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Oscar Micheaux, o primeiro cineasta negro da história do cinema


Oscar Micheaux foi o primeiro diretor a realizar um longa metragem nos Estados Unidos, em 1919. Pouco conhecido ainda hoje, foi um pioneiro não só na produção cinematográfica, mas também na luta para combater o racismo no país.


Filho de ex escravos (a escravidão foi abolida nos EUA em 1863), Oscar Micheaux nasceu em 02 de janeiro de 1884, em Metropolis, Illinois. Aos 17 anos de idade saiu de casa e foi morar em Chicago, onde conseguiu um emprego de porteiro, um dos melhores cargos que um cidadão negro podia almejar nos Estados Unidos na época, devido a forte segregação racial (chamada popularmente de "Lei Jim Crow").

Após juntar dinheiro por alguns anos, conseguiu comprar um lote de terras na Dakota do Sul, em 1905. Suas experiências como fazendeiro serviram de base para que ele escrevesse o romance The Homesteader, que ele publicou por conta própria em 1913. Em 1917 republicou a obra, que ele mesmo vendia de porta em porta para vizinhos e proprietários rurais de cidades vizinhas. O livro começou a fazer um relativo sucesso, inclusive na comunidade branca, e Micheaux percebeu na arte o valor para a inclusão social.

Em 1915 ele havia perdido sua fazenda, devido a uma seca cujos prejuízos não conseguiu cobrir. Ele mudou-se então para Sioux City, Iowa, onde fundou a Western Book and Supply Co., onde continuou escrevendo e publicando seus romances, que vendia de porta em porta.

Os irmãos George e Noble Johnson haviam fundado a Lincoln Motion Picture Co. em Los Angeles (primeiro estúdio de cinema fundado por negros), e o procuraram para comprar os direitos de The Homesteader, mas  Micheaux só venderia o livro com a condição de dirigir o filme, e eles não chegaram a um acordo.

Micheaux então vendeu sua editora, pediu diversos empréstimos, e começou a produzir ele mesmo a versão cinematográfica de seu livro. Filmado em Chicago, The Homesteader foi lançado em 1919. Os irmãos Johnson, só conseguiriam produzir um único filme, em 1921.



O filme, destinado ao público negro (que era proibido de frequentar as grandes salas de cinema), tinha uma longa duração. Foi feito com oito rolos de película, algo incomum na época. Mesmo Charles Chaplin só faria um filme de oito rolos em 1921, quando estrelou O Garoto (The Kid, 1921).

Seu filme seguinte, Within Our Gates (1920) foi uma resposta ao filme O Nascimento de Uma Nação (The Birth of a Nation, 1915) de D. W. Griffith. O filme de Griffith glorificava a Ku Klux Klan, e justificava a violência contra negros a fim de evitar a miscigenação. Within Our Gates refutava a obra de Griffith, e mostrava a realidade dos EUA, onde uma pessoa afro-americana era muito mais propensa de ser linchada e explorada do que o contrário.

Em 1931, após uma longa carreira no cinema mudo, Micheaux torno-se também o primeiro negro a dirigir um filme sonoro, The Exile (1931).


Trabalhando em Chicago, Oscar Micheaux dirigiu quarenta e dois filmes ao longo de quase trinta anos de carreira. Embora suas produções tenham defeitos técnicos, devido ao baixo orçamento, seus filmes são de extrema importância para a história do cinema. Foi Michaux quem primeiro deu voz aos negros, tirando os dos papéis de escravos, empregadas, malandros, preguiçosos ou burros, que lhes eram reservados nas grandes produções em Hollywood. Pouco ante de morrer, declarou em um entrevista "Uma das maiores tarefas da minha vida foi ensinar que o homem negro que ele pode ser qualquer coisa."

Michaeux dirigiu faroestes, musicais, romances e filmes de gângsters. Um tema recorrente em suas obras eram negros de pele mais clara tentando se passar por branco, e as implicações morais que isto resultava. Esta temática ficou muito popular após a superprodução Imitação da Vida (Imitation of Life, 1934), estrelado por Claudette Colbert, onde Fredi Washington passava-se por branca, desprezando sua mãe (papel de Louise Beavers). 

