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James Baskett, de A Canção do Sul, o primeiro ator negro a receber um Oscar


James Baskett ficou imortalizado como o Tio Remus em A Canção do Sul (Song of the South, 1946), polêmico filme da Disney, que misturava atores reais com animação. Por esta atuação, Baskett tornou-se o primeiro ator negro a receber um Oscar.


Nascido em Indianapolis, em 16 de fevereiro de 1904, James Baskett não desejava ser ator. Ele iniciou-se nos estudos de farmacologia, mas teve de abandonar o curso por razões financeiras.

Durante a crise causada pela Grande Depressão, mudou-se para Nova York, e acabou tornando-se ator para fazer algum dinheiro. Ele ingressou na companhia do ator Bill "Bojangles" Robinson, e com o nome de Jimmie Bakette, estreou na Broadway na revista Black Chocolates (1929), espetaculo cujo elenco era composto apenas por negros, tendo Louis Armstrong como ator principal.
 
Os Estados Unidos tinham severas leis de segração racial, e muitos cinemas proibiam a entrada de pessoas negras. Muitos produtores realizavam então filmes voltados para esta comunidade excluída. Estes filmes, cujo elenco era composto também por atores negros, eram exibidos em bairros como o Harlen (Nova York), cuja maioria da população não podiam frequentar as grandes salas onde eram exibidas as grandes produções hollywoodianas.

Baskett estreia no cinema em uma dessas produções, no filme Sending a Wire (1929). Seu segundo filme foi um musical estrelado por Bill "Bojangles" Robinson, seu antigo colega dos palcos, chamado Harlen is Heaven (1932).

 James Baskett em Harlen is Heaven

Baskett seguiu atuando em produções de baixo orçamento, voltadas para o público negro, como 20,000 Cheers for the Chain Gang (1933), Gone Harlem (1938), Straight to Heaven (1939) e Comes Midnight (1940). Seu primeiro papel de protagonista foi em Policy Man (1938).

 Cartaz de Policy Man

 Em 1941 ele trabalhou na primeira grande produção, dublando o personagem "Fat Crow" no longa de animação Dumbo (Idem, 1941), de Walt Disney.


Os corvos em Dumbo, eram uma afirmação de um estereótipo racista muito comum nos Estados Unidos na época. Durante o período da escravidão, os negros eram comparados a corvos, e Jim Crow, o líder do bando que aparece no filme, era uma figura do folclore racista norte americano. Durante o século XIX o comediante Thomas D. Rice havia criado tal personagem. Rice era branco, e pintado de negro (a chamada blackface), dava vida a Jim Crow, personagem preguiçoso e malandro, que por muitos anos foi personificado em várias manifestações pejorativas.

Ilustração mostrando Thomas Rice como Jim Crow, em 1832

Contratado pela Monogram Pictures, um estúdio menor, James Basket atuou em A Vingança dos Zombies (Revenge of the Zombies, 1943), o primeiro filme em que ele apareceu que não era dedicado exclusivamente a comunidade negra. Estrelado por John Carradine e Gale Storm, Baskett interpretava Lazarus, o "faz-tudo" do cientista vivido por Carradine.
 James Bakett, a esquerda, apoiado no esqueleto, em A Vingança dos Zombies

Em seguida, James Baskett atuou em Um Rival nas Alturas (The Heavenly Body, 1944), uma produção da MGM estrelada por William Powell e Hedy Lamarr. No filme, ele aparecia brevemente, como um porteiro, e nem chegou a ser creditado.

Se no cinema o ator não tinha grandes chances, no rádio ele fazia sucesso como o advogado Gabby Gibson, no programa radiofônico Amos 'n' Andy, do qual ele participou de 1944 a 1948.

Em 1945 James Baskett retornou aos estúdios Disney, para fazer um teste de voz. Disney gostou do resultado do teste, e não só deu ao ator a chance de dublar o Compadre Raposa (Br'er Fox), como escalou o ator como o Tio Remus, protagonista de A Canção do Sul (Song of the South, 1946).

