Em 1926 a Fox Filmes (ainda não se chamava Twenty Century Fox) iniciou um longo concurso para revelar novos astros latinos pelo mundo, o "Grande Concurso de Belleza e Photogenica e Varonill", que era anunciado nas revistas de cinemas dos países participantes.
Erroneamente, costuma-se dizer que concurso foi lançado após a morte de Rudolf Valentino, mas não é verdade. Talvez a confusão se dê porque o resultado só foi divulgado em 1927, portanto após a morte do maior latin lover de Hollywood.
Houve edições do concurso no Brasil, Espanha, Itália, México, Argentina e Chile. No Brasil, os vencedores foram Lia Torá e Olympio Guilherme, na Espanha venceram Maria Casajuana (rebatizada de Maria Alba, pela Fox) e Antonio Cumellas, na Itália ganharam Marcela Battellini (rebatizada como Lola Salvi) e Alberto Rabagliatti, e no México, apenas uma participante feminina foi escolhida, Lupita Tovar. Na Argentina e Chile, não houve vencedores.
1: Lia Torá, 2: Olympio Guilherme, 3: Antonio Cumellas, 4: Maria Alba, 5: Lola Salvi; 6: Alberto Rabagliati, 7: Lupita Tovar
Muitos jovens que sonhavam com o estrelato na terra no cinema se candidataram. Aqui no Brasil, entre os concorrentes ilustres, desclassificados, estão Patrícia Galvão (a Pagú) e Carmen Miranda, eliminada por não ser brasileira de nascimento.
Porém, o concurso era apenas uma grande fraude publicitária, para promover o nome do estúdio, que não tinha real intenção de promover os vencedores. Em Hollywood, todos eles não foram aproveitados, fazendo apenas trabalhos como figurantes, durante o prazo do contrato.
Lia Torá até estrelou um filme na Fox, A Mulher Enigma (The Veiled Woman, 1929), no qual contracenava com Bela Lugosi, um ator húngaro recém chegado em Hollywood . Mas só conseguiu o papel porque seu marido, o Visconde de Moraes, bancou todos os custos. E mesmo assim, o estúdio não fez nada para promover a obra, que foi perdida com o tempo.
Lupita Tovar também fazia parte do elenco.
Bela Lugosi e Lia Torá em A Mulher Enigma
Olympio Guilherme, após inclusive passar fome em Hollywood, voltou para o Brasil, sendo seguido pouco tempo depois por Lia. De volta à Itália, Alberto Rabagliatti teve uma bem sucedida como cantor no país, e Maria Alba foi a que teve a melhor carreira nos Estados Unidos, embora nunca tenha virado uma estrela de fato.
Lupita Tovar tornou-se uma estrela no México, e estrelou Santa (1931), primeiro filme sonoro feito no país. E Antonio Cumelas foi dos vencedores o que teve o pior destino, sendo também o primeiro deles a morrer, em 1933, com apenas 24 anos de idade.
Lupita Tovar foi a última a partir, com 106 anos de idade, em 2016.
Antonio Cumellas
Antonio Ramón Cumellas i Alsina nasceu em Barcelona, em 08 de maio de 1908. Nascido em uma rica família espanhola, frequentou as melhores escolas de Barcelona, viajou o mundo, e morou em Marshelha, Boston, Cuba e Nova York. Sabendo do concurso da Fox, promovido no país pelo jornal El Día Gráfico e pela revista Arte y Cinematografía, retornou à Espanha para participar, e venceu.
Muita publicidade foi feita em torno de seu nome, como ocorreu com todos os candidatos, mas ele não foi aproveitado pelo estúdio. Sob contrato, tornou-se figurante, como todos os demais colegas.
Seu primeiro filme em Hollywood foi um curta-metragem cômico, Nutty But Nice (1927), no qual também atuaram Lia Torá e Olímpio Guilherme. Os três faziam figuração, como convidados durante um amalucado jantar.
Antonio Cumellas (indicado com a seta) em Nutty, Butt Nice, ao seu lado, a direita, estão Lia Torá (com o rosto atrás do ombro de Antonio) e Olympio Guilherme
Como figurante, o ator não foi creditado nos filmes em que atuou, sendo difícil levantar sua filmografia completa. Pela imprensa da época, sabemos que ele esteve no elenco de outro curta, A Low Necker (1927), e nos longas Titanic (East Side, West Side, 1927), com Alberto Rabagliati e Consciência Velada (Blindfold, 1928), com Maria Alba. Titanic, apesar do nome brasileiro, não tem relação com o famoso navio que naufragou em 1912.
É bem provável que o ator tenho feito figurações em outros filmes.
Alberto Rabagliati, George O'Brien e Antonio Cumellas, nos bastidores de Titanic
Quando os artistas latinos vencedores do concurso chegaram a Hollywood, estava ocorrendo a transição do cinema mudo para o sonoro, o que prejudicou ainda mais suas chances na terra do cinema. Muitos deles não falavam inglês (não era o caso de Cumellas), e o forte sotaque impedia que eles tivessem papéis melhores.
