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Lena Horne, a estrela negra que Hollywood pintava para parecer branca


Cantora, atriz e dançarina, Lena Horne era uma artista completa, mas foi mal aproveitada por Hollywood, em tempos em que o racismo era legalizado pela segregação racial nos Estados Unidos. Sem dúvida, o cinema nunca deu a Horne a grande chance que ela merecia.



Lena Mary Calhoun Horne nasceu em Nova em York, em 30 de junho de 1917. Ela era neta de senegaleses, e seu pai era dono de um hotel em Nova York, o que permitiu a Lena uma vida de classe média, com direito a ser educada em boas escolas.

Apesar disto, Lena Horne foi criada pela avó materna, a atriz teatral Cora Calhum, uma das únicas sufragistas negras da história da luta pelo voto feminino.

Aos 18 ela foi morar com seu pai, no bairro do Harlen. Lá, começou a frequentar o lendário Cotton Club, uma casa noturna onde diversos artistas negros começaram a sua carreira. Foi lá que Lena também deu seus primeiros passos artísticos, trabalhando em um show da cantora de jazz Adelaide Hall, em 1934.

No ano seguinte, em 1935, ela apareceu no curta musical Jittebug Party, como dançarina, musical estrelado por Cab Calloway. Depois ela ingressou na Orquestra de Noble Sissle, já como cantora, e com a banda excursionou pelo país, e gravou seus primeiros discos.

Ela também foi crooner da banda de Charlie Barnet, e cantou em boates importantes, como o Cafe Society e Trocadero.

Em 1938 ela estrelou um filme de baixo orçamento, The Duke Is Top (1938), que anos mais tarde foi relançado comercialmente, quando ela já era contratada pela MGM. E em 1941 estreou na Broadway, tornando-se a primeira artista negra a ter seu nome nos letreiros dos famosos teatros nova iorquinos.



Em 1942, enquanto se apresentava em uma boate em Los Angeles, ela chamou a atenção dos produtores da MGM, que lhe ofereceu um contrato para trabalhar no cinema. Sua estreia no estúdio foi no filme Loirinha do Panamá (Panama Hattie, 1942).

Lena aparecia cantando em número musical, sem ter um papel no filme. Mesmo assim, chamou a atenção do público, para o bem e para o mal. Alguns elogiavam seu talento e beleza, e outros ficavam incomodados com uma artista negra nas telas.

Emprestada para a FOX, ela estrelou o filme Tempestade de Ritmo (Stormy Weather, 1943), que era baseado na vida da cantora Adelaide Hall, e era estrelado apenas por artistas negros.



A MGM também investiu em um elenco basicamente de artistas negros no filme Uma Cabana no Céu (Cabin in the Sky, 1943), o melhor papel de Lena Horne no estúdio.

Depois, Lena nunca mais teria um papel principal na MGM, passando a fazer apenas números musicais que não tinham relação com a obra, e que eram cortados do filme quando a obra era exibida em estados americanos declaradamente racistas.

Além disto, o estúdio usava maquiagem e truques de iluminação para deixar a pela da artista mais clara, o que incomodava muito Lena.

Cantando apenas, ela apareceu em A Filha do Comandante (Thousands Cheer, 1943), Muralhas de Jericó (I Dood It, 1943), A Herança Mágica (Swing Fever, 1943), Viva a Folia! (Broadway Rhythm, 1944), Duas Garotas e Um Marujo (Two Girls and a Sailor, 1944), Ziegfeld Follies (1945), Quanto as Nuvens Passam (Till the Clouds Roll By, 1945), Minha Vida E Uma Canção (Words and Music, 1948) e Meu Coração Tem Dono (Duchess of Idaho, 1950).




Durante a Segunda Guerra Mundial Lena Hone foi convidada para cantar para os soldados americanos que lutavam na Europa. Mas ao chegar no front, percebeu que a segregação racial também chegara na batalha, e apenas soldados e oficiais brancos podiam assistir ao seu show. Ela também foi escalada para cantar para prisioneiros alemães, mas os soldados negros não tinham permissão de ver seu show. Ela protestou, e pode cantar para eles, na cantina, e não no palco montando para o show.

Ela também fez questão de possar para várias fotos publicitárias ao lado dos soldados segregados.




