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Isaura Bruno, além da Mamãe Dolores


Isaura Bruno ficou muito famosa ao interpretar a Mamãe Dolores na novela O Direito de Nascer (1965), que até hoje detém o título de o maior sucesso das telenovelas brasileiras.


Izaura Bruno em Luar do Sertão


Mas Isaura Bruno foi mais que a atriz que interpretou a bondosa Mamãe Dolores em uma novela baseada no sucesso radiofônico do cubano Felix Caignet. Maria Isaura Bruno nasceu em 23 de junho de 1926, na Cidade de Jaú, interior de São Paulo. Muito cedo perdeu o pai, e aos onze anos de idade ficou órfã de mãe. Morou com a avó por um tempo, até a morte da mesma. Sozinha no mundo, pegou um trem para a capital paulista para procurar emprego.

Isaura começou a trabalhar como empregada doméstica em casas de família. Em 1949 trabalhava como cozinheira na casa do escritor Orígenes Lessa. Uma amiga, doméstica em uma casa vizinha, a indicou para o patrão, que procurava alguém com seu perfil para atuar em um filme. O vizinho era Walter Foster, e Isaura estreou como atriz no filme Luar do Sertão (1949), onde interpretou a bondosa empregada Flausina, que lembrava muito a Mammy de Hattie McDaniel (de ...E O Vento Levou, 1939). Isaura ainda trabalhou nos filmes Simão, o Caolho (1952), O Vendedor de Linguiça (1962) e O Rei Pelé (1962). 


Luar do Sertão (1949)

Simão, o Caolho (1952)

Isaura Bruno em O Vendedor de Linguiça


Na televisão, estreou como figurante em 1953, fazendo pequenas pontas e comerciais de televisão ao vivo, onde sempre fazia uma cozinheira bonachona. Seu primeiro papel importante na TV foi na novela Quando Menos se Espera (1963), escrita por Raul Roulien e dirigida por Gaetano Gherardi. No elenco, Flávio Pedroso, Renato Bruno, Oswaldo de Souza, Aura Ribeiro e Klebber Afonso. Em seguida foi para Record, onde atuou na novela Banzo (1964), de Amaral Gurgel, tendo Irina Grecco, Daise Paiva, Maurício Nabuco e Francisco Cuoco nos papéis principais. Seus papéis tinham pouco destaque, e ela nem mesmo possuía contrato com as emissoras. Enquanto trabalhava nos programas da TV Paulista a noite, era doméstica na casa do radialista Edson Leite durante o dia. Ingressou na Tupi, onde atuou em alguns teleteatros, até ser convidada para seu papel mais importante, o de Mamãe Dolores.

Com Nathalia Timberg em O Direito de Nascer

Elenco da novela

Com Amilton Fernandes em O Direto de Nascer

A novela, exibida pela TV Tupi em São Paulo e TV Rio no Rio de Janeiro, foi um sucesso absoluto, batendo recordes de audiência até hoje não alcançados. Amilton Fernandes, Guy Loup e Isaura ficaram muito populares, e mal podiam sair às ruas.

Nesta época, o Banco Itabira, um dos patrocinadores da novela, foi acusado de dar um golpe na praça ao vender um falso título de capitalização, o Carnê Fatura. O elenco da novela foi chamado para depor, mas o delegado não conseguiu ouvi-los porque uma multidão invadiu a delegacia querendo ver seus astros queridos de perto.

A novela terminou em 14 de agosto de 1965, numa grande festa. Após muitos anos afastada, Isaura retornou a sua cidade natal, desfilando em carro aberto para uma multidão em Jaú. Isaura foi então escalada para a novela O Preço de Uma Vida (1965), também na Tupi. Apesar de também ser escrita por Félix Caignet e ter Amilton Fernandes no elenco, não repetiu o mesmo sucesso da obra anterior. Fez ainda um pequeno papel na novela O Anjo e Vagabundo (1966), e depois os convites começaram a diminuir.





