Peter Falk sempre será lembrado pelos seus fãs como o Tenente Columbo, da série de televisão Columbo (1968-1977), que também teve novos episódios gravados pela ABC entre 1989 e 2003.
Peter Michael Falk nasceu em 16 de setembro de 1927, em Nova York. Seus pais eram imigrantes judeus, sua mãe veio da Polônia e seu imigrara da Rússia, antes da Revolução. Aos três anos de idade, Falk teve retinoblastoma, um tumor cancerígeno maligno na retina, e teve que retirar o olho direito, passando a usar um olho de vidro. A deficiência visual causou-lhe estrabismo, que marcaria para sempre sua expressão, tornando-se uma de suas características.
Apesar da limitação física, era um bom atleta na escola, tendo praticado beisebol e basquete. Certa vez, quando adolescente, um juiz cometeu um erro durante uma partida de beisebol, e Peter Falk foi até ele e lhe entregou seu olho de vidro, para "ajudar o juiz a ver melhor".
Aos 12 anos fez sua primeira atuação, num acampamento de verão. Curiosamente, um dos monitores do acampamento era o ator Ross Martin, com que ele atuaria anos mais tarde no filme A Corrida do Século (The Great Race, 1965) e também em um dos episódios de Columbo.
Mas ele não se interessou pela experiência. Terminou o ensino médio e formou-se em literatura e ciência política na faculdade. Rejeitado pelo exército por causa do problema do seu olho, alistou-se na marinha por um ano, trabalhando como cozinheiro. Após a faculdade, mudou-se para a Iugoslávia, onde ficou seis meses, trabalhando em uma ferrovia.
De volta aos Estados Unidos, começou a trabalhar como analista de gestão do Departamento de Orçamento do Estado de Connecticut em Hartford. Nesta época, já com 26 anos, sentiu vontade de ser ator, e começou a trabalhar em produções amadoras. Aos 28 anos resolveu que não era bom o suficiente, e decidiu tomar aulas de interpretação com Eva La Gallienne, a lendária estrela da Broadway. Como as aulas eram em Nova York e ele morava em Harford, sempre chegava atrasado. Um dia, a professora perguntou por quê ele sempre estava atrasado, e ele disse que morava longe. Eva então disse que um ator não deveria morar em Hartford, onde não havia teatros, e ele respondeu que não era ator profissional. Ela então lhe diste "pois devia ser!". Ele então mudou-se para Nova York, em busca desta carreira. Eva lhe deu uma carta de recomendação ao famoso agente William Morris, que promoveu sua carreira.
Em 1956 ele estreou numa peça Off-Broadway, que ficou apenas três meses em cartaz. Em seguida atuou Circle in the Square, já na Broadway, atuando ao lado de Jason Robards.
Falk começou a se destacar no teatro, mas seu agente avisou-lhe que por causa de seu olho, não esperasse grandes chances no cinema. Apesar disto, ele fez sua estreia na televisão no ano seguinte, atuando em um episódio do programa Robert Montgomery Presents.
Mas ao fazer um teste para a Columbia, Harry Cohn, o todo poderoso do estúdio, afirmou categoricamente: "pelo mesmo preço eu posso conseguir um ator com dois olhos!"
Por este mesmo motivo, perdeu para Paul Picerni um papel em Até o Último Alento (Marjornie Mornisgstar, 1958), embora tenha sido a primeira opção no casting original. Falk estrearia no cinema em um pequeno papel em Jornada Tétrica (Wind Across the Everglades, 1958), de Nicholas Ray. O filme também tinha os novatos Christopher Plummer e Chana Eden, esta última, uma atriz israelense que abandonaria a carreira pouco tempo depois.
Após fazer muita televisão, fez seu segundo filme dois anos depois da estreia na grande tela, atuando em Assassinato S.A. (Muder, Inc., 1960). Falk interpretava o psicopata Abe Reles, e por este papel foi indicado ao Oscar de melhor ator coadjuvante. Neste mesmo ano foi indicado ao Emmy por seu desempenho no programa The Law and Mr. Jones. Peter Falk foi o primeiro ator indicado a um Oscar e a um Emmy no mesmo ano, e repetiu o feito no ano seguinte, sendo indicado ao Oscar por seu trabalho em Dama Por Um Dia (Pocketful of Miracles, 1961) e ao Emmy por sua atuação em The Dick Powell Theatre.
Assassinato S.A. (Muder, Inc., 1960)
Glenn Ford, Peter Falk e Bette Davis em Dama Por Um Dia (Pocketful of Miracles, 1961)
Foi então que o ator ascendeu ao primeiro time, atuando em filmes importantes como O Segredo dos Arecifes (The Secret of the Purple reef, 1960), Tormentos D'Alma (Pressure Point, 1962), Deu a Louca no Mundo (It's a Mad Mad Mad Mad World, 1963), Robin Hood de Chicago (Robin and the 7 Hoods, 1964), A Corrida do Século (The Great Race, 1965), Os Prazeres de Penélope (Penelope, 1966), Essa Coisa, o Amor (Luv, 1967) e A Defesa do Castelo (1969).