Na vida real, Fredi Washington, por se recusar a ter o rosto pintado de branco, teve a sua carreira destruída em Hollywood. (leia mais sobre sua vida aqui).

Seus atores, também todos negros, eram geralmente membros do Lafaeyette Players, uma companhia teatral do bairro do Harlen. Sua esposa, Alice B. Russell (1892-1984), frequentemente atuava em suas produções. Também pioneira, Alice produziu alguns filmes do marido, tornando-se a primeira mulher negra a produzir um filme nos Estados Unidos.


Entre os atores lançados por Michaux estão o também cantor Paul Robeson (1898-1976), famoso por Magnólia- O Barco das Ilusões (Show Boat, 1936), que se tornaria uma das maiores estrelas do Reino Unido, e teve a carreira destruída devido ao seu ativismo político e luta pelos direitos civis (o ator foi incluído na lista negra do Machartismo, e tinha um dos arquivos mais extensos do FBI). Robeson estreou no cinema em Body and Soul (1925), décimo primeiro filme dirigido por Micheuax.



Outro ator lançado por Micheaux foi Robert Earl Jones (1910-2006), que viria a ser pai de James Earl Jones, famoso no cinema como a voz de Darth Vader na saga Star Wars. Robert Earl Jones havia sido sparring (pessoa que auxilia no preparo do lutador, muitas vezes participando das lutas onde simula ser o adversário) do boxeador Joe Louis, e estreou no cinema sob a direção de Micheaux em Lying Lips (1939), atuando em seguida, ainda com o diretor, em The Notorious Elinor Lee (1940). Futuramente, seria lembrado por papéis em filmes como Golpe de Mestre (The Sting, 1973).

 Cartaz de The Notorious Elinor Lee
e Robert Earl Jones e Robert Redford em Golpe de Mestre

O diretor também foi responsável por impulsionar a carreira de Rex Ingram (1895-1969), o gênio de O Ladrão de Bagdá (The Thief of Bagdad, 1940), embora não tenha sido o primeiro cineasta a dirigi-lo.

Oscar Micheaux escrevia, produzia e dirigia seus filmes, e também apareceu como ator em duas produções: Harlen After Midnight (1932) e Murder in Harlem (1934).


Bastante criticado na época, o diretor nunca teve sua carreira reconhecida em vida. Ele faleceu em 25 de março de 1951, aos 67 anos de idade.

Em 1987 ele ganhou uma estrela na Calçada da Fama em Hollywood.

Ele foi interpretado por Danny Glover no filme (documental) Oscar Micheaux, Film Pioneer (1981) e retratado no documentário The Czar of Black Hollywood (2014). Em 2017 o cineasta ganhou uma cinebiografia chamada Oscar Micheaux (2017), tendo o ator Napoleon Douglas no papel principal. 

O diretor também é bastante lembrando no documentário Na Sombra de Hollywood: “Race Movies” e o Nascimento do Cinema Negro (In The Shadow of Hollywood: Race Movies and the Birth of Black Cinema, 2007), que tem depoimentos do ator Leroy Collins, protagonista de The Betrayal (1948), último filme dirigido por  Micheaux. Leroy Collins, na época, era o último ator vivo que trabalhou com o cineasta.



Em 2013 Oscar Micheaux foi tema da mostra Oscar Micheaux: O Cinema Negro e a Segregação Racial, exibida no Centro Cultural Banco do Brasil. Esta foi a primeira vez que seus filmes foram exibidos em uma sala de cinema no Brasil.




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5 Comentários

  1. Michael Carvalho Silva12 de julho de 2022 às 22:32

    Os negros em geral junto com o próprio movimento negro em si não possuem moral e nem direito nenhum para falarem e nem reclamarem sobre racismo pois os próprios negros escravizaram e seviciaram brutalmente os brancos até a morte na antiguidade enquanto que a escravidão negra cometida na época da colonização foi apenas uma resposta à violência e à crueldade exacerbadas tão típicas da raça negra cometida gratuitamente pela mesma contra o mundo e a humanidade inteiros de um modo geral. Eu mesmo já fui extremamente agredido, maltratado, perseguido e humilhado gratuitamente à vida inteira por inúmeras pessoas negras dentro e fora de casa sendo inclusive que a esmagadora maioria delas era predominantemente do sexo feminino.

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