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Os artistas que morreram durante a pandemia da gripe espanhola


Entre 1918 e 1920 mais de 500 milhões de pessoas (27% da população mundial da época) foram contaminados pela Gripe Espanhola. Não se tem números exatos, mas acredita-se que entre 17 e 50 milhões de pessoas morreram durante a pandemia mundial. Alguns historiadores chegam a afirmar em 100 milhões de vítimas, ou aproximadamente 5% da população global.


Embora os primeiros casos tenham sido registrados em um campo de treinamento de soldados norte-americanos, no Kansas, foi a Espanha que acabou "levando a fama". Enquanto os soldados americanos espalhavam o vírus durante a Primeira Guerra Mundial, a Espanha, que permaneceu neutra durante o conflito, tinha uma imprensa livre, e seus jornais foram os primeiros a noticiarem a gravidade da doença. Além disto, o rei espanhol Afonso XIII foi uma das primeiras celebridades a anunciar que também estava infectado.

E apesar de Afonso ter sobrevivido, a doença fez vítimas fatais entre todas as classes sociais. Nobres, políticos, atletas, empresários milionários e artistas. Entre os mortos ilustres estavam a primeira dama norte-americana Rose Cleveland, o escritor Edmond Rostand (autor de Cyrano de Bergerac), o pintor Gustav Klint e as crianças Jacinta e Francisco Marto, os pastorinhos que receberam a visão de  Nossa Senhora de Fátima, em Portugal.


No Brasil, a "hespanhola" (como era chamada por aqui) vitimou a educadora Anália Franco e o Presidente da República, Rodrigues Alves, em seu segundo mandato. Rodrigues Alves, quinto presidente da República, havia promovido a campanha da vacinação obrigatória e promoveu reformar urbanas e sanitárias no Rio de Janeiro, para evitar o surto de varíola que se espalhava em 1904, o que resultou na Revolta da Vacina, apoiada pelos alunos da Escola Militar da Praia Vermelha.

O empresário Frederick Trump, avô do presidente norte-americano Donald Trump foi outra das vítimas da doença.

O presidente Rodrigues Alves

Como medida de segurança, cinemas e teatros pelo mundo foram fechados, para evitar aglomerações. Competições esportivas também foram suspensas, e praticamente todos os jogadores do time do Fluminense da época foram infectados.



Nos Estados Unidos, mais de 80% dos cinemas permaneceram fechados, afetando em muito a indústria cinematográfica. O cinema mundial também registrou vítimas entre seus astros, que listamos abaixo:

Harold Lockwood (1887-1918)

Ator e diretor norte-americano, era um grande astro do cinema mudo. Faleceu em 19 de outubro de 1918, aos 31 anos de idade.



Myrtle Gonzalez (1891-1918)

Embora nascida na Califórnia, Myrtle era filha de mexicanos, e foi a primeira estrela latina de Hollywood. Entre 1913 e 1917 fez 78 filmes. Mas abandonou o cinema em 17, para se casar. Pouco tempo depois, em 22 de outubro de 1918, morreu vítima da gripe espanhola, aos 27 anos de idade.


William Courtleigh Jr. (1892–1918)


Ator norte-americano, atuou em 14 filmes entre 1914 e 1918. Morreu com 25 anos de idade.



Vera Kholodnaya (1893–1919)


Atriz russa, considerada a rainha das telas de cinema de seu país, foi uma grande estrela cinematográfica nos tempos dos Czares. Faleceu aos 25 anos de idade. Seu marido, o piloto de corridas Vladimir Kholodny morreu dois meses após a morte de Vera. Seu pai e mãe também morreram nos dias seguintes após a morte da atriz.


Andrée Lumière (1894–1918)


Talvez a primeira estrelinha cinematográfica, filha de Auguste Lumière, protagonizou dois filmes exibidos na primeira sessão de cinema, em 1895, O Almoço do Bebê (Repas de Bébe, 1895) e A Pesca do Peixe Dourado (La pêche aux Poissons Rouges, 1895). Ao todo atuou em seis filmes do pai e do tio Louis, os Irmãos Lumière. Morreu aos 24 anos de idade.



George Freeth (1883-1919)

Nascido no Hawaí, é considerado o pai do surf moderno. Morreu vítima da gripe espanhola, aos 35 anos,  em 1919, quando trabalhava como salva-vidas em Los Angeles. Em 1913 atuou no filme The Latest in Live Saving.



Charles Tomlinson Griffes (1884-1920)

Pianista e compositor norte-americano. Fez trilhas sonoras para os filmes da Paramount. Morreu aos 35 anos de idade.


Edna Hunter (1876–1920)


Atriz coadjuvante muito requisitada nos tempos do cinema mudo, morreu aos 43 anos de idade.


True Boardman (1880–1918)


Ator norte-americano, mais lembrado por interpretar Lord Greystoke em Tarzan, O Homem Macaco (Tarzan of the Apes, 1918), o primeiro filme do personagem para os cinemas. Morreu aos 38 anos de idade.