O personagem Compadre Raposa é constantemente confundido com João Honesto,  a raposa do desenho Pinóquio. A confusão ficou ainda maior quando as histórias em quadrinhos do Coelho Quincas, lançadas no Brasil, traduziram erroneamente o nome das personagens.


A Canção do Sul era baseado nos livros de Joel Chandler Harris, que  contavam a história do Tio Remus (Unce Remos), um personagem bonachão e contador de 'causos', e se passava no período após a Guerra de Secessão Norte-Americana.

James Baskett vivia Tio Remus, o contador de histórias que fascinava as crianças do filme, interpretadas por Luana Patten e Bobby Driscoll. Luana e Driscoll tornaram-se as primeiras estrelas mirins contratadas pelo estúdio, e Driscoll, morto precocemente aos 31 anos de idade, tornou-se o primeiro astro polêmico da Disney (leia mais sobre ele aqui).

O filme, que mesclava animações com atores reais, fez muito sucesso na época, e popularizou a canção  Zip a Dee Doo Dah, que levou o Oscar de Melhor Canção daquele ano.




Apesar de ser um dos primeiros atores negros em um papel de destaque em um papel não cômico, Baskett foi criticado por fazer um personagem degradante para a raça negra, interpretando a personificação do escravo abnegado. James Baskett inclusive foi proibido de ir na estreia do filme, já que o mesmo foi exibido em um cinema de Atlanta, onde negros não eram permitidos (tal como aconteceu com Hattie McDaniel e Butterfly McQueen na estreia de ...E o Vento Levou).

Apesar das críticas, o filme foi muito bem recebido, e sua atuação também recebeu muitos elogios. A colunista Hedda Hopper iniciou uma campanha revoltada quando em 1947 o ator não foi indicado ao Oscar por seu desempenho. A campanha causou tanta polêmica que no ano seguinte a Academia o agraciou com um prêmio especial.

 James Baskett recebendo seu Oscar de Jean Hersholt e  Ingrid Bergman, em 1948

Em 1939 Hattie McDanie havia sido a primeira pessoa negra a receber um Oscar por seu trabalho em ...E O Vento Levou (...Gone With the Wind, 1939), e apesar e ser um prêmio especial, Baskett foi o primeiro ator negro a receber um Oscar. Foi somente quinze anos depois que Sidney Poitier receberia o prêmio oficial, por seu desempenho em Uma Voz nas Sombras (Lilies of the Field, 1963). 

Hattie McDaniel também atuou em A Canção do Sul, no papel da empregada "Tia Tempy", seu único trabalho com Walt Disney.

 James Baskett, Hattie McDaniel, Bobby Driscol, Lucile Watson e Ruth Warrick em A Canção do Sul

O filme, embora faça parte do imaginário de muitas gerações, é considerado racista hoje em dia, por reforçar o estereótipo dos negros como empregados servis. Devido a polêmica, a Disney baniu a obra, recusando qualquer eventual lançamento do mesmo, embora a tenha restaurado.

Meses depois de receber seu Oscar, James Baskett faleceu 09 de julho de 1948, com apenas 44 anos de idade. O ator, visivelmente mais magro quando foi receber o prêmio, já estava bastante debilitado em função da diabetes. Durante a produção de A Canção do Sul ele já estava com a saúde comprometida, e chegou a sofrer um ataque cardíaco durante as filmagens. Este foi seu último trabalho como ator. 




Veja também: Beulah, uma série pioneira, protagonizada por Hattie McDaniel



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3 Comentários

  1. Apenas lamento que um filme tão belo e que fez parte da infância de tantas gerações, como "A Canção do Sul", tenha sido banido por causa dessa onda revisionista.
    A Arte deveria ficar acima dessas situações.

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  2. Sempre gostei muito do filme "A canção do Sul". O filme retrata uma época em que os negros ainda eram mantidos como serviçais nos Estados Unidos (no Sul do país). Racista? Depende dos olhos de quem vê. (José)

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