Darwin
Em 1923 o diretor Luiz de Barros, o cineasta com uma das mais longas trajetórias do cinema brasileiro, dirigiu a comédia Augusto Annibal Quer Casar (1923). Augusto Annibal era um famoso comediante do teatro de revista, e interpretava a si mesmo na obra.
"Augusto Annibal, rapaz de coração ardente decidira casar-se. Mas poderá um homem casar-se sem arranjar uma noiva?" dizia a publicidade da época. O ator fazia um jovem angustiado por casar logo, para poder "consumar o casamento" e molestava as moças na rua para se casar ainda naquele dia.
Cena de Augusto Annibal Quer Casar
Para se vingar do inoportuno rapaz de "coração ardente" as moças
do Rio de Janeiro se unem e preparam uma peça para ele. Elas arrumam uma
noiva para Augusto Annibal se casar imediatamente, interpretada pela
transformista Darwin.
Darwin como a noiva
Eles se casam e vão para a tão almejada noite de núpcias. Porém, já no
quarto, Darwin começa a falar e agir como homem. Augusto então sai
correndo de ceroulas, sofre um acidente de carro na fuga e termina o
filme se pendurando em um pequeno avião que levanta voo.
Infelizmente, Pouco ou quase nada se sabe sobre Darwin, cujo nome real era Aberto Silva. As primeiras
notícias que encontramos sobre ela são anúncios de suas apresentações,
como "imitador do bello sexo", no Palace Theatro do Rio de
Janeiro em 1914. Encontramos anúncios de seus shows até o ano de 1937,
mas sem nenhuma informação adicional para incluirmos em sua biografia.
Apesar de parecer polêmico para a época, o filme não foi rejeitado pelo público. Apresentações de transformismo eram comuns na capital brasileira da época (o Rio de Janeiro), desde o final do Império. Mas claro, eram vistos como curiosidades caricatas. O "gay clown" era aceito, e até hoje é repetido na dramaturgia brasileira (e mundial). O que chocava mesmo aos espectadores desta comédia, na década de 20, eram as moças de maio e pernas de fora, feita por jovens de "reputação duvidosa" oriundas do Bataclan (famoso cabaré carioca).
Apesar de parecer polêmico para a época, o filme não foi rejeitado pelo público. Apresentações de transformismo eram comuns na capital brasileira da época (o Rio de Janeiro), desde o final do Império. Mas claro, eram vistos como curiosidades caricatas. O "gay clown" era aceito, e até hoje é repetido na dramaturgia brasileira (e mundial). O que chocava mesmo aos espectadores desta comédia, na década de 20, eram as moças de maio e pernas de fora, feita por jovens de "reputação duvidosa" oriundas do Bataclan (famoso cabaré carioca).
As ousadas garotas do Bataclan no filme
Infelizmente, como boa parte da produção muda do cinema brasileiro, o filme está perdido.
Ivaná
Em
1953 o grande diretor teatral Walter Pinto, sempre buscando novas
atrações internacionais para seus luxuosos espetáculos, anunciou a
contratação da vedete francesa de nome Ivaná, vinda das principais casas
de espetáculos parisienses. ela fez sua estréia nos palcos brasileiros
no espetáculo É Fogo na Jaca (1953).
Ivaná na
verdade era portuguesa, de Viseu, e a nacionalidade francesa foi um golpe
publicitário, muito comum naquela época. E também tinha outro “segredo”,
Ivaná era homem. Nascida Ivan Monteiro Damião, Ivaná ficou famosa nos
palcos brasileiros justamente por este mistério que a envolvia. Dona de
uma grande beleza a elegância, o público custava a acreditar que aquela
bela mulher que cantava em francês era na verdade um rapaz travestido.
Na publicidade do espetáculo, Walter Pinto anunciou que uma de suas “girls”
era um transformista, mas não disse qual a princípio. Os espectadores
suspeitaram da também estreante Jane Grey, que tinha um rosto anguloso e
um tanto masculino, segundo alguns. Foi a revista Manchete quem revelou
a verdadeira identidade de Ivaná, mas ainda lhe atribuindo a
nacionalidade francesa.
Ficou
conhecida como a primeira travesti do teatro de revistas brasileiro, o
que não é verdade. Antes dela existiram outras, como Mirko, Nery, Pierrot Charmont, Waltes, Darwin e
Aymond. E antes delas, o americano John Bridges ainda em 1896. Bridges também tinha uma rival, de nome Vigorelli. Ainda na década de 1920, também atuavam como "imitadores do belo sexo" nomes como Derkas, Deny, Sartorelli, Del Musio, Jean Grand, Walter Bank (também creditado como Walter Vank e Walter Tank), Ramos, Blandier, Karrerá, Maury Dennys, Peirret, e outros. A grande maioria vinha do estrangeiro, e usava pseudônimos, tornando difícil saber mais informações sobres suas vidas.
Voltando
a Ivaná, ela ainda passaria pela companhia de Silva Filho e depois
retornaria a trabalhar com Walter Pinto em mais duas ocasiões, incluindo
no enorme sucesso Eu Quero é Me Badalar (1954-55), com a vedete Salomé Parísio.
Ivaná, como Ivan, e Carmen Miranda, no intervalo de Eu Quero Me Badalar
Ela estreou no cinema no filme com o sugestivo nome de Mulher de Verdade (1954),
do diretor Alberto Cavalcanti. Fez quatro filmes ao todo, nas décadas
de 50 e 60. Nos anos sessenta mudou-se para São Paulo, onde atuou em
shows e boates, até começar a entrar em decadência. Passou a ser
perseguida pelos militares durante a ditadura brasileira. Refugiou-se na Alemanha, onde continuou se apresentando com o nome de Yvana, até falecer.
Ivaná faleceu em 31 de março de 1991. Para saber mais sobre ela, leia a sua biografia, no livro Cá e Lá, o Intercâmbio Cinematográfico entre o Brasil e Portugal,
escrita por Diego Nunes (o criador desta página). Ivaná, e outros
artistas portugueses que atuaram no cinema brasileiro foram biografados
nesta obra. Para adquirir o livro, entre em contato diretamente com o
autor, pelo seu email diegofnunes@yahoo.com.br.
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