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Bobby Driscoll, o primeiro astro problemático da Disney

Após o sucesso em A Canção do Sul (Song of the Soul, 1946), Bobby Driscol recebeu um longo contrato dos Estúdios Disney, tonando-se um dos primeiros astros contratados pelo estúdio. Porém o jovem, que também personificou Peter Pan, não conseguiu fazer a transição para a fase adulta, e acabou falecendo com apenas 31 anos de idade. 


Robert Cletus Driscoll nasceu em 03 de março de 1937, em Iwoa. Ao cinco anos de idade foi descoberto por um olheiro, que o viu em uma barbearia quando este acompanhava seu pai. Bobby estreou em um pequeno papel em O Anjo Perdido (Lost Angel, 1943), uma produção da MGM estrelada pela atriz mirim Margaret O'Brien e Marsha Hunt.

Sem contrato fixo, sua carreira foi melhorando ao longo do tempo, atuando em diversos filmes em estúdios diferentes. Driscoll participou de filmes como Eram Cinco Irmãos (The Sullivans, 1944), Um sonho de Domingo (Sunday Dinner for a Soldier, 1944), A Vida é Uma Só (Miss Susie Slagle's, 1946), Esse Encanto Irresistível (From This Day Forward, 1946), Amor Tempestuoso (So Goes My Love, 1946) e Três Tolos Sabidos (Three Wise Fools, 1946).

 Bobby Driscoll, segurando um cachorro, em Um sonho de Domingo

Em 1946 Driscoll, que estreara nas telas aos cinco anos de idade, já havia atuado em dez filmes, quando recebeu a maior chance de sua carreira. O menino, então com nove anos de idade, foi contrato por Walt Disney para estrelar A Canção do Sul (Song of the Soul, 1946), que misturava atores reais com desenhos animados.


Driscoll interpretava o menino Johnny, que fica encantado com as histórias do bonachão Tio Remus (Uncle Remus), intepretado pelo ator James Baskett. O filme fez um enorme sucesso na época, e ganhou um Oscar pela canção Zip a Dee Doo Dah.

Embora hoje polêmico, o filme é considerado racista e foi banido pela Disney de novos lançamentos, A Canção do Sul fez um enorme sucesso na época. Bobby Driscoll e Luana Patten, as crianças protagonistas da obra, foram então contratadas pelo estúdio num contrato de sete anos, tornando-se os primeiros astros mirins contratados da Disney. A dupla passou a ser chamada de "o time querido" dos estúdios.

Luana Patten e Bobby Driscoll

As crianças trabalhariam juntas novamente em Cante Com Disney (Melody Time, 1948) e em Tão Perto do Coração (So Dear to My Heart, 1948).

 Roy Rogers e seu cavalo Trigger, com Luana Patten e Bobby Driscoll em Cante Com Disney

Emprestado a RKO, estúdio que tinha parceria com Disney (onde foi filmado Você Já Foi à Bahia?, em 1944), Driscoll atuou em Você Conhece Susie? (If You Knew Susie, 1949). De volta a seu estúdio, filmou o clássico A Ilha do Tesouro (Treasure Island, 1950), que foi outro grande sucesso.


Robert Newton e Bobby Driscoll, em  A Ilha do Tesouro 

Em 1950 o menino recebeu o Oscar Juvenil. Um prêmio especial, uma miniatura do Oscar,  dado a atores mirins que se destacaram. Walt Disney então renovou seu contrato, antes do término.


 Bobby Driscoll recebendo seu Oscar Juvenil de Donald O'Connor

Mas a puberdade se aproximava, e o menino já não era mais tão gracioso como antes. Sem saber o que fazer com o ator, Disney o emprestou para o pequeno estúdio Horizon, onde Driscolll filmou o modesto e inexpressivo When I Grow Up (1950). Também emprestado, agora para a Columbia, atuou em O Amor, Sempre o Amor (The Happy Time, 1952), trabalhando novamente com Masha Hunt. Nesta época, Driscoll também começou a atuar com frequência na televisão.

 Bobby Driscoll e Marsha Hunt em O Amor, Sempre o Amor

Em 1953 Disney resolveu aproveitar o menino, escalando ele para Peter Pan (Idem, 1953). Driscoll não só dublou a animação, como também serviu de modelo para as filmagens. Walt Disney utilizava a técnica de rotoscopia, que consistia em filmar atores em ações reais, e depois usar o material filmado como base para os desenhistas, que copiavam por cima da película, os movimentos quadro a quadro.

