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Boemia, polêmicas e alcoolismo, a história do trágico ator Jack Pickford, irmão da atriz mais famosa de Hollywood


Mary Pickford foi a primeira grande estrela de Hollywood. Batizada de "A Namoradinha da América" ela era um dos nomes mais influentes nos primórdios da história do cinema, ao ponto de poder recorrer ao nepotismo para transformar seus irmão, e até sua mãe, em atores cinematográficos.

Jack foi dos Pickford o mais bem sucedido depois da irmã, chegando a protagonizar diversos filmes, geralmente fazendo papéis de bom moço na telas. Porém, sua vida desregrada acabou chamando mais a atenção do público que seus trabalhos como ator.




John Charles Smith nasceu em em Ontário, Canadá, em 18 de agosto de 1896. Jack era o filho do meio de uma família de imigrantes, e seu pai, alcoólatra, abandonou a família quando Jack era ainda era muito pequeno.

A mãe da família, Charlotte Smith era uma imigrante católica bastante devota, e contra a vida artística, porém, passando dificuldades financeiras, aceitou que os filhos ingressassem, ainda crianças, no teatro, para complementar a renda da casa. Assim Gladys, Jack e Lottie estrearam nos palcos, a contragosto da mãe.


Gladys (Mary Pickford), Lottie e Jackie Pickford

Morando em Nova York, Gladys, agora rebatizada de Mary Pickford, conseguiu um contrato com a Biograph Studios, e logo se tornou uma grande estrela do cinema, conquistando o coração dos frequentadores das salas de exibição. Seu jeito ingênuo e seus longos e cacheados cabelos loiros renderam altos lucros para o estúdio, fazendo dela uma artista poderosa. E assim, ela conseguiu emprego no cinema também para seus irmãos, também rebatizados de Pickford, e até para a sua mãe, que fez alguns trabalhos como atriz.


Charlotte e Mary Pickford

Jack assinou contrato com a Biograph aos 14 anos de idade, em 1909.  Todos os irmãos Pickford apareceram em diversos filmes curtos de D. W. Griffith, e a lista dos trabalhos de Jack com Griffith incluem The Smoker (1910), Muggsy Becomes a Hero (1910), Sweet Memories (1911) e As a Boy Dreams (1911).


Jack Pickford em As a Boy Dreams


Lottie Pickford chegou a estrelar seu próprio filme, The Pigrimage (1912), e protagonizaria outros filmes futuramente, embora tenha sido a menos famosa dos irmãos.

Juntos, os irmão Pickford fariam Sweet Memories (1911) e Fanchon the Cricket (1915).



Em 1914 Mary foi contratada pela Famous Player (mais tarde Paramount Pictures) e exigiu que seu irmão também fosse contratado. Jack fez alguns filmes no estúdio, mas foi em estúdios menores que conseguiu suas maiores chances na época. Seu primeiro papel de protagonista foi em Giovanni's Gratitude (1913), na Reliance. Já na Seling Polyscope, estrelou The Making of Crooks (1915), The Hard Way (1916), The Clonflict (1916) e Cupid's Touchdown (1917).

Em 1917 Mary Pickford tornou-se a primeira atriz da história a receber um contrato de um milhão de dólares, quando assinou com a First National Pictures, que ficava em Los Angeles. Para assinar com o estúdio, entretanto, ela exigiu que seu irmão também fosse contratado com um salário superior ao de muitos astros do estúdio, muito mais famosos que seu irmão.

Quando o trem de Mary Pickford chegou em Los Angeles, a imprensa correu para entrevistar a atriz, e Charlotte empurrou Jack para a multidão de jornalistas, exigindo que lhe dessem a mesma atenção.

Ele não era exatamente um ator desconhecido, já tendo aparecido em 95 filmes, e inclusive feito um relativo sucesso como protagonista de Seventeen (1916), e contracenado com a irmã no sucesso Pobre Peinasinha (Poor Little Peppina, 1916).



Em Hollywood, ele teve suas maiores chances, e foi considerado um bom ator, porém era visto como alguém que nunca fez jus ao seu próprio potencial. Em 1917 ele estrelou diversos filmes, com papéis importantes como o Pip em Great Expectations (1917), baseado no livro de Charles Dickens. Ele também viveu Tom Sawyer no filme de mesmo nome, e repetiu o papel na continuação Tom and Huck (1918). Entre 1917 e 1918 Jack foi protagonista de diversos filmes, mas no entanto, o jovem não conseguia ficar longe de problemas. 




