Últimas Notícias

6/recent/ticker-posts

A conturbada vida de Jennifer Jones


Jennifer Jones, apesar de ter atuado em poucos filmes, foi uma grande estrela durante as décadas de 40 e 50, protagonizando clássicos como A Canção de Bernadete (The Song of Bernadette, 1943) e Suplício de uma Saudade (Love Is a Many-Splendored Thing, 1955).

Embora fosse uma atriz muito respeitada, sua vida foi marcada por tragédias e um grande escândalo.




Jennifer Jones era o nome artístico de Phylis Lee Isley, e ela nasceu em Tulsa, em 02 de março de 1919. Os pais de Jennifer tinham uma espécie de circo itinerante que se apresentavam por todo o meio-oeste americano.

Em 1938 ela mudou-se para Nova York, onde matriculou-se na Academia de Artes Dramáticas. Lá, ela conheceu o colega de curso Robert Walker, e com ele se casou em 02 de janeiro de 1939. Eles retornaram a Tulsa, onde foram trabalhar em um programa de rádio. Em seguida, mudaram-se para Los Angeles, em busca de papéis no cinema.

 Robert Walker e Jennifer Jones

Ambos conseguiram pequenos papéis ainda em 1939. Jennifer atuou no western New Frontier (1939), estrelado por John Wayne e no seriado As Novas Aventuras de Dick Tracy (Dick Tracy's G-Men, 1939), na Republic Pictures. Mas após ser recusada em um teste na Paramount, ela e Walker regressaram a Nova York.

Walker conseguiu vários bons trabalhos no rádio, mas Jennifer não teve a mesma chance, tornando-se então modelo de chapéus. Em 1942 Jones soube que a Fox estavam fazendo testes para o filme Claudia (1943), e foi até o escritório de David O. Selznick fazer uma audição. Ela foi mal no teste, e desabou a chorar, porém Selzinick ficou impressionado com sua beleza, e lhe ofereceu um generoso contrato de sete anos. Mas Claudia foi estrelado por Dorothy McGuire.

Ele mudou seu nome e a preparou para o estrelato. A Fox estava preparando A Canção de Bernadete (The Song of Bernadette, 1943), um filme sobre a vida de Bernadette Soubirous, uma jovem francesa que teve visões da Virgem Maria em Lourdes, na França. Várias grandes estrelas disputaram o papel, como Loretta Young, Linda Darnell, Anne Baxter, Teresa Wright e Gene Tierney, mas Selznick chocou Hollywood ao escalar sua nova contratada para a produção. O filme fez um grande sucesso, e deu a Jennifer Jones um Oscar de Melhor Atriz.

Nos anos seguintes, Jones estrelou diversos filmes importantes, todos escolhidos a dedo para ela por Selznick. O produtor também conseguiu um contrato para Robert Walker, na MGM, onde o ator estreou em A Patrulha de Bataan (Bataan, 1943).

O próximo filme de Jennifer foi Desde Que Partiste (Since You Went Away, 1944), onde ela fazia par romântico com seu marido. Durante as filmagens Walker descobriu que Jones e Selznick (produtor do filme) estavam tendo um caso desde o dia em que eles se conheceram, no teste de elenco. O ator entrou com um pedido de divórcio, e pediu para ser desligado da produção. Seznick respondeu que o contrato que ele assinará praticamente tornava-o propriedade do estúdio, e ele tinha que obedecer as ordens. As filmagens tornaram-se um inferno, com muitas brigas nos bastidores.

Selznick ainda obrigou o casal a repetir centenas de vezes, desnecessariamente, a cena de beijo entre eles. O ator Neil Hamilton, grande galã da época, havia sido contratado para estrelar o filme, mas após discutir com o produtor, ele teve todas as suas cenas cortadas, aparecendo na obra apenas em uma fotografia. Nos anos seguinte, Selznick fez o que pode para destruir a carreira de Hamilton. Leia está história aqui.

A cena do beijo, regravada diversas vezes

Após terminar o filme, Robert Walker teve um colapso nervoso, e foi internado em uma clínica psiquiátrica. Ele começou a beber demais, e na clínica, acabou viciado em remédios e morfina

O casal se divorciou em 1945, e Jennifer mudou-se para a casa de Selznick, levando os dois filhos deles com ela. Jones e Selznick se casaram oficialmente em 1949.

