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A Tragédia de A Arca de Nóe (1928), o filme mais fatal da história de Hollywood


Em 1928 o cineasta Michael Curtiz (que anos mais tarde dirigia Casablanca, 1942), dirigiu A Arca de Nóe (Noah's Arc, 1928), e durante as filmagens cometeu verdadeiras atrocidades em busca do realismo. O filme semi-mudo é responsável por uma das maiores calamidades da história do cinema, e fez com que os Estados Unidos criassem leis contra abusos físicos em sets de gravação.



A Arca de Noé era uma super produção da Warner Bros, e tinha um orçamento milionário. Concebido inicialmente para ser um filme mudo, a produção estava sendo realizada no período da transição para o cinema sonoro, e algumas cenas então foram gravadas com som, usando o novo sistema Vitaphone.

Dirigido pelo húngaro Michael Curtiz, tinha como astros Dolores Costello (a avó de Drew Barrymore), Noah Berry e George O'Brien, cuja biografia, escrita anos mais tarde, nos conta alguns dos absurdos dos bastidores do filme.

No elenco também estava a jovem Myrna Loy, em começo de carreira.


Dolores Costello e George O'Brien em A Arca de Noé


Myrna Loy em A Arca de Noé


O filme mesclava tempos modernos com a história bíblica, traçando um paralelo entre a Primeira Guerra Mundial e o Dilúvio provocado pela ira de Deus. Para conseguir o máximo de realismo nas cenas que envolviam a inundação da Terra pelas águas, Curtiz extrapolou todos os limites para obter as imagens realizadas. A ponto de ser considerado louco pelos outros membros da equipe.

George O'Brien, no livro "A Man's Man in Hollywood", escrito por David W. Manefee, entretanto, não achava que o diretor fosse louco, mas sim apenas um sádico abusivo. Ele relembrou outros abusos nos bastidores, além da famosa e infame tragédia nas gravações do dilúvio: "Quando chegou a hora de gravar a cena em que me cegavam usando o ferro quente, ele disse ‘George, eu quero que aquilo chegue bem perto de você, garoto. Quero que o público grite.’ Eu senti o calor daquela coisa perto dos meus olhos e gritei em desespero. Passei o resto do filme cego. Foi uma experiência e tanto. Aqueles efeitos especiais que simulam a cegueira ainda não tinham sido inventados, então colocavam em mim uma espécie de cola daquelas usadas para colar bigodes falsos. Eu fiquei com quatorze feridas em cada olho, precisava de alguém para me guiar. Quando colocavam a cola pela manhã era um inferno para retirar, porque meus cílios saíam junto’.

Para obter cenas impressionantes na gravação do dilúvio, o diretor negligenciou qualquer norma de segurança, a ponto do operador de câmera protestar. Curtiz então responde "eles vão ter que se arriscar", e substituiu um câmera.

Um tanque gigantesco com um cenário suntuoso representando um templo babilônico foi construído, e milhares de figurantes foram colocados no local que seria destruído por toneladas de água para a gravação da cena. Além disto, muitos animais também preenchiam o lugar.

Acreditasse que foram usados cerca de oito milhões de litros de água.



Ao sinal do diretor, milhares de litros de água foram derramados de diversos locais diferentes, atingindo em cheio os figurantes, animais e o cenário. A água arrastava tudo com violência, jogando as pessoas contra as paredes. Além disto, crocodilos e cobras estavam haviam sido colocados dentro dos tanques, para aumentar o caos que a gravação se tornou.

A força inesperada da enxurrada destruía o cenário, e escombros se misturavam ao caos, que era gravado por um diretor delirante em êxtase, que jogava mais tábuas e pedaços de madeira na água, para acrescentar mais realismo, enquanto pessoas se afogavam e afundavam nas águas.

George O'Brien, sem poder enxergar devido as lesões causadas em outra cena, estava amarrado no cenário, e teve as unhas dos pés arrancadas pela força da água. Dolores Costello desmaiou, e teve seu estomago machucado com a pressão da água, precisando ficar dois meses internada em um hospital. Além disto, a atriz também contraiu pneumonia após a gravação. Anos mais tarde, em uma entrevista, ela lembrou que o estúdio ficou "coberto de lama e sangue".

Foram preciso 35 ambulâncias para levar todos os feridos ao hospital, e três figurantes morreram na gravação da cena, e outro teve a perna amputada. Entre os figurantes sobreviventes estavam os futuros astros John Wayne, Ward Bond e Andy Devine, que conseguiram nadar para um lugar mais seguro. O incidente levou à implementação de regras de segurança no ano seguinte.

Dezenas de animais também foram mortos neste desastre cinematográfico.




Houve ainda outros graves incidentes durante a produção. Em uma das cenas, George O'Brien precisava ser esfaqueado, e uma adaga cinematográfica (cuja lâmina retraia para dentro seria usada). Mas o diretor trocou por uma real, fazendo com que o ator fosse realmente ferido. Enquanto ele gritava de dor, e perdia muito sangue, Curtiz continuou a rodar a cena. Dolores Costello gritava apavorada, pedindo que socorressem seu colega. Alguém então gritou corta, mas Michael Curtiz gritou mais alto, dizendo que ninguém tocasse em O'Brien até que ele gravasse um close-up de seu sofrimento. Só depois O'Brien receberia tratamentos médicos.

Houve ainda mais um caso, quando um ator caiu de uma plataforma alta, após orientações erradas do diretor. Sem saber onde estava pisando, ele caiu e quebrou as duas pernas e os dois tornozelos.

Nada aconteceu contra o diretor ou o estúdio, e o filme foi lançado com toda a pompa e circunstância pouco tempo depois. A Arca de Nóe (1928), não chegou a ser um fracasso de bilheteria, mas não obteve o retorno financeiro esperado.

Michael Curtiz continuou filmando sem nenhuma consequência pelo que fez, tornando-se um dos diretores mais aclamados da história do cinema. Mas os crimes cometidos durante a produção ao menos geraram as primeiras leis de segurança do trabalho em um estúdio cinematográfico.

Todos os diários de filmagem deste filme foram destruídos pela Warner Bros.


Michael Curtiz e Dolores Costello nos bastidores de A Arca de Nóe






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