e tecido cerebral no veículo, mas ainda não havia teste de DNA, e por não poder concluir a investigação, a polícia acabou não acusando Carpenter. Foi alegado que como o ator havia se envolvido com diversas mulheres, e algumas eram casadas, sendo que diversas pessoas poderiam ter cometido o crime por ciúmes ou vingança.

Em 1990 o caso foi reaberto, e embora as amostras de sangue encontradas tenham sido perdidas pela polícia ao longo dos anos, um juiz decidiu que a evidência era admissível, e em junho de 1992 Carpenter foi condenado pelo assassinato de Crane.

John Henry Carpenter durante o julgamento na década de 90

Durante o julgamento, Robert, o filho de Crane, disse que na noite anterior seu pai havia ligado para Carpenter e cortado a amizade. Os advogados de Carpernter alegaram que as evidências não eram conclusivas, e que a polícia havia feito um péssimo serviço de investigação, inclusive perdendo as provas que tanto poderiam incriminar como inocentar seu cliente. Diante da dúvida presumida, ele foi inocentado pela justiça. John Henry Carpenter faleceu em 1998, jurando inocência.

O assassinato de Bob Crane, oficialmente, continua sem conclusão.

Robert Crane, seu filho mais velho, chegou a afirmar que sua segunda esposa, atriz Sigrid Valdis, poderia ter envolvimento com a morte do ator, já que ela foi a única beneficiária dele em testamento, mesmo eles tendo se separado meses antes de sua morte. Mas a polícia nunca considerou investigar a atriz por falta de evidências. 

Robert Crane Jr. anos mais tarde criou o site porno bobcrane.com, onde cobrava assinaturas mensais para exibir os filmes eróticos feito por seu pai. O site já não existe mais, após os outros filhos do ator entrarem com um processo judicial contra o irmão. 


Bob e Robert Crane, aos 16 anos

O diretor Paul Schrader dirigiu Auto Focus (2002), sobre a história de Bob Crane e John Carpenter, colocando Carpenter como assassino na história. O ator Greg Kinnear interpretou Crane, enquanto Williem Dafoe deu vida a John Henry Carpenter. O filme recebeu excelente críticas e foi indicado a diversos prêmios de cinema independente.



Lucille Ball e Bob Crane em The Lucy Show (1966)


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6 Comentários

  1. Chocante esse relato. Por vezes, a natureza humana nos prega muitas peças...

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  2. Gigantesca fraqueza de caráter e de princípios morais, a qual passou de pai para filho. Estou cada vez mais convencido de que a sociedade americana é podre...

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Na verdade, Bob Crane teve dois filhos homens: Robert David Crane, que, como suas duas filhas, foi concebido no primeiro casamento, e Robert Scott Crane, o único do segundo. Aparentemente, o filho que viu os filmes na adolescência foi Robert David, que também escreveu um livro sobre o assassinato e disse que o pai era uma boa pessoa, apenas não conseguia lidar com seus demônios. Segundo ele, foi quando decidiu tomar as rédeas de sua vida e mudar sua postura que foi assassinado. Já o filho que compartilhou o material pornô, com o apoio da mãe, foi Robert Scott Crane. Segundo se diz, ele se arrependeu e destruiu tudo depois que o site deixou de existir.

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  3. Excelente ator.com desvio de comportamento

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  4. Com licença para uma correção: a atriz que aparece com Bob Crane na série é Cynthia Lynn (Fraulein Hilda) e não Sigrid Valdis (Fraulein Helga); também fazia o papel de secretária do coronel Klink.

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