Beyla Genauer, um dos grandes nomes do teatro e cinema brasileiro faleceu aos 85 anos.
Bejna Genauer nasceu em 23 de maio de 1932, em Horochow, Polônia. De família pobre, aos oito anos de idade montou um teatrinho no estábulo de sua casa, já que o mesmo estava desativado porque a família precisou vender a única vaca que possuíam. Aos finais de semana, cobrava pequenas quantias de amigos e vizinhos, que assistiam as suas encenações, e o dinheiro ajudava nas despesas da casa.
Em 1942, aos 10 anos de idade, com a família, migrou para o Brasil. Eles eram judeus, e fugiam da perseguição nazista, acentuada ainda mais depois que Hitler invadiu a Polônia em 1939. Aqui, mudou seu nome para Beyla, mais sonoro que Bejna.
Aos 14 anos, foi escondida assistir a uma peça de teatro, estrelada por Itália Fausta. Beyla voltou para casa deslumbrada, sabendo que era aquilo que queria para a sua vida, mas diante da sua realidade, parecia apenas um sonho distante.
Anos depois, a adolescente passava seus dias vendo os ensaios do Teatro Universitário e do Teatro do Estudante. Um dia, a ensaiadora Gerusa Camões convidou a jovem Beyla para assumir um pequeno papel de uma atriz que faltara. Porém, sua voz falhou e ela perdeu sua chance.
A jovem então procurou a antiga estrela portuguesa Esther Leão, que há muito deixara os palcos, mas dava aulas de dicção e impostação de voz. Todo dinheiro que ela juntava, gastava em novas aulas com a veterana atriz. Beyla então matriculou-se no curso de rádio teatro da Rádio Ministério da Educação, ministrado por Edmundo Lys.
Nesta época, leu nos jornais que Dulcina de Moraes procurava uma atriz para a peça Chuva (1945). Durante um mês ela foi a porta do teatro, mas sempre lhe faltou coragem de abordar a estrela. Logo seu sonho de teatro ficaria para trás. Professora de hebraico em uma escola primária, Beyla ganhou uma bolsa de estudos nos Estados Unidos, destinada a comunidade judaica. Nos EUA, pensou em cursar teatro, mas o dinheiro da bolsa não dava, e ela precisava complementar a renda trabalhando como garçonete.
Após dois anos, voltou ao Brasil.
Em 1948, o jornal A Noite, em parceria com a Rádio Nacional, lançou um concurso chamado "À Procura de Uma Atriz", para revelar uma nova estrela para a companhia de ninguém menos que Dulcina de Moraes. Beyla se inscreveu, mas ficou em segundo lugar, perdendo o papel para a também novata Yara Cortês. A atriz Lídia Vani também ficou entre as finalistas do pleito.
Porém, Odilon Azevedo, marido de Dulcina e jurado do concurso, a convidou para ingressar na peça Hipocampo (1948), que ele estava ensaiando. Beyla então fez sua estréia nos palcos brasileiros, fazendo a filha de Dinorah Marzzulo e Manoel Pêra (os pais da atriz Marília Pêra).
Beyla, Dinorah Marzullo e Manoel Pêra
No mesmo ano, finalmente Dulcina reuniu-se a Yara Cortês na montagem de Mulheres (1948), e convidou Beyla para também tomar parte do elenco. Por seu desempenho nesta peça, recebeu o Prêmio de Atriz Revelação, dado pela Associação de Críticos Teatrais. O prêmio foi dividido com a atriz Ruth de Souza.
Sérgio Cardoso então implorou para Dulcina rescindir seu contrato, para que ela pudesse ingressar em sua nova Companhia, o Teatro dos Doze, do qual também faziam parte grandes nomes como Sergio Britto, Elisio de Albuquerque, Luis Linhares, Hoffmann Harnish, Jayme Barcellos, Ruggero Jaccobi, Carlos Couto, Rejane Ribeiro, Antonio Ventura, Wilson Grey, Zilah Maria e Tarcísio Zanatta.
Com Sérgio Cardoso, fez a Ofélia em Hamlet. Também atuou nas peças Arlequim, Servidor de Dois Amos e A Tragédia em Nova York, que Beyla considerava seu melhor desempenho. Todas as peças foram realizadas no ano de 1949.
Com Sérgio Cardoso em Arlequim, Servidor de Dois Amos
Em 1949 Beyla fez sua estréia no cinema, atuando na comédia Caçula do Barulho (1949), do diretor italiano (radicado no Brasil) Riccardo Freda. O filme era estrelado por Oscarito, Grande Otelo, Anselmo Duarte e a estrela italiana Gianna Maria Canale, esposa de Freda.
Porém, em 14 de julho de 1949 ela casou-se com o jornalista Nahum Sirotsky, na época correspondente da Rádio Mayrink Veiga. Ela então abandonou a carreira artística por um tempo, para dedicar-se ao casamento.
Em 1954 esboçou um retorno, sendo escalada para o filme Pecado nos Trópicos, que seria produzido por Mario Civelli e dirigido por Oswaldo Sampaio. A produção seria estrelada pela estrela italiana Silvana Pampanini, mas o projeto acabou não indo pra frente. Beyla Genauer então retornou ao teatro, substituindo a vedete Mara Rúbia como a Bruxa Má em Branca de Neve e os Sete Anões (1955).
Em 1955 ela ingressou para a Companhia Teatral de Raul Roulien, e mudou-se para São Paulo para encenar a peça Ponha a Mulher no Seguro (1955), estrelada por Roulien e sua esposa Nelly Rodrigues.
