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Morre Pupetta Maresca, mafiosa italiana líder da Camorra que se tornou atriz, mas continuou no crime organizado



A história do cinema tem diversas histórias de atrizes que se envolveram com mafiosos, e talvez o caso mais famoso seja o de Lana Turner com o gangster Johnny Stompanato, que foi morto pela filha da atriz. Mas Pupetta Maresca é um curioso caso inverso, após se envolver com a máfia, e ficar presa anos acusado de assassinato, ela retornou a vida pública como protagonista de cinema, iniciando uma carreira de atriz.





Assunta Maresca nasceu em Castellamare di Stabia, na Itália, em 19 de janeiro de 1935. Ela era filha de Alberto Maresca, um perigoso contrabandista e sobrinha de Vicenzo Maresca, condenado pelo assassinato do próprio irmão. Sua família era membro da Camorra e controlava sua cidade natal, no sul de Nápoles. Eles eram conhecidos como "lampetielli", uma espécie de canivetes que eles usavam contra seus desafetos, e controlavam a distribuição de cigarros na região.

Asunta era a única menina entre os irmãos, e foi apelidada de Pupetta (pequena boneca). Aos 19 anos ela ganhou um concurso de beleza e se tornou Miss Rovegliano, uma vila de Nápoles.

Em 1955 ela se casou com Pasquale Simonetti, outro chefe da Camorra, que tinha um mercado de frutas de fachada para praticar contrabando, em Nápoles. 


Pasquale Simonetti e Pupetta Maresca


Três meses após o casamento, em 16 de julho de 1955, Pasquale foi assassinado por outro guapo camorrista, Antonio Esposito, que encomendou a morte do rival para assumir os negócios da região. Pupetta, grávida de seis meses, ficou arrasada. Ela acreditava que a polícia sabia quem matou seu marido, mas não estava interessada em punir ninguém.

Em 04 de agosto de de 1955 ela foi para Nápoles acompanhada de seu irmão mais novo atrás de Esposito. Ela tirou uma arma da bolsa e matou ele em público, em plena luz do dia. Seu julgamento tomou conta das manchetes internacionais, tornando-se o primeiro grande caso judicial midiático da Itália.

No julgamento, ela declarou desafiadoramente diante do juri "eu faria de novo!", arrancando aplausos das pessoas que assistiam sentadas no tribunal. A imprensa a batizou de "a diva do crime" e ela ganhou o apoio popular, e até uma canção foi composta para ela na época, La Legge D'Onore (a lei da honra). Pupetta também passou a receber centenas de cartas com pedidos de casamento de fãs apaixonados.

Ainda em 1958 o importante diretor Francesco Rossi dirigiu o filme A Provocação (La Sfida, 1958), com a estrela Rosana Schiaffino no papel de Asunta. O filme era claramente a história de Pupetta e Pasquale.



Apesar do clamor popular, ela foi condenada a 18 anos de prisão, mas sua sentença depois foi reduzida para 13 anos e 4 meses após uma apelação jurídica. Seu filho nasceu na prisão.

Em 1965, entretanto, após cumprir alguns anos na cadeia, ela foi perdoada judicialmente. Dois anos depois, ela fez sua estreia (que acabou se tornando sua única aparição no cinema), como a protagonista de Delitto a Posillipo - Londa Chiama Napoli (1967).

O filme contava a história de uma mulher acusada do assassinato do marido, que brigava na justiça para limpar seu nome, enquanto lutava para ficar com seu filho recém nascido. Sua personagem chamava-se Pupetta Amaruso.



Pupetta além de estrelar a obra, aparecia também cantando uma música composta por ela mesma, O Benne Mio.



Apelidada de "Madame Camorra", ela não conseguiu firmar uma carreira cinematográfica, e voltou a se envolver com atividades criminosas. Ela passou a namorar com Umberto Ammaturo, com quem teve gêmeos. Apesar de nunca terem se casado, ela apoiou seus negócios ilegais. 

Mas em 1974 seu primeiro filho foi sequestrado e assassinado. Ele tinha apenas 18 anos de idade, e sua morte nunca foi esclarecida. Pupetta acreditava que foi o própio Ammaturo quem mandou matar seu primogenito, porque o rapaz não aceitava o relacionamento da mãe.

Ammaturo, conhecido traficante de drogas, havia ameaçado a vida do jovem diversas vezes, e chegou a ser investigado pela sua morte, mas foi inocentando por falta de provas. Apesar disto, Pupetta ficou com ele até 1982. Ela também nunca abandonou o crime organizado, e chegou a desafiar publicamente Raffaele Cutuolo, o chefão da Camorra (que faleceu em fevereiro deste ano). Cutuolo mandou então restringir todas as atividades comercias de Pupetta, que ainda assim resistiu. Como resposta, seus homens tentaram matar seu irmão, que estava na prisão, mas ele sobreviveu ao atentando.

Ainda em 1982 ela foi novamente presa, condenada por assassinato mais uma vez. Ela sempre negou o crime, e Umberto Ammaturo acabou confessando o mesmo em 1993. Pupetta cumpriu 4 anos de prisão, e após ser solta viveu sozinha e reclusa na região de Sorrento.




Em 1982, durante seu segundo julgamento, outro filme sobre sua vida foi feito, Il caso de Pupetta Maresca (1982), estrelado pela atriz Alessandra Mussolini

Alessandra é sobrinha da atriz Sophia Loren, filha de sua irmã Maria Scicolone e do compositor Romano Mussolini, que é filho do líder italiano Benito Mussolini.



Alessandra Mussolini como Pupetta Maresca

O filme foi feito pela emissora de televisão RAI, mas Maresca conseguiu impedir sua exibição na época. A produção só foi lançada 12 anos depois, em 1994, quando enfim foi exibido na TV.

Em 2013 também foi produzida a minissérie Pupetta: Il Coraggio e La Passione, também inspirada em sua vida, tendo a atriz Manuela Arcuri como Pupetta.




Pupetta Maresca, conhecida como a primeira mulher a comandar um clã da máfia, morreu em sua casa no dia 29 de dezembro, de causas naturais, aos 86 anos de idade.



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