Por Diego Nunes
Com uma longa carreira que durou quase seis décadas, a atriz Elsa Lanchester é um pouco esquecida e injustiçada na história do cinema. Geralmente lembrada como "a esposa de Charles Laughton", a talentosa Lanchester também era uma excelente cantora, foi indicada ao Oscar em duas ocasiões, e ficou eternizada no clássico de terror A Noiva de Frankenstein (Bride of Frankenstein, 1935).
Elsa Lanchester em A Noiva de Frankenstein
Elsa Sullivan Lanchester em Londres em 28 de outubro de 1902. Ela era filha de Edith "Biddy" Lanchester, uma pioneira feminista e famosa sufragista (mulheres que lutavam pelo voto feminino) inglesa. Seus pais se recusaram ao longo da vida oficializar a união de uma forma convencional, pois consideravam que isto servia apenas para satisfazer a sociedade conservadora.
Seu irmão, Waldo Sullivan Lanchester era um famoso manipulador de marionetes.
Edith "Biddy" Lanchester e Waldo Lanchester
Elsa Lanchester começou a estudar dança ainda criança, e foi aluna da lendária bailarina Isadora Duncan (de quem ela não gostava). Mas durante a Primeira Guerra Mundial a escola de Duncan foi fechada devido ao conflito, e Elsa começou a dançar em cabarés e teatros, além de dar aulas de dança, para ajudar na renda familiar.
Além de dançar Elsa também cantava velhas canções a baladas da era vitoriana nos palcos, e começou também a fazer teatro, inicialmente trabalhando em produções infantis.
Em 1924 Lanchester estreou no cinema, atuando em The Scarlet Woman: An Ecclesiastical Melodrama (1924), ainda no cinema mudo inglês. Na época, ela já era uma artista famosa, principalmente pelos seus trabalhos nos palcos, e foi convidada pela Columbia para gravar seu primeiro disco, lançado em 1926.
Elsa Lanchester em sua estreia no cinema
Elsa foi convidada por Arnold Bennett para atuar no teatro sério, participando da peça Mr. Prohack (1927), e foi durante a produção que ela conheceu o ator Charles Laughton. Eles se casaram dois anos depois. Os dois atuariam juntos em muitas peças, e posteriormente nos filmes.
Elsa Lanchester interpretando Peter Pan no teatro, em 1936. Charles Laughton era o Capitão Gancho
Em 1928 ela estrelou três filmes que foram escritos para ela pelo novelista HG Wells, Blue Bottles, Daydreams e The Tonic, todos eles dirigidos por Ivor Montagu. Charles Laughton também atuou nas três produções.
Em poucos anos de carreira cinematográfica, a atriz apareceu em diversos filmes ingleses, incluindo Potiphar's Wife (1931), estrelado por Laurence Olivier. Em 1933 Charles Laughton estrelou o clássico inglês Os Amores de Henrique VIII (The Private Life of Henry VIII, 1933), que fez um enorme sucesso mundial. Elsa Lanchester interpretava Ana de Cleves, a quarta esposa do monarca.
Elsa Lanchester e Charles Laughton em Os Amores de Henrique VIII
O sucesso comercial do filme valeu a Laughton um convite para trabalhar em Hollywood. Lanchester foi com ele para os Estados Unidos, mas antes ainda atuou em Os Amores de Dom Juan (The Private Life of Don Juan, 1934), uma produção inglesa estrelada pelo antigo astro do cinema mudo Douglas Fairbanks.
Em Hollywood a atriz fez papéis coadjuvantes em David Copperfield (The Personal History, Adventures, Experience, & Obeservation of David Copperfield the Younger, 1935) e Oh, Marieta! (Naughty Marietta, 1935), antes de ser escalada como Mary Wollstenocraft Shelley, a personagem título do filme A Noiva de Frankenstein (Bride of Frankenstein, 1935).
Elsa ainda atuou em Hollywood em Um Fantasma Camarada (The Ghost Goes West, 1935), antes de ir para à Inglaterra para atuar com o marido em Rembrant (Idem, 1936), lá o casal ainda faria em Náufrago da Vida (Vessel of Wrath, 1938). Nos Estados Unidos, o filme recebeu o nome de The Beachcomber.