Beyla deixou Raul Roulien (que na década de 30 havia sido astro em Hollywood), para atuar em O Casamento (1957) e O Banquete (1957), de Lucia Benedetti. Depois ainda integrou a Companhia Os Artistas Unidos (de Henriette Morineau) e a Companhia de Maria Della Costa.
Durante sua estadia em São Paulo, estreou na televisão, fazendo peças no Grande Teatro Tupi, na PRF3 Tupi de São Paulo. Também atuou na TV Paulista e TV Record. Seu papel mais marcante na televisão nesta época foi no teleteatro O Médico e o Monstro (1957), encenado na Tupi. Rodolfo Mayer interpretava o Dr. Jeckyll e Mr. Hyde nesta obra adaptada e dirigida por George Walter Durst.
Em São Paulo também ela retornou ao cinema, atuando em Rebelião em Vila Rica (1957), um dos primeiros filmes coloridos brasileiros. O filme era uma adaptação moderna da história de Tirandentes, que se passava nos tempos atuais.
Por este desempenho ela ganhou o Prêmio de Melhor Atriz no Festival de Maringá. Em São Paulo ela ainda faria mais um filme, O Gato de Madame (1957), uma comédia estrelada por Mazzaropi e Odete Lara.
De volta ao Rio de Janeiro, continuou atuando nos palcos, ingressando na Companhia de Paulo Francis, onde estrelou a peça Uma Mulher em Três Atos, ao lado do ator Oswaldo Loureiro. O texto foi escrito por Millôr Fernandes, que na época assinava colunas teatrais como nome de Vão Gogo.
Também fez teleteatros na TV Rio e na Tupi do Rio de Janeiro. Em 1959 assinou um contrato de exclusividade, para inaugurar a TV Continental, onde estrelou o seriado Um Amigo em Cada Rua, ao lado do ator Paulo Goulart.
Em 1961, após atuar em Mulheres e Milhões (1961), mudou-se com a família para os Estados Unidos, onde cursou o lendário Actor's Studio.
Com o elenco e equipe na pré estreia de Mulheres e Milhões
Só retornou ao Brasil em 1965, a convite do diretor inglês Rex Endsleigh, para estrelar Crime de Amor (1965). Endsleigh havia vindo para o Brasil a convite da Companhia Cinematográfica Vera Cruz, e este foi seu único filme como diretor.
O Crime do Amor era baseado em uma história real. Em 1960 Neyde Maria Maia Lopes sequestrou e matou uma menina de quatro anos. A pequena Tânia era filha de seu amante, que a deixara recusando-se a largar a esposa e filha. Neyde então sequestrou a criança na porta da escola, torturando-a até a morte. O crime ficou conhecido na época como "O Crime da Fera da Penha".
No elenco ainda os atores Carlos Alberto e a jovem Joana Fomm.
Nos anos seguintes Beyla Genauer foi trabalhando com menos intensidade. Em 1971 atuou no filme Crepúsculo de um Ídolo (1971) e fez participações nas novelas Tchan, a Grande Sacada (1976), na TV Tupi e Dona Xepa (1977) na Rede Globo. Dona Xepa foi estrelada por sua antiga colega Yara Cortês.
Em 1979 fez seu último filme, interpretando a cantora Ademilde Fontana no filme A Rainha do Rádio (1979), pelo qual ganhou o Prêmio de Melhor Atriz no Festival de Brasilia.
Também continuou trabalhando no teatro, destacando-se em A Milionária (1983), com Ítalo Rossi.
A Milionária, com Ítalo Rossi
Beyla também escreveu diversos livros, e com o marido Nahum Sirotsky mudou-se para Israel. O jornalista faleceu em 2015.
Beyla Genauer faleceu em uma casa de repouso em Tel Aviv em 23 de março de 2018, com 85 anos de idade. Infelizmente, sua morte passou despercebida pela imprensa brasileira, que nada noticiou.
Beyla Genauer faleceu em uma casa de repouso em Tel Aviv em 23 de março de 2018, com 85 anos de idade. Infelizmente, sua morte passou despercebida pela imprensa brasileira, que nada noticiou.
Com Jardel Filho e Henriette Morineau na peça Um cravo na Lapela
Retrato de Beyla Genauer pintando por Moacir Scliar, em 1960
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5 Comentários
Muito boa a postagem sobre Beyla Genauer... adorei a foto da estréia de 'Mulheres e milhões'... o dia que eu vi Odete Lara nas escadarias do Cine Marrocos (em 1964 na estreia de 'Esse Rio que eu amo') ela estava usando a mesma estola de pele branca (coitado do urso)...
ResponderExcluirÉ inadmissível, a inoperância da Imprensa brasileira em não ter divulgado o falecimento desta importante atriz para as nossas Artes Cênicas. Eu amei Beyla no filme " Rebelião em Vila Rica", o qual vi várias vezes. Gostaria muito de ver também: A raínha do Rádio". e "Crime de Amor", que apesar do enredo ser interessante, e da presença dela e carlos Alberto, não o encontro em lugar algum. Se alguém souber, favor me avisar n101058@yahoo.com.br grato
ResponderExcluirEu conheço o diretor de A Rainha do Rádio. É Luiz Fernando Goulart. Não sei se ele tem registro digital do filme. Repassei sua mensagem para ele. A ver.
ExcluirTriste nosso país ser sem memória, pessoa linda cheio de histórias pena não ter visto nenhum filme dela
ResponderExcluirAcabei de ler o livro dela O galo de Chagall, muito bom aliás e me interessei pela vida da atriz e escritora.
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