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Lia Cortese, uma estrela italiana no cinema brasileiro



La Vita Bella de Lia Cortese - Por Ygor Kassab

É muito provável que você já tenha assistido ao filme A Vida é Bela, estrelado e dirigido pelo ator Roberto Benigni. Inclusive, a obra recebeu o Oscar de melhor filme estrangeiro em 1999. A história se passava na encantadora Arezzo, pequena cidade da Toscana, e os cenários nos envolviam em uma atmosfera poética, principalmente, nas cenas passadas na Piazza Grande. 

 (Lia nos anos de 1950 – acervo pessoal)

As belezas históricas do local, nos faz lembrar de outro acontecimento especial: o nascimento da atriz Lia Cortese, ocorrido, justamente, naquela cidade italiana. O seu nome de batismo é Lia Faltoni e ela veio ao mundo no dia 03 de março de 1931, filha de Donato Faltoni e Gina Gudini Faltoni. Cresceu como uma menina muito esperta e sagaz, demonstrando desde cedo uma inclinação para declamar os mais variados textos, transmitindo assim grandes emoções.

Em sua adolescência, o mundo passava por enormes mudanças advindas da Segunda Guerra Mundial e a própria cultura vivia momentos de avanços industriais. Diante de tantas agitações, surgiu dentro de seu coração, uma vontade de conhecer novos horizontes e o Brasil foi o local escolhido para essa aventura. O desembarque no Novo Mundo se deu em Santos, litoral paulista, no dia 04 de maio de 1952 e o seu irmão Silvano Faltoni, que já morava no Brasil, pode lhe dar os primeiros nortes em busca de uma vida nova. 

(Cartão de Migração de Lia Cortese, 1952, – site: https://www.familysearch.org/search/)

A beleza de Lia Cortese, nome artístico que logo adotaria, era estonteante e não demorou muito para que fosse notada nos ambientes da sétima arte. Antes disso, porém, ela havia participado do concurso Miss Objetiva (1952), promovido pela Associação dos Repórteres Fotográficos, tirando o segundo lugar, ganhou a posição de Princesa. Esse foi um ponto importante para o começo da tão sonhada carreira artística, haja vista, que chamou a atenção de alguns produtores de cinema. 

 (Lia Cortese – Cinelândia ed. 0116 – 1954) 

Sobre alguns dos desejos da jovem italiana, recém-chegada a um novo país, o crítico de cinema Oscar Nimtzovitch escreveu, em 1952, no Correio Paulistano: “Um desejo (que vem desde sua infância) é morar em uma casa perto do mar, um pouco afastada da cidade, um barco, e, muitos discos de músicas românticas. Gosta de música clássica, ouvindo diariamente composições de Chopin e Beethoven. As canções napolitanas, para ela, são deleite, fazem esquecer as horas e mergulhar num mundo irreal e belo”.

O primeiro filme de sua carreira foi Capricho de Amor, de 1953, dirigido por Hermogêneo Rangel, da Rangel Filmes. Logo depois, em 1954, foi convidada a participar da obra Dúvida, ao lado da atriz Fada Santoro, porém, segundo entrevistas dadas na época, haveria cenas mais ousadas, que ela preferiu não fazer. Foi, mais ou menos, por essa época que ela surgiu em uma reportagem a cores produzida pela Cinelândia, dividindo a matéria com as atrizes Vera Nunes e Eva Wilma.

(O Rondó das Estrelinhas – Revista Cinelândia – ed. 00043 – 1954)

Lia tinha 1,61 de altura e um cabelo curtinho moderníssimo. Seu semblante refletia uma grandiosa formosura, inclusive, ela era comparada a atriz norte-americana Ann Blyth. Sobre os seus dotes físicos, a revista Cinelândia comentou, em 1954: “Tem o moreno cálido das italianas, olhos definitivamente negros, cabelos escuros, boca rasgada e risonha, e uma cinturinha própria mesmo, para os corseletes, que a nova moda parisiense impõe a algumas silhuetas. No mais, é estrela de cinema, e felizmente para a sua carreira que começa, parece-se com Ann Blyth, conforme a Cinelândia mesma já divulgou em um dos seus números anteriores”. No entanto, não era só a beleza física que despontava em sua vida.