Peter Pan não só teve os movimentos de Bobby Driscoll, como também recebeu os traços do ator. 

Bobby Driscoll e Katryn Beaumont durante as filmagens de Peter Pan

 Bobby Driscoll como Peter Pan

A menina Katryn Beaumont, que havia sido a modelo para a animação Alice no País das Maravilhas (Alice in Wonderland, 1951), deu movimentos (e voz) para a personagem Wendy Darling.

Ao término do filme, Bobby já estava com 16 anos de idade, e foi dispensado do estúdio três anos antes de seu contrato vencer. Disney não tinha mais interesse no ator, um adolescente com o rosto coberto por espinhas.

Sua mãe então se viu obrigada a retirá-lo da Hollywood Professional School, uma escola destinada exclusivamente a atores mirins contratados pelos estúdios. Driscoll então foi para uma escola pública normal, onde passou a sofrer bullying de seus colegas, devido a sua carreira cinematográfica.

Foi onde sua vida começou a decair. Sem convites para o cinema, deprimido e com dinheiro, o jovem começou a usar drogas, ficando viciado em heroína. Durante a década de 50, ele trabalhou esporadicamente na televisão, e fez apenas mais dois filmes, A Túnica Escarlate (The Scarlet Coat, 1955) e A Fúria dos Jovens Maus (The Party Crashers, 1958), que também foi o último filme da atriz Frances Farmer.
 Bobby Driscoll e Connie Stevens em A Fúria dos Jovens Maus



Em 1956 o ator fugiu para o México para se casar com sua namorada Marilyn Jean Rush, com quem teve três filhos. O casamento durou até 1960, quando o casal se separou.

Em 1961 Bobby foi preso por posse de heroína, e permaneceu alguns meses na prisão. Posto em liberdade condicional em 1962, tentou retomar sua carreira, usando o nome de Robert Driscoll, para se desligar da imagen infantil do passado. Mas foi ignorado pela indústria cinematográfica. Em seu julgamento para liberdade condicional, chorando, declarou: "Descobri que as lembranças não são muito úteis. Fui levado numa bandeja de prata e depois jogado na lata de lixo."

Sem trabalhos em Los Angeles, mudou-se para Nova York para tentar os palcos, mas ninguém queria contratá-lo, devido a sua má reputação.  O poeta e artista Wallace Berman, de quem Bobby era amigo desde 1956, o apresentou a Andy Warhol. Bobby começou a frequentar a Factory, lendário estúdio que o artista mantinha em Nova York. 

Bobby Driscoll trabalhou eventualmente como artista plástico, fazendo colagens em papelão, que foram exibidas no Museu de Arte de Santa Monica.

Trabalho de Bobby Driscoll, sem título, de 1964

Em 1965 ele faz seu último filme, atuando em Dirt (1965), curta metragem experimental de Piero Heliczer, um dos artistas do grupo de Warhol. Depois de sua breve passagem pelos estúdios de Andy Warhol, Bobby Driscoll voltou ao vício, se afundando cada vez mais nas drogas e desaparecendo não só da vida pública, mas de todos os seus círculos sociais.

Em 31 de março de 1968, duas crianças brincando encontraram seu corpo em um prédio abandonado em East Village. Driscoll havia falecido de overdose poucas semanas depois do seu aniversário de 31 anos de idade. Como ninguém reconheceu ou reclamou o corpo, e Driscoll foi enterrado em uma cova para indigentes, com a identificação "Joe Doe" (espécie de João Ninguém) escrita em sua lápide.

Em 1969 sua mãe pediu ajuda aos Estúdios Disney para tentar localizar o paradeiro do filho. Através de reconhecimento de impressões digitais, finalmente seu corpo foi identificado, e transferido para um túmulo da família. Sua morte só veio a público em 1971, quando o filme A Canção do Sul foi relançado.


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3 Comentários

  1. Na verdade, o corpo de Bobby permanece na cova coletiva onde foi enterrado, apenas colocaram uma lápide com o nome dele junto à de seu pai.

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  2. ... li muitas histórias sobre bobby Driscoll, mas essa foi a que mais me entristeceu!!

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  3. Porque será que Hollywood era tão cruel? Aproveitava dos atores, ganhando rios de dinheiro, e quando viam que eles não lhes dava mais renda,chutavam eles como se fosse lixo?

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