Desde os tempos da Grécia Clássica era muito comum homens se travestirem de mulheres nos espetáculos teatrais. Com o advento do cinema, também era comum desde os tempos do cinema mudo ver homens vestidos de mulher (e vice-versa) nos filmes, mas na maioria das vezes, o uso deste recurso tinha efeitos cômicos.
Porém, antes da criação do código de "moral e bons costumes", que assolou Hollywood no começo da década de 1930, os primórdios do cinema gozavam de um espirito mais libertário e menos conservador. Os números de transformismo, na época chamado de "imitadores do bello sexo" eram comuns desde os espetáculos de vaudeville, e as travestis gozavam de grande popularidade entre o público.
No começo do século XX, Julian Eltinge era o mais famoso transformista do mundo, e com o apelido de "O Homem Mulher" também conquistou Hollywood. Julian chegou a ser um dos artistas mais bem pagos dos Estados Unidos, e tinha milhões de fãs.
Na vida pessoal, entretanto, ele sempre negou ser homossexual, e viveu tentando promover a imagem de homem viril e valentão fora dos palcos. Porém, sua biografia é cheia de lacunas e ambiguidades. Mas entre os diversos filmes que estrelou, sempre viveu personagens femininos.
Fred KoVert era seu contemporâneo, mas ao contrário de Julian, que era famoso por seu figurino delicado e vestidos de grife que fariam qualquer dama da sociedade invejar seu guarda-roupas, Ko Vert (ele também assinava assim, separado) era conhecido pelas suas roupas extravagantes, exageradas e repletas de plumas e brilhos. E diferentemente de Julian Eltinge, nunca negou sua homossexualidade.
As roupas suntuosas criadas por KoVert, fizeram com que os historiadores atribuíssem a ele o título de "primeira drag queen de Hollywood".
Frederick KoVert (muitas vezes creditado apenas como KoVert) nasceu na Pensilvânia, em 10 de junho de 1901. Pouco se sabe a respeito de sua vida antes da fama.
O artista, dançarino, coreógrafo, figurinista e maquiador, Fred KoVert estreou no cinema em A Ilha dos Amores (An Adventuress, 1920), que era estrelado por Julian Eltinge. O filme ainda contava com Rudolph Valentino, o maior astro dos tempos do cinema mudo. Além disto, a produção tinha a Virgina Rappe no elenco. No ano seguinte do lançamento, ela seria estuprada e morta em uma festa com o comediante Fatty Arbuckle, fato que se tornou um dos primeiros grandes escândalos de Hollywood. A morte de Rappe foi um dos motivos que originaram o forte processo de "moralizar" a indústria do cinema nos anos seguintes. Já contamos este caso aqui.
O artista trabalharia novamente com Valentino em Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse (The Four Horsemen of the Apocalypse, 1921), onde apenas exerceu a função de coreógrafo.
Mas a sua grande chance no cinema veio quando ele impressionou os produtores da Fox com sua majestosa fantasia de pavão, que se tornaria sua marca registrada. Após um teste de elenco KoVert foi contratado para coreografar os bailarinos do filme The Queen Of Sheba (1921), onde apareceu dançando usando sua fantasia, que custava mais de 5 mil dólares (uma fortuna para a época).
Fred KoVert ainda atuou em I Am Guilty (1921) e depois foi contratado por uma companhia teatral para fazer uma turnê no México, onde ele acabou sendo preso por "imoralidade". De volta aos Estados Unidos, ainda em 1921, KoVert se casou com a atriz Coninne Bradford (também creditada como Mary Savage), que havia feito alguns filmes, mas era famosa nos palcos por seu número onde aparecia travestida de homem.
Infelizmente, não encontrei maiores informações sobre Corinne Bradford.
Em 1924 ele atuou em The Reel Virginian (1924), um dos primeiros filmes dirigidos por Frank Capra, que era estrelado por Ben Turpin. KoVert além de seu número e figurinos tradicionais, aparecia também em trajes masculinos.
Em 1925 KoVert fez os figurinos da super produção O Feiticeiro de Oz (The Wizard of Oz, 1925), e também teve um grande destaque no filme apresentando seu famoso número e sua fantasia de penas.
O ator ainda apareceu no filme Chasing the Chaser (1925), que era dirigido por Stan Laurel, antes dele virar o "magro" da dupla O Gordo e o Magro. Ele também havia trabalhado com Oliver Hardy, o "gordo", em O Feiticeiro de Oz.
Com Theda Bara, atuou em The Unchastened Woman (1925), e ainda fez Starvation Blues (1925), A Esposa do Meu Marido (The First Night, 1927) e The College Vamp (1931), seu último trabalho no cinema.
Na década de 1930 ele já estava decadente, e longe dos palcos, montou um estúdio de dança em Los Angeles. Depois, tornou-se pioneiro na criação das revistas de musculação e saúde, que eram um pretexto para publicar fotos de rapazes bonitos e musculosos em trajes menores (e muitas vezes sem roupa alguma).
Mas em 1945 a polícia invadiu seu estúdio fotográfico, destruiu seu equipamento e acervo fotográfico, e mandou o artista novamente para a prisão. Quatro anos depois, em 31 de maio de 1947 KoVert cometeu suicídio, dando um tiro em sua cabeça.
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