Gig Young ingressou no cinema em 1940, mas talvez seja mais lembrado como o mestre de cerimônias alcoólatra e ganancioso no clássico A Noite dos Desesperados (They Shoot Horses, Don't They?, 1969), que lhe valeu um Oscar de Melhor Ator Coadjuvante.
Nascido Bryon Elsworth Barr, em Minessota, em 04 de novembro de 1913, Gig Young se interessou por teatro ainda na escola. Após terminar o colégio, ele trabalhava como vendedor de carros durante o dia e a noite fazia aulas de interpretação.
Um amigo o convidou para mudar para Hollywood, com a condição de ajudar a pagar o combustível da viagem. Na terra do cinema, o ator conseguiu um pequeno papel no filme independente Misbehaving Husbands (1940), onde foi creditado como Bryon Barr.
Após fazer mais um filme de curta-metragem, conseguiu papel em uma peça. George Reeves, o ator principal do espetáculo e Gig Young foram vistos por um agente de talentos da Warner Brothers, que ofereceu um contrato para ambos os atores. Seu primeiro papel no estúdio foi uma pequena ponta no filme Sargento York (Seargent York, 1941), estrelado por Gary Cooper.
Após seis meses no estúdio, onde só havia feito figurações, recebeu um papel maior no filme As Três Herdeiras (The Gay Sisters, 1942). Seu personagem, que chamava Gig Young no filme fez sucesso, e o público se referia a ele como o ator que interpretou Gig Young. Como já havia um outro ator de nome Bryon Barr, a Warner rebatizou seu contratado como Gig Young, personagem que o popularizara.
Julie Bishop e Gig Young em As Três Herdeiras
O ator Byron Barr
A partir de então seus papéis foram melhorando, mas sempre interpretando papéis de coadjuvantes. Young geralmente era escalado como o vizinho boa praça, um irmão, ou o melhor amigo do mocinho da fita. Em Uma Velha Amizade (Old Acquaintance, 1943), apesar de não ser o protagonista, era o interesse romântico da estrela Bette Davis. Ele havia trabalhado com Bette em Satã Janta Conosco (The Man Who Came to Dinner, 1942), mas neste filme, feito um ano antes, aparecia apenas em uma cena dizendo "como está o gelo?".
Bette Davis e Gig Young em Uma Velha Amizade
Sua carreira parecia se consolidar, mas ela foi interrompida quando o ator precisou se alistar no Exército, para lutar na Segunda Guerra Mundial. No conflito no Pacífico, ele trabalhava como auxiliar de farmácia.
Após dar baixa do exército, só conseguiu retomar a carreira em 1947, ainda na Warner. Ainda em 1947 se divorciou da primeira esposa, a atriz Sheila Stapler, com quem havia se casado em 1940.
Insatisfeito com o salário da Warner, deixou o estúdio em 1948. Contratado como freelancer, interpretou Porthos em Os Três Mosqueteiros (The Three Musketeers, 1948), na MGM. O filme era estrelado por Gene Kelly e Lana Turner.
Van Heflin, Gig Young, Gene Kelly e Lana Turner em Os Três Mosqueteiros
Na Republic, apoiou John Wayne em O Rastro da Bruxa Vermelha (Wake of the Red Witch, 1948). Nesta época, também começou a fazer muitos trabalhos na televisão, e em Caçada Implacável (Hunt the Man Down, 1950), feito na RKO, fez seu primeiro papel como protagonista
Em 1951 ele foi indicado ao Oscar de melhor ator coadjuvante por seu desempenho em Degradação Humana (Come Fill the Cup, 1951), que era estrelado por James Cagney. Young interpretava um jornalista alcoólatra, e recebeu muitos elogios pelo papel.
De volta a MGM, fez um papel coadjuvante em Cedo Para Beijar (Too Young to Kiss, 1951). O estúdio gostou dele, e o contratou a longo prazo. Então ele coadjuvou Peter Lawford em Você Para Mim (You For Me, 1952) e foi promovido a estrela em Assim Quis o Destino (Holiday For Sinners, 1952), que foi um grande fracasso de bilheterias.
Ainda em 1952 Gig Young ficou viúvo. Sua esposa, a professora de interpretação Sophie Ronsenstein, com quem ele se casou em 1950 (ele a havia conhecido na Warner), faleceu de câncer dois anos após o casamento.
Rebaixado na MGM, perdeu o amor de Elizabeth Taylor para o argentino Fernando Lamas em A Jovem que Tinha Tudo (The Girl Who Had Everything, 1953). Ele também apoiou Joan Crawford em Se Eu Soubesse Amar (Torch Song, 1953) e foi novamente protagonista do western O Circo da Morte (Arena, 1953), que foi realizado em 3D.
