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O belo e atormentando Montgomery Clift


Considerado um dos maiores astros da história do cinema, Montgomey Clift deixou sua marca em Hollywood, protagonizando filmes inesquecíveis, apesar de sua carreira curta, que lhe valeu quatro indicações ao Oscar. Conhecido por interpretar homens sensíveis e emocionalmente torturados,  sua curta vida foi marcada por conflitos pessoais, e um acidente de carro que destruiu seu belo rosto.


Edward Montgomery Clift nasceu no Nebraska, em 17 de outubro de 1920. Sua mãe era de uma tradicional família sulista, e criou os filhos como verdadeiros aristocratas. Seu pai era um rico bancário, mas a família perdeu tudo na quebra da bolsa de valores de 1929.

Seu irmão, Brooks Clift (1919-1986), também era ator, mas teve uma carreira muito menos sucedida que a de Montgomery.

Brooks Clift

Aos treze anos de idade Monty estreou na Broadway, atuando em Fly Away Home (1934), e logo recebeu convites para ingressar no cinema, mas ele recusou os convites, dizendo que queria ter mais experiência em atuação. Em 1939 ele fez um papel na televisão, mas só se se sentiu seguro para atuar no cinema quase quinze anos depois de sua primeira aparição nos palcos.



No inicio dos anos de 1940, ele conheceu a atriz Libby Holman, uma antiga estrela da Broadway, que era conhecida pela sua polêmica vida sexual, declaradamente bissexual. Clift era homossexual, embora tenha tentando esconder isto por toda a vida.

Quase vinte anos mais velha que Montgomery, ela se apaixonou pelo belo e jovem ator, e passou a financiar sua carreira, incluindo produzindo uma peça para ele estrelar.

Holman teria uma grande influência, ao longo de toda a sua carreira. Inclusive aconselhando Montgomery Clift a recusar papéis em filmes consagrados.

Montgomey Clift e Libby Holman

Em 1948 ele finalmente aceitou um convite para atuar em Hollywood, estreando no cinema em Rio Vermelho (Red River, 1948), ao lado do astro John Wayne. Em seguida protagonizou Perdidos Na Tormenta (The Search, 1948), que lhe rendeu uma indicação ao Oscar de Melhor Ator.

John Wayne e Montgomery Clift em Rio Vermelho

O sucesso de Rio Vermelho fez dele um astro da noite para o dia. As fãs ficaram encantadas com o novo tipo de galã das telas, bonito, sensual e vulnerável. Filho de um homem extremamente religioso, violento, e que não aceitava a sua sexualidade, muitos críticos acreditam que Montgomery atuava sempre pensando na relação abusiva com o pai.

Montgomery estrelou Tarde Demais (The Heiress, 1949) e Ilusão Perdida (The Big Lift, 1950), antes de fazer um de seus maiores sucessos, Um Lugar ao Sol (A Place in the Sun, 1951). O ator interpretava um jovem de origem humilde, mas ambicioso, que se rende aos encantos de uma rica herdeira, interpretada por Elizabeth Taylor.


Antes das filmagens, para promover o novo astro, a Paramont sugeriu que Elizabeth e Clift fingissem estar namorando, dando publicidade ao ator, e ao mesmo tempo ajudando a esconder os rumores de sua homossexualidade. A dupla nunca namorou de fato, mas se tornaram grandes amigos.

Elizabeth Taylor se tornou sua confidente, protetora e seu maior apoio emocional em Hollywood.

Montgomery Clift e Elizabeth Taylor em um intervalo de gravações

Um Lugar ao Sol fez um enorme sucesso, e lhe valeu uma segunda indicação ao Oscar. Clift passou a ser adorado por uma legião de fãs, mas sua vida pessoal e sua saúde estavam em frangalhos.

Alcóolatra, viciado em compridos e com sérios problemas psicológicos, ele ainda sofria de fortes alergias, além de ter colite e sofrer de uma diarreia crônica por toda a vida. Marlon Brando, filho de uma mãe alcóolatra, ficou sensibilizado quando conheceu Montgomery, e tentou ajudá-lo com seus vícios.

Brando o considerava um dos melhores atores de sua geração.

Montgomey Clift e Marlon Brando

Clift só retornaria ao cinema dois anos depois, em A Tortura do Silêncio (I Confess, 1953), dirigido por Alfred Hitchcock. No mesmo ano, atuou em Quando a Mulher Erra (Stazione Termini, 1953), um filme dirigido por Vittorio de Sica, gravado na Itália.

De volta a Hollywood, atuou no clássico A Um Passo da Eternidade (From Here to Eternity, 1953). Fã de Burt Lancaster, Montgomery Clift chegou a passar mal ao conhecê-lo, e tremia quando tinha que gravar suas cenas com o ator. 

Por este papel, Clift recebeu uma terceira indicação ao Oscar.

Montgomery Clift e Burt Lancaster em A Um Passo da Eternidade

O elenco do filme também contava com o cantor e ator Frank Sinatra. Sinatra e Clift se tornaram grandes amigos. Mas a relação dos dois mudou muito após Frank ver o ator conversando mais intimamente com um de seus convidados em uma festa. Montgomery Clift confidenciou a Elizabeth Taylor que após perceber que ele era gay, Sinatra passou a tratá-lo com nojo.

Montgomery Clift estava cada vez mais deprimido, errático e imprevisível. Seus amigos começaram a abandonar o ator, que já não estava mais no topo. Seus problemas pessoais e seus vícios o afastaram dos estúdios, que não queriam mais o artista, considerado problemático demais.

