Embora seja associada com uma das musas do cinema italiano da década de 1960, a atriz Marisa Mell era austriaca. Com papéis marcantes em sua carreira, ela nunca alcançou um estrelado similar ao de Gina Lollobrigida ou de Sophia Loren, embora tenha tido oportunidades. Muito da decadência de sua carreira se deu a uma vida repleta de polêmicas e confusões, que arruinaram seu nome no meio artístico.
Marlies Theres Moitzi nasceu em Gratz, na Austria, em 24 de fevereiro de 1939. Na adolescência ela se mudou para a capital de seu país para estudar atuação na escola de Max Reinhart, onde foi colega de classe da atriz Seta Bergen.
Aos 15 anos de idade ela havia estreado no cinema em um pequeno papel no filme Das Licht der Liebe (1954). Mas ela só retornaria ao cinema cinco anos depois, quando teve um papel melhor em O Antro do Vício (Das Nachtlokal zum Sibermond, 1959). Sua beleza chamou a atenção do público, que fez com que ela conseguisse papéis melhores.
Marisa Mell em O Antro do Vício
Marisa seguiu atuando em bons papéis em produções austriacas e alemãs, e na Alemanha, em 1963, foi protagonista de Venusberg, que obviamente explorava toda a sua sensualidade.
Porém, ainda em 1963, ela sofreu um grave acidente de carro na França, ficando incosciente por várias horas. Ela ficou com o rosto desfigurado, e quase perdeu um olho. A atriz se submeteu a diversas cirurgias plásticas para consertar seu rosto, e aproveitou para fazer alguns procedimentos estéticos para destacar ainda mais sua beleza. Mas como resultado do acidente, ficou com uma deficiência no lábio, que fez com seu sorrisso ficasse com uma curvatura irregular.
Após o acidente, Marisa Mell atuou em boas produções européias, como A Última Cavalgada (Der Letzte Rit Nach Santa Cruz, 1964), Oriente Contra Ocidente (Masquerade, 1964), Diamantes de Sangue (Diamond Walkers, 1965) e Casanova 70 (Casanova' 70, 1965).
Marcello Mastroianni e Marisa Mell em Casanova 70
Após o sucesso New York Chamando Super Dragon (New York Chiama Superdrago, 1966), ela recebeu um convite para ir para os Estados Unidos, para seguir carreira em Hollywood.
Marisa foi testada inicialmente na Broadway, estrelando uma produção de Mata Hari (1966), ao lado do ator Pernell Roberts, da série Bonanza. Mas a produção foi um grande fracasso, e o diretor David Merrick encerrou as apresentações antes do programado.
Pernell Roberts e Marisa Mell em Mata Hari
A atriz tinha propostas de estúdios americanos, mas acabou não assinando nenhum contrato. Segundo ela, ela havia discordado das cláusulas impostas, e preferiu recusar o convite. Mas amigos próximos afirmam que o fracasso nos Estados Unidos a deixou muito abalada.
Marisa então retornou para à Itália, onde voltou a trabalhar em papéis de destaque. Em 1968 ela estrelou um de seus filmes mais famosos, Perigo: Diabolik (Diabolik, 1968), que era baseado em uma história em quadrinhos.
Marisa Mell em Perigo: Diabolik
No mesmo ano, ela contracenou com Gina Lollobrigida em Johnny, o Irresistível (Stuntman, 1969), e fez um enorme sucesso também com Uma Sobre a Outra (Una Sull'atra, 1969), de Lucio Fulci.
Mas ao mesmo tempo em que sua carreira deslanchava, Marisa Mell começou um relacionamento com o playboy Pier Luigi Torri, um homem muito famoso na época, não pelos seus feitos, mas por seu dinheiro abundante que fazia dele uma celebridade do jet set europeu.
Foi o austriaco Helmut Berger quem apresentou Marisa a Pier Luigi Torri, com quem ela começou a namorar em 1966.
Marisa Mell e Pier Luigi Torri
O relacionamento passou a ser chamado pela imprensa de "O Casal Número Um", uma referência a boate "Número Um", que pertencia a Torri, e era frequentada pela nata da sociedade européia, inclusive pelo seu amigo pessoal, o príncipe Rainier, de Mônaco.
Torri era sócio de Bino Cicgona, produtor de cinema irmão da lendária produra Marina Cicgona.
A boate era famosa pelo slogan "o que o cliente quer, o cliente tem", e isso era verdade. Logo a polícia descobriu um esquema de tráfico de drogas, que fornecia cocaína livremente para os clientes vips. Bino Cicgona fugiu para o Rio de Janeiro, onde foi encontrado morto pouco tempo depois.
