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A triste trajetória de Björn Andrésen, de Morte em Veneza, "o garoto mais bonito do mundo"


Em 1971  Björn Andrésen viveu o jovem Tadzio, o belo adolescente por quem o escritor Aschenbach nutre uma paixão platônica e meio obsessiva no clássico Morte em Veneza (Morte a Venezia, 1971), de Luchino Visconti. O filme era baseado na obra homônima de Thomas Mann.

Quando o filme foi lançado no Festival de Cannes, Björn foi aclamado pela critica, que o chamou de "o garoto mais bonito do mundo".




Björn Johan Andrésen nasceu em Estocolmo, na Suécia, em 26 de janeiro de 1955. A sua infância em si já foi uma grande trajédia, digna dos maiores melodramas do cinema. Ele nunca soube quem era seu pai, e aos 10 anos de idade sua mãe desapareceu.

O menino então fico sob custódia dos avós maternos, que pouco tempo depois o enviaram para um colégio interno. Dois anos depois, aos 12, ele descobriu que sua mãe havia se matado.

A medida que Björn crescia, seu avô viu que ele se tornava um belo rapaz, e começou a levá-lo a testes cinematográficos, acreditando que ele teria uma boa chance de fazer dinheiro com a carreira de ator.

Björn estreou no cinema no filme Uma História de Amor Sueca (En kärlekshitoria, 1970), mas foi seu filme seguinte, Morte em Veneza, que fez dele um astro instantâneo.


 Björn Andrésen, fumando, em Uma História de Amor Sueca


Pouco tempo depois, seu avô ficou sabendo que Luchino Visconti estava testando garotos de 14 anos para seu novo filme. Björn, que já tinha 15 anos, foi o sexto ator testado para o papel. Visconti ficou fascinado pelo menino quando ele entrou na sala, e mesmo ele sendo mais velho e um pouco mais alto do que desejava, encerrou as audições após ver o belo Björn.

Mais tarde, o ator lembraria que o diretor ficou lambendo os lábios lascivamente, enquanto o menino, de cuecas, fazia o teste de elenco.

Em  Morte em Veneza (Morte a Venezia, 1971), embora não tenha nenhum envolvimento físico com o personagem de Dirk Bogarde, Björn troca olhares com o protagonista, construindo uma narrativa sensual subentendida.

O jovem e belo ator também se tornou uma espécie de muso do diretor, que o proibida de interagir com a equipe, e que tinha ficava debaixo de cobertores para não pegar raios de sol, mantendo a sua pele tão branca que suas veias podiam ser registradas pelas câmeras.


Luchino Visconti e Björn Andrésen nos bastidores de Morte em Veneza

Quando o filme foi lançado no Festival de Cannes, o diretor levou o Björn como parte da estratégia de divulgação. Björn agora tinha 16 anos, e na coletiva de imprensa de lançamento, o diretor fez piadas quanto a aparência do menino, que estava em fase de crescimento, como todo adolescente de sua idade.

Visconti declarou que ele já havia sido belo, mas agora havia crescido, e estava feio, desengonçado, fazendo os jornalistas irem as gargalhadas. Porém, na noite de estreia do filme, após o avô do rapaz ter ido dormir em seu quarto de hotel, Luchino Visconti levou Björn Andrésen, um menor de idade, para uma boate gay.


 Björn Andrésen após a coletiva de imprensa em Cannes


Lá, o menino foi apalpado até pelos garçons da casa, e amedrontado com os olhares e assédio, começou a beber até desmaiar. Ele acordo no dia seguinte, em seu quarto de hotel, sem saber como havia chegou ao local, ou o que havia ocorrido durante na casa noturna na noite anterior.

Apesar de não ser homossexual, Björn Andrésen tornou-se ícone de culto gay, o novinho fetiche do momento. Homens ai até a porta de sua escola, o perseguiam na rua, e até mesmo seus professores o assediavam. O garoto acabou abandonando a escola.

O sucesso mundial de Morte em Veneza valeu um convite para o ator fazer um filme na França. O diretor o colocou em um luxuoso apartamento por um ano, mas o filme nunca foi iniciado. Björn, entretanto, era oferecido para homens milionários que queriam ter "um momento" com "o garoto mais bonito do mundo".

Após o projeto inexistente na França, Björn recebeu convite para ir para o Japão, onde seu filme havia feito tanto sucesso, que fizera do ator um astro teen entre os japoneses.




 Björn Andrésen morou por um tempo no país, onde gravou alguns discos, canto em japonês. No país, seus traços também inspiraram diversos personagens de mangás e animes, e até hoje é considerado dono de uma beleza clássica e perfeita.






De volta à Suécia, o ator retornou ao cinema em 1977. Ele continuou atuando em seu país, tanto no cinema quanto na televisão, mas sua carreira nunca mais teve grande repercussão, tanto que a maioria dos seus filmes posteriores nunca foram exibidos foram de seu país natal.




Björn recusou todos os papéis que lhe ofereceram que exploravam sua imagem de "bonito", e também nunca mais aceitou um papel homossexual, para fugir do estigma adquirido na adolescência. Em 2003 a escritora Germaine Greer usou uma foto sua para a capa do romance The Beautiful Boy, e o ator tentou processá-la, sem sucesso, pelo uso indevido de sua imagem, porém, ela havia comprado os direitos do fotógrafo David Bailey, o dono dos direitos autorais, cujo contrato havia sido assinado por seu avô, em 1971.



Paralelamente a carreira do ator, Björn também se tornou músico profissional, além de dar aulas de música para complementar a renda.

Em 2019 o ator esteve no elenco do filme de terror Midsommar: O Mal Não Espera a Noite (Midsommar, 2019), que fez um enorme sucesso mundial, mas poucos foram os cinéfilos que perceberam que o aldeão barbudo era o outrora "garoto mais bonito do mundo".


Björn Andrésen em Midsommar: O Mal Não Espera a Noite e em Morte em Veneza

Ainda atuando, Björn Andrésen foi tema do documentário The Most Beautiful Boy in the World (2021), onde o ator recorda os abusos sexuais, e todos os traumas causados pela sua sexualização precoce promovida por Morte em Veneza. Com muitas mágoas, ele fala da objetificação criada por Visconti, e também conta abertamente sobre a profunda depressão que se agravou após a morte de seu filho, em 1983, que faleceu com apenas 9 meses de idade, vítima da síndrome de morte súbita infantil.






Muito magro, barbudo e descuidado, o ator deu depoimento em seu pequeno, sujo e bagunçado apartamento. Björn Andrésen é portador da Síndrome de Diógenes, uma doença que se caracteriza pelo descuido externo com a higiene pessoal e negligência com o asseio de sua própria moradia. Outra característica da doença é o isolamento social e o comportamento paranoico.

Muitos acumuladores são portadores desta doença.


Björn Andrésen atualmente





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3 Comentários

  1. Nem eu imaginava que uma das cenas de maior impacto daquele filme era esse ator.

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  2. Pobre menino! Nem quero imaginar as coisas horríveis que teve que passar nas mãos dos assediadores homens de sua época. Espero que um dia ele supere todos os seus traumas vividos.

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  3. O cinema e suas histórias macabras dos bastidores... sucessos que viram tragédias pessoais.

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