A imprensa abafou a história, já que ele era um poderoso produtor e a carreira da atriz seguia em franca ascensão. Ela recebeu sua segunda indicação ao Oscar por Desde que Partiste. Nos anos seguintes a atriz foi novamente indicada ao Oscar por Um Amor em Cada Vida (Love Letters, 1945), e Duelo ao Sol (Duel in the Sun, 1946).


Jennifer Jones em Duelo ao Sol


A atriz protagonizou filmes importantes com O Pecado de Cluncy Brown (Cluncy Brwon, 1946), O Reatrato de Jennie (Portrait of Jennie, 1948), Coração Indômito (Gone to Earth, 1950), Quando a Mulher Erra (Stazione Termini, 1953) e O Diabo Riu por Último (Beat the Devil, 1953), este último marcou a estréia da italiana Gina Lollobrigida em Hollywood.

Jones também protagonizou A Sedutora Madame Bovary (Madame Bovary, 1949), filme para qual Lana Turner havia sido originalmente escalada. A alegação do produtor para demitir Turner era que o roteiro era ousado demais, e era preciso uma atriz menos sensual para o papel, e ninguém daria mais credibilidade que a antiga Santa Bernadete dos cinemas.

Jennifer Jones e Louis Jordan em A Sedutora Madame Bovary

A carreira de Walker seguiu estável, embora ele nunca tenha se recuperado do divórcio. Ele chegou a se casar novamente, em casamentos que duraram muito pouco, e teve um conturbado relacionamento com Ava Gardner durante as filmagens de Vênus, Deusa do Amor (One Touch of Venus, 1948). Quando seu contrato venceu na MGM, entretanto, o ator foi logo dispensado, sem convites para renovar. 

Isto permitiu que ele pudesse atuar em seu filme mais famoso, Pacto Sinistro (Strangers on a Train, 1951), de Alfred Hitchcock. Walker continuava entrando e saindo de clínicas psiquiátricas, e foi novamente internado durante as filmagens de Não Desonres o Teu Sangue (My Son John, 1952). O filme foi finalizado com um dublê.

Em 28 de agosto de 1951, sua secretária o encontrou desacordado em seu quarto, e chamou seu médico para socorrê-lo. O médico aplicou uma injeção em Robert Walker, mas o ator havia ingerido álcool e remédios controlados, e a nova medicação acabou provocando uma overdose fatal, aos 32 anos de idade. 

Jones estava com Selznick em Veneza, acompanhada de seus filhos, e recusou-se a voltar a Hollywood, impedindo os filhos de irem ao funeral do pai. Desta vez, a imprensa não a perdoou.

Após a morte de Walker, ela se afastou por um tempo da vida pública, retornando ao cinema somente em 1952. Em 1954 ela deu à luz a uma menina, filha de Selznick. No ano seguinte, protagonizou outro grande sucesso de sua carreira, Suplício de uma Saudade (Love Is a Many-Splendored Thing, 1955), ao lado de William Holden. Por este filme, recebeu sua última indicação ao Oscar. Jennifer Jones estrelaria apenas mais um filme, Adeus às Armas (A Farewell to Arms, 1957).

William Holden e Jennifer Jones em Suplício de Uma Saudade

Adeus às Armas foi o último filme produzido por Selznick, que começava a ficar com a saúde debilitada e já não era mais tão influente em Hollywood. Sem o apoio do marido, ela não recebeu muitos convites, atuando apenas em Suave é a Noite (Tender Is the Night, 1962) e O Ídolo Caído (The Idol, 1966), onde fez seu primeiro papel de mulher madura, aos 47 anos de idade, interpretando a mãe dominadora de Michael Parks.

Jennifer Jones e Michael Parks em O Ídolo Caído
David O. Selznick faleceu em 1965, e sua carreira praticamente morreu junto com o produtor. Em 1967, desempregada e falida, Jennifer Jones tentou o suicídio, se atirando de um penhasco, após ficar sabendo da morte de seu amigo, o ator Charles Bickford, o padre de A Canção de Bernadete. Ela sobreviveu, apesar de ficar um bom tempo em coma.

