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Relembrando o talento da doce Zeni Pereira



Por Diego Nunes

Zeni Pereira ficou eternizada na memória do público como a doce e protetora Januária em A Escrava Isaura (1976). O papel marcante na famosa novela, entretanto, não é suficiente para definir o talento da atriz, que já era uma veterana do teatro, cinema e televisão quando foi escalada para esta produção.

Infelizmente, Zeni Pereira trabalhou em um tempo em que haviam poucas oportunidades para artistas negros, que acabavam sempre escalados para papéis de escravos ou serviçais, que pouco lhes davam a chance de demonstrar seu potencial. E mesmo em pequenos papéis servis, Zeni Pereira conseguia transparecer todo seu potencial artístico.

Beatriz Lyra e Zeni Pereira em A Escrava Isaura

Zenith Pereira de Castro nasceu em Salvador, Bahia, em 09 de dezembro de 1924. Ainda criança, Zeni Pereira mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, e aos 14 anos de idade chegou a cantar nos programas de calouros da Rádio Mayrink Veiga.

Mas sua grande chance veio quando foi escolhida, entre 30 atrizes, para atuar na peça Anjo Negro (1946), de Nelson Rodrigues. No teatro, começou a ganhar destaque no começo da década de 1950, atuando em Aruanda (1949-1950), Amanhã Será Diferente (1952) e Paiol Velho (1955), onde contracenou com a lendária Cacilda Becker.

Zeni Pereira e Cacilda Becker em Paiol Velho

Integrante do Teatro Experimental Negro (TEN), de Abadias do Nascimento, Zeni participou da lendária montagem de Orfeu da Conceição (1956), escrita por Vinícius de Moraes. A peça transpunha o mito grego de Orfeu e Eurídice para os morros do Rio de Janeiro. 

Zeni interpretava a mãe de Orfeu.

Léo Jusi ensaiando Ciro Monteiro e Zeni Pereira em Orfeu da Conceição

Quando o cineasta francês Marcel Camus veio ao Brasil, adaptar Orfeu do Carnaval (Orfeu Negro, 1959) para o cinema, ele aproveitou alguns integrantes do elenco da montagem teatral, como Léa Garcia. Zeni Pereira também estava na produção, que ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1960. Este foi seu primeiro trabalho no cinema.

Zeni Pereira já havia trabalhado também na televisão. A convite de Júlio Gouveia e Tatiana Belinky, ela interpretou a primeira Tia Nastácia do Sítio do Pica Pau Amarelo (1952), na TV Tupi.

Zeni Pereira, David José, Eddy Cerri e Lucia Lambertini em O Sítio do Pica Pau Amarelo

Sem muitas oportunidades na televisão, a atriz voltou-se para o teatro. Ela contracenou com grandes nomes como Dulcina de Moraes, em Vamos Brincar de Amor em Cabo Frio (1964-1965) e com Esmeralda Barros em Memórias de Um Sargento de Milícias (1966).

Zeni Pereira e Dulcina de Moraes


Na TV, Zeni esteve na montagem televisiva de Orfeu, feita pela TV Continental em 1959, e em 1961 foi contratada para atuar em A Baronesa, na TV Excelsior, onde também fez alguns outros teleteatros.


Nesta mesma época a atriz fez diversos trabalhos no cinema, atuando em O Samba em Brasília (1960), Teus Olhos Castanhos (1961), Um Morto ao Telefone (1965) e Jovens Pra Frente (1968). Ela também fez mais uma produção internacional, Samba (Idem, 1965), estrelada pela espanhola Sarita Montiel.

Zeni Pereira e Sarita Montiel

Em 1969 a atriz retornou a TV Tupi, onde atuou em  O Doce Mundo de Guida (1969). Depois foi para a Globo, atuar em Véu de Noiva (1969). Na emissora, fez inúmeras novelas, como  Verão Vermelho (1970);  Irmãos Coragem (1970);  O Homem que Deve Morrer  (1971);  Bicho do Mato (1972);  A Patota (1972);  Carinhoso (1973);  Escalada (1975);  Escrava Isaura (1976);  Dona Xepa  (1977);  O Pulo do Gato (1978 - Participação Especial);  Corpo a Corpo (1984);  Sinhá Moça (1986);  O Pagador de Promessas (1988);  Vale Tudo (1988);  Rainha da Sucata (1990) e Pátria Minha (1994). além de atuar na minissérie  Anos Rebeldes (1992). Em uma breve passagem pela Manchete, atuou em  Kananga do Japão (1989).

Zeni Pereira e Zilka Sallaberry em Irmãos Coragem

Dionísio Azevedo, Yara Cortês e Zeni Pereira em Dona Xêpa

Zeni Pereira em A Patota

Zeni Pereira e Regina Duarte em Carinhoso

Glória Menezes e Zeni Pereira em Corpo A Corpo

No cinema, a atriz também fez muitos trabalhos. Ela inclusive fez outras produções internacionais, ou contracenou com grandes lendas do cinema mundial, como Marcello Mastroianni, na versão cinematográfica de Gabriela (1983). Entre suas produções internacionais, rodadas no Brasil, estão Running Out of Luck (1985), estrelada por Mick Jagger, o italiano Fêmeas em Fuga (Femmine in Fuga, 1984) e Feitiço do Rio (Blame It on Rio, 1984), último filme dirigido pelo lendário Stanley Donen, diretor de Cantando na Chuva (Singing in the Rain, 1952).

Zeni Pereira, Marcello Mastroianni e Sônia Braga em Gabriela

Michael Caine e Zeni Pereira em Feitiço do Rio

No cinema, Zeni Pereira também voltou a interpretar a Tia Nastácia no filme O Pica Pau Amarelo (1973). Seus outros créditos cinematográficos são Pais Quadrados… Filhos Avançados (1970), Rua Descalça (1971), Como Ganhar na Loteria sem Perder a Esportiva (1971), Som Amor e Curtição (1972), Quando o Carnaval Chegar (1972), Um Marido Sem… É Como um Jardim Sem Flores (1972), Salve-se Quem Puder - Rally da Juventude (1972), O Comprador de Fazendas (1974), Os Pastores da Noite (1975), O Trapalhão na Ilha do Tesouro (1975), Uma Aventura na Floresta Encantada (1978) e Brasa Adormecida (1987).


Zeni Pereira em O Pica Pau Amarelo

Zeni Pereira em Quando o Carnaval Chegar

Zeni Pereira morreu em  21 de Março de 2002 no Rio de Janeiro, RJ, aos 77 anos de idade, em decorrência de um Derrame Cerebral.






Veja também: A História de Chica Lopes






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