O produtor foi encontrado com a cabeça dentro de um forno de seu apartamento, e a polícia concluíu que foi suícidio, mas muitos suspeitaram que ele havia sido morto por pessoas importantes, que temiam que ele delatasse o esquema de tráfico de drogas.
A polícia então fez uma batida na boate, e prendeu mais de 300 pessoas, incluindo artistas, políticos, milionários e membros da realeza. Pier Luigi Torri foi preso, e Marisa Mell também teria ido para a cadeia, se não estivesse filmando em outro país na data da apreensão.
Levado a julgamento, Torri parecia debochar da justica. Ele ia para o tribunal com seu rolls royce, e estacionava o seu carro na vaga particular destinada ao juiz do caso. Ele tinha amigos influentes, e parecia estar confiante em sua absolvição.
Certo dia, durante os depoimentos, uma das testemunhas indicadas por ele disse que iria apresentar provas a seu favor no tribunal. Ela então tirou um gravador e deu play em uma fita, onde todos presente na audiência ouviram, na verdade, uma conversa do juiz ao telefone, com uma amante.
Torri acabou sendo inocentado pela acussão de tráfico de drogas, mas foi condenado a prisão por difamação contra o juiz. Mas ele não chegou a ser preso, pois fugiu para Mônaco em seu iate.
Porém, em Mônaco, o principe Rainer não estava feliz com a presença do ex-amigo, cuja má fama havia respingando em seu reinando. Ele então mandou fazer uma apressenção no barco de Torri, e encontrou uma enorme quantia de dinheiro, e acusando-o de não pagar imposto, condenou o ex-amigo para a prisão. Mas novamente, ele fugiu, agora para Londres, abandonando Marisa Mell, que ficou completamente abalada emocionalmente, e com a imagem queimada diante do público, que acreditava que ela fazia parte de todos os esquemas de corrupção.
Última foto conhecida de Marisa Mell e Pier Luigi Torri, em 1971
Em Londres, ele também teve problemas legais, e foi novamente ao tribunal, desta vez por envolvimento com um traficante de armas. Mas durante o julgamento, ele pediu para ir ao banheiro, e fugiu pelos canos de tubulação de ar. Depois desta nova fuga, ele passou a ser um dos homens mais procurados do FBI.
Ele enfim foi preso em 1977, durante uma mega operação, sendo capturado enquanto passeava no Central Park de Nova York.
Durante todo esse processo, Marisa Mell engravidou de Pier Luigi Torri, mas acabou perdendo a criança durante a gestação. Oficialmente, ela estava tão abalada com toda a situação, que perdeu a criança devido ao estresse. Porém, muitos acreditam que ela foi obrigada a abortar pelo namorado, que a agredia constantemente, e simulou um aborto espontâneo para não manchar sua imagem ainda mais em um país tão católico como a Itália.
A carreira da atriz sofreu um baque, embora ela tenha atuado bastante na década de 1970. Mas em dificuldade financeira, ela passou a aceitar papéis cada vez menos relevantes, e posou para a Playboy para fazer uma renda extra.
Além de sua imagem arranhada, Marisa Mell estava envelhecendo, e seus papéis dependiam de sua beleza e juventude, e ela começou a perder espaço para novas beldades que surgiam nas telas italianas.
Seus papéis de destaque no período foram Marta, A Mulher Insaciável (Marta, 1971), Ben e Charlie (Ben & Charlie, 1972), Sete Orquídeas Manchada de Sangue (Sette Orchidee Macchiate di rosso, 1972), Milão Escandante (Milano Rovente, 1973), Casanova e Cia. (Casanova & Co., 1977) e Mad Dog (1977).
Marisa Mell chegou a atuar em um único filme feito em Hollywood, Mohogany, a Morena Explosiva (Mohogany, 1975), uma produção feito para promover a cantora Diana Ross no cinema. Mas suas cenas foram quase todas cortadas na ilha de edição final.
Diana Ross, Anthony Perkins e Marisa Mell em Mohogany, a Morena Explosiva
Sem muitos convites para atuar na Itália, e em dificuldades financeiras, Marisa Mell retour para à Austria, onde continuou atuando, mas nenhum de seus trabalhos posteriores teve grande repercussão fora de seu país natal.
Seu último filme foi I Love Vienna, de 1991.
Marisa Mell em I Love Vienna
Pouco tempo depois, em 16 de maio de 1992, Marisa Mell morreu vítima de câncer na garganta, com apenas 53 anos de idade.
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