O mexicano Ramón Novarro foi um dos primeiros "latin lovers" de Hollywood, e ficou ainda mais famoso após a morte de Rudolph Valentino, herdando o título de símbolo sexual deixado pelo ator.
Astro campeão de bilheterias entre os anos de 1920 e 1930, Novarro teve sua vida interrompida num dos crimes mais chocantes de Hollywood.
José Ramón Gil Samaniego nasceu em Durango, México, em 06 de fevereiro de 1899. Ele era filho de uma proeminente família mexicana, e seu pai e seu avô haviam ocupado cargos políticos. Em 1913, durante a Revolução Mexicana, a família do ator fugiu para os Estados Unidos.
Ramón Novarro também era primo da estrela Dolores Del Rio e da atriz Andrea Palma, uma das primeiras estrelas a personificar uma "pecadora" no cinema mexicano.
Dolores Del Rio, Ramón Novarro e Conchita Montenegro
Aos 17 anos de idade, usando o nome de Ramón Samaniego, ele estreou no cinema em Joana D'Arc - A Donzela de Orleans (Joan the Woman, 1916). Ramón era apenas um figurante, mas sua beleza lhe garantiria novos trabalhos no cinema.
Após ter feito pequenos papéis em diversos filmes, a atriz Alice Terry sugeriu ao marido, o diretor Rex Ingram, que lhe desse uma maior oportunidade em O Prisioneiro de Zenda (The Prisioner of Zenda, 1922). Para Terry, o belo ator mexicano tinha um enorme potencial para rivalizar com o galã italiano Rudolph Valentino, o maior astro do cinema na época.
Rex Ingram também sugeriu ao rapaz utilizar o sobrenome Novarro, muito mais dramático que Samaniego.
Ramón Novarro em O Prisioneiro de Zenda
O ator fez um enorme sucesso e conquistou uma legião de fãs, e foi promovido a protagonista em Scaramouche (1923). O filme fez um enorme sucesso e o transformou em um dos atores mais bem pagos da MGM.
Em 1925 ele foi escalado para estrelar o clássico do cinema mudo Ben Hur (1925), um dos maiores sucessos de bilheteria da época. O sucesso do filme, e a morte de Valentino, em 1926, o elevaram ao posto de maior amante latino de Hollywood. Mas apesar da rivalidade nas telas, ambos os atores eram bons amigos.
Ramón Novarro em Ben Hur
Novarro foi galã de algumas das maiores estrelas da época, como Norma Shearer e Joan Crawford e conseguiu fazer uma boa transição para o cinema falado. Logo Hollywood descobriu que o galã também era um bom cantor.
Seu primeiro filme sonoro foi O Bem Amado (Devil-May-Care, 1929), e na sequência fez o bem sucedido O Pagão (The Pagan, 1929). O filme se passava no Tahiti, e explorava a beleza do ator em trajes menores.
Para promover sua carreira de amante latino, Ramón Novarro já havia feito fotos publicitárias despido.
Ramón Novarro em O Pagão
Em 1931 ele foi o par romântico de Greta Garbo em Mata Hari (1931). Também se destacou ao lado de Mirna Loy em Uma Noite no Cairo (The Barbarian, 1933) e ao lado de Lupe Velez em Amor Selvagem (Laughing Boy, 1934).
Normalmente o ator interpretava papéis de homens exóticos, de diversas nacionalidades, devido ao seu sotaque. Ele chegou a interpretar um chinês em Canção do Oriente (The Son-Daughter, 1932), no qual contracenava com Helen Hayes.
Ramón Novarro e Greta Garbo em Mata Hari
Ramón Novarro e Helen Hayes cantando em Canção do Oriente
Em 1934, entretanto, ele já não era mais campeão de bilheteria, e começou a ficar em segundo plano na MGM. Sem muitos trabalhos, ele foi convidado a fazer uma lucrativa turnê como cantor, pela América do Sul.
Em abril de 1934, a caminho da Argentina, o ator causou furor ao passar algumas horas no Rio de Janeiro, enquanto o navio em que ele estava viajando era abastecido na cidade. A multidão se aglomerou para ver o desembarque do astro na Praça Mauá, e durante sua estada no Brasil, visitou alguns pontos turísticos da então capital federal. E diante da enorme recepção, prometeu voltar ao país.
Após se apresentar na Argentina e Chile, o ator cumpriu sua promessa, e veio ao Brasil em julho fazer algumas apresentações. Ele cantou na Rádio Mayrink Veiga, e se apresentou ao público brasileiro cantando em um cinema lotado. Sua irmã, a atriz Carmen Samaniego (1907-1980) o acompanhava na turnê, e também se apresentou por aqui. Ela chegou a fazer alguns trabalhos no cinema, porém com bem menos projeção que o irmão.
A imprensa brasileira registrava que durante sua passagem brasileira, o ator decepcionou as fãs, que esperavam dele a postura de um conquistador. Ramón Novarro se demonstrava tímido, e pouco flertava com as moças que o assediavam, ganhando aqui uma fama de antipático.
