O ator Karl Dane foi um dos personagens trágicos de Hollywood, cuja história de vida supera em muito o roteiro mais surpreendente e melodramático de muitos filmes. Um dos atores mais bem pagos de seu tempo, ele terminou seus dias como ambulante, servindo seus antigos colegas de tela.
Rasmus Karl Therkelsen Gottlieb nasceu em Copenhague, Dinamarca, em 12 de outubro de 1886. Ele era filho de uma família bem sucedida, seu pai era dono de uma fábrica de luvas, e também era dono de um teatro, onde Karl deus seus primeiros passos como ator.
Porém, seu pai bebia muito, e gastou todo o patrimônio da família. Karl então passou a trabalhar como maquinista e carpinteiro do teatro onde antes costumava se apresentar, e nesta época se casou com uma costureira de figurinos, com quem teve dois filhos.
Após a Primeira Guerra Mundial, sem dinheiro e sem falar inglês, ele migrou para os Estados Unidos em busca de uma vida melhor. Ele deixou a família na Dinamarca, com a esperança de buscá-los assim que possível, mas sua esposa pediu o divórcio e ele perdeu contato com os filhos.
Em Nova York Karl Dane começou a trabalhar como mecânico, até que viu um anúncio pedindo figurantes para um filme da Vitagraph. Ele respondeu o anúncio com a única intenção de fazer uma renda extra. Ele estreou no cinema como figurante, em 1917, mas em 1918 ganhou um papel maior em My Four Years in Germaney (1918), que fez muito sucesso nas bilheterias, fazendo com que o estúdio lhe dessem maiores oportunidades.
A carreira de Dane foi crescendo, e em 1921 ele já era um ator bastante popular, mas sua nova esposa era contra a carreira artística e o convenceu a abandonar o cinema, para criar galinhas no interior. Mas sua esposa morreu no parto, bem como a filha do casal, e Dane resolveu retornar a Hollywood.
Em 1924 o ator foi contratado pela MGM, que o escalou para o elenco de O Grande Desfile (The Big Parade, 1925), que se tornou o filme com a segunda maior bilheteria da história do cinema mudo. O sucesso do filme tornou Dane um astro, e ele passou a ganhar 1.500 dólares por semana (uma fortuna na época). Quatro anos antes, ele ganhava apenas 3 dólares semanais.
Karl Dane em O Grande Desfile
Em 1926 ele contracenou com Rudolph Valentino em O Filho do Sheik (The Son of Sheik, 1926), que foi lançado somente após a morte do astro Valentino. O filme também fez um enorme sucesso, principalmente por ser o último trabalho de um dos maiores nomes da história do cinema, e deixou Dane ainda mais popular.
Karl Dane e Rudolph Valentino em O Filho do Sheik
Karl Dane era um ator versátil, que fazia qualquer tipo de papel, mas o público realmente gostava dele quando o via interpretando personagens cômicos, e a MGM resolveu juntá-lo com o ator George K. Arthur, criando a dupla cômica Dale & Arthur.
Karl Dane e George K. Arthur
A dupla era muito popular, e fez diversos filmes juntos, mas a chegada do cinema falado inverteu o jogo. Dane tinha um forte sotaque dinamarquês, e a MGM constatou que o público não havia gostado dos filmes sonoros com o ator, e os filmes de Dale & Arthur foram cancelados a partir de 1929.
Sob contrato, e com alto salário, o estúdio não sabia o que fazer com o ator, e começou a escalá-lo em pequenos papéis sem falas. Ele teve apenas um curto diálogo em Hollywood Revue (1929), e depois foi rebaixado a um mero figurante não creditado, mas muito bem remunarado.
Em 1930 ele foi demitido da MGM, e junto com Arthur passou a se apresentar nos teatros dos Estados Unidos, pois ainda gozava de boa popularidade. Mas cansado do show business, ele investiu suas economias em um negócio de mineração, que fracassou. Além disto, seu sócio roubou o resto do capital da empresa mal sucedida.
