Por muitos anos a atriz Olga Tschechowa foi considerada uma colaborada do nazismo. A estrela russa, radicada na Alemanha, era constantemente vista ao lado de Adolf Hitler, e durante a Segunda Guerra Mundial, fez filmes de propaganda do regime do Fuher, produzidos por Joseph Goebbels, o chefe de propaganda do III Reich.
Porém, em 2004, seu biografo Antony Beevor, apresentou documentos que provavam que na verdade, a atriz usava sua influência com os líderes nazistas para vazar informações importantes para os países que lutavam contra a Alemanha, e que chegou mesmo a fazer parte de um plano mirabolante para matar Hitler, ao estilo da Shosanna, de Bastados Inglórios (Inglourious Basterds, 2009), de Quentin Tarantino.
Mesmo sem este episódio de espionagem, a vida de Olga Tschechowa daria um grande filme. Olga Konstantinovna de Knipper nasceu no Império Russo, em 26 de abril de 1897. Ela era filha de uma proeminente família russa, e sobrinha da atriz Olga Knipper-Chekhova, que era esposa do dramaturgo Anton Chekov.
Olga cresceu em meio a corte russa, e sua família era amiga do Czar Nicolau, bem como do monge Grigory Rasputin. Em 1914, aos 17 anos de idade, ela fugiu de casa para se casar com o ator Michael Chekhov, sobrinho de Anton. A filha do casal, Ada Tschechowa, que também se tornou atriz, nasceu em 1916.
Em 1917 ela e Michael se divorciaram, na mesma época que eclodiu a Revolução Russa. De origem nobre, ela fugiu para à Áustria, disfarçada de camponesa, e escondendo um anel de diamante na boca durante toda a viagem.
Ex aluna de Constantin Stanislavski, e atuando no teatro desde 1914, Olga havia estreado no cinema, na Rússia, em Anya Kraeva (1917), lançado pouco tempo antes da Revolução Russa. Após um tempo na Áustria, ela foi para à Alemanha, onde já havia morado, enquanto estudava atuação. Em uma festa na Embaixada Soviética, em Berlim, ela foi apresentada ao diretor F. W. Murnau, que a convidou para atuar em um papel importante em O Castelo Vogelöf (Schloß Vogelöd, 1921), seu primeiro filme alemão.
Lulu Kyser-Korloff e Olga Tschechowa em O Castelo Vogelöf
Logo a atriz tornaria-se uma estrela do cinema mudo alemão, contratada pela Urania Films. Em 1923 ela atuou em A Gata Borralheira (Der Verlorene Schuh, 1923), uma das primeiras adaptações cinematográficas de Cinderella.
Consagrada na Alemanha, ela também atou na França, Polônia e União Soviética. Na Inglaterra, estrelou Moulin Rouge (Idem, 1928), que vem a ser o primeiro filme do ator Ray Milland.
Olga Tschechowa chegou a ter sua própria produtora, e fez uma boa transição para o cinema falado. Em 1929 ela tornou-se também diretora, realizando o filme Der Narr Seiner Liebe (1929), que era estrelado por ela e por Michael Chekhov, seu ex marido.
Com a chegada do cinema falado, os grandes estúdios não sabiam como fazer a dublagem ou legendagem das obras, e não estavam conseguindo mais vender filmes para os países de língua não inglesa. A solução foi produzir versões em outros idiomas, para o mercado internacional. Nesse filão, Olga trabalhou para diversos estúdios norte-americanos, fazendo versões de filmes em alemão.
Talvez seu trabalho mais famoso neste período, seja o filme Mary (1931), todo falado em alemão, e dirigido por Alfred Hitchcock. O filme era uma versão de Assassinato (Murder!, 1930), também dirigido pelo mestre do terror.
Olga Tschechowa em Mary
Outra versão em alemão com a presença da atriz foi Amor e Boxe (Liebe im Ring, 1930), que tinha no elenco o ator Arthur Duarte e o boxeador José Santa "Camarão" (muito popular no Brasil na época), ambos portugueses. Amor e Boxe foi o primeiro filme onde se falou português nas telas, em uma produção internacional.
Olga também fez Liebe auf Befehl (1931), versão em alemão de Rival de Maridos (The Boudoir Diplomat, 1930), uma produção da Universal. A versão em espanhol, Don Juan Diplomatico (1931), tinha como protagonista a brasileira Lia Torá.
Conheça mais sobre a brasileira Lia Torá
Carl Laemme, o dono da Universal, se encantou com o talento e a beleza de Olga, e a levou para Hollywood. Foi anunciado uma produção norte-americana com a atriz, que o estúdio pretendia promover a nova Marlene Dietrich, mas seu forte sotaque russo acabou frustrando os planos da Universal. Após uma breve e mal sucedida passagem pelos Estados Unidos, ela retornou à Alemanha.