Mas na verdade o ator era gay, e vivia conflitos internos devido a sua criação católica, além de temer o preconceito da época em relação a homossexualidade. Nos bastidores da Rádio Mayrink Veiga, ele foi apresentado a Carmen Miranda, e também ao compositor Custódio Mesquita.
Mesquita era um compositor galã, e também fez trabalhos como ator no cinema brasileiro, e logo surgiram rumores de que ambos tiveram um breve romance durante a estadia do astro de Hollywood na então Capital Federal.
Custódio Mesquita apresentou a Ramón a sua nova composição, Se a Lua Contasse, e o mexicano tornou-se o primeiro interprete da canção, que foi incluída, em português, em seu show brasileiro. O compositor passou algumas noites no quarto do ator, no Hotel Glória, sob pretexto de ensaiarem juntos.
Ramón Novarro e Custódio Mesquita
De volta aos Estados Unidos, atuou em Uma Noite Encantadora (The Night is Young, 1935), seu último filme na MGM. Ainda em 1935, seu contrato com o estúdio chegou ao fim, e não foi renovado.
Ramón Novarro já não era uma estrela lucrativa, e só conseguiu voltar ao cinema em O Sheik Conquistador (The Sheik Steps Out, 1937), feito no pequeno estúdio da Republic. Nos anos seguintes, sem convites em Hollywood, o ator teve que buscar trabalho em filmes menores feitos na Itália, França e México.
Sua carreira norte-americana ficou ainda mais prejudicada após o ator ir na estreia do filme Que Viva Mexico! (1932), do russo Sergei Eisenstein. O filme era considerado subversivo pela Comissão de Atividades Anti Americanas, e Novarro, Dolores Del Rio, James Cagney e Lupe Velez, que estavam na sessão, foram colocados na Lista Negra do Macarthismo, por "promoverem o comunismo na Califórnia".
O ator só voltaria a trabalhar em Hollywood em Resgate de Sangue (We Were Strangers, 1949), estrelado por Jennifer Jones. Novarro era um mero coadjuvante na obra.
Ele ainda teve pequenos papéis em nos filmes Sangue Bravo (The Outriders, 1950) e Terra em Fogo (Crisis, 1950). O ator ainda faria um último filme, dez anos depois, quando atuou em O Pistoleiro e a Bela Aventureira (Heller in Pink Tights, 1960).
Ramón Novarro em Sangue Bravo
Sophia Loren e Ramón Novarro em O Pistoleiro e a Bela Aventureira
O ator ainda apareceria eventualmente em alguns episódios em séries de televisão, atuando pela última vez na série Chaparral, em 1968, onde interpretou um padre.
Ramón Novarro em Chaparral
Em 30 de outubro de 1968 Ramón Novarro foi brutalmente assassinado em sua residência, pelos irmãos Paul e Tom Ferguson. Ambos eram garotos de programa, e já haviam inclusive posado nus para revistas masculinas.
Eles ligaram para o ator oferecendo seus serviços, e foram até sua residência acreditando que o ator guardava milhares de dólares em casa. Embora ele já não trabalhasse ativamente há muitos anos, Novarro havia ganho muito dinheiro, e vivia confortavelmente graças a investimentos que realizou ao longo da vida.
Paul e Tom Ferguson
Ao chegarem na casa do ator, eles o amarraram, e iniciaram uma longa sessão de tortura para obrigá-lo a dizer onde estava o dinheiro. Ramón informou que não tinha dinheiro em casa, apenas no banco e em ações na bolsa, mas eles não acreditaram.
O ator foi brutalmente espancado, e teve partes do corpo mutiladas. Por fim, os irmãos enfiaram uma bengala de prata na garganta do ator, e fugiram levando com eles vinte dólares, todo o dinheiro encontrado na casa.
Ramón Novarro ficou agonizando, até que enfim morreu, afogado com o próprio sangue. A bengala enfiava em sua garganta era um velho presente recebido de Rudolph Valentino, na década de 1920.
Durante a sessão de tortura, que durou horas, Paul chegou a ligar para a sua namorada, para que ela ouvisse os gritos do ator. Foi através dos registros telefônicos que a polícia chegou até os assassinos, que também picharam a casa com diversas frases homofóbicas, e no tribunal seu advogado tentou desmerecer Novarro, por ser gay e se utilizar de garotos de programa.
A estratégia em parte funcionou, porque os irmãos foram condenados, mas foram soltos após apenas sete meses na prisão.
No década de 1970 ambos voltariam a prisão, por crimes diferentes, pegando um tempo de pena maior. Tom se suicidou em 2005, e Paul atualmente esta na prisão perpétua, após ter sido condenado por estupro.
Ramón Novarro, Óleo sobre tela de Ángel Zárraga (1929)
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3 Comentários
que horror!!! depois de toda a tortura que fizeram com ele ficaram 7 meses presos?? um absurdooo
ResponderExcluirnossa, muito triste
ResponderExcluirSeu fim foi brutal, mas pelo visto sua morte condiz perfeitamente com o modo como vivia e em especial com o tipo de gente, sobretudo com a estirpe duvidosa de elementos do sexo masculino com os quais sentia muito prazer e satisfação em se envolver de forma íntima e sexual também.
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