O ator então tentou voltar ao teatro, em carreira solo, mas seus espetáculos não atraíram o público, e logo foram cancelados. Ele voltou ao cinema, fazendo figuração em filmes de estúdios menores, e conseguiu um papel relevante em The Whispering Shadow (1933), um seriado estrelado por Bela Lugosi, produzido pelo pequeno estúdio Mascot.
Depois, o ator não recebeu mais convites para atuar. Vendo que sua carreira havia acabado, ele procurou seus antigos chefes da MGM, e implorou que o contratassem como figurante, mas ouviu que seu rosto agora era perturbador demais para aparecer no cinema. Ele ainda pediu que então lhe contratassem como carpinteiro, profissão que havia exercido no passado, mas também foi recusado.
Karl Dane então pegou seus últimos recursos e montou um carrinho de cachorro quente, e vendia seus lanches na porta da MGM, estúdio onde poucos anos antes havia sido um astro. Porém, o empreendimento não foi bem sucedido. Seus antigos colegas de trabalho evitam seu quiosque, atravessando a rua para não precisarem encarar o ator. Talvez por vergonha, ou medo de que ele pedisse empregou o dinheiro.
Dane logo faliu, e perdeu seu negócio. Em 13 de abril de 1934 o ator foi assaltado, e os ladrões levaram seus últimos 18 dólares, como ele relatou no boletim de ocorrência. No dia seguinte uma amiga com quem ele havia marcado de se encontrar foi procurá-lo em seu apartamento, já que ele não havia aparecido no compromisso, e encontrou o ator morto no quarto de pensão onde morava. Sentado em uma cadeira, o ator estava com um álbum de recortes, dos seus tempos de glória, no colo.
Karl Dane havia dado um tiro na cabeça, falecendo aos 47 anos de idade.
Mas sua tragédia não terminou por aí. Ninguém reivindicou o seu corpo, que permaneceu por meses no necrotério. Karl Dane seria enterrado em uma vala comum, como indigente, sem identificação, porém, o ator Jean Hersholt, conhecido como um grande humanista, pressionou a MGM que ao menos lhe dessem um enterro digno, o que o estúdio por fim concordou, e ele foi enterrado em um cemitério em Hollywood.
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10 Comentários
Sei que a vida é de altos e baixos mas a decaída desse ator me deu uma tristeza!
ResponderExcluirA história do Karl Dane lembra muito a do Senhor Mirtes Carvalho da Rua 47 no Jardim Atlântico que após ter passado a vida inteira nas drogas e na esbórnia junto as más companhias depois de velho e doente feito o mendigo decrépito e decadente que é hoje virou o reles capataz e motorista particular de sua irmã mais velha no Condomínio Itaipuaçu Ville chamada Raquel Maria de Carvalho que paga somente uma merreca de salário para ele também.
ResponderExcluirA arrogância de Mário Gomes o fez terminar a velhice na sarjeta feito os próprios Mirtes Carvalho e Karl Dane também.
ResponderExcluirPara o Senhor Mirtes Carvalho da Rua 47 no Jardim Atlântico depois de velho e maltrapilho e abandonado e ridicularizado por todos, não resta outro final senão descer ladeira abaixo da sarjeta até o cemitério e de lá direto para o inferno também.
ResponderExcluirEu rompi relações de vez com meu tio Mirtes Carvalho por ele ser o tio do pavê e não me arrependo nem um pouco dessa decisão.
ResponderExcluirTambém abandonei os parentes do meu finado padrinho e pai adotivo Luíz Pinto da Silva pois aquilo não é uma família de verdade, mas sim uma quadrilha da pior espécie.
ResponderExcluirFoi o Mirtes Carvalho quem perdeu por ser o tio do pavê, não fui e nem mais ninguém além dele ser um verdadeiro velho crackudo também.
ResponderExcluirEu não perdi o meu ex-tio Mirtes Carvalho, eu apenas tive a sorte de me livrar dele para sempre assim como todo mundo que jamais o quis também.
ResponderExcluirQuem ontem era tudo feito o Peter Jackson e o Mirtes Carvalho por exemplo, hoje tanto faz como tanto fez também.
ResponderExcluirQuem não fez falta antes, jamais voltará a fazer falta também.
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