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Natália Pavlovna Paley, a princesa russa que sobreviveu a revolução e se tornou atriz em Hollywood


Prima do Czar Nicolau II, morto durante a Revolução Russa de 1917, Natália Pavlovna Paley foi descrita pelos publicitários de Hollywood como "uma criatura fascinante, descendente da mais rica e famosa família européia, os Romanov".

Sua vida romântica e trágica foi algo que nem a ficção poderia ter igualado. Artisticamente, ela adotou o nome de Natalie Paley.


A princesa condessa Natália Pavlovna Paley nasceu em Paris, em 05 de dezembro de 1995, e era filha do grão-duque Paulo Alexandrovich da Rússia, tio do Czar Nicolau II. Seu pai havia se casado com uma mulher da nobreza, porém divorciada, o que não foi aceito pela aristocracia russa, fazendo com que ele se exilasse em Paris.

Em 1912 o u´timo Czar, Nicolau II resolveu perdoar o tio, e a família retornou ao Império Russo, passando a conviver com a corte. Na Rússia, a menina tinha 64 criados a sua disposição.

Natalie Paley, aos em 1914

Durante a Primeira Guerra Mundial, apesar da pouca idade, Natália trabalhou como voluntária em um hospital de soldados feridos, ao lado da prima, a princesa Anastácia.

A vida da princesa mudou radicalmente em fevereiro de 1917, quando eclodiu a Revolução Russa. Não vendo perigo no que estava acontecendo, sua família decidiu permanecer no palácio que residiam.

Mas logo os Romanov foram deportados para a Sibéria, enquanto Natália e seus familiares foram mantidos em prisão domiciliar. O palácio onde antes moravam se transformou em um museu, e uma de suas irmãs foi obrigada a trabalhar como guia turística em sua antiga residência. Natália e outras irmãs, passaram a ser cozinheiras e faxineiras dos soldados que passaram a abitar sua ex casa, e o carro da família tornou-se o veículo usado por Lenin.

E apesar de nunca ter comentado isto publicamente, amigos íntimos confidenciaram que ela sofreu abuso sexual por diversas vezes, quando tinha apenas 13 anos de idade. Em 1918 seu pai e irmão foram presos, e sua mãe organizou uma fuga das filhas, que conseguiram embarcar em um trem rumo a Finlândia. Mas as meninas tiveram que descer antes da fronteira, e terminar o percurso a pé. E enquanto esperavam se reencontrar com a família, passaram a viver em um orfanato.

Seu pai e seu irmão foram executado em 1919, mas a mãe das meninas conseguiu reencontrar as filhas. Elas então se mudaram para a Suécia, e depois fixaram residência em Paris, após venderem algumas jóias que haviam conseguido levar com elas, compraram uma pequena casa na periferia da cidade.

Natália e a irmã foram enviadas para um colégio interno. Mas não conseguiram se misturar com as outras meninas. Tal como confessou mais tarde durante uma entrevista a uma revista, ela sentia-se "tão diferente dos outros. Aos 12 anos as meninas francesas ainda liam Robinson Crusoe e viam filmes do Douglas Fairbanks. Aos 12 anos eu levava pão ao o meu pai na prisão. Como poderia eu ser como elas? Eu era muda e não brincava. Mas andava a ler muito. Eu tinha visto a morte de tão perto. O meu pai, o meu irmão, os meus primos e os meus tios foram todos executados, todo aquele sangue Romanov derramado durante a minha adolescência. Tudo isso me deu gosto por coisas tristes, poesia e morte. Rapidamente as minhas colegas compreenderam-me e respeitaram a forma como era, por muito estranha que possa ter parecido."

Aos poucos, a família começou a retomar suas atividades sociais em meio a aristocracia. Num destes eventos, ela conheceu o estilista Lucien Lelong, que a convidou para ser modelo em sua casa de modas. E apesar dos rumores da homossexualidade de ambos, ela se casou com Lelong em 1927.