Em 1951, cansada de não ter papéis, e aparecer apenas em cenas deletáveis, Lena Horne fez teste para atuar em O Barco das Ilusões (Show Boat, 1951). O estúdio adorou a sua voz, mas achou que o papel deveria ir para Ava Gardner, e sugeriu que Hone cantasse as canções para ser dublada por Ava.

Lena Horne ficou ofendida, e Ava Gsrdner, que era sua amiga, recusou a oferta, e acabou dublando a voz de Annette Warren, uma grande cantora que nunca teve grandes oportunidades em Hollywood, mas dublou algumas das grandes estrelas, que não tinham talento musical.

Horne e a MGM nunca tiveram uma boa relação, e após a tentativa de estrelar O Barco das Ilusões, as coisas ficaram insustentáveis. Por brigar por melhores papéis e por causa das suas exigências durante os show na Segunda Guerra Mundial, ela foi considerada uma pessoa subversiva, e colocada na "lista negra" criada durante o Macarthismo, que baniu diversos artistas em Hollywood, acusados de serem "comunistas".

Lena ainda faria um último filme na MGM, Viva Las Vegas (Meet me in Las Vegas, 1956), onde novamente aparecia apenas cantando. Mas desta vez, ao menos, sua maquiagem não era tão exagerada.




Sem trabalho em Hollywood, a artista viajou o mundo, cantando nos palcos de diversos países. Ela também desembarcou no Brasil, em maio de 1960. Por aqui, se apresentou no Golden Room do Copacabana Palace, onde conheceu o compositor João Gilberto, de quem se tornou amiga.

Lena também cantou na TV Tupi, do Rio, sob apresentação da atriz Norma Blum.


Lena Horne no Brasil


João Gilberto e Lena Horne


Lena Horne também dedicou-se aos movimentos cívis, que exigiam direitos iguais para todos. Amiga de Martin Luther King, ela participou da Marcha Sobre Washington, e esteve em diversos protestos contra a segregação racial. Ela também pressionou a Casa Branca a criar uma lei para punir o linchamento de negros por parte dos racistas, que até então ficam impunes.

Lena Horne esteve com John Kennedy, pedindo por direitos iguais, dois dias antes do assassinato do presidente.


Lena Horne e Martin Luther King

Em 1969 ela retornou ao cinema, numa rara ocasião que pode atuar. Lena interpretou a dona de um cabaré no western Só Matando (Death of a Gunfighter, 1969). Depois, ainda faria mais um filme, interpretando Glinda, a bruxa boa em O Mágico Inesquecível (The Wiz, 1978), uma versão de O Mágico de Oz, estrelada por Michael Jackson e Diana Ross.

Ela também apareceria no documentário That's Entertainment III (1994), onde falava de sua relação tumultuosa com a MGM.


Richard Widmark e Lena Horne em Só Matando


Lena Horne em O Mágico Inesquecível



Lena também fez participações nas séries Sanford and Son, The Cosby Show e A Different World, onde fez sua última aparição como atriz, em 1993.



Lena Horne em A Different World


Lena Horne teve uma curta carreira cinematográfica, mas teve uma longa carreira como cantora. Ela foi indicada 7 vezes ao Grammy, e ganhou quatro, sendo o último em 1995. Entre seus vários discos, fez parcerias memoráveis ao lado do amigo Harry Belafonte.


Um dos discos de Harry Belafonte e Lena Horne

Lena Horne foi casada com Louis Jordan Jones (entre 1937 e 1940). Eles tiveram dois filhos, a escritora Gail Lumet Buckley e Edwin Jones, que morreu em 1970 (de problemas renais), com apenas 30 anos de idade.

Ela também foi casada com Lennie Hayton (entre 1947 e 1971, quando ele morreu). Lennie era maestro na MGM e o casal sofria muita pressão da MGM, que não gostava da relação interracial.


Lena Horne e os filhos


Em 2003 foi anunciado que sua vida viraria filme, estrelado por Janet Jackson, porém, no mesmo ano Ross se envolveu no escândalo do Super Bowl, quando seu sua roupa rasgou e seu seio ficou exposto durante a apresentação. Depois disto, o projeto do filme foi cancelado.

Lena Horne morreu de problemas cardíacos em 09 de maio de 2010, aos 92 anos de idade.







Veja também: Beulah, uma série pioneira, protagonizada por Hattie McDaniel

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