Mesmo destino que tiveram a russa Anna Sten e prussiana Charlotte Susa, que também nem chegou a filmar, apesar de ficar dois anos em Hollywood, sob contrato da MGM.
Carl Laemme, ao centro, a sua direita, Olga Tschechowa
Mesmo com a carreira frustrada em Hollywood, ela ainda era uma estrela na Alemanha, e agora pertencia a UFA, o maior estúdio de cinema da Alemanha.
Seus filmes faziam sucesso internacional, e ela também era bastante conhecida no Brasil, onde filmes como Mascarada (Maskerade, 1934) e Regina (Regine, 1935), faziam muito sucesso.
Considerada uma das maiores estrelas do cinema alemão da década de 30, ela também chamou a atenção de líderes nazistas, após a acensão de Hitler ao poder. Ela foi cortejada por Herman Göring, o chefe da Luftwaffe, e por Joseph Goebbels, que a chamava de "a dama encantadora".Em 1936 ela recebeu o título de Atriz Estatal Alemã.
Olga Conheceu Hitler em 1933, e ele se tornou seu amigo pessoal, e lhe presentava com jóias e outros itens caros. As esposas dos altos oficiais, enciumadas, odiavam a bela atriz.
Hitler e Olga (ao centro), em um evento na Alemanha
A atriz também estrelou alguns filmes de propaganda nazista, e em 1945, antes do final da Segunda Guerra, enquanto visitava Moscou, foi assistir a uma peça de teatro de sua tia, que se recusou a recebê-la, por a considerar uma traidora nazista.
Na verdade, Olga odiava o regime nazista, e precisava esconder que o pai de sua filha era judeu. Devido a sua boa relação com homens do alto escalão do governo, ela ajudou alguns atores judeus a conseguirem documentos falsos, permitindo que estes conseguissem deixar a Alemanha, durante a Segunda Guerra Mundial.
Ela também era amiga do general alemão Karl Heinrich von Stüpnagel, que tentou matar Hitler, escondendo uma bomba em seus aposentos. O plano deu errado, e Stüpnagel foi executado posteriormente.
No livro de Antony Beevor, ele relata também que a atriz fez parte de um plano russo para matar Hitler, em 1940. O irmão de Olga, o compositor russo (e agente infiltrado) Lev Knipper iria matar o líder alemão na casa da atriz, quando este fosse visitá-la. O plano porém, foi abortado a mando do próprio Joseph Stalin.
Lev Knipper
Posteriormente, Lev Knipper foi enviado para um Campo de Concentração Alemão, e só não foi morto por que Olga usou toda sua influência para proteger o irmão. Olga também fornecia informações importantes para o governo russo e polonês.
Em 1945, desconfiado da atriz, Heinrich Himmler, o líder da SS decretou a prisão da atriz. Olga ficou sabendo da ordem de prisão, e ligou para Himmler, pedindo que ela ao menos deixasse ela terminar de tomar seu café da manhã. Quando ele finalmente chegou a sua casa, com os agentes da SS, Hitler saiu de dentro da casa da atriz, e furioso repreendeu Himmler na frente de todos os outros oficiais.
Hitler e Olga Tschechowa
Em abril de 1945, quando o exército russo chegou à Alemanha, a atriz foi presa pelos soldados do Exército Vermelho, por ter colaborado com o cinema nazista. Eles desconheciam seu histórico como agente secreto.
Pouco tempo depois ela foi libertada, e recebeu uma ajuda financeira do governo russo para retornar à Alemanha. Após a guerra, sua carreira entrou em declínio, embora ela tenha atuado até 1978. Ela também investiu em uma empresa de cosméticos, que foi bem sucedida.
Ada Tschechowa, sua filha, que também era atriz, morreu em 1966, em um acidente de avião. Ela tinha apenas 49 anos na época. Olga entrou em depressão, e tornou-se alcoólatra por um período, o que também prejudicou sua carreira.
Ada e Olga Tschechowa
A filha de Ada, Vera Tschechowa, tinha apenas nove anos de idade na época. Ela tornou-se atriz também, e em 1958 teve um affair com Elvis Presley, quando ele serviu o exército na Alemanha.
Elvis Presley e Vera Tschechowa, em Munique
Nos últimos anos de vida, Olga Tschechowa lutou contra um câncer de cérebro. No dia 09 de março de 1980, em casa e já desenganada, pediu a neta Vera uma taça de champanhe e brindou dizendo "a vida é linda!", falecendo em seguida.
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