Peter Falk, Bill Gunn, Natalie Wood em Os Prazeres de Penélope (Penelope, 1966)
Nesta mesma época, também trabalhou muito na televisão. Ele também estrelou a série The Trials of O'Brien (1965-1966), interpretado um advogado que declamava Sheakespeare em suas defesas. Mas foi em 1971 que se firmou como astro ao interpretar Columbo. Ele não foi o primeiro ator a interpretar o personagem, que surgiu em um episódio do programa The Chevy Mistery Show, interpretado pelo ator Bert Freed. Thomas Mitchell também interpretou Columbo nos palcos em 1968. Neste mesmo ano, Falk também interpretou Columbo no programa Prescription: Murder.
Aliás, Falk não foi a primeira opção para o papel na série. Os produtores queriam o cantor e ator Bing Crosby, mas este faltou aos testes para não perder um campeonato de golfe que disputava.
Em Columbo
O primeiro episódio da série, já com Falk no elenco, foi dirigido por um jovem recém formado na faculdade de cinema chamado Steven Spielberg, então com 24 anos de idade.
Seu olho de vidro as vezes refletia na câmera, principalmente quando o ator procurava as marcações de cena, e para resolver o problema, sempre que iria procurar onde estavam colocadas suas marcas, ele coçava o olho ou colocava a mão na testa. Surgindo assim a famosa expressão do Columbo pensativo, que virou uma das marcas da série. Por seu trabalho no programa ganhou um Globo de Ouro, sendo indicado outras seis vezes. Também foi indicado sete vezes ao Emmy, vencendo três vezes.
Com o fim a da série, chegou a ser considerado para o papel de Tom Hagen em O Poderoso Chefão (The Godfather, 1972), mas acabou perdendo o papel para Robert Duval. Porém, continuou atuando com frequência, dividindo-se entre o cinema e a televisão. Grande amigo de John Cassavetes, apareceu em vários de seus filmes. São eles: A Fúria dos Intocáveis (Gli Intoccabilli, 1969), Os Maridos (Husbands, 1970), Uma Mulher Sob Influência (A Woman Under the Influence, 1974), Jogo Mortal (Mickey and Nicky, 1976), Noite de Estréia (Opening Night, 1977) e Um Grande Problema (Big Trouble, 1986). Em Jogo Mortal contracenou com o cineasta, que também atuou em um episódio de Columbo, em 1972.
Cassavetes e Falk em Jogo Mortal (Mickey and Nicky, 1976)
No cult Asas do Desejo (Der Himmel über Berlin, 1987), de Win Wenders, interpretou uma versão semi-ficcional de si mesmo, um famoso ator americano que havia sido um anjo, mas que se desiludira apenas com a observação da vida na Terra e, por sua vez, desistira de sua imortalidade. Ele repetiria o papel na sequência Tão Longe, Tão Perto (In Weiter Ferne, So Nah!, 1993).
Peter Falk em Asas do Desejo
Ele voltaria a repetir o papel de Columbo na continuação da série feita em 1989. Em 1990 a série seria novamente cancelada, mas ele atuaria em especiais como o mesmo personagem em mais dez episódios, gravados entre 1990 e 2003.
Entre seus filmes também destacamos: Assassinato por Morte (Murder by Death, 1976), O Detetive Desastrado (The Cheap Detective, 1978), Um Casamento de Alto Risco (The In-Laws, 1979), A Grande Farra dos Muppets (The Great Muppet Caper, 1981), A Princesa Prometida (The Princess Bride, 1987).
Fred Savage e Falk em A Princesa Prometida (The Princess Bride, 1987)
Também interpretou a si mesmo em O Jogador (The Player, 1992) e dublou um personagem na animação O Espanta Tubarões (Shark Tale, 2004). Aliás, em animações, Peter Falk inspirou dois personagens de desenhos animados. Dick Vigarista (Dick Dastardly), foi inspirado no personagem Max Meen Falk, que ele interpretou em A Corrida do Século (1965). E Mutley foi inspirado em Columbo.
Falk e Jack Lemmon e A Corrida Maluca, e os personagens inspirados nele
Em 2009 atuou em seu último filme, American Cowslip (2009). Desde 2008 ele já vinha sofrendo de demência, em consequência do Mal de Alzheimer. Seus médicos concluíram que a doença originou-se em 2007, após o ator passar uma cirurgia dentária, onde houve um erro durante a anestesia.
Peter Falk e Val Kilmer em American Cowslip
Em 2006 ele havia publicado seu livro de memórias, Just One More Thing, e feito uma exposição com seus trabalhos de artista plástico.
Peter Falk e algumas de suas obras de arte
Casado com a atriz Shera Danese, com quem atuara em muitos episódios de Columbo, desde 1977, ele faleceu em 23 de junho de 2011, aos 83 anos de idade.
Shera Danese e Peter Falk
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2 Comentários
Excelente, apenas uma observação: seu personagem em "A corrida do século" corresponde ao Muttley, que tem traços parecidos com o Mumbly (Rabugento). O Dick Vigarista, ao que parece, foi inspirado no Terry-Thomas.
ResponderExcluirMuito bom ator o filme assassinato por morte foi muito bom
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