Natalie Paley com um vestido de Lelong

Em 1932 ela conheceu o cineasta Jean Cocteau, durante uma pré estreia. Eles se tornaram amigos, e existem alguma ambiguidade na relação dos dois. Muitos autores dizem que eles tiveram um romance, mas outros afirmaram que eles apenas tinham uma amizade platônica, pois desde que havia sido estuprada na infância, a princesa nunca teria conseguido se relacionar de verdade com outros homens. O que se sabe ao certo é que Cocteau desenvolveu uma obsessão por Natália, e ele baseou-se na relação com russa para escrever o livro Os Meninos Diabólicos, em 1939.

Já usando o nome de Natalie Paley, ela estreou no cinema no francês O Gavião (L'épervier, 1933), que foi dirigido por Marcel L'Herbier, primo de Lelong, que desenhou os figurinos da produção. No filme, ela interpretava a esposa do astro Charles Boyer.

Natalie Paley e Charles Boyer

O filme não fez sucesso, mas a jovem estrante atriz sim. Ela passou a ser chamada pela imprensa européia de "a nova Greta Garbo" e frequentemente também era comparada com Marlene Dietrich, que era sua amiga. Natalie estrelou outro filme francês, Sangue Azul (Le Prince Jean, 1934), e em seguida recebeu um convite para atuar na Inglaterra, em Os Amores de Don Juan (The Private Life of Don Juan, 1934), estrelado por Douglas Fairbanks e Merle Oberon. Mas o papel de Natalie era muito pequeno, e fez ela se decepcionar com os rumos que sua carreira seguia na Europa.

Ela então arrumou suas malas, e decidiu aceitar o convite da Fox, que a queria em Hollywood. Lá, Natalie estreou em L'Homme des Folies Bergère (1935), uma versão em francês de um grande sucesso norte-americano. No filme, ela contracenava com Maurice Chevalier.


E apesar de ter atuado em um subproduto de Hollywood, as versões para países estrangeiros, sua chegada a terra do cinema foi bastante celebrada pelos publicitários de Los Angeles, que diziam que ela seria uma grande estrela. Mas a previsão nunca se concretizaria.

George Cuckor então a convidou para viver a vamp Lily Levetsky, uma refugiada russa em Vivendo em Dúvida (Sylvia Scarlett, 1935), um filme estrelado por Katharine Hepburn. Natalie se saiu bem em seu primeiro filme falado em inglês.

Bastante ousado para a época, o filme mostrava Hepburn vestida de homem, e trocando um beijo com a atriz Dennie Moore. A polêmica transformou a obra em um um grande fracasso de bilheteria, e colocou Katharine na lista dos "venenos de bilheteria".

Nada disto ajudou a carreira de Paley em Hollywood, e ela decidiu retornar à França, onde foi recebida como uma estrela.

Katharine Hepburn e Natalie Paley

De volta a Europa, ela ainda atuou em Les Hommes Nouveaux (1936), novamente sob a direção de Marcel L'Herbier.  O filme fez um enorme sucesso com o público parisiense. Mas Natalie Paley não estava feliz. Ela enfim terminou o casamento com Lelong, que há anos só existia no papel, e mudou-se para Nova York, onde tornou-se uma socialite efervescente, cuja casa era frequentada por nomes como Nöel Coward, Cole Porter e Coco Channel.

Mas ao longo dos anos, as testemunhas de sua antiga glória foram morrendo, e a atriz passou a ser uma sombra do glamour de outrora. A partir de 1975 tornou-se reclusa, raramente aparecendo em público.

No dia 21 de dezembro de 1981 ela caiu na banheira e quebrou o fêmur, sendo levada ao hospital para uma cirurgia de emergência. Porém a operação não correu bem, e ela veio a falecer em 27 de dezembro daquele ano.

Suas últimas palavras, ditas para uma enfermeira, foram: "quero morrer com dignidade".





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3 Comentários

  1. A princesa será que cuidava de algumas meninas deixada pelos seus pais por conta da guerra

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  2. Seu blog MEMÓRIAS CINEMATOGRÁFICAS é interessantíssimo e muito rico em detalhes de cada artista enfocado. Meus parabéns. Quero aproveitar a oportunidade para alertá-lo de um equívoco de digitação logo abaixo da segunda fotografia da atriz a ilustrar esta matéria. Consta que a mesma nasceu em 1995, mas creio que o correto é 1895. Um abraço.

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