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Julian Beck, ator de Poltergeist II, foi preso pela ditadura brasileira


O ator, diretor e dramaturgo Julian Beck foi um artista que revolucionou o teatro norte-americano. Alto, muito magro e com rosto anguloso, ele talvez seja mais lembrado por interpretar o maligno reverendo Kane no filme Poltergeist II: O Outro Lado (Poltergeist II: The Other Side, 1986).

Morto antes do lançamento do filme, ele é um dos integrantes da lista de possíveis vítimas da "Maldição de Poltergeist". (Leia mais sobre isto aqui).


Julian Beck em Poltergeist II: O Outro Lado


Nascido em Nova York, em 31 de maio de 1925, Beck e sua esposa, a atriz Judith Malina, fundaram o Living Theatre, uma companhia teatral que teve papel fundamental na inovação teatral das décadas de 1960 e 1970.

Com espetáculos performáticos, o grupo apresentou textos ousados, onde criticavam tabus e paradigmas sociais, que influenciaram o movimento da contracultura da época.


Judith Malina e Julian Beck

Beck também fez cinema, estreando ao lado da esposa no experimental Narcissus (1958). Depois, em 1967, viveu o adivinho cego em Édipo Rei (Edipo Re, 1967), de Pier Paolo Pasolini.


Julian Beck em Édipo Rei

Ele atuaria em outros filmes artísticos, e o casal chegaria em Hollywood interpretando hippies no filme Candy (Idem, 1968), que tinha como astros Richard Burton, Marlon Brandon, Ringo Starr, Walther Mattau e a brasileira Florinda Bulkan.

No ano seguinte, Beck foi dirigido por Bernado Bertolucci em Amor e Raiva (Amore e Rabbia, 1969). Mas apesar das experiências cinematográficas do casal, foi nos palcos teatrais onde o casal mais trabalhou.

Nas décadas de 1960 e 1970 eles viajaram por mais de 20 países com sua companhia. E em 1970 o diretor José Celso Martinez Corrêa enviou uma carta a Beck e Malina, convidado-os para se apresentarem por uma temporada no Teatro Oficina.


Augusto Boal, Julian Beck e Judith Malina

Depois de trabalharem em São Paulo, a companhia foi para Ouro Preto, no interior de Minas Gerais. O grupo alugou uma casa, onde todos os membros da companhia moravam juntos. Eles iriam se apresentar no Festival de Inverno da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mas um dia antes da estreia o casal foi preso, junto com os 21 integrantes de seu elenco, pelos militares brasileiros.

A alegação é de que a polícia havia encontrado drogas na casa, mas as fotos usadas como prova da apreensão apresentavam imagens de uma casa diferente da alugada por Beck e Malina. Nas fotos, as drogas "apreendidas" estavam embaixo da casa, e no local havia uma seta pintada com a palavra "pot" (gíria para maconha, em inglês).

A operação, claramente armada pela ditadura militar brasileira, levou o casal para a prisão. Além de outros 13 atores norte-americanos (os outros eram brasileiros que se juntaram ao grupo).


Judith Maline e Julian Beck, presos no Brasil

A filha do casal, que era uma criança na época, foi enviada para ser cuidada por um casal, até ser levada de volta aos Estados Unidos por sua avó. Sem julgamento, os atores foram presos no DOPS de Ouro Preto, algo comum nos anos de chumbo da ditadura militar do Brasil.

Porém, a notícia logo correu o mundo, e começou a incomodar o regime repressor vigente no país. Um longo editorial foi escrito pelo jornal New York Times, contando a prisão arbitrária dos atores, numa batida policial nitidamente forjada.

Pouco tempo depois, o líder do governo militar Emílio Garrastazu Médici começou a receber cartas de nomes como Pier Paolo Pasolini, Alberto Moravia, Umberto Eco, John Lennon, Betty Friedman, Mick Jagger, Jane Fonda, Marlon Brando, Yoko Ono, Tennessee Williams, e até de John Lindsay, então prefeito de Nova York, exigindo a libertação de Beck e Malina.

Acostumado a intimidar artistas brasileiros, os militares viram que prender artistas americanos não seria tão tranquilo assim. Além disto, a repercussão internacional poderia ser muito maléfica para o sustento do regime.

Médici então decretou a soltura do casal, seguida da expulsão imediata de todos os americanos presos.


Julian Beck e Judith Malina deixando o DOPS

Nos Estados Unidos, Julian Beck eventualmente retornaria ao cinema, em papéis como o gângster perverso de Cotton Club (The Cotton Club, 1984), além de fazer uma pequena aparição em 9 1/2 Semanas de Amor (Nine 1/2 Weeks, 1986).


Julian Beck em Cotton Club

Julian Beck morreu em 14 de setembro de 1985, meses antes da estreia de seu último filme, Poltergeist II: O Outro Lado (Poltergeist II: The Other Side, 1986). O ator sofria de câncer, e morreu aos 60 anos de idade.


Heather O'Rourke e Julian Beck em Poltergeist II: O Outro Lado


Após a morte de Beck, Judith Malina continuou administrando o Living Theatre. Ela também trabalhou no cinema comercial ocasionalmente, aparecendo em filmes como Um Dia de Cão (Dog Day Afternoon, 1975), A Era do Rádio (Radio Days, 1987), O Segredo do Meu Sucesso (The Secret of My Success, 1987) e Tempo de Despertar (Awakenings, 1990).


Judith Malina e Al Pacino em Um Dia de Cão


Mas talvez seu papel cinematográfico mais lembrando seja o da Vovó Addams em A Família Addams (The Addams Family, 1991), embora tenha sido substituída por Carol Kane na sequência de 1993.

Malina faleceu em 10 de abril de 2015, aos 88 anos de idade.


Judith Malina em A Família Addams


Veja também: Tributo a Rita Moreno


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