Márta Szentgyörgyi (1888–1918)


Popular cantora de ópera na Hungria do começo do século XX, atuou em 11 filmes em seu país. Morreu aos 29 anos de idade.




Chefe Dark Cloud (1861–1918)


Nascido em uma tribo indígena no Canadá, fez diversos filmes no papel de nativos americanos. Morreu em 1918, aos 57 anos de idade.



Judit Bánky (1896–1918)


Atriz astro-húngara, faleceu com apenas 22 anos de idade.



Frank Hallack (1890–1918)


Ator norte-americano, morreu de gripe espanhola aos 27 anos de idade, enquanto lutava na Segunda Guerra Mundial. Na década de 10 morou junto com o ator Hal August, e assinava com o nome Frank August. Ambos diziam que eram irmãos, mas mais tarde foi comprovado que não tinham parentescos. As suspeitas de formarem um casal homossexual destruiu sua carreira de ambos no cinema.



Gilda Langer (1896–1920)


Atriz alemã. Estava escalada para ser a mocinha do filme O Gabinete do Dr. Caligari (The Cabinet of Dr. Caligari, 1919), quando contraiu a doença. Morreu com 23 anos.


Lya Borré (???? - 1920)

Atriz alemã, trabalhava na mesma companhia de Gilda Langer, com quem também atuou no cinema.



John H. Collins (1889–1918)


Diretor cinematográfico, foi casado com a estrela Viola Dana, que protagonizou diversos de seus filmes. Morreu aos 28 anos.


Louise Vale (1881–1918)


Em 1915 a atriz protagonizou Jane Eyre nas telas de cinema. Voluntariou-se para ser enfermeira dos doentes durante a pandemia, e acabou morrendo devido a doença, aos 37 anos de idade.



Cecil Fletcher (1888–1918)


Ator inglês. Morreu de gripe, aos 30 anos, nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial.

Clara Kimball Young e Cecil Fletcher


Betty Gray (1895–1919)


Betty Gray era outra grande estrela das telas, e em seus 24 anos de vida, atuou em mais de 50 filmes.


Henry Ragas (1891–1919)


Pianista da Original Dixland Jazz Band, uma das primeiras bandas de jazz da história. Atuou em The Good for Nothing (1917), e teve suas gravações incluídas em mais de 100 trilhas sonoras ao longo dos anos. Morreu com 28 anos.




Hazel Neason (1891–1920)


Atriz e roteirista, atou em mais de 60 filmes, antes de morrer aos 28 anos de idade.


Sir  Charles Wyndham (1837–1919)

Um dos maiores astros dos palcos londrinos do final do Século XIX, tornou-se membro do Império Britânico e era chamado de "o rei das matinées". Morreu com 81 anos de idade.



Mary Moore (1890–1919)


Atriz irlandesa, vinda de uma família tradicional de atores. Apesar de muito mais nova que ele, era casada com Charles Wyndham. Morreu 15 dias depois do marido, com 29 anos de idade.


Julian L'Estrange (1880–1918)


Outro astro do teatro inglês, mudou-se para os Estados Unidos para atuar em Hollywood. Foi casado com a estrela Contance Collier, com quem fez vários filmes. Morreu com 38 anos de idade.



Gaby Deslys (1881–1920)


Estrela dos palcos franceses, Gaby Deslys era uma estrela burlesca, e seus chapéis extravagantes eram sua marca registrada. Atuou em cinco filmes, e foi a primeira atriz a fazer Strip Tease na Broadway, em 1911. Seu romance com o Rei Manuel II, de Portugal, era notório. Morreu aos 38 anos de idade.



Phil Lang (1886–1919)


Vice presidente do estúdio Kalem, também foi roteirista e cenógrafo na Vitagraph. Faleceu com 33 anos.



Aimee Dalmores (????- 1920)

Nascida na Itália, Aimee Dalmores se tornou uma estrela na Broadway. Fez apenas dois filmes, antes de morrer, em 1920.



Gerald Henson (1886–1918)


Ator inglês, casado com a atriz Sara Allgood. Morreu aos 32 anos de idade, durante uma turnê na Nova Zelândia.



Shelly Hull (1884-1919)


Irmão mais velho do ator Henry Hull e esposo da atriz Josephine Hull, o ator faleceu aos 34 anos de idade.


Mogens Enger (1894–1918)


Ator dinamarquês, se tornou um astro do cinema alemão, onde também foi diretor. Tinha 24 anos de idade.


Wayland Trask (1887–1918)


Coadjuvante em inúmeras comédias, faleceu aos 31 anos de idade.


Luray Huntley (1890–1919)


Casada com o ator Walter Long, atuou em diversos filmes do diretor D. W. Griffth. Morreu aos 28 anos de idade.



Walter Stradling (1875–1918)


Importante cinegrafista e diretor de arte norte-americano. Morreu aos 43 anos de idade.