Sem saber como dublar os filmes, e não querendo perder o público internacional que não falava inglês, os estúdios começaram a fazer versões mais baratas de suas produções, faladas em diversos idiomas. Nesta fase, foram feitas versões em francês, inglês britânico (os ingleses não gostavam de ver filmes com sotaque americano), alemão, sueco, espanhol, e até em português.
Estes filmes eram baratos, e considerado sub produtos (muitos deles não foram preservados por total falta de interesse), embora a versão hispânica de Drácula (1931), estrelada por Lupita Tovar, seja considerada uma obra prima e é hoje cultuada.
Carlos Villarías e Lupita Tovar em Drácula
A Fox então escalou Antonio Cumellas para atuar nas versões em espanhol. Ele fez Em Nome da Amizade (En Nombre de la Amizade, 1930) e Marido Y Mujer (1932), e depois foi demitido do estúdio.
Sem emprego, foi para o México, onde atuou em Soñadores de la Gloria (1932), estrelado pela brasileira Lia Torá. Foi Liá quem lhe ofereceu emprego, pois eles eram grandes amigos, assim como todos os vencedores do concurso (com exceção de Rabagliati, que nunca foi muito adepto da comunidade latina de Hollywood).
Olympio Guilherme, Lia Torá, Antonio Cumellas e sua irmã
Em cima: Eva Schnoor, Lia Torá e Clélia Torá (irmã de Lia). Embaixo: Antonio Cumellas, Júlio de Moraes (marido de Lia), L. S. Marinho (correspondente internacional da revista Cinearte), Adhemar Gonzaga e Carlos Modesto, em Hollywood (1929)
Ao voltar para os Estados Unidos, as coisas pioraram para Cumellas. Sem contrato ou novos trabalhos para o cinema, seu visto foi revogado, e a imigração passou a persegui-lo, para deportá-lo. Tentando ajudar ao jovem aspirante a astro, José Crespo, um ator espanhol de certo renome em Hollywood na época, o escalou para um importante papel no latino Duas Noites (Dos Noches, 1933). Foi seu melhor, e último trabalho no cinema.
Romulato Tirado, José Crespo e Antonio Cumellas em Duas Noites
Maria Alba e José Crespo organizaram uma festa para arrecadar fundos para ajudar o ator, para que ele pudesse retornar à Espanha. As vésperas de ser deportado, sua família havia perdido tudo devido aos movimentos políticos que ocorriam no país (que culminaria na Guerra Civil Espanhola de 1936).
Antonio Cumellas voltou para seu país natal, após ser expulso dos Estados Unidos. Seu nome, que outrora havia sido amplamente festejado pela imprensa local, agora era condenado. Ele foi considerado americanizado, e um traidor da pátria, ao ponto de se tornar um perseguido político.
Antonio Cumellas, na imprensa espanhola, em 1927
Antonio Cumellas conseguiu abrigo escondido em um monastério, e fingiu-se de padre para escapar da perseguição. Mas em 1933 (não se sabe a data exata), pouco tempo depois de chegar ao país, foi assassinado (junto com os padres que lhe deram abrigo) por milicianos de Francisco Franco.
A foto de seu corpo morto e torturado estampou os jornais do país. Você as encontra pela internet, mas me recuso a publicar por aqui.
Conheça mais sobre Lia Torá, a primeira brasileira em Hollywood
Em tempo, o primeiro brasileiro em Hollywood foi o ator Syn de Conde, no ano de 1919. Saiba mais sobre eleaqui.
Olá! Que tal editar o trecho do texto "Na Argentina e Chile, não houveram vencedores". Não existe HOUVERAM e sim HOUVE VENCEDORES. "No sentido de existir, acontecer ou de tempo decorrido, o verbo “haver” é impessoal, isto é, não tem sujeito e, por isso, não flexiona para o plural, permanece no singular."
Buenos días, Antonio Cumellas fue asesinado en Madrid en 1936 por los milicianos del frente Popular (comunistas), no por las tropas de Franco como dice en su artículo. Antonio Cumellas era de una familia burguesa catalana y de ideología de derechas (según cuenta el actor José Crespo en sus memorias). Esta fue razón suficiente para asesinar a Cumellas en Madrid en 1936. Al terminar la Guerra Civil en España su nombre aparece en la lista de asesinados en Madrid en 1936, también aparece una foto suya asesinado. Gracias
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Olá! Que tal editar o trecho do texto "Na Argentina e Chile, não houveram vencedores". Não existe HOUVERAM e sim HOUVE VENCEDORES. "No sentido de existir, acontecer ou de tempo decorrido, o verbo “haver” é impessoal, isto é, não tem sujeito e, por isso, não flexiona para o plural, permanece no singular."
ResponderExcluirObrigado, já corrigi.
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ResponderExcluirBuenos días,
ResponderExcluirAntonio Cumellas fue asesinado en Madrid en 1936 por los milicianos del frente Popular (comunistas), no por las tropas de Franco como dice en su artículo.
Antonio Cumellas era de una familia burguesa catalana y de ideología de derechas (según cuenta el actor José Crespo en sus memorias). Esta fue razón suficiente para asesinar a Cumellas en Madrid en 1936.
Al terminar la Guerra Civil en España su nombre aparece en la lista de asesinados en Madrid en 1936, también aparece una foto suya asesinado.
Gracias