Em 1969 ela retornou ao cinema, em uma produção barata e desconhecida, chamada Angel, Angel, Down We Go (1969), que além do nome de Jones, anunciava nudez masculina verdadeira nos cartazes, para atrair público.

Jennifer Jones em Angel, Angel, Down We Go

Em 29 de maio de 1971, Jennifer se casou com o industrial multimilionário e colecionador de arte Norton Simon, cujo filho Robert havia cometido suicídio em 1969.

Dois dias antes do dia das mães de 1976, sua filha com Selznick atirou-se da janela do vigésimo andar do prédio onde morava com a mãe em Nova York. Jennifer Jones estava em Tulsa na época. A autópsia de Mary Jennifer Selznick revelou diversos tipos de drogas no organismo da garota, que tinha 21 anos de idade.

A atriz só faria mais um último papel no cinema, no filme catástrofe Inferno na Torre (The Towering Inferno,  1974), no qual teve a oportunidade de dançar com Fred Astaire. A cena de sua morte, ajudando duas crianças a escapar de um prédio em chamas,  foi uma das que mais impactou o público. Sua performance lhe redeu uma indicação ao Globo de Ouro.

Fred Astaire e Jennifer Jones em Inferno na Torre


Jennifer Jones passou então a se interessar em entender a depressão e problemas mentais, numa época em que pouco se falava sobre isso, e doou alguns milhares de dólares para instituições que tratassem do tema. Ela ainda tentou retornar ao cinema, mas seus esforços foram em vão. A atriz chegou a comprar os direitos para adaptar Laços de Ternura (Terms of Endearment, 1983), com a condição de estrelar o filme. Mas todos os estúdios recusaram-na no papel, por considerá-la muito velha. Shirley MacLaine acabou sendo a protagonista, e ganhou um Oscar por este trabalho.

Jennifer Jones então tornou-se reclusa, passando a dedicar-se a administrar o museu de artes de seu terceiro marido, morto em 1993. Não dava entrevistas e raramente aparecia em público, com exceção da entrega do Oscar de 1998.

Jennifer Jones no Oscar de 1998

Em 2007 seu filho Michael Walker, que também foi ator, morreu de overdose , como pai, aos 66 anos de idade. Dois anos depois, em 17 de dezembro de 2009, Jennifer Jones faleceu em sua residência em Malibu, aos 90 anos de idade.


Postar um comentário

6 Comentários

  1. Muito interessante ler sobre a vida de Jennifer Jones. Depois de muitos anos é que fiquei sabendo sobre a vida dela.

    ResponderExcluir
  2. ...uau!
    Geralmente a vida dos artistas não é tão fácil/ideal _ e como tendemos a idealizar tais. E também 'pessoas normais'.
    Faltou a parte onde uma filha se suicida (creio ter sido em 1976). Parece que se jogou de uma janela de uma loja. E no dia das mães.
    Tocante ela no tal OSCAR (1998).
    Já em INFERNO NA TORRE (até me arrepio ao lembrar). Na cena final virei uma MANTEIGA DERRETIDA mesmo (a dublagem em português com as músicas mais altas & profundas marcam).

    Rodrigo

    ResponderExcluir
  3. Sempre se aprende lendo sobre artistas. E PRODUÇÕES.
    Nem sabia que foi cogitada em LAÇOS DE TERNURA.
    Sei que a OLIVIA DE HAVILLAND como a marcante LISOLETTE MUELLER.
    E de um filho que teria se suicidado tb não.
    Passa um programa sobre CRIMES (AS ULTIMAS 48 HORAS) em TULSA onde lembro desta.
    Há um site sobre filmes, coisas assim: 'amazon.imdb.com' onde aparecem até CITAÇÕES DE ARTISTAS, e ela cita alguns. E em outro uma foto de quando bem pequena.
    Essas coisas mexem mesmo.

    ResponderExcluir
  4. Talentosa. Vi "duelo ao sol" e gostei muito da interpretação dessa grande Atriz. Em "Suplício de uma saudade" achei a interpretação dela muito tocante.

    ResponderExcluir
  5. Muito bom, o seu artigo. Não imaginava que a vida da atriz havia sido tão conturbada.

    ResponderExcluir