Apenas Elizabeth Taylor não o abandonou. Ela bateu o pé e disse que só faria A Árvore da Vida (Raintree Contry, 1957), se Monty fosse seu co-protagonista.  Porém, durante as filmagens, após sair de uma festa na casa de Taylor, o ator bateu o seu carro em uma árvore, há poucos metros da casa da amiga.

O acidente foi feio, e Elizabeth correu para tirá-lo das ferragens. A atriz vendo que ele estava engasgado após engolir os dentes quebrados, colocou os dedos em sua garganta para salvar a sua vida, enquanto Rock Hudson, Kevin McCharty e Michael Wilding, tentavam conter os fotógrafos que queriam fotografar o rosto desfigurado do ator.


Após o acidente, o ator precisou fazer inúmeras cirurgias plásticas, mas ficou com cicatrizes, além de uma paralisia facial na metade do resto. Isto afetaria ainda mais a sua carreira, pois agora ele só podia ser filmado de lado, devido a imobilidade de seu rosto.

Durante o processo de recuperação, seu pai o procurou, e fez as pazes com Montgomery, que passou então a sofrer de culpa por ser homossexual, e por isto, decepcionar o pai. Era mais um tormento com o qual o ator não conseguia lidar. Neste período, ele chegou a ser preso, após ser encontrado pela polícia andando nas ruas de Nova York, nu, e completamente transtornado.

Seu retorno às telas foi em Os Deuses Vencidos (The Young Lions, 1958), onde ele finalmente contracenou com Marlon Brando. Em sua biografia, Brando relatou que se machucou nas filmagens, e Clift lhe ofereceu um gole de sua garrafa térmica, recheada com vodka misturada com barbitúricos.

Em 1959 Elizabeth Taylor novamente exigiu a presença de Montgomery Clift em De Repente, no Último Verão (Suddlenly, Last Summer, 1959).

Katharine Hepburn, Montgomery Clift e Elizabeth Taylor em De Repente, No Último Verão

Em 1961 Clift foi escalado pelo diretor John Huston para atuar em Os Desajustados (The Misfts, 1961). No filme, ele contracenava com a estrela Marilyn Monroe (em seu último filme completo). Monroe também vivia uma fase conturbada em sua vida (ela morreria no ano seguinte), e Montgomery chamou a atenção do diretor pela extrema paciência e educação com a problemática atriz.

Monroe, por sua vez, escreveu em seu diário que Clift era "a única pessoa mais atormentada que ela que já havia conhecido".

Marilyn Monroe e Montgomery Clift em Os Desajustados

O diretor John Huston passou a nutrir sentimentos paternais por Clift, e dizia aos quatro ventos que ele era mesmo "seu novo filho". E após Monty brilhar em Julgamento de Nuremberg (Judgment at Nuremberg, 1961), que lhe valeu sua quarta indicação ao Oscar, Huston o convidou para fazerem mais um filme juntos.

Com menos maquiagem, era visível as marcas no rosto do ator em O Julgamento de Nuremberg. A produção do filme sofreu muitos atrasos devido ao estado de saúde do ator, e a Universal chegou a processá-lo por prejuízo. Porém, o filme fez tanto sucesso, que o estúdio mais tarde decidiu retirar o processo.

Montgomery Clift em Julgamento de Nuremberg 

Huston e Cift se reencontraram em Freud - Além da Alma (Freud, 1962). Marilyn Monroe o aconselhou a não aceitar trabalhar com Huston novamente, mas Clift não ouviu os conselhos da amiga. 

Durante a produção, Huston descobriu que Clift era gay, e passou a trata-lo mal, fazendo ele regravar desnecessariamente diversas cenas, até a exaustão. Colegas de elenco, como a atriz Susannah York, confidenciaram que o diretor passou a renegar Montgomery, fazendo diversos tipos de torturas psicológicas durante as filmagens.

Montgomery Clift e Susannah Yok em Freud - Além da Alma

Quase sem convites para trabalhar, o ator ainda faria, quatro anos depois, o alemão Talvez Seja Melhor Assim (L'espion, 1966). Foi novamente Elizabeth Taylor quem lhe estendeu a mão.

A amiga o convidou para interpretar o seu marido, homossexual enrustido, em Os Pecados de Todos Nós (Reflections in a Golden Eye, 1967). Mas antes o início das filmagens, em 23 de julho de 1966, Montgomery Clift foi encontrado morto em seu apartamento, com apenas 45 anos de idade.

A autópsia registrou uma oclusão coronária como a causa da morte, mas Robert Lewis, seu antigo professor de teatro, declarou que Montgomery Clift morreu vítima do "suicídio mais longo da história", dez anos depois do acidente que desfigurou seu belo rosto.


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3 Comentários

  1. Estou chocado essa história, eu já conhecia algumas como a do Tab Hunter e a do Rock Hudson, mas essa do Montgomery foi de me apertar o coração e lagrimejar os olhos. Fico pasmado como tinha vários atores nessa época que não só mantinham sua sexualidade escondida, mas passava por vários perrengues por causa disso. Felizmente, aos poucos, isso tá mudando (pergunta a mim mesmo: será que tá?). Parabéns pela matéria e pelo site!

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  2. La fin de sa vie fut une véritable déchéance. Dans la biographie de Marlon Brando écrite par Darwin Porter, il est écrit que Montgomery Cliff était le sujet de tournantes dans des bars gays. Son alcoolisme lui fit faire n importe quoi sur les plateaux de tournages, ce qui exaspérait les metteurs en scènes.

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  3. The Right Profile do The Clash conta quase toda a história em forma de musica

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