Mesmo casado, desde 1916, com a estrela Olive Thomas, Jack Pickford era famoso pela vida boêmia, e era adepto de bebedeiras e casos extraconjugais que frequentemente tornavam-se alvos da imprensa. Para controlar o rapaz, então com 23 anos, sua mãe e o estúdio conseguiram que ele ingressasse na Marinha, com um cargo alto inclusive.

A intenção era que a vida militar colocasse Jack nos eixos, mas ele logo foi pego aceitando suborno de marinheiros ricos para colocá-los em atividades leves, ou para terem mais folgas em terra. Jack e outros oficiais foram condenados, e seria julgados pela corte marcial, mas Charlotte se reuniu com o presidente dos Estados Unidos, pedindo que o filho recebesse dispensa honrosa antes de ser julgado.

Jack foi dispensado com a desculpa de protagonizar um filme que divulgaria o exército, enquanto seus colegas foram condenados a três anos de prisão.


Jack Pickford e Olive Thomas, sua primeira esposa

Ele conseguiu manter uma carreira bem sucedida nos anos seguintes, inclusive dirigindo e produzindo alguns filmes. Mas os escândalos de sua vida pessoal chamavam mais atenção que seus filmes. Afinal, ele era o irmão da mocinha que personificava a doçura e bondade da América, e ele próprio havia feito diversos papéis de mocinhos ingênuos e virtuosos.

Jack e Olive Thomas eram famosos por frequentarem festas estravagantes, onde abusavam de álcool e drogas. As brigas do casal também eram frequentes, e muitas vezes em público. Em setembro de 1920 eles viajaram para Paris, em uma segunda lua de mel.

No dia 05 de setembro, porém, após irem em uma festa, Olive tomou um frasco de cloreto de mercúrio, receitado a atriz para tratar a sífilis que ela havia contraído. Olive morreu cinco dias depois, no hospital, e não faltaram insinuações de que seu marido teria a envenenado, para ficar com o dinheiro do seguro, já que ele devia milhares de dólares em dívidas de jogo.

A morte de Olive Thomas, com apenas 25 anos de idade, nunca foi totalmente esclarecida. Mas o assassinato foi descartado na época, sendo considerado uma morte acidental ou suícidio. Mas a repercussão negativa, junto com outros escândalos de Hollywood na época, geraram protestos do público conservador, exigindo que os estúdios criassem cláusulas de moralidade entre seus contratados.


A atriz Olive Thomas

Em 1922 Jack Pickford se casou com a atriz Marilyn Miller, que assim como Olive Thomas havia sido dançarina de Florenz Ziegfelld, o maior empresário do teatro de revista da época. As Ziegfelld Girls eram consideradas algumas das mulheres mais belas do mundo da época.

Marilyn tornou-se uma grande estrela dos palcos, e foi vista como uma grande aposta em Hollywood na década de 1920. Mas sua carreira foi muito afetada ao vício em heroína, hábito que ela adquiriu enquanto namorava Jack Pickford. A atriz pediu o divórcio em 1927, alegando que o marido era abusivo e violento.


Jack Pickford e Marilyn Miller


Na segunda metade da década de 1920 o ator era visto nos estúdios como alguém não confiável, e sua carreira de ator decaiu vertiginosamente. Por influência da irmã, que ainda usava sua fama para tentar salvar reputação de Jack, ele ainda conseguiu alguns papéis de coadjuvante, inclusive em O Morcego (The Bat, 1926), filme que inspirou a criação do Batman, em 1939.


Jack Pickford e Jewell Carmen em O Morcego


Sua saúde também estava cada vez mais debilitada, e eram constantes as internações do ator para tratamentos médicos, ou desintoxicações. E a chegada do cinema falado foi a pá de cal definitivamente em sua carreira. 

Jack Pickford ainda conseguiu atuar em Rivais no Crime (Gang War, 1928) e no curta metragem All Square (1930), seu último trabalho como ator.

Em 12 de agosto de 1930 ele se casou com Mary Mulhern, outra Ziegffeld Girl. Dois anos depois, ela pediu o divórcio, alegando ter sido maltratada pelo ator durante todo o casamento.






Mas a separação não chegou a ser assinada, já que Jack Pickford morreu em 03 de janeiro de 1933, com apenas 36 anos de idade. Sua causa da morte foi declarada como "neurite múltipla progressiva", causada pelo alcoolismo crônico.

Marilyn Miller, sua segunda esposa, morreria pouco tempo depois, em 1936 (com apenas 37 anos). E sua irmã, Lottie Pickford, também morreu em consequência do alcoolismo, em 09 de dezembro de 1936, com 41 anos de idade.


Mary Pickford, ainda no auge da fama, abandonou o cinema em 1933, e recusou todos os convites para retornar as telas, morrendo em 1979, com 87 anos de idade.








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