Elsa só retornaria ao cinema em Mistério de Uma Mulher (Ladies in Retirement, 1941), já de volta aos Estados Unidos. Lá ainda faria Ódio no Coração (Son of Fury: The Story of Benjamin Blake, 1942) e voltou a contracenar com o marido em Seis Destinos (Tales of Manhattan, 1942).
Na RKO estrelou Ela Quase Matou Hitler (Passaport to Destiny, 1944), único filme norte-americano que Elsa protagonizou.
Na década de 1940 a atriz trabalhou como coadjuvante em diversos filmes, Um Anjo Caiu do Céu (The Bishop's Wife, 1947) e O Relógio Verde (The Big Clock, 1948). E em 1949 foi indicada ao Oscar de Melhor atriz Coadjuvante após interpretar uma pintora em Falam os Sinos (Come to the Stable, 1949).
Cary Grant e Elsa Lanchester em Um Anjo Caiu do Céu
Elsa Lanchester em Falam os Sinos
Nos anos seguintes ela continuaria atuando no cinema, e também começou a fazer muitos trabalhos na televisão. Paralelamente retornou aos palcos, e gravou três discos como cantora na década de 1950, inclusive regravando velhas canções de seu repertório nos cabarés londrinos.
Seus filmes deste período incluem Inspetor Geral (The Inspector General, 1949), A Noite de 23 de Maio (Mystery Street, 1950) e Anjo da Vingança (Frenchie, 1950). Mas talvez seja mais lembrada como a mulher barbada prestes a ser barbeada por Jerry Lewis em O Rei do Circo (3 Ring Circus, 1954).
Elsa Lanchester e Jerry Lewis em O Rei do Circo
Em 1957 ela recebeu sua segunda indicação ao Oscar, também como coadjuvante, pelo seu desempenho em Testemunha de Acusação (Witness for the Prosecution, 1957). A atriz voltou a contracenar com o marido neste filme, e ambos receberam indicações ao Oscar, mas não levaram. Lanchester, porém, ganhou o Globo de Ouro daquele ano.
Elsa Lanchester e Charles Laughton em Testemunha de Acusação
Após atuar em Sortilégio do Amor (Bell Book and Candle, 1958), basicamente só trabalho na televisão nos anos seguintes. Seu retorno ao cinema foi no clássico da Disney Mary Poppins (Idem, 1964), onde interpretou a primeira babá das crianças Banks, que abandona o posto por considerar elas muito levadas.
Na Disney também atuaria em O Fantasma do Barba Negra (Blackbeard's Ghost, 1968).
Elsa Lanchester e Glynnis Johns em Mary Poppins
Elsa Lanchester ainda apareceu em Ele, Ela e o Pijama (Pajama Party), Aquele Gato Danado (That Darn Cat!, 1965) e Uma Garota Avançada (Me, Natalie, 1969). E interpretou a mãe de Elvis Presley em Meu Tesouro é Você (Easy Come, Easy Go, 1967), chegando a dividir um número musical com ele.
No cinema, ainda fez alguns filmes de terror como Arnold (1973) e Calafrio (Willard, 1971) e interpretou Jessica Marbles (uma detetive inspirada em Jane Marple, de Aghata Christie) em Assassinato por Morte (Murder by Death, 1976). Em 1980, após atuar em Minha Vida é Uma Piada (Die Laughing, 1980), decidiu se aposentar.
Elsa Lanchester e Robby Benson em Minha Vida é Uma Piada
Em 1983 ela lançou um livro de memórias, onde contou que ela e Laughton nunca tiveram filhos (eles ficaram casados entre 1929 a 1962, quando ele morreu) porque ambos eram homossexuais, e na verdade tinham apenas uma relação de amizade por conveniência, embora a atriz confesse ter feito um aborto do ator no começo da sua carreira, na década de 1920.
Pouco tempo depois de lançar sua biografia, ela sofreu dois derrames, e ficou completamente incapacitada, necessitando de cuidados especiais em tempo integral. Elsa Lanchester permaneceu em uma cama até falecer, devido a uma pneumonia, em 26 de dezembro de 1986.
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