Cléa Simões teve uma longa carreira nos palcos, cinema e televisão, mas poucas vezes teve seu talento aproveitado, normalmente relegada a papéis de pretas velhas ou mães pretas, como a abnegada Mammy de ...E O Vento Levou. Seu trabalho mais lembrado talvez seja o de Mamãe Dolores na novela O Direito de Nascer, de 1978.
Cléa Simões (também creditada como Cléia Simões) era o nome artístico de Esther Taitt Alexander. Filha de pai norte-americano e mãe de Barbados, Cléa nasceu em Belém do Pará, em 04 de janeiro de 1927.
Sua avó trabalhava na casa de um padre inglês, e apesar de em sua certidão de nascimento ela se chamar Esther, o padre resolveu chamá-la de Clare, mais britânico, quando a batizou. Cléa foi um apelido natural de Clare.
Ainda no Pará, ela começou a demonstrar interesse artístico, participando de concursos de danças em troca de balas ou bonecas. Com a mãe, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde tornou-se uma das pastoras da Portela, escola de samba do qual ela fez parte até o final de sua vida.
No Rio, Cléa conheceu Abdias do Nascimento, do Teatro Experimental do Negro (TEN). E foi com Abdias que ela estreou nos palcos, substituindo uma atriz que ficara doente, na montagem lendária de Orfeu da Conceição (1956). A atriz seguiu em pequenos papéis, até Maria Clara Machado lhe dar sua grande chance na peça Do Mundo Nada Se Leva (1959).
A peça não foi muito bem sucedida, mas foi suficiente para chamar a atenção de produtores norte americanos, que estavam rodando um filme no Brasil. O filme era Mistério na Ilha de Vênus (Macumba Love, 1960), uma produção de terror, colorida, estrelada por Ruth de Souza.
Cléa Simões também foi convidada para integrar a lista de brasileiros do elenco. Leia mais sobre este filme aqui.
Cléa Simões continuou trabalhando no teatro, participando de peças como Mister Sexo (1964), e Pindura a Saia (1967). Ela também atuou em Pobre Menina Rica (1964), escrita por Carlos Lyra e Vinícius de Moraes. Lyra gostou tanto de seu desempenho, que chegou a escrever um espetáculo para Cléa apresentar em boates, como cantora.
Cléa Simões em Pindura a Saia
Outra peça importante de sua carreira foi As Feiticeiras de Salém (1965), estrelada por Eva Wilma. Este espetáculo marcou também a estréia de Marieta Severo nos palcos.
Valdir Onofre e Cléa Simões no Teatro
Eva Wilma e Cléa Simões em As Feiticeiras de Salém
Em 1966 ela estreou na televisão, primeiro participando do Grande Teatro Tupi, e depois foi contratada pela Rede Globo para viver a criada de Yoná Magalhães na novela Eu Compro Essa Mulher (1966). Em sua carreira, constantemente acabou fazendo papéis de criadas e governantas.
Yoná Magalhães e Cléa Simões
Na televisão, atuou em novelas como A Rainha Louca (1967), Uma Rosa Com Amor (1972), Senhora (1975), Sem Lenço, Sem Documento (1977) e teve sua melhor oportunidade como a doce Mamãe Dolores no remake de O Direito de Nascer (1978), da TV Tupi.
Cléa Simões e Carlos Augusto Strazzer em O Direito de Nascer
Quando foi feita a primeira versão da novela, em 1964, o colega Paulo Gracindo chegou a comentar que Cléa devia ter sido a Mamãe Dolores, que foi interpretada por Isaura Bruno.
Na televisão, seguiu atuando em obras como Os Gigantes (1979), Meu Destino è Pecar (1984), Livre Para Voar (1984), Desejo (1990), Deus nos Acuda (1992), Fera Ferida (1993), Quem é Você? (1996), A Guerra dos Pinto (1999), Laços de Família (2000) e Coração de Estudante (2002), que foi sua última telenovela.
No cinema teve melhores oportunidades, em filmes como Em Compasso de Espera (1969), Como É Boa Nossa Em´pregada (1973), Costinha, o Rei da Selva (1975), Ladrões de Cinema (1977), A Deusa Negra (1978), O Coronel e o Lobisomen (1979) e Menino de Engenho (1993).
Também atuou no italiano Noite Malditas (Demoni 3, 1991) e em Sabor da Paixão (Woman on Top, 2000), uma produção norte-americana estrelada por Penelope Cruz.
Cléa Simões em Noite Maldita
No teatro, ainda brilhou em Frank Sinatra 4815 (1970), Balbina de Iansã (1971), Orfeu Negro (1974) e Tupã (1985).
Cléa Simões na montagem de Orfeu Negro (1974)
Em 2005 ela deu um depoimento para o documentário O Negro No Pará? Cinco décadas depois....
Cléa Simões faleceu de falência múltipla de órgãos em 24 de fevereiro de 2006, aos 79 anos de idade.
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1 Comentários
Brasil é um país muito racista mesmo
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