Mas insatisfeito com os papéis que o estúdio lhe oferecia, ele rompeu seu contrato, passando a atuar na Broadway. Foi na Broadway que ele fez sua primeira comédia, gênero que ele interpretaria no cinema nos anos seguintes. Ele retornou ao cinema em Corações Enamorados (Young at heart, 1954), o primeiro dos cinco filmes que fez com Doris Day. Também esteve em Amor Eletrônico (Desk Set, 1957), estrelado por Katharine Hepburn e Spencer Tracy e foi o instrutor de Elvis Presley em Talhado Para Campeão (Kid Galahard, 1962).
Charles Bronson, Gig Young e Elvis Presley em Talhado Para Campeão
Gig Young recebeu sua segunda indicação ao Oscar (de ator coadjuvante) pela comédia Um Amor de Professora (Teacher's Pet, 1958), também estrelado por Doris Day. No filme, novamente ele interpretava um alcoólatra, mas boa gente.
Gig Young, Doris Day e Clark Gable em Um Amor de Professora
Na vida real, entretanto, Gig Young também tinha problemas com bebidas, mas não era um rapaz gentil como nos filmes que interpretava. Em 1956 ele casou-se pela terceira vez, desta vez com a jovem atriz Elizabeth Montgmery, que anos mais tarde ficaria famosa como a bruxinha Samantha na série de televisão A Feiticeira (Bewitched). Ela era 20 anos mais nova que ele, e eles haviam trabalhados juntos em um programa de televisão, onde se conheceram.
Elizabeth Montgmery e Gig Young
Além das bebedeiras, o ator era violento, e espancava a esposa constantemente. Elizabeth vivia acuada, e chegou a ser proibida de sair de casa pelo marido. Foi preciso que seu pai, o ator Robert Montgomery, intervir. Dizem que Robert chegou a dar uma surra em Gig Young, para obrigá-lo a assinar os papéis do divórcio, em 1963. O pai de Elizabeth também teria pago uma pequena fortuna para convencer o ator a deixar sua filha em paz. Pouco tempo após a separação, ele casou-se com Elaine Williams, uma herdeira milionária de Nova York.
Após o divórcio, sua carreira foi decaindo, e o ator chegou a ir para Europa, onde estrelou alguns filmes de terror menores. Com Elaine teve uma única filha, que ele renegou. O casal se separou em 1966, devido ao vício em álcool e a violência do ator.
Após cinco anos brigando para provar que não era pai de Jennifer Young (que se tornou roteirista), exames comprovaram a paternidade.
Em 1969 Sidney Pollack o convidou para atuar em A Noite dos Desesperados (They Shoot Horses, Don't They?, 1969), que lhe valeu um Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. Sua terceira indicação ao prêmio foi novamente num papel de alcoólatra, e durante as filmagens o ator realmente estava bêbado, o que gerou a ira de seus colegas como Jane Fonda e Red Buttons.
Gig Young e Jane Fonda em A Noite dos Desesperados
Mas apesar do prêmio, sua carreira não deslanchou como ele acreditava que aconteceria. Young ainda fez papéis em filmes como Tragam-me a Cabeça de Alfredo Garcia (Bring Me the Head of Alfredo Garcia, 1974), Elite de Assassinos (The Killer Elite, 1975) e O Dirigível Hindenburg (The Hindenburg, 1975).
Em 1974 ele foi demitido das filmagens de Banzé no Oeste (Blazing Saddles, 1974), após um dia de filmagens. Gig Young teve um colapso devido a uma bebedeira, entrando em coma em seguida. O diretor Mel Brooks então escalou Gene Wilder para o papel.
Em 1978 Gig Young conheceu em Hong Kong sua quarta esposa, a editora alemã Kim Schmidt, enquanto filmava Jogo da Morte (Game of Death, 1978), o último filme do ator Bruce Lee. Eles se casaram em 27 de setembro de 1978.
Gig Young e Kim Schmidt
Vinte um dias depois, em 19 de outubro do mesmo ano, Gig Young atirou contra a cabeça da nova esposa, se suicidando em seguida. Os corpos dos dois foram encontrados caídos entre o Oscar do ator. Ele tinha 64 anos de idade, e ela 31.
Dias antes, ele havia mudado seu testamento, onde proibia sua filha de receber qualquer coisa de sua herança. Todo seu patrimônio, incluindo seu Oscar, foi deixado para seu empresário, Martin Baum.
Na década de 90 Jennifer Young iniciou uma batalha judicial para ficar com o prêmio de seu pai. Ela e o empresário fizeram um acordo de que ela receberia o Oscar após a morte de Baum, ocorrida em 2010. Em 2015 Jennifer dirigiu o documentário An American Tragedy (2015), sobre a história de seu pai.
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