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Presa por combater o racismo, e banida de Hollywood: a história de Madeleine Sherwood, de A Noviça Voadora




Por Diego Nunes

Mais lembrada por interpretar a Madre Superiora na série de televisão A Noviça Voadora (The Flying Nun, 1967-1970), Madeleine Sherwood era uma das atrizes favoritas de Tenessee Williams, e foi uma das atrizes incluídas na infame "lista negra" criada no Macartismo, período que baniu diversos artistas de Hollywood.

Madeleine chegou a ser presa, mas deu a volta por cima, retomando sua carreira na televisão.


Madeleine Sherwood e Sally Field em A Noviça Voadora

Madeleine Louise Hélène Thorton nasceu em Montreal, no Canadá, em 13 de novembro de 1922. Madeleine começou a atuar aos 14 anos de idade, atuando no teatro local. E ainda muito jovem estreou como atriz na televisão na CBC, emissora de TV Canadense, onde atuou nas primeiras telenovelas do país.


A jovem Madeleine Sherwood em produção da CBC

Em 1950 ela se mudou para Nova York, onde construiu uma bem-sucedida carreira na Broadway, passando a ser considerada a melhor atriz canadense nos palcos americanos da época. Em 1953 ela viveu o papel principal da peça A Letra Escarlate, de Arthur Miller. Depois, Elia Kazan a escalou para viver a Mae em Gata em Teto de Zinco Quente, de Tenessee Williams, com que também atuou em Doce Pássaro da Juventude (1959).

E em 1957 ela tornou-se aluna do lendário Actor's Studio, de Lee Strasberg. Anos mais tarde, ela seria nomeada membro vitalício da escola de interpretação.


Madeleine Sherwood em A Letra Escarlate

Ela já havia atuado na televisão americana, mas estreou no cinema pelas mãos de Elia Kazan, que lhe deu um pequeno papel em Boneca da Carne (Baby Doll, 1956). Mas sua grande chance nas telas veio quando ela foi convidada para reprisar seu papel da Broadway na versão cinematográfica de Gata em Teto de Zinco Quente (Cat on a Hot Tin Roof, 1958), estrelada por Elizabeth Taylor.


Madeleine Sherwood, Elizabeth Taylor e Burl Ives em Gata em Teto de Zinco Quente


Mas sua carreira logo seria interrompida, pois Madeleine, que havia trabalhado como nomes como Arthur Miller e Tenessee Williams, passou a ser malvista pelo Comitê de Atividades Antiamericanas, liderado pelo senador Joseph McCarthy. O comitê era apoiado por uma histeria coletiva temerosa do comunismo, que assolava os Estados Unidos.

McCarthy, um político conservador e até então inexpressivo liderou uma cruzada contra qualquer pessoa que cometesse "atos anti americanos", que incluíam protestar pela igualdade racial ou brigar por direitos trabalhistas, e Hollywood se tornou um alvo midiático para o senador, que perseguiu diversos profissionais do cinema. Ele criou uma infame "lista negra", que proibia qualquer pessoa incluída de trabalhar.

Madeleine Sherwood acabou inclusa na lista, após se delatada por Elia Kazan, que denunciou diversos colegas para não ser condenado.

Mas McCarthy aos poucos caiu em descredito e ao longo da história se tornaria um pária político. Truculento e conservador, ele era abertamente racista, e perseguiu pessoas apenas pela orientação sexual. Pregador da "moral e bons costumes", ele foi acusado por criar diversas fake news, e chegou a ser descoberto frequentando bares gays atrás de garotos de programa.

Madeleine então retomou sua carreira, e voltou a atuar no cinema, participando dos filmes No Vale das Grandes Batalhas (Parrish, 1961) e repetindo o seu papel da Broadway em Doce Pássaro da Juventude (Sweet Bird of Youth, 1962).

Também atuou em Cicatrizes D'Alma (In the Cool of the Day, 1963).


Madeleine Sherwood em Doce Pássaro da Juventude

Mas sua carreira foi novamente abalada em 1965, quando a atriz foi presa e condenada a fazer trabalhos forçados na cadeia durante seis meses. Madaleine Sherwood foi mandada para a prisão por marchado em um protesto pacífico ao lado de pessoas negras, pedindo igualdade racial (a segregação racial era legal nos Estados Unidos da época) no estado do Alabama.

Ela era amiga de Martin Luther King, e juntou-se a marcha após ver crianças negras sendo espancadas pela polícia durante a caminhada, enquanto almoçava durante um intervalo dos ensaios de uma peça.

Madeleine pegou seis meses de prisão por "pôr em perigo os bons costumes do povo do Alabama". Por andar ao lado de pessoas negras por 750 metros, a atriz cumpriu um semestre de trabalhos forçados na prisão, e quase foi extraditada depois de ser solta.

Após ser banida, e posteriormente presa, Madeleine Sherwood ficou sem convites para trabalhar no cinema, recorrendo principalmente a televisão. Ela retornou às telas apenas dois anos após ser solta, atuando no filme O Incerto Amanhã (Hurry Sundown, 1967).

Mas foi na TV que ela encontraria sua redenção artística, quando foi chamada para viver a Madre Superiora na série A Noviça Voadora (The Flying Nun, 1967-1970), que apesar de não ter agradado a crítica, fez muito sucesso com o público.


Madeline Sherwood e Sally Field em A Noviça Voadora

Quando A Noviça Voadora foi cancelada, Madeleine Sherwood trabalhou principalmente como atriz convidada em diversas séries de televisão ao longo dos anos.


Madeleine Sherwood em Bonanza (1971)

Sempre preocupada com causas sociais, ela se uniu a Betty Friedan e Gloria Steinem, além de outras ativistas feministas, na Primeira Conferência Sexual das Mulheres, na década de 1970. A partir de então, ela criou diversos grupos de apoio a mulheres vítimas de violência e abuso sexual.

Na década de 1980 ela se tornou uma das primeiras mulheres (ao lado de Cicely Tyson e Joanne Woodward) a dirigir um curta-metragem para a o American Film Institute.

No cinema, a atriz atuou em poucas produções, aparecendo ainda nos filmes O Pêndulo (Pendulum, 1969),Wicked, Wicked (1973), Intermediário do Diabo (The Changeling, 1980), Ressurreição (Ressurrection, 1980), Escola da Desordem (Teachers, 1984) e Silêncio Como Gelo (Zwel Frauen, 1989).


Madeleine Sherwood em Intermediário do Diabo

Em 1990 ela se aposentou, e voltou a viver no Canadá, embora tenha feito ainda mais um trabalho como atriz, quando apareceu em um episódio da série Um Amor de Família (Married With Children), em 1993.


Madeleine Sherwood e Sally Field

A atriz faleceu em 23 de abril de 2016, aos 93 anos de idade.



Veja também: Antes e Depois do Elenco de A Noviça Voadora






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