O talento para as artes dramáticas também começou a se sobressair. Lia escrevia poemas também e ansiava por ter uma chance maior para demonstrar a sua força artística. Foi em 1955, que a sua carreira começou a dar novos voos, tendo feito o filme Os Cinco Ladrões, com direção de Maurício de Barros e produção da Cruzeiro do Sul. Pouco depois, houve uma dobradinha profissional com Maurício de Barros, que lhe convidou para atuar no filme Madrugada de Sangue, de 1956.

Foi por essa obra que o talento de Lia Cortese foi enaltecido pela crítica cinematográfica brasileira, recebendo os prêmios Saci, de melhor atriz coadjuvante, distribuído pelo jornal Estado de S. Paulo e o prêmio Governador do Estado.

 (Lia Cortese em um de seus filmes – 1955 – acervo pessoal)

Nesse ínterim, ela participou de alguns programas de televisão, primeiro fez uma aparição em No Mundo dos Espetáculos, no canal 13, TV Rio, que era apresentado por Alfredo de Almeida e depois surgiu também Na Batida do Samba, apresentado por Sérgio Porto, pelo canal 5, TV Paulista, onde desfilava como modelo. Além disso, foi capa da revista O Mundo Ilustrado, edição 0013, e fez muitas propagandas para a marca de sabonete Cinta-Azul, em anúncios veiculados pela revista Radiolândia. Em 1958, um acontecimento especial em sua vida: o casamento com Luigi Picchi, outro grande ator de origem italiana, que se estabeleceu no Brasil e aqui construiu uma carreira de sucesso. Tendo feito importantes filmes, como Modelo 19 (1950), Na Garganta do Diabo (1959), A Ilha (1963) e O Guarani (1979). Desta união, nasceram Adriano e Roberta. Além, é claro, dos netos que vieram tempos depois.

 (Revista Cinelândia – ed. 000127 – 1958. Foto: Hildo Passos)

A maior ocupação de Lia, nesse período, foi cuidar dos filhos, algo que ela fazia com muito prazer. Depois de cinco anos longe dos ecrãs cinematográficos, ela voltou as telas, em 1961, no filme Por Um Céu de Liberdade, dirigido por Luiz de Barros.

Na obra, dividiu a cena com os atores John Herbert e Delorges Caminha. Esse seria o último filme de sua breve carreira, mas ela nunca seria esquecida por seus admiradores. Um deles, sou eu!

Todavia, Lia Cortese reapareceu na mídia brasileira, em 1964, sendo garota-propaganda do Sabão em Pó VIVA. Havia um jingle que grudava como chiclete na cabeça dos telespectadores. Essa foi a última imagem artística dessa mulher que deixou a sua terra natal tentando construir uma vida nova no Brasil.


(Lia Cortese em anúncio do sabão em pó VIVA – 1964, acervo pessoal) 


Hoje, a nossa estrela vive tranquila e longe dos holofotes, em sua charmosa Arezzo, Itália. E acaba de entrar para o time das divinas nonagenárias, assim como Ann Blyth, que logo fará 93 primaveras. Parabéns, Lia Cortese. O Brasil agradece a sua contribuição para o nosso cinema. - Ygor Kassab

(Lia em 2019, junto de seu filho Adriano e do neto Bruno. Acervo Adriano Picchi)





Notas bibliográficas:

Correio Paulistano – 1952 – edição 29659 - pág 15 por Oscar Nimtzovitch.

Revista Cinelândia – 1954 – edição 00033 - pág 54;


Leia também:  A estrela Ann Blyth

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