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Bob Nelson, o vaqueiro alegre do Brasil


Os filmes de faroeste, também conhecido como Bang Bangs, encantaram gerações de cinéfilos ao longo das décadas. Mas entre os anos 30 a 50, o gênero era uma verdadeira febre mundial. O público torcia pelos mocinhos norte-americanos, e se admiravam com a voz dos cowboys cantores, como Gene Autry e Roy Rogers.

O Brasil também teve o seu próprio cowboy cantor, Bob Nelson, que com seu chapéu, garrunchas, roupa típica do oeste e seu boi Barnabé (e a vaquinha Salomé), foi um dos mais populares artistas nacionais da década de 40, fazendo principalmente, a alegria da criançada.


Nelson Roberto Perez, ou melhor, Bob Nelson, nasceu em Campinas, em 12 de outubro de 1918. Seu pai, que era espanhol, era dono do Hotel Dalva, em Campinas. Muitos artistas se hospedavam no estabelecimento da família, durante as turnês que executavam pela cidade do interior paulista. O jovem Bob Nelson conheceu diversos deles, e gostava de cantar para os hóspedes famosos que por lá passavam. Na década de 20, chegou a brincar com o pequeno Grande Otelo, então em viagem acompanhando a companhia de Abigail Parecis.

Bob também cantava na escola, e chegou a formar um conjunto na época, o Grupo Cacíque, com alguns colegas. Um dia, Geraldo Ladeira, diretor da Rádio Educadora os viu cantar, e levou os rapazes para os microfones da estação. Lá, chegaram a acompanhar Carmen Miranda, durante um show em em Campinas.

Mas de família humilde, o rapaz precisou deixar o canto. Ele terminou o secundário, onde estudou contabilidade, e começou a trabalhar como escriturário. Porém com o advento da Segunda Guerra Mundial, sua empresa fechou, e ele ficou desempregado.

Bob então tornou-se caixeiro viajante, percorrendo o interior como vendedor ambulante. Nesta época, a canção Cowboy do Amor, do conjunto Anjos do Inferno, fazia muito sucesso. Por brincadeira, ele fez uma versão da música com o ritmo tirolês (também conhecido como yodel), que ele vira no filme Idílio nos Alpes (Everthing Happens at Night, 1939), estrelado por Sonja Heine e Ray Milland.

Bob também fez uma versão brasileira da canção Oh Suzana, do folclore norte-americano. Um dia, enquanto pulava um baile de carnaval em um clube em Taubaté, cantou a música em uma roda de amigos. Mas a canção agradou tanto aos foliões, que o dono da Rádio auto-falante da cidade o convidou para trabalhar.

Convencido pelo amigo Paulo Magalhães, que havia ganho alguns concursos radiofônicos na capital como imitador de Orlando Silva, Bob Nelson foi para São Paulo, cantar em programas de calouros. Ele venceu o prêmio Rádio Cultura, cantando na Hora da Peneira. Com o prêmio, comprou um maço de cigarros e bilhetes de bonde.

Com os bilhetes, percorreu todas as rádios paulistas que permitiam calouros. Até que em 1943 foi cantar na Rádio Tupi, e Dermeval Costa Lima lhe ofereceu um contrato após ouvir a sua versão de Oh Suzana. Foi na Tupi que ele passou a se chamar Bob Nelson, afinal um cowboy não podia chamar Roberto Perez, nome de cantor de boleros.

Bob Nelson, no rádio

Quando estava na Tupi, o General MacArthur veio ao Brasil, durante a política da Boa Vizinhança adotada na Segunda Guerra Mundial. Assis Chateubriand, que era dono da rádio, achou que seria uma boa ideia fazer um show de Bob Nelson, o cowboy brasileiro, para o famoso general, nascido no Kansas. Foi Chateubriand que sugeriu a Bob cantar com chapéu, colete e pistolas na cintura, como os mocinhos do cinema hollywoodiano.


A apresentação para o militar promoveu a sua carreira, fazendo Bob Nelson tentar a vida no rádio carioca. Ele primeiro ingressou na Rádio Guanabara, assinado com a famosa Rádio Nacional em 1945.

No carnaval de 1946, Bob foi a grande sensação com a canção Aloh Sheriff, e também foi o tema de muitas fantasias carnavalescas da meninada. Bob Nelson não era um grande cantor, e a crítica fazia questão de reafirmar isto, porém, era muito popular e querido pelos fãs, sendo um dos artistas brasileiros mais famosos daquela época. Tanto que em 1948 surgiu em Aracaju, um time chamado Bob Nelson Futebol Clube.







A popularidade do cantor, chamado por aqui de "O Vaqueiro Alegre" (nome de uma de suas canções de maior sucesso) o levou para o cinema. Bob Nelson estreou no filme Segura Esta Mulher (1946), uma das famosas chanchadas da Atlântida.

