Josephine Dillon, a atriz que "inventou Clark Gable"
janeiro 18, 2021
Clark Gable, o astro de ...E O Vento Levou (...Gone With the Wind, 1939), é um dos mais famosos atores da história do cinema. Mas ele deve muito de sua bem sucedida carreira a atriz Josephine Dillon, a sua primeira esposa, e quem ele raramente mencionava nas entrevistas sobre sua vida.
Josephine Dillon e Clark Gable
Ainda adolescente, Clark Gable saiu da casa dos pais rumo a Nova York, onde começou a trabalhar numa fábrica. Mas depois de assistir a uma peça na Broadway, ficou fascinado por atuação e decidiu que seria ator, e foi buscando aulas de atuação que ele conheceu a atriz Josephine Dillon.
Nascida em 26 de janeiro de 1884, Dillon vinha de uma família rica (seu pai era juiz, e depois promotor público em Los Angeles), e sua irmã era a cantora de ópera Enrica Clay Dillon. Depois se se formar em Stanford, em 1908, Josephine Dillon foi para à Itália, estudar teatro. No ano seguinte, estreou na Broadway, e consolidou uma bem sucedida carreira teatral.
Mas dez anos depois, ela deixou os palcos, e passou a dar aulas de atuação.
Josephine Dillon
Dillon montou seu próprio teatro, e foi lá que ela conheceu o então desconhecido aspirante a ator, 17 anos mais novo que ela. Josephine era sua professora de atuação, mas logo eles começaram também um relacionamento. Na época, o ator assinava como o nome WC Gable (seu nome verdadeiro é William Clark Gable).
Dillon estava encantada com o jovem rapaz, e viu que ele tinha potencial para ser um astro de cinema. Ela pagou o conserto dos seus dentes, e o ensinou como pintar o cabelo. Também lhe ensinou postura corporal, e treinou-o para falar num tom mais baixo, reduzindo assim sua voz mais aguda.
Dillon e Gable se casaram em dezembro de 1924. Ele tinha 23 anos, e ela 40. Mas na certidão, a atriz afirmou ter 34 anos de idade. Ela vendeu o seu teatro, e mudou-se com o marido para Los Angeles, para ele buscar sua sonhada carreira em Hollywood.
A atriz continuava lhe dando aulas de atuação, e Clark Gable estreou como figurante, ainda no tempo do cinema mudo, tendo inclusive sido um dos figurantes do épico Ben-Hur, de 1925.
Clark Gable em Ben-Hur (1925)
Foi a atriz também quem sugeriu que ele parasse de assinar WC (sigla de Water Closet, banheiro em inglês), como nome artístico. Gable sugeriu Billy, mas Dillon disse que Clark ficaria mais sonoro. Ela parou de trabalhar, para se dedicar exclusivamente ao treinamento do marido, principalmente antes das audições.
Em 1929 Josephine conseguiu para Gable o papel principal na peça Machinal (1929), que lhe valeu críticas construtivas, e um contrato com a MGM.
Zita Johann e Clark Gable em Machinal
Após assinar o contrato, o ator entrou com um pedido de separação judicial. O divórcio foi assinado em 01 de abril de 1930, dois dias depois ele se casou com Ria Langham, uma rica socialite, também muito mais velha que o ator. Clark Gable ficou com ela até 1939, e poucos dias após o novo divórcio, casou-se com a atriz Carole Lombard.
Ria Langham e Clark Gable
Foi Ria quem convenceu a MGM, através de patrocínio, a dar um papel de destaque para o ator no filme O Deserto Pintado (The Painted Desert, 1931), que fez sua carreira deslanchar. Em 1934 Gable já era um astro, e ganhou um Oscar por Aconteceu Naquela Noite (It Happened one Night, 1934).
A imprensa, fascinada pelo novo galã, vasculhou a sua vida. Descobriram então seu primeiro casamento, e foram atrás de Josephine, que se recusava a falar sobre o ex-marido. Em raras palavras, um jornalista conseguiu arrancar dela que o casamento nunca fora consumado de fato.
Josephine Dillon, após o divórcio, voltou a dar aulas de interpretação e oratória, e escreveu um livro sobre treinamentos de atores. Teve como alunos astros como Gary Cooper, Donna Reed, Rita Hayworth e Linda Darnell.
Josephine Dillon lecionando
Ela nunca se casou novamente, e na década de 1940 fez seus dois únicos filmes: Men on Her Mind (1944) e A Dama e o Monstro (The Lady and the Monster, 1944).
Em 1956 a revista Confidential publicou uma matéria dizendo que a atriz estava na miséria, e que Clark Gable se recusava a ajudá-la. Dillon processou a revista, dizendo que era mentira. Ela venceu o processo por difamação em 1957, mas a publicidade negativa fez com que ela perdesse quase todos os seus alunos de teatro, que tinham medo de ser expostos pela famosa revista de fofocas, dona de métodos nada convencionais. Saiba mais sobre os escândalos da Confidential aqui.
Ela quase perdeu a sua casa, que estava hipotecada. Mas quando Clark Gable morreu, em em novembro de 1960, foi revelado em seu testamento que ele pagou a hipoteca, e deixou a residência de herança para Josephine.
A medida que foi envelhecendo, e precisando de cuidados especiais de saúde, ela mudou-se para uma casa de repouso, onde faleceu em 10 de novembro de 1971, aos 87 anos de idade.
E embora nunca tenha falado mal de Gable, e nem feito nada para denegrir sua carreira ao longo de todos os anos, quando ela faleceu, foi encontrado diversas cartas em seu quarto, enviadas por fãs do artista, atacando e ameaçando Josephine. As cartas insultuosas eram recebidas desde a década de 1930.
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