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Charles Ray, o ator destruído pelo próprio ego



Hollywood é considerada onde os sonhos se tornam possíveis, mas ao mesmo tempo é um lugar onde afloram as vaidades dos meros mortais elevados a estrelas de fama mundial.

Não são raros os casos de artistas que tiveram suas carreiras arruinadas por suas extravagâncias e comportamentos arrogantes, e Charles Ray foi um dos astros que sentiu o peso de suas atitudes.

Nascido em uma família humilde, no interior dos Estados Unidos, em 15 de março de 1891. Ele migrou para Los Angeles em busca do sonho de se tornar ator.

Ele fez algumas peças de teatro, e em 1912 começou a atuar como figurante nos estúdios do aclamado diretor Thomas Ince. Ray atuou em pequenos papéis no estúdio do diretor, até que Ince lhe deu uma grande chance, o papel principal do filme O Covarde (The Coward, 1917), que fez um enorme sucesso, e transformou Charles Ray em um astro do dia para a noite.


Charles Ray no cartaz de O Covarde


Ray fez dezenas de filmes nos anos seguinte, e ficou popular ao interpretar personagens ingênuos, vindo do interior em diversas comédias. Geralmente ele interpretava um jovem caipira de bom coração, que mesmo sem querer, atrapalhava os planos dos bandidos.




Logo ele se tornaria um dos atores mais populares de Hollywood, sendo um dos mais bem pagos também. Em 1912, quando começou, ele ganhava apenas 7 dólares por semana de trabalho, mas em 1915 já ganhava quase 12 mil dólares semanais, um dos maiores cachês da época.

Em 1917 Thomas Ince recebeu uma oferta para dirigir filmes na Paramount, podendo manter o seu próprio estúdio paralelamente. Ele aceitou a proposta com uma condição, levar Charles Ray com ele. Ray era popular no mundo inteiro, e seus filmes também faziam muito sucesso por aqui no Brasil.

Ele foi o primeiro astro de Hollywood a viajar para o Japão, para promover o lançamento de um de seus filmes por lá, tamanho era o sucesso que fazia nas bilheterias do país.


Charles Ray em uma revista brasileira



Cartazes de filmes de Charles Ray


Sucesso nas bilheterias, o ator começou a dar trabalho na Paramount, com constantes atrasos, exigências e ataques de estrelismo. Um dia Adolphe Zuckor, o todo poderoso do estúdio se irritou, e demitiu o ator após ele exigir um aumento de salário.

Ray voltou a ser exclusivo dos estúdios de Thomas Ince, que sempre apostou em seu talento. Mas Charles Ray, além de ser um ator complicado, tinha ambições maiores. Conhecido por interpretar rapazes simplórios do campo, ele almejava ser galã, e resolveu montar seu próprio estúdio,

Ele foi desaconselhado por amigos, porque não entendia nada sobre produção, direção ou distribuição. Mas ele não deu ouvidos e investiu suas economias na construção de um grande estúdio.

Ele então dirigiu, produziu e estrelou 45 Minutes From Broadway (1920), que até que foi bem aceito pelo público, mas não se pagou. Sem enxergar o sinal de alerta, e aceitando o prejuízo, ele resolveu investir em um projeto muito maior, o drama sobre os tempos da colonização americana The Courtship of Myles Standish (1923).

Thomas Ince o procurou, e disse que filmes épicos assim não estavam dando bilheteria, e tentou convence-lo a investir em algo mais modesto. Ray novamente ignorou os conselhos.

O filme foi uma máquina de gastar dinheiro. A megalomania do ator fez com que nos primeiros dias o orçamento da produção já estourasse, ele cada vez mais botava recursos de seu próprio bolso na obra. Ele mandou até reconstruir uma réplica exata do navio Mayflower, que trouxe os primeiros imigrantes para os Estados Unidos. O navio, de tamanho real, tinha reproduções de cabines das cabines de luxo dos passageiros, que nem foram usadas durante as filmagens.

Logo o seu dinheiro acabou, mas o filme não, e ele pediu empréstimos com jutos de 30% ao mês para finalizar seu ambicioso projeto, que custou mais de 3 milhões de dólares na época, sendo um dos filmes mais caros dos tempos do cinema mudo.




Após mais de um ano de produção, o filme foi lançado em 1923, e foi um grande fracasso de bilheterias. Ray havia gasto todo o seu dinheiro, e não tinha mais recursos financeiros.

Ele então tentou retornar sua carreira de ator, mas a sua fama de difícil fechou as portas para ele em todos os estúdios. E foi novamente Thomas Ince quem lhe deu trabalho, no filme Dynamite Smith (1924). Porém, Ince morreria repentinamente em 1924, e Charles Ray se viu novamente sem trabalho.

Além do prejuízo enorme causado por The Courship of Myles Sandish, o ator já possuía dívidas oriundas de uma vida perdulária, repleta de gastos exorbitantes e supérfluos. Ele e a esposa Clara Grant só usavam roupas de grifes, trazidas da Europa, e as peças eram descartadas após serem usadas uma única vez.

Além disto, ele morava em uma suntuosa mansão, ao lado da casa de Mary Pickford, a maior estrela do cinema da época. Sua residência possuía 6 pianos de cauda, paredes de mármore e as maçanetas, torneiras, corrimões e até a banheira de seu quarto eram feitas de ouro. Além disto, o ator tinha também em seu banheiro uma réplica de uma árvore, em tamanho natural, cujas folhas, frutos e flores eram feitas de pedras preciosas.



A casa de Charles Ray


O casal também era famoso por dar festas suntuosas. E um dia antes de decretar a falência, em 1925, ele deu uma festa para 100 convidados, com um mordomo contratado servindo cada um deles individualmente. Na época, foi declarado que a esta custou cerca de 30 mil dólares (cerca de 500 mil dólares nos dias atuais). No dia seguinte, ele foi despejado de sua residência, devido a dívidas e impostos atrasados. Cinco anos depois ele pediria a sua segunda falência.


Charles Ray continuou atuando, com pouca repercussão, durante toda a era do cinema mudo. Mas sua carreira, já bastante decadente, foi completamente arruinada com a chegada do cinema sonoro, em 1927.


Joan Crawford e Charles Ray em Uma Aventura em Paris (Paris, 1926)


Com a chegada dos filmes falados, Ray ficou completamente sem convites para o cinema, e tentou a carreira no teatro em Nova York, que também não foi bem sucedida. Ele também fundou uma revista de fofocas sobre os bastidores de Hollywood, que faliu após a segunda edição, principalmente porque ninguém mais se interessava em saber sobre a vida dos seus colegas das décadas de 1910 e 1920, muitos deles já aposentados.

Em 1932 Charles Ray retornou a Hollywood, mas agora trabalhando como figurante, e novamente ganhando  7 dólares por semana, o mesmo cachê que recebia nos primeiros dias de sua carreira, 20 anos atrás. O ator trabalharia como figurante até o final de sua vida.


Charles Ray em Um Pedacinho do Céu (A Little Bit of Heaven, 1940)


Em 23 de novembro de 1943 Charles Ray faleceu, com 52 anos de idade. Ele estava com uma inflamação no dente, que não foi tratada por falta de dinheiro, e acabou infeccionando.







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