Nos anos seguintes, atuou em Este Mundo é Um Pandeiro (1947) e É Com Este Que Eu Vou (1948). Neste último, foi acompanhado por Adelaide Chiozzo (e seu irmão Afonso) e seu famoso acordeon. Na Atlântida, ele ainda faria Estou Aí (1949) e Malandros em Quarta Dimensão (1954).

Bob Nelson e Adelaide Chizzo em
É Com Este Que Eu Vou (1948)




Bob Nelson, na capa da revista de cinema A Cena Muda

Mas apesar do enorme sucesso, no final da década de 40 Bob Nelson deixou o rádio um pouco de lado. Ele não ganhava um salário tão bom quanto desejava na Nacional, e percebeu que poderia fazer mais dinheiro apresentando-se em shows pelo Brasil. Durante vários meses, ele viajou por 18 estados brasileiros, apresentando-se em diversas cidades, algumas delas muito longínquas e desconhecidas, carentes de atrações artísticas. A criançada comparecia em peso para ver o cowboy brasileiro.



Em 1949, seu afastamento do rádio, permitiu o surgimento de um "rival", o novo cowboy brasileiro Paulo Bob. Nelson já estava com 31 anos, e Paulo Bob, muito mais novo, tinha apenas 19 anos de idade.

Paulo Bob

Paulo Bob também inicio no rádio, mas atingiu o sucesso na televisão. Em 1957, ao lado de Nelson Batinga e Abelardo Barbosa, o inesquecível Chacrinha, Paulo Bob tornou-se o popular cowboy do programa Rancho Alegre, exibido nas manhãs da TV Tupi. Este foi o primeiro programa de televisão no qual Chacrinha, vindo do rádio, trabalhou. Mas em 1959 eles brigaram, e seguiram rumos diferentes.

Chacrinha e Paulo Bob

Paulo Bob seguiu apresentando programas infantis, inclusive o Rancho Alegre, agora tendo como parceiro (ou melhor, rival), o vilão Big Jones (papel interpretado por Nestor de Holanda). O sucesso de Paulo Bob na televisão reviveu a carreira de Bob Nelson na grande mídia, que estreou na televisão apresentando o infantil O Mundo é da Criança (1960), na TV Rio. Curiosamente, ele havia trabalhado com Chacrinha no programa Racho Alegre, nos tempos do rádio.

 Bob Nelson, na televisão

Chacrinha, Elizeth Cardoso e Bob Nelson, no Rádio

Paulo Bob nunca fez cinema, e mais tarde deixou a vida de cowboy para se tornar um popular radialista. Mas embora nunca tenha enfrentado índios nas telonas, protagonizou sua própria história em quadrinhos. Atualmente aposentado, ele reside em Niterói.


Existiram outros cowboys brasileiros que seguiram os passos de Bob Nelson, como o mineiro Pato Preto (Alípio de Miranda Silva), que ganhou este nome após cantar no programa de calouros A Hora do Pato e o gaúcho Jack Jony. Pouco se sabe sobre sobre Jack Jony, que iniciou na rádio gaúcha e foi contratado pela gravadora Star em 1952, e também pela Rádio Mayrink Veiga na mesma época. Ele é mais lembrado por participar das primeiras gravações de Anísio Silva. Seu nome desaparece da mídia em 1953.

Pato Preto (1928-2005) fez sucesso no rádio, e depois como humorista na televisão, e atuou no filme Um Marciano em Minha Cama (1981). Aposentado, tornou-se servidor público.

Pato Preto e Jack Jony

Bob Nelson passou a chefiar o departamento de gravações na Rádio Nacional na década de 60. Entre seus fãs, que o admiravam quando criança, estão os cantores Martinho da Vila, Wilson Simonal o escritor Plínio Marcos e Roberto e Erasmo Carlos. Roberto já declarou mais de uma vez que começou a cantar imitando Bob Nelson, e Eramos Carlos compôs em 1974  a canção A Lenda de Bob Nelson, cujo refrão diz assim:

"Lutando contra os índios daqui mesmo 
Sem nenhum dólar furado pra furar 
Sem desfazer dos demais heróis 
Fica sendo o mais teimoso dos cowboys 
Que eu vi Bob Nelson, o único cowboy daqui..."

Na década de setenta, ele ainda aparece em mais dois filmes, Os Herdeiros (1970) e Vale do Canaã (1970).


Bob Nelson nunca aposentou o chapéu e as esporas. E sempre que convidado, apresentava-se trajado em programas de televisão. Fã de carnaval, desfilou pela Império Serrano por mais de 40 anos.

Myriam Pérsia e Bob Nelson desfilando no carnaval de 1990

Bob Nelson faleceu em 28 de agosto de 2009, após sofrer uma parada cardíaca, aos 90 anos de idade.




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