Um descuido da TV Rio fez com que ela perdesse uma grande oportunidade de atuar no exterior. Após o sucesso de Mamãe Dolores no Brasil, Isaura recebeu um convite de um estúdio de cinema mexicano para repetir o papel em um filme rodado no país, sob direção de Tito Davison. O diretor enviara um telegrama para Isaura Bruno fazendo o convite, mas este ficou perdido na correspondência da emissora, que achou ser mais uma carta sem importância de um fã. Quando enfim o telegrama urgente foi parar em suas mãos, o filme já estava sendo gravado com a atriz Eusebia Cosme interpretando o papel que lhe havia sido oferecido.

Em 1968 a atriz recebeu seu primeiro contrato para atuar na televisão, interpretando a Tia Anastácia no Sítio do Pica-Pau Amarelo, produzido pela TV Bandeirantes. Sua última novela seria A Cabana do Pai Thomaz (1969), na Rede Globo.



Isaura Bruno trabalhou algumas vezes no teatro, com destaque na montagem de Quarto de Despejo (1960), baseado no livro de Carolina Maria de Jesus. Fez mais alguns filmes, como O Jeca e a Freira (1968) e algumas poucas pornochanchadas na década de 70. Sem convites para atuar, escreveu três livros de receitas, e em 1971 gravou um disco culinário pela Multidisco, onde ensinava receitas como “Casquinha de Siri à Pagano Sobrino”. Em dificuldades financeiras, desabafou em uma entrevista ao Jornal do Brasil: “O negro na TV nunca passa de papéis secundários. Todos sabem disso, o pior é que alguns colegas, pouco sensatos, disseram que depois de Mamãe Dolores já não haveria outro papel para mim”. (24-05-1972).




Ela foi morar com a filha adotiva Penha Maria em Campinas. Voltou a limpar casas para ajudar nas despesas e trabalhou também como gari e vendendo doces na Praça da Sé. Em 02 de maio de 1977 Isaura Bruno faleceu na unidade para indigentes da Santa Casa de Campinas, com 50 anos de idade.

Uma curiosidade, a atriz era tia do jogador Ademar “Pantera Negraque foi um astro do Palmeiras na década de sessenta.




Ademar Pantera Negra


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10 Comentários

  1. Que história triste no final da vida dessa grande atriz!

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  2. Eu não perdia um capítulo excelente atriz, muito triste a perda ,descansa em paz.

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  3. No Youtube tem alguns vídeos dessa grande e injustiçada atriz

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  4. COITADA NÃO FOI VALORIZADA...A VIDA AS VEZES E ASSIM...PESSOAS INVEJOSAS E INGRATAS ...QUE ALÉM DE NÃO AJUDAR AINDA PREJUDICAM A VIDA PROFISSIONAL DOS OUTROS...DEUS A TENHA ...

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  5. Que pena que não recebeu o telegrama. O que o Brasil não valoriza outros países o fazem...

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  6. Ela foi apenas um sonho, dentro de um quarto escuro sem janelas. O sonho dela foi seu e meu. E as cortinas?...

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  7. Ela foi vitima do racismo estrutural que sempre acha que o negro e pessoa de segunda categoria

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  8. coitada morreu cedo, e esse jogador poprque não ajudou a tia tb, morreu com 60 anos em uma ala para indigentes, coitada, o Brasil nunca valorizou os bons atores,

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  9. Sou filha, sobrinha e afilhada de Isaura Bruno, gostei muito da homenagem aqui prestada, todavia gostaria de fazer alguns acertos: primeiro, mamãe faleceu em Campinas, no dia 02.05.1977 na Santa Casa De Misericórdia de Campinas, por não possuir nenhum plano de saúde, e na ocasião, quem não possuísse um plano ou INPS, era tratado com indigente, não voltou a trabalhar como doméstica pois, nem condições físicas possuia e também não sei de onde surgiu a notícia de que ela vendia doces na praça da Sé. Mamãe (como eu sempre a chamei) recebia direitos autorais da coleção de Arte Culinária, na Editora Formar, não éra muito mas, dava para sobrevier, a solidão e esquecimento foram as maiores inimigas. Obrigada.

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