Por Diego Nunes
Na década de quarenta, os Estúdios da Universal produziram uma série de filmes de aventura, com roteiros bastante fantasiosos e cenários deslumbrantes e exóticos protagonizados por Maria Montez e Jon Hall. O mundo vivia o terror da Segunda Guerra Mundial, e os romances coloridos eram uma válvula de escape da população norte-americana para fugir dos problemas e o medo da guerra.
Maria Africa Gracia Vidal naceu em Barahona, na República Dominicana, no ano de 1912 (ela mentia ser de 1917). Filha de um homem muito rico de descendência espanhola, a menina sempre quis ser atriz, e recebeu a educação adequada para isto, inclusive tendo aulas de inglês. Em 1932 seu pai, Vice Consul da Espanha, servia na Irlanda e foi onde ela conheceu um banqueiro irlandês, com quem se casou. Após sete anos casada, largou o marido e mudou-se para os Estados Unidos, onde começou a trabalhar como modelo.
Logo recebeu convites para atuar no cinema, aceitando o oferecido pela Universal. Foi ela quem se batizou "Montez", em homenagem a dançarina Lola Montez, de quem seu pai era fã. A Universal a colocou em produções baratas como Castigo Merecido (Boss of Bullion City, 1940), Mulher Invisível (The Invisible Woman, 1940) e Caçadores de Notícias (Lucky Devils, 1941). Depois foi emprestada para a Fox, onde atuou em uma única e pequena cena em Uma Noite no Rio (That Night in Rio, 1941), mas foi o suficiente para chamar a atenção.
No filme Maria faz uma garota que esta conversando com Don Ameche, o que provoca ciúmes em sua parceira, interpretada pela nossa Carmen Miranda. Irritada, a pequena notável grita em bom português: "Caí fora!".
Maria, Caí Fora!
A carreira da atriz seguiu em filmes de baixo orçamento como Bandoleiros do Deserto (Raiders of the Desert, 1941) e Ao Sul de Tahiti (South of Tahit, 1941). Nesta época Dorothy Lamour estava fazendo sucesso na Paramount usando seu sarong em filmes "exóticos", e a Universal tentou fazer o mesmo, escalando Maria Montez para ser sua garota "glamour girl".
Maria e Jon Hall em As Mil e Uma Noites |
Maria então protagonizou As Mil e Uma Noites (Arabian Nights, 1942) ao lado do galã Jon Hall. Foi o primeiro filme colorido do estúdio, e deu início a uma série de filmes de aventuras fantásticas. O seu visual oriental nos filmes virou moda nos Estados Unidos, relançando o hábito de turbantes, véus e jóias elaboradas. Em seguida ela protagonizou outros filmes do mesmo estilo, como Branca Selvagem (White Savage, 1943), Ali Babá e os Quarenta Ladrões (Ali Baba and the Forty Thieves, 1944), Mulher Satânica (Cobra Woman, 1944), Alma Cigana (Gypsy Wildcat, 1944) e A Rainha do Nilo (Sudan, 1945).
Veja o trailer de Ali Babá e os 40 Ladrões
Após fazer os filmes "escapistas" da Universal, atuou em Tanger (Tamgier, 1946), um filme claramente inspirado em Casablanca. O filme em preto e branco, com uma fotografia meio noir não agradou. Maria Montez não era a mesma sem o technicolor que o público se acostumara.
Neste mesmo ano ela processou a Universal, devido a créditos e salários. Ela também declarou que "estava cansada de interpretar sempre uma princesa de contos de fadas" e queria fazer trabalhos mais importantes. Ela recusou o papel no filme Era Seu Destino (Frontier Gal, 1945) que acabou indo para Yvonne de Carlo, que a substituiu nos filmes aventurescos do estúdio. Ainda sob contrato, atuou em Os Piratas de Monterey (Pirates of Monterey, 1947) e depois deixou a Universal para sempre.
Seu primeiro filme fora do estúdio foi Atlântida, O Continente Perdido (The Siren of Atlantis, 1949), ao lado do ator francês Jean-Pierre Aumount, com quem estava casada desde 1943. Logo após o casamento, o ator precisou retornar à França, pois havia sido convocado para servir no exército durante a guerra.
Maria e Jean-Pierre Aumount
Em 1946, logo após a guerra, ela visitou a Europa com o marido e ficou empolgada em fazer filmes por lá. Ela e o marido então romperam seus contratos americanos e partiram para a França, pouco depois do nascimento de sua filha, a também atriz Tina Aumount. O primeiro filme da dupla na França foi Brumas Sangrentas (Hans, Le Marin, 1949), seguido de Máscara de Um Assassino (Portrait d'un Assassin, 1949). Em seguida Maria viajou para a Itália, onde também fez alguns filmes, como O Ladrão de Veneza (Il Ladro di Venezia, 1950), considerado sua melhor atuação. Em 1951 ela voltou à França, onde fez uma peça escrita pelo marido.
Ela negociava seu retorno à Hollywood, quando faleceu subitamente. Em 07 de setembro de 1951 a atriz sofreu um ataque cardíaco na banheira, morrendo afogada em seguida. Ela tinha apenas 39 anos. Muitos de seus fãs não acreditaram na causa da sua morte, alguns inclusive acreditam que ela possa ter sido assassinada pelo governo ditatorial da República Dominicana, já que a atriz se recusava a fazer publicidade de seu país natal.
Atualmente, o aeroporto internacional de Barahona chama-se Maria Montez. Sua vida foi contada no filme María Montez: La Película (2014), uma produção dominicana estrelada pela atriz Celines Toribio.
Sua filha, a atriz Tina Aumont, atuou em filmes como Casanova de Fellini (Il Casanova di Federico Fellini, 1976), e faleceu em 28 de outubro de 2006, aos sessenta anos.
Tina Aumount em Casanova de Fellini
Assista ao trailer de Mulher Satânica
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1 Comentários
Morte precoce...lamentável!
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