Walter Stradling, atrás da câmera


Einar Zangenberg (1882–1918)


Ator e diretor dinamarquês, foi um dos primeiros atores a interpretar Sherlock Holmes, nos cinemas. Faleceu aos 35 anos de idade.


Einar Zangenberg, como Sherlock Holmes, amarrado nos canos



Charles Gunn (1883–1918)


Astro da Vitagraph, foi um dos primeiros atores a interpretar o Dr. Watson, o ajudante de Sherlock Holmes, nos cinemas. Faleceu aos 35 anos.

Charles Gunn e Alma Rubens


Donna Drew (1897–1918)


Morta aos 21 anos, Donna Drew fez poucos filmes, mas era uma atriz que começava a despontar para o estrelato. Seu marido, o ator Arthur Moon (1889-1918), também morreu vítima da gripe espanhola.


Donna Drew

Arthur Moon


Joseph Kaufman (1882–1918)


Ator e diretor norte-americano. Faleceu aos 36 anos de idade.



Também perderam a vida os atores Jode Mullally (1886-1918), Doris Fellow (????-1918), Tessie Harron (1896-1918), Chester Ryckman (1897-1918), Edith Strickland (1883-1918), Frederick Webber (1889-1918), Chisty Walker (1898-1918), Walt Rosenberg (1887-1918), Lionel Bradshaw (1892-1918), o ator e diretor Charles Post Mason (???? - 1918) e o diretor de arte G. Harold Percival (1888-1918).

A escritora Hedwig Lachmann também foi uma das vítimas da gripe espanhola. Ela era avó materna do diretor Mike Nichols. O pai de Myrna Loy também morreu graças a doença, bem como a mãe do magnata da imprensa William Handolph Hearst. O pai de Greta Garbo foi outra das vítimas da gripe espanhola, e a atriz, quando adolescente, também foi contagiada pela doença, mas sobreviveu.

Entre os sobreviventes, na indústria do cinema, destacamos ainda Walt Disney, Margaret Dumont, Jim Jordan e Mary Pickford.

A Gripe Espanhola no Brasil

Além de matar o presidente da república, Rodrigues Alves, a Gripe Espanhola fez diversas vítimas no Brasil.

Os primeiros casos registrados por aqui apareceram em novembro de 1918, provavelmente trazidos pelo navio Demerara, vindo da Europa, e que atracou em Recife, Salvador e Rio de Janeiro.  

Cerca de 35 mil pessoas morreram no Brasil. 




Anos mais tarde, o compositor Assis Valente compôs o samba E O Mundo Não Se Acabou, gravado por Carmen Miranda, relembrando o pânico causado pela doença na época.


Foi durante a pandemia de gripe espanhola também que surgiu no Brasil a caipirinha, hoje uma bebida tradicional. Paulo Vieira, um fazendeiro de Piracicaba, criou uma beberagem para tratar seus camponeses, composta de cachaça, limão, alho e mel. Após o surto da doença, a bebida continuou a ser feita, agora sem alho, e com açúcar no lugar do mel.

No cinema brasileiro não houve muitas vítimas. Mas não por a doença não ter se espalho pelo país, e sim porque até 1920 a nossa produção cinematográfica era muito pequena na época. Até esta data, foram feitos poucos, mas importantes filmes brasileiros. Além disto, os ciclos regionais, onde diretores (muitas vezes amadores) produziam filmes em suas cidades, tinham no elenco amigos e parentes do diretor como astros.

Mas o teatro brasileiro sim foi fortemente afetado. A primeira vítima foi a atriz baiana Ismênia Santos, que morreu aos 57 anos de idade. Ismênia é avó da cantora Ismênia dos Santos, que teve uma sólida carreira entre as décadas de 30 e 50.


Ismênia Santos

Os teatros de todo o Brasil foram fechados para tentar conter o contágio. Mas em uma mesma semana, morreram a vedete Beatriz Martins, a corista Luíza Lopes, os atores Alvaro Cabral, João Carvalho, José Gonçalves Leonardo e Robespierre Trovão (pai da atriz Zilka Salaberry).

Algumas das vítimas da gripe espanhola, mortas na mesma semana

A cantora e atriz portuguesa Virginia Aço, foi outra das vítimas. Ela era colega de companhia de Beatriz Martins e Olympio Nogueira, um dos atores mais populares do Brasil na época. 

Virginia Aço

Olympio Nogueira (1878-1918) era baiano, e ficou muito popular por ser o primeiro ator a interpretar Jesus Cristo na peça sacra O Mártir do Calvário. Ele também morreu de gripe espanhola, em 16 de outubro de 1918. Dos astros brasileiros mortos pela epidemia, Olympio é o único que se tem registro de ter atuado no cinema, estrelando algumas operetas como A Viúva Alegre (1909).

Olympio Nogueira

Também cantor, e pioneiro da gravações em disco no Brasil, você pode ouvir uma de suas canções neste site aqui.


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