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Sangue de Bárbaros, o filme fatídico que matou seu elenco e equipe


Sangue de Bárbaros (The Conqueror, 1956), tinha tudo para ser uma produção esquecida feita por Hollywood na década de 50, se não fosse sua trágica história nos bastidores.

Em 1954 John Wayne aceitou o papel do guerreiro mongol Temujin, que anos mais tarde se tornaria o celebre conquistador Gengis Khan. O papel originalmente havia sido oferecido para Marlon Brando, que recusou o trabalho. O diretor Dick Powell não queria Wayne no papel, mas foi convencido a aceitá-lo pelo produtor Howard Hughes.

Wayne, astro de filmes de farroeste, adorou o roteiro quando leu. O ator que já estava com quase 50 anos, se subemeteu a uma severa dieta para adquirir o físico exigido pelo papel.

John Wayne em Sangue de Bárbaros

Realizado pela RKO, e produzido pelo excêntrico Howard Hughes, o filme custou uma fortuna, e foi um fracasso de bilheteria. Wayne foi considerado uma escolha ruim, e este é considerado um dos piores filmes de sua carreira, tanto que o ator se recusava a falar sobre este trabalho.

Filmado em 1954, o filme só foi lançado em 1956, e seu alto custo de produção e fraco desempenho de bilheteria, resultaram na falência e fechamento da RKO. Até hoje, Sangue de Bárbaros  é considerado um dos piores filmes da história do cinema.

Howard Hughes escondeu todas as cópias do filme, gastando uma pequena fortuna para isto. Antes de morrer, ele passava os dias recluso em sua mansão, assistindo a obra repetidas vezes. Somente em 1974 é que o filme foi exibido pela primeira vez na televisão.

Mas este não foi o maior problema de Sangue dos Bárbaros. O filme foi rodado no deserto de Utah, onde um ano antes (em 1953), o governo norte-americano havia feito extensivos testes nucleares. A equipe de produção sabia disto, mas as autoridades afirmaram que não havia perigo para a saúde no local.

John Wayne, com os filhos, usando um contador geiger
para mediar a radiação nos locais de filmagens

A equipe teve muitas dificuldades no local, e Hughes então mandou levar rochas e sessenta toneladas de terra do local para os estúdios da RKO, onde o filme foi finalizado.

Mas o local não era tão seguro quanto tinha afirmado o governo. Nos anos seguintes, diversos membros da equipe e elenco desenvolveram algum tipo de câncer, devido o contato com a radiação, e acabaram falecendo.

O primeiro a morrer foi o compositor Victor Young, que faleceu em 1956, ano de lançamento do filme.

O diretor Dick Powell, antigo astro de musicais, morreu com 58 anos em 1963, vítima de um câncer de pulmão. Já o ator Pedro Armendariz faleceu meses após a morte de Dick. Ao descobrir que tinha um câncer nos rins em fase terminal, deu um tiro na cabeça.

Ao longo dos anos, vários astros do filme faleceram com algum tipo de câncer. Incluindo grandes astros como John Wayne, Susan Hayward e Agnes Moorehead. O ator Lee Van Cleef faleceu de um ataque cardíaco, mas sofria de câncer na garganta quando morreu.

 Susan Hayward e John Wayne no set de filmagem de Sangue dos Bárbaros

Em 1981 a revista People fez uma matéria, onde listava 91 mortes de câncer entre os 220 membros do elenco e equipe. A publicação não considerou os figurantes, a maioria índios navajos moradores da região. Mas entre os anos 60 e 70, 43% dos habitantes da região morreram vítimas da mesma doença.

Do elenco do filme, apenas Patrick Wayne, filho de John ainda vive. Patrick tinha 16 anos quando participou do filme, como figurante, e lutou contra um câncer na década de 90. Mas o ator sobreviveu e hoje é presidente da John Wayne Cancer Institute, uma fundação que arrecada fundos para pesquisas e tratamentos contra a doença. Seu irmão mais novo, Michael Wayne, que também atuou no filme, faleceu em 2003.

 Patrick Wayne sendo vestido nos bastidores de Sangue dos Bárbaros

Michael Wayne faleceu de complicações de Lupus, mas também teve câncer na década de 80. A John Wayne Cancer Institute foi fundada em 2003, ano de sua morte. O filho de Susan Hayward, Timothy Baker, nunca atuou no filme, mas visitava a mãe durante as filmagens, e desenvolveu câncer na boca.

 Dick Powell, John Wayne e Timothy Baker
comemorando o aniversário de Susan Hayward duante as filmagens

A lista de vítimas é imensa, e inclui os produtores Howard Hughes e Richard Sokolove; os 4 diretores de fotografia; o editor Robert Ford; Carroll Clark e Albert S. D'Agostino, responsáveis pela direção de arte; Al Orenbach, também da arte; os três maquiadores creditados; o diretor de segunda unidade e diretor assistente; assim como o pessoal do departamento de som.

Em 1991 o ator John Hoyt faleceu de câncer no pulmão, tornando-se a última das vítimas do filme fatídico. 

Em 2002 o doutor Robert Pendleton, professor de biologia da Universidade de Utah, afirmou que "com esses números, o caso poderia ser qualificado como epidêmico. A conexão entre radiação atmosférica e câncer em casos individuais é praticamente impossível de se provar conclusivamente. Mas em um grupo desta proporção, espera-se que surjam apenas 30 ocorrências... acredito que a ligação à exposição no set de filmagem de The Conqueror seria suficiente para levar o caso aos tribunais"

Em 2011 o governo norte-americano enfim se pronunciou, negando as acusações e reafirmando que a a região não era perigosa. O porta-voz da Casa Branca declarou "por favor, nós não matamos John Wayne". Embora no mesmo ano, diversas famílias tenha sido indenizadas, em um acordo sigiloso. 

John Wayne e Susan Hayward



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