Astro de muitos filmes de baixo orçamento, o ator Tom Neal é hoje mais lembrado por suas façanhas fora das telas, que incluem escândalos, prisões por agressão, adultério e um assassinato que quase o levou para o corredor da morte.
Thomas Carroll Neal Jr nasceu em 28 de janeiro de 1914, na cidade de Evanston, Illinois. Filho de um banqueiro, Tom Neal nasceu em uma família rica e proeminente do estado, e foi criado como um perfeito rapaz da alta sociedade. Ele chegou a cursar direito em Harvard, mas acabou mudando sua graduação para matemática, em outra universidade.
Mas Neal não queria ter um emprego tradicional, como o almejado pelo pai, e na Universidade, além de se envolver com grupos teatrais, passou a lutar boxe, e abandonou a universidade para investir na carreira de lutador.
Paralelamente a carreira nos ringues, começou a atuar em diversas produções teatrais, seguindo os passos do seu tio avô, o famoso ator teatral Jhon Drew. Bonito e atlético, chamou a atenção de um olheiro da MGM, que contratou o rapaz para fazer parte do seu time de estrelas.
Ele estreou no cinema em Andy Hardy, Cowboy (Out West With the Hardys, 1938), um dos muitos filmes de Andy Hardy estrelados por Mickey Rooney. Ele teve papéis de apoio em filmes como O Mistério do Autódromo (Burn 'Em Up O'Connor, 1939) e Sob o Uniforme Branco (Four Girls in White, 1939), mas logo acabou fazendo figuração no estúdio, não tendo seu nome creditado em diversas produções.
Dispensando da MGM, o ator migrou para o pequeno estúdio Republic Pictures, que o promoveu a astro de diversos de seus filmes. As produções da Republic eram filmes de baixo orçamento, os chamados "Filmes B". O filmes do estúdio normalmente tinham como enrendo aventuras em selvas exóticas, westerns, e tramas com heróis corajosos ou espionagem policial.
Ao lado de Frances Gifford, Tom Neal protagonizou o seriado de 15 episódios A Filha das Selvas (Jungle Girl, 1941).
Antes um ator menor da MGM, Neal gozou o status de astro da Republic e protagonizou diversos filmes no estúdio, como The Miracle Kid (1941), onde interpretou um lutador de boxe. Ele teve um papel de destaque em Tigres Voadores (Flying Tigers, 1942), que era estrelado por John Wayne e ao lado de Ann Savage fez Aventureiros do Alasca (Klondike Kate, 1943).
Emprestado para a RKO, recebeu boas criticas ao interpretar um oficial japonês em Atrás do Sol Nascente (Behind the Rising Sun, 1943). Apesar da boa interpretação, o papel hoje é considerado controverso por apresentar o ator caracterizado de oriental, uma prática conhecida como yellow face.
Ao mesmo tempo que protagonizava filmes menores, também fazia figuração em produções famosas, como Ídolo, Amante e Herói (The Pride of the Yankees, 1942), um clássico estrelado por Gary Cooper.
Ao lado de Ann Savage, com quem fez cinco filmes ao longo de sua carreira, estrelou aquele talvez seja o seu filme mais importante, Curva do Destino (Detour, 1945). Neal interpretava um pianista fracassado, envolto em uma série de acontecimentos problemáticos enquanto cruzava os Estados Unidos de carro.
O filme foi aclamado pela crítica.
Mas apesar de terem atuado juntos em diversas produções, Tom Neal e Ann Savage não se suportavam. Tudo porque, durante uma filmagem, Neal, após diversas investidas e assédios contra a atriz, ele lambeu sua orelha e lhe disse coisas obscenas ao ouvido, e recebeu em troca um enorme tapa na cara. Depois disto, Ann Savage mantinha-se distante do ator, só falando com ele quando estavam contracenando durante uma gravação.
Outro papel destacado do ator foi quando ele deu vida a Bruce Gentry, em um filme de mesmo nome, produzido em 1949. Gentry era um ex piloto da Força Aérea Americana, e surgiu nas páginas das histórias em quadrinhos em 1945, criado por Ray Bailey.
Em 1950 o ator atuou em Trágica Advertência (Call of the Klondike, 1950), cujo título parecia anunciar os eventos seguintes de sua vida.
Um ano antes ele havia se divorciado da atriz e cantora Vicky Lane, após cinco anos de união. Lane o acusara de crueldade mental e física para poder pedir o divórcio.
Logo após se separar de Vicky Lane, Tom Neal conheceu a atriz Barbara Payton em uma festa. Eles começaram a namorar, mas logo a atriz ficou noiva de outro homem, o também ator Franchot Tone.
Mas mesmo noiva, Barbara Payton ainda mantinha uma relação as escondidas com Tom Neal. Até que no dia 14 de setembro de 1951, Franchot Tone flagrou a noiva com Neal, e uma uma discussão acalorada teve início.
No jardim da frente, os vizinhos assistiram Tom Neal, que havia sido pugilista, espancar Franchote Tone, que teve uma maçã do rosto e o nariz quebrado, e acabou hospitalizado com uma grave concussão cerebral, que o deixou internado no hospital por alguns dias.
Franchot Tone era um homem mais velho, um veterano que estava no cinema desde 1932, e geralmente interpretava papéis de homens sofisticados. Indicado a um Oscar (por O Grande Motim, de 1935) ele era muito querido pela comunidade cinematográfica de Hollywood.
A agressão e o escândalo do adultério dificultaram a carreira de Payton e Neal, que não eram muito famosos, e tiveram dificuldade para conseguir novos papéis.
Mas apesar de todo o ocorrido, ao deixar o hospital, Franchot Tone se casou com Barbara Payton em 28 de setembro de 1951, 14 dias após ter sido espancando pelo amante de sua noiva.
Mas 53 dias após o casamento, a atriz abandonou o seu marido, e foi morar com Tom Neal, de quem ela nunca se afastou.
Sem convites para atuarem no cinema, o escandaloso casal tentou capitalizar em cima da fama adquirida nos tabloides fazendo uma turnê pelo país com a peça The Postman Always Rings Twice, em 1953.
Com pouco público, e execrada pela mídia, a peça saiu de cartaz pouco tempo depois. E em novembro de 1953 chegava ao fim o relacionamento de Barbara Payton e Tom Neal.
Antes do término, poerém, eles contracenaram juntos em um filme barato chamado The Great Jesse James Raid (1953).
Após este filme, Barbara só atuaria em outros dois longa metragens, e Tom em apenas um (como figurante). Sem trabalho no cinema desde 1951, ele apareceu em poucos seriados de televisão após agredir Franchot Tone.
Em 1956 ele se casou com Patricia Fenton, mãe de seu único filho, o também ator Tom Neal Jr., que nasceu em 1957. Patricia, entretanto, morreu de câncer um ano após dar à luz ao menino.
Após voltar a trabalhar como figurante em O Último Hurra (The Las Hurrah, 1958), Tom Neal viu que as portas de Hollywood haviam se fechado para sempre. Ele então mudou-se para Palm Springs, e tornou-se jardineiro.
Mais tarde, passou a ter seu próprio negócio no ramo da jardinagem.
Em 1961 ele se casou pela terceira vez, com a recepcionista Gale Bennett.
Mas em 02 de abril de 1965 o advogado de Tom Neal pediu que a polícia fosse até a sua residência, onde encontraram o corpo de Bennett no sofá, coberto por um cobertor. Gale Bennett estava morta, com um tiro na nuca, e Tom Neal não estava, sendo declarado foragido.
Ele foi preso no dia seguinte, e indiciado por homicídio. A promotoria pediu a pena de morte, mas Neal alegou que a morte havia sido acidental. Segundo Neal, ele e Bennett já estavam separados, após ele ter descoberto traições da esposa.
Bennett então teria ido até a casa do ator, com um uma arma, que disparou acidentalmente enquanto Neal lutava para se defender. O júri acreditou na sua história, e Tom Neal foi condenado por morte involuntária, sendo sentenciado a 15 anos de prisão.
Tom Neal foi solto após cumprir 6 anos de detenção, em 06 de dezembro de 1971.
Em 07 de agosto de 1972, 7 meses após ser solto, seu filho o encontrou morto em sua residência, aos 58 anos de idade. Tom Neal havia sofrido uma parada cardíaca, mesma causa da morte de Barbara Payton, ocorrida cinco anos antes.
Payton havia sido encontrada morta em uma calçada, enquanto se prostituía nas ruas de San Diego